Shy Violet escrita por Letys


Capítulo 4
Euforia - Part II


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo ficou maior do que eu esperava e eu não sei se isso é bom ou ruim ఠ_ఠ
Ah sim, teremos Euforia - Part III, que é a ultima parte do capítulo, espero que gostem e boa leitura :3



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[Violette]

Sentamos eu, meu pai, Ally e Armin para conversar sobre o emprego dela. Ela estava aparentemente bem nervosa, deve ser pelo fato de tecnicamente ser a primeira entrevista de emprego dela, ou por ela ter amassado o carro da minha mãe. Meu pai olhava pra ela, analisando-a, ele sempre faz isso nas entrevistas.
– Então, por que mesmo você precisa desse emprego? Só pra ter uma grana extra? - Ele a olhava de cima a baixo com um olhar intimidador. Oh pai, por que você sempre tem que fazer pose de durão nessas oras?
– E-Eu... Ah meu deus que vergonha, eu meio que
– Ela amassou o carro da mãe da Violette e quer reembolsar - Armin falava naturalmente, enquanto Ally se encolhia. Ai como eu adoro ver as entrevistas, é tão engraçado.
– Você o quê? Amassou o carro da Molly? - Ele alterou um pouco a voz, eu me segurava pra não rir da atuação do meu pai e da cara que a Ally estava fazendo
– S-Sim - Ela cobria o rosto tremendo de medo

Meu pai olhou pra mim, deu aquele olhar, aquele mesmo, e sorriu. Eu retribuí o olhar enquanto Armin nos olhava não entendendo nada, até que finalmente entendeu e começou a rir
– Oi? - Ally tirava as mãos do rosto e olhava pro Armin, que não parava de rir
– QUALQUER UM QUE AMASSE O CARRO DA MINHA EX PODE TRABALHAR AQUI! - Ele pegava a Ally no colo e girava ela - Gente, vocês viram como ela estava com medo? - Ele perguntava pros garçons e pro pessoal da cozinha, as poucas pessoas que estavam no Winterz aquela hora são clientes a muito tempo, então já conhecem o jeito brincalhão do meu pai. Todos riram e Ally continuava sem entender nada
– É só uma brincadeira que ele faz com todo mundo, nem de longe ele é durão daquele jeito - Eu sorri pra Ally e ela estremeceu, devia estar nervosa ainda.
Bom, com a Ally trabalhando aqui, acho que vai ser mais fácil fazer o trabalho, além do mais, é bom ter uma companhia da minha idade, já que todos tem vinte anos pra mais. Ela pode cantar junto comigo, conversar comigo enquanto não vem nenhum cliente, pode tornar as coisas bem mais divertidas por aqui.

[Alexy]

Acordei em uma cama confortável e quentinha, ela tinha o cheiro do Kentin, e era tão bom. Olhei ao meu redor, estava em um quarto todinho verde, era decorado com algumas fotos na parede. Me levantei para observá-las melhor e senti um pouco de tontura, mas continuei indo até a parede. Me apoiei na parede com a mão esquerda e comecei a ver bem as fotos, uma era de um garotinho com cabelos castanhos e óculos enormes sentado em um balanço, sendo empurrado por um senhor, a outra era de um garotinho sentado em um tapete todo sujo de achocolatado, em uma mão ele segurava um pote enorme de achocolatado, a outra mão, assim como o rosto dele (principalmente perto da boca) estava suja, ele parecia bem feliz na foto.
– Como ele era fofo - Eu sorria olhando as fotos, desde criança ele era tão bonitinho
– Pensando alto? - Na hora eu me virei assustado, fazia quanto tempo que ele estava no quarto? Como foi que eu não vi ele lá?
– S-Sim - Para de caguejar, sua menininha assustada
– Eu gosto dessas fotos... - Ele sorria enquanto observava a parede cheia de fotos - Ah sim, deixei o seu sauerbraten ali - Ele apontava pra mesa que tinha alguns livros e um abajur
– Ah, claro - Que raio de comida era essa?
– Você não faz ideia do que seja isso, não é? - Ele ria
– De forma alguma - Eu sorria, por deus, que risada maravilhosa era aquela?
– Bom, então feche os olhos - Obedeci, morrendo de medo de ser tipo uma das gororobas que o Armin faz e não dá certo. Ouvi o barulho dele fazendo alguma coisa no prato, provavelmente pegando um pouco da comida - Agora abra a boca - Abri e ele colocou um pouco na minha boca, mastiguei e engoli. Era carne, simplesmente carne. Havia alguns temperos no meio, mas não deixava de ser carne, então pra quê um nome tão difícil?
– Isso é apenas carne - Eu falava apontando para o prato
– Ah, que bom que notou - Ele ria ironicamente, de novo - É só um prato alemão, meu avô nasceu na Alemanha e passou algumas tradições pra gente
– Seu avô é aquele da foto do balanço?
– É sim. Uma pena ele estar no hospital... - Ele ficou um pouco triste em lembrar disso. Então quer dizer que era ele o avô do bilhete que os pais do Kentin haviam deixado.
– Er - Pensa em algo para quebrar o clima Alex, pensa, pensa - Posso ver mais fotos?
– Claro - Ele abriu uma gaveta e tirou um álbum de fotos

Eu comecei a ver o álbum, era como se fosse uma linha do tempo dele. Haviam fotos desde ele recém nascido, e conforme eu virava as paginas, era ele crescendo. Cheguei quase ao fim do álbum, havia uma foto dele com uma garota, ela tinha cabelo azul escuro e usava umas presilhas no cabelo, além de ter olhos esbugalhados e azuis. Vagabunda, quem era essa?
– Me dá isso aqui! - Ele disse tomando o álbum de minhas mãos
– Ei! Eu quero ver
– Já viu o suficiente

Ele andava pra trás com os braços erguidos segurando o álbum, quando eu estiquei meu braços para pegar, ele segurou o álbum atrás dele e continuou andando pra trás, porém, a cama estava atrás dele, então ele acabou por deitar na cama, fiquei em cima dele
– Me dá o álbum?
– Não - Ele corava enquanto fazia um biquinho de bravo, que coisa mais fofa. Espera, eu estava em cima dele, eu nunca tinha ficado tão próximo assim dele. Meu coração começou a martelar de novo, pra cada batida, a força de umas três marteladas no meu coração - Você está vermelho
– V-Você também, oras! - Reparei em cada detalhe do rosto dele, as bochechas coradas, os olhos dele que mais pareciam um par de jade, e os lábios, ah... os lábios. Alex, você deve estar fazendo uma cara tão idiota agora, diga algo, vamos! - Pelo menos me diga quem é ela e porque não quer que eu veja as fotos
– Ah, a Letícia... Tudo bem, eu falo - Ele concordava com a voz rouca - Primeira condição, pode por favor, sair de cima de mim?
– Ah, claro - Droga, estava tão bom. Ele falou pra eu sair de cima dele, mas não disse pra eu sair da cama, então apenas fui pro lado e me deitei ao lado dele
– Segunda condição - O que ele pediu a seguir fez o meu coração parar por um segundo - Me conte sobre o cara da pista de skate.
– O-O que? - Por que ele queria saber aquilo? Eu tinha um motivo pra querer saber dela, mas com certeza não é o mesmo motivo pelo qual ele quer saber do Dake
– Vamos, você me conta dele, e eu te conto dela - Ele pede isso de uma maneira tão adorável, que é impossível negar. Respirei fundo e comecei a contar

~ Flashback mode: on~

Eu estava passando as férias na Austrália com a minha família, eu, meus pais e a Ally estávamos super animados com a viagem, Armin no entanto, não muito
– Ah que saco, não pude nem trazer um dos meus vídeo-games pra cá - Ele reclamava - E esse Sol ainda vai me deixar cego
– Relaxa aí garotão, são apenas duas semanas - Meu pai dizia, me dando um tapinha na cabeça

Como de costume, meu pais andavam na frente conversando, e eu andava com os meus irmãos um pouco atrás para conversarmos
– Ei Armin, não é tão ruim assim - Ally tentava convence-lo
– É sim, eu preciso dos meus jogos
– Você parece uma criança mimada quando se trata de vídeogame - Eu ria - Por isso... Ahn, toma, mas escondido do pai e da mãe hein
– Oi?

Entreguei o PSP pra ele, que colocou no bolso imediatamente
– Ah, como eu adoro você - Ele me abraçava fazendo carinho na minha cabeça
– Ei, não sou um cachorrinho - Eu reclamava

Chegamos no hotel, era o Park Hyatt Sydney, meus pais escolheram o hotel mais caro não sei porquê, mas se tiveram dinheiro para pagar a estadia no hotel, então têm mais dinheiro ainda pra comprar roupas pra mim! Meu pai explicou que um quarto era pra mim, pra Alyssa e pro Armin, o outro era pra eles
– Eu sei que vocês vão passar a madrugada toda conversando, vendo TV e fazendo todo o tipo de coisa que não deixa a gente dormir a noite, então pegamos um quarto só pra vocês
– Sexo - Armin falou no meio de um acesso de tosse forçado
– Oi querido? - Minha mãe perguntava se virando pro Armin
– Nada mãe, meu irmãozinho apenas engasgou - Ally dizia ao lado do Armin enquanto beliscava ele pra parar de tossir.

A maioria dos pais ia dar risada do que o Armin falou, mas o meu pai não. Ele e minha mãe frequentam a igreja evangélica a anos, mas por termos apenas 15 anos (com exceção da Ally) ele pensa que somos muito novos e inocentes pra conhecer as impurezas do mundo ou seja lá como eles chamam isso na igreja.

Chegamos em torno de 21h, mas por causa do fuso horário, parecia madrugada pra gente, estávamos todos cansados. Meus pais foram dormir, eu Ally e Armin procuramos um filme pra assistir e o menos pior era Cruzeiro das Loucas. É divertido, é sobre dois héteros que por engano embarcam em um cruzeiro gay. Algo me deixou inseguro vendo o filme mas eu não sabia o que. Quando olhei as camas do Armin e da Ally, vi que eles estavam dormindo, então resolvi fazer o mesmo, eu só ia tomar um banho antes.
– Tá bom, vamos tomar um banho pra relaxar e dormir - Eu pensei ligando o chuveiro. Eu estava tentando descobrir o que tinha me incomodado tanto no filme, mas a unica coisa em que eu realmente pensava era na maldita musica que um dos gays canta no filme - Droga, fiquei com a musica daquele filme na cabeça.

Peguei o sabonete e passei nos meus braços, tentando me lembrar da letra da musica.
– Ah sim - Uma luz havia caído em mim, finalmente me lembrei - OH NO, NOT I, I WILL SURVIVE! As long as I know how to love, I know I'll stay alive

Eu dançava pelo box, até que eu caí. Resolvi tomar banho sentado mesmo, qual o problema? Passei um pouco de shampoo nos cabelos e comecei a massagear, até que percebi o que me deixava tão inseguro em relação ao filme, dei uma leve risada quando percebi, mas uma parte de mim não queria acreditar no motivo. Acabei o banho, me vesti e fiquei sentado na cama, pensando em tudo que já havia acontecido comigo recentemente
– Depois de tantas garotas que eu já fiquei, será que eu sou mesmo gay? Quer dizer, já beijei alguns caras e gostei, mas é normal, não é? Aposto que com a Ally foi a mesma coisa - Eu pensava

Ally era bissexual, raramente ficava com homens, mas mesmo assim, já que ela gostava das duas coisas então ela tinha duas opções: A) Ficar com mulheres. B) Ficar com homens. Naquela época eu nem tava considerando muito a opção A, mas eu tinha, afinal o que os meus pais iam dizer? O que o Armin ia dizer? Será que ele ia me evitar por achar que eu sinto alguma atração por ele? Quer dizer, eu vivo junto com ele, e se necessário até nos trocamos no mesmo quarto, será que ele ia me olhar estranho nesse tipo de situação?
– Merda, acho que vou dar uma volta, beber alguma coisa - Eu pensava alto enquanto pegava um pouco de dinheiro ao lado da TV
– Alex, calado - Armin mandava enquanto dormia

Saí do quarto rindo, eu queria ir até o bar da piscina, e era o que eu ia fazer, mas algo prendeu minha atenção, tirou toda a minha vontade de ir a piscina e a direcionou pra alguém que passava no corredor. Era um pouco mais alto que eu, tinha a pele bronzeada e olhos que eu não sabia definir se eram azuis ou verdes. Ele olhava pro fim do corredor, onde uma garota estava, ela acenava pra ele da porta do quarto, dizendo tchau, ele acenou de volta. Ela parecia cansada, os seus cabelos estavam um pouco bagunçados e sua blusa estava ao contrário, já ele estava em perfeito estado, porém, apressado. Ele andava rápido em direção ao elevador
– Não faça isso - Eu pensava milhões de vezes, mas as minhas ações contradiziam os meus pensamentos. Eu corri pra pegar o mesmo elevador que ele, mas ele fechou quando eu ia entrar - Não tem problema, existem escadas!

Não, não desci correndo vários andares apenas pra alcançar um cara que eu nem conhecia, por favor, até parece que eu sou idiota o suficiente de fazer isso...

Na verdade foram só quatro andares.

O hotel não tinha muitos andares e isso facilitou pra eu alcançar ele. Ele saiu do hotel e eu fui atrás, eu fazia muito esforço pra não dar na cara que eu estava o seguindo, por ele estava falando no celular com alguém. Ele subiu no ônibus e eu subi logo atrás, ele se sentou na frente e eu sentei no fundo.
– Já gastei parte do meu dinheiro, droga! De qualquer forma, por que eu estou fazendo isso?

Ele ria enquanto conversava com a pessoa no celular, e era como se eu soubesse a resposta. A risada dele, aquele sorriso travesso que fazia eu querer conhecer a pessoa por trás dele. Eu parecia um maníaco seguindo alguém que nem conheço. Era um pouco infantil da minha parte, mas eu tenho 15 anos, se eu não fizer esse tipo de coisa nessa idade, eu vou fazer quando? Daqui a 10 anos? Aí sim seria infantil.

Ele desceu do ônibus e fui atrás. Andamos um pouco até chegar em uma boate, como já era um pouco tarde, não tinham muitas pessoas na fila, eu observei de longe ele falando o nome pro segurança, e o segurança dando passagem pra ele entrar. Adivinha o que eu fiz? Errado! Não fui atrás, eu fiquei pensando um pouco
– Tá, fim da linha Alexy, se você entrar, terá que falar com ele uma hora ou outra, se prepare

Meu dinheiro estava praticamente no fim, eu teria que economizar pra voltar pro hotel com pelo menos um troco ou algo assim. Tentei esquecer minhas preocupações, respirei fundo e entrei.

Como era de se esperar, estava tudo escuro e com várias luzes piscando, era quase entorpecente. Algumas garotas dançavam sem sutiã, havia gente se beijando pra todo lado e a musica estava muito alta. Avistei o garoto de longe, fiquei olhando ele dançando, estava com uma lata de refrigerante na mão e com algumas garotas envolta dele, até que no refrão, ele tirou a camisa, deixando amostra as várias tatuagens tribais que ele tinha. As meninas envolta deram aquele gritinho de garotinha histérica, eu faria isso, mas apesar de tudo, eu honrava o par de bolas que possuo no meio das pernas.

Criei coragem e quando dei um passo pra falar com ele, uma garota começou a dançar na minha frente enquanto bebia. Ela perguntou meu nome e puxou assunto, respondi e dancei também mas aos poucos andava na direção dele, quando ela percebeu que eu estava me afastando, ela me puxou pra perto dela. Ela era bonita, tinha cabelos ondulados azuis e peitos que você notaria a 50m de distância.
– Droga, se fosse antes, os peitos seriam a primeira coisa que eu olharia nela, por que eu só percebi agora? - Eu sabia a resposta, mas não queria aceitar.
Ela me ofereceu um pouco da bebida, eu virei todo o conteúdo do copo em um gole só, era vodka com Sprite. "Vai Alexy, você tem que ter certeza" eu me encorajava. Ela se aproximou de mim pra falar algo, já que a musica estava alta, antes que ela pudesse falar algo, eu a beijei. A minha mão estava na nuca dela, e foi descendo.

Eu tentava gostar daquilo, repetia pra mim mesmo várias vezes que eu tinha que achar prazer naquilo, mas não conseguia. Piorou quando ela chamou uma amiga dela, que quis "participar" da brincadeira. Começou com um beijo triplo, acabou com os três em uma cabine do banheiro.

Não, não transamos, nunca fiquei tão feliz por não ter levado uma camisinha na carteira, mas em compensação, fui mais lambido do que um picolé. Elas disseram que iam procurar outro cara, um que tivesse preservativo ou pílula do dia seguinte, tentei parecer bravo com elas por isso, mas eu estava com vontade de agradecer-las por terem me deixado em paz finalmente. Eu estava um pouco bêbado, mas não o suficiente pra não me lembrar das coisas. Fui em direção a pista de dança, ainda estava tocando musica mas eu estava cansado demais pra dançar. Sentei em uma das cadeiras de frente ao bar e a unica coisa que eu pensava era em como eu não queria ter feito aquilo
– Noite difícil? - Alguém do meu lado perguntou
– E como... - Respondi por impulso, quando me virei pra ver quem era, eis a surpresa

Ele parecia um pouco cansado, mas não tanto quanto eu. Ele soltou os cabelos loiros e arrumou alguns fios atrás da orelha
– Wow, que cabelão - Eu reparava, maravilhado
– O que disse?
– E-Eu... Perguntei que horas são, isso, perguntei que horas são
– São quase três da manhã
– Merda! Merda, merda, merda! - Eu me levantava apressado
– Qual o problema?
– Saí escondido e... Bom, eu pretendia voltar cedo pro hotel - Eu coçava a cabeça
– Hotel? Você é turista?
– Sim
– E o que estava pensando quando veio pra essa festa? - Ele sorriu, eu fiz ele sorrir, eu fiz ele sorrir, por Deus - Precisa de ajuda pra voltar pro hotel? Você não parece estar em condições pra voltar sozinho
– N-Não precisa, vou atrapalhar você - Eu andava em direção a saída. Ele quer me acompanhar, oba, ele quer me acompanhar!
– Não, eu já estou de saída mesmo - Sempre tão sorridente, por que? - Qual é o hotel?
– Park Hyatt Sydney
– Não é muito longe de casa, vamos, eu levo você! A propósito, eu sou o Dake
– Alexy - Não pude deixar de sorrir, eu havia encontrado a resposta para o que tanto me incomodava, percebi que a minha vida inteira tudo que os meus pais haviam me ensinado a respeito de sexualidade estava errado, e a resposta estava bem a minha frente. Eu devia estar quase babando por falar com ele, mas quem se importa? Eu podia usar a desculpa de que estava bêbado

Voltamos de ônibus, descobri que ele as vezes ia pra minha cidade por causa do tio dele. Não falei onde eu morava pois ele nunca me perguntou, acho que isso nunca foi do interesse dele, ele não se preocupava com as origens, e sim com o presente. Ele me contou que adora o mar e os animais marinhos, disse que queria se formar em biologia para trabalhar em uma instituição que preserva os animais marinhos. Foi o meu principal motivo para me apaixonar por ele, a sua preocupação com os outros seres vivos, apesar de ser uma mentira, em partes.

Ele me deixou na porta do hotel, e mais uma vez, começou a olhar o celular
– Alexy, você vai estar ficar aqui até quando?
– Uns 15 dias
– Ah, ótimo, há varias coisas pra gente fazer e várias pessoas pra eu te apresentar. Qual o seu numero?

Tive que falar o meu numero umas três vezes pra ele, a minha empolgação fez eu falar o meu numero muito rápido e ele não entendeu nada. Eu mal podia acreditar no que tinha me acontecido, eu tinha que contar pros meus irmãos
– Ally, Armin! - Eu chamava abrindo a porta do quarto. Armin permaneceu petrificado na cama, já Ally, que tem um desagradável probleminha de ter sono leve...
– Onde você foi? - Ela se sentava na cama me olhando fixamente
– Foi muito legal, eu - Ah sim, claro Alex, seus irmãos não sabem - N-Nada...
– Que cara é essa? - Ela ficou em pé na minha frente com as mãos nas minhas bochechas, olhando pra mim - Onde você estava? Está cheirando álcool

Eu tentava parecer normal, mas não estava. Eu ainda estava um pouco tonto por causa das bebidas, mas não sabia que estava fedendo vodka, sprite e provavelmente perfume de mulher.
– A possível dor de cabeça que você terá de manhã, vai ser porque você forçou muito a vista pra ler as legendas do filme, ok? Não vou contar nada pro Armin por enquanto, mas olha lá o que você anda fazendo - Ela deitou na sua cama e se cobriu - Tente dormir um pouco, ok?

Deitei na minha cama e fiquei pensando sobre o meu dia. Por que eu segui o Dake por todo lugar que ele foi, por que?
– Será que eu realmente sou... gay? - Pensei

~Flashback mode: off~

– Aí no dia seguinte...
– E-Espera, pensando bem, eu não quero saber tudo com todos os detalhes - Kentin avisava tampando a minha boca
– Por que?
– Eu não sei, acho que não vou me sentir bem se souber de tudo - Ciúmes? Não Alexy, você já confundiu as coisas uma vez, não confunda de novo
– Sem problemas - Eu ria enquanto ele olhava pro lado pra disfarçar as suas bochechas que adquiriram um tom rosado - O que mais você quer saber?
– Vocês, ahn... não chegaram a...
– Transar? Não não
– E-Eu não ia dizer isso, eu ia perguntar se vocês se beijaram
– Ah, isso sim - Eu olhava pra baixo, me lembrando do meu primeiro erro

~Flashback mode: on~

Eu e Dake saíamos sempre, sem que minha família soubesse, claro. Apenas a Alyssa sabia, quer dizer, "sabia". Ela não precisa perguntar pra descobrir algo, ela é tipo Deus, ou até mesmo satã, ela sempre sabe de tudo, não se sabe como, mas ela sempre descobre, maldita intuição feminina!

Em uma das madrugadas eu saí para a praia, Dake me convidou, iria ter um luau com os amigos dele, cujo pensava que eram meus amigos também.

O lugar havia algumas tochas e algumas flores. Tinha gente tocando violão, tinha gente bebendo, e principalmente, gente fumando (e não só cigarro)

Ele estava ali, não sabia quantos baseados ele já havia fumado, mas não estava dentro de si, parecia bem tranquilo e relaxado, assim como a maioria das pessoas ali.
– Olha só quem chegou! E aí, cara? - Eu cumprimentava as pessoas, deixei o Dake por ultimo
– Está divertido aí? - Eu perguntava, vendo que estava rindo do vento de tanto que ele já tinha fumado
– O que? Você não gosta de quem fuma?
– Não não, tanto faz - Eu dava risada enquanto pegava a garrafa de martini do meu lado

Em determinada hora do luau, todos estavam "chapados" de alguma coisa, seja de bebida ou de maconha, menos eu, queria ser o único sóbrio, pra ver o que iria acontecer. Decidiram jogar verdade ou desafio, sempre gostei desse jogo pois a garrafa nunca caía em mim pra contar algo ou fazer um desafio, eu só queria ver o que ia dar jogar isso sendo que ninguém tinha tanta consciência assim

Depois de algumas partidas, a garrafa caiu em mim e no Dake, pela primeira vez, eu teria que fazer algo
– Alex, vamos lá, verdade ou desafio?
– Verdade
– De quem você gosta?
– N-Não vale - Eu estava tremendo dos pés a cabeça, eu não gostava dele, quer dizer, gostava? Eu não sabia, eu achava divertido quando saíamos, e quando eu voltava pro hotel, eu percebia que queria ver ele no dia seguinte, e no outro, e no outro... - A pergunta tem que começar com "é verdade que...?"
– Então tá bom, é verdade que você gosta de alguém? Se sim, quem?
– Merda, isso parece mais uma questão de prova - Eu já estava quase indo embora dali - Ah, pensando bem, escolho desafio

Todos se viraram pra Dake nessa hora, certamente ia me dar um desafio ferrado, como é na maioria das vezes. Pros outros, pareceu um desafio bem difícil de ser realizado, pra mim, não tanto.
– Desafio? Pois bem... - Ele erguia uma sobrancelha e dava um sorriso travesso - Me beije
– O-O que? Não eu... eu vou embora - Eu me levantei, até que um dos nossos colegas me puxou pra baixo
– Deixa disso, estamos apenas brincando. Não é nada demais, é só experimentar
– C-Certo - Claro que eu não ia "só experimentar" mas o Dake não sabia, e nenhuma das pessoas ali sabiam. Eu me levantei e me ajoelhei na frente dele, fiquei encarando ele um bom tempo, mas não conseguia - E-Eu... Ah, não sei como fazer isso
– Assim.

Ele me puxou pela gola da minha camisa e me beijou. Estava errado, tudo o que eu sabia a respeito do que eu gostava e do que eu deixava de gostar estava errado. Não era apenas por diversão que eu gostava de beijar homens, não era apenas uma fase e não eram os meus pais ou qualquer outra pessoa que iam me convencer do contrário. Eu real e definitivamente, sou gay.

Aproveitei o beijo por mais tempo do que deveria, Dake me deitou na areia, ficando por cima de mim e começou a beijar o meu pescoço, apesar de ser estranho beijar alguém até esse ponto com tanta gente vendo, eu estava gostando, mas é claro, sempre tem alguém pra estragar.
– Ei ei ei, o jogo tem que continuar - Um dos amigos do Dake dizia tirando ele de cima de mim

Quando voltei pro hotel, estava mais feliz do que nos outros dias que havia visto o Dake. Ally havia acordado com a porta abrindo, quando vi ela, a abracei tão forte que senti sua coluna estralar, eu estava tão feliz, mas tão feliz. Ela deu um sorriso também, como se ela soubesse o que tinha acontecido
– Alex - Ela dizia com um pouco de dor, já que eu ainda estava esmagando ela
– O que foi? - Eu colocava ela no chão
– É um garoto, né?

Eu apenas soltei uma risada, e logo ela soube a resposta, queria saber de quem ela puxou essa esperteza, pois nem minha mãe e muito menos meu pai pensariam nisso. Eu me senti tão aliviado quando me aceitei, e de alguma forma, queria que o Dake soubesse da minha felicidade também.

Um dia antes de ir embora, marquei de ir ao shopping com Dake e os amigos dele, pra me despedir, queria contar pra ele o quanto ele me deixava feliz, queria falar com os meus amigos uma ultima vez antes de ir embora. Fomos ao cinema, sentei ao lado do Dake, ele virou o rosto todas as vezes que tentei beija-lo, soltou a mão todas as vezes que a segurei, basicamente, evitou qualquer tipo de contato físico.
– O que você está fazendo? - Ele perguntava já alterando a voz
– Eu não sei, eu... - Vai Alexy, fala - Queria que você soubesse que eu fiquei muito feliz no dia do luau, quando, você sabe... quando nos beijamos - Nessa hora todos os amigos dele se viraram pra gente
– O que? - Ele soltava uma risada, que acabou virando uma risada escandalosa que fez o cinema inteiro ouvir - Onde eu demonstrei que ia me interessar por alguém como você? Onde? Você achou mesmo que eu ia deixar de transar com todas as garotas que eu quero, por sua causa?
– Você... Foi algo que eu fiz? - Eu já estava quase chorando essa hora - Você continuou agindo normal, achei que tivesse gostado
– Gostar de beijar você? Vou falar uma vez, eu nunca, nunca deixei de gostar de mulher e nunca vou deixar só por sua causa. Você acha que eu teria te beijado se soubesse que você é gay? Você é ridículo, e tudo que você faz é me sufocar com tanta atenção

Tudo o que eu ouvia eram os amigos dele rindo e comentando coisas sobre não saber que eu era gay. Homossexualidade não é como nos filmes, não é algo fofo e bonito por duas pessoas estarem enfrentando o mundo só pra ficarem juntas, há pessoas que não aceitam, e as vezes, essas pessoas estão mais próximas do que você imagina.

Saí do cinema correndo e segurando o choro. Abri o WhatsApp na conversa do Armin
"oi
tem como você vir pro shopping que é perto da praia? eu não to muito bem
fala pra ally ir junto, ela vai saber sobre o que é"

Saí do shopping e fui até a praia, eu devia ter dito pra eles irem pra praia ao invés de ir pro shopping, mas como a praia é caminho do shopping, certamente eles iam me ver.

Eu comecei a chorar de uma maneira que eu achei que nunca mais fosse parar, eu queria desaparecer dali. Como eu ia saber que o Dake não tinha gostado sendo que ele nunca falou algo sobre? Sempre agindo normalmente comigo, sempre recusando qualquer programa que eu combinava que não fosse de madrugada, aposto que estava com alguma garota, e a garota do corredor do hotel quando o vi pela primeira vez, aposto que eles haviam transado até o pau dele não aguentar subir mais. Galinha, idiota, falso e nojento, mas por que eu me importo?
– Alexy? - Senti uma mão pequena no meu ombro, fazendo com que eu me assustasse, levantei a cabeça pra ver quem era, e era exatamente quem eu pensei que fosse - Fui informada de que há algo perturbando meu irmãozinho, e independente do que seja, ou melhor, de quem seja, saiba que eu, a super-Ally e o meu fiel parceiro Armin vamos socar tanto a fuça da pessoa que nem 30 plásticas vão resolver o problema.
– Ou podemos socar a fuça da pessoa até cair e a pessoa ficar parecendo o Voldemort, você escolhe - Armin bagunçava meu cabelo, odiava quando ele fazia aquilo.

Seria agora, o maior problema não era contar sobre o Dake, o maior problema era falar que eu sou gay, sou e sempre fui, a Ally já sabia, mas e o Armin? Ele não deve ligar pra Ally ficar com mulheres, ele é homem, deve achar isso legal, mas e eu? Será que eu também não podia ser aceito pelo meu irmão?
– Vamos, qual o problema? Eu pausei o meu Metal Gear só por você - Armin sorria
– Eu... Eu sou... - Vamos Alexy, desembucha
– Gay
– O que?
– Qual é, você acha que ia conseguir esconder por quanto tempo? Você nunca trouxe uma namorada em casa, e você anda bem feliz nessa viagem - Ele não parecia estar nervoso como eu achei que ficaria
– Mas podia ser alguma menina, como você adivinhou? Ally, você contou algo? Você e esse seu cabelinho escorrido não me enganam não.
– Tá bom, culpada - Ela admitia, levantando as mãos - Assim que você falou que não estava bem, achei melhor contar pro Armin, pra ele não assustar tanto, e acredite, ele não ficou surpreso também.
– Claro, suas roupas estão sempre com cheiro de perfume que não é seu, mas também não é perfume feminino. Você nunca comentou com a gente sobre ver alguma garota bonita na rua, apenas garotos - Armin complementava
– Vocês não estão bravos? - Eu parava de chorar um pouco, apesar de me sentir um lixo
– Por que estaria? Beijando homens, mulheres, animais, ou até mesmo posters...
– Não, essa ultima é você e seu poster da Lara Croft - Ally zoava, quebrando o clima bonitinho
Sh, era um segredo! - Armin entrava na brincadeira - O que eu quero dizer, é que a sexualidade não é um pré-requisito pra eu gostar de você, ou melhor, amar você. Você é o meu irmão, eu te amo independente do que você faça

Então foi isso, todo medo e nervosismo por nada. Armin não é como os amigos idiotas do Dake, e muito menos como o Dake. Não tive reação nenhuma, a não ser abraça-lo
– Alex, não somos pessoas que vão julgar você, não somos seus amigos de escola, somos família, se você precisar se reerguer, seremos seu alicerce - Alyssa disse, nos abraçando também - Agora, já que estamos nesse assunto, faz muito tempo que eu não sinto atração sexual por algum homem e eu nunca estive mais feliz
– Sempre estragando momentos bonitinhos - Eu ria
– Ally sendo Ally - Armin falou - E eu, sendo sempre o irmãozão que vai proteger vocês de todo o preconceito do mundo! - Ele soltou do abraço, fazendo uma pose de super herói
– Ei, eu devia falar isso, a mais velha sou eu! - Ally protestou

~Flashback mode: off~

– Desculpa ter feito te contar isso, deve ter sido tão difícil você passar por isso, e agora eu te fiz relembrar

– Não tem problema, eu nem ligo mais - Eu sorria - Até porque, você e essa tal Letícia não parecem ter tido uma das melhores histórias
– Não chegamos a ter uma história, na verdade, e parece ser tão bobo depois de ouvir tudo o que você passou com o Dake - Ele se sentou, coçando a cabeça - Você ainda quer ouvir?
– Claro! - Eu me sentava também, com os olhos brilhando

As vezes, eu me pegava pensando se realmente vale a pena gostar de alguém depois de tudo que eu passei com o Dake. É óbvio, ainda me sinto mal sobre o assunto, ele pegou um pedaço do meu coração pra ele, mas quando eu vejo o Kentin, quando eu ouço a voz dele e o jeito animado que ele fala e não para mais, ou quando eu estou perto dele, sinto que ele pegou o pedaço do meu coração que estava com Dake, e não só esse pedaço, mas todo o meu coração.

Ele é a pessoa mais orgulhosa e medrosa do mundo, ele gosta que os outros o vejam como forte, mas no fundo, ele tem tanto medo quanto eu. Eu conheço o seu jeito, as suas manias, os defeitos e todas as expressões dele, ele já me defendeu quando eu não merecia, e mesmo que eu encha muito o saco dele, ele está sempre junto comigo. É por existir alguém assim que eu sei que o amor vale a pena, se ele se afastar de mim, eu corro atrás, e não paro de correr até alcança-lo.


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Notas finais do capítulo

Considerem Summertime Sadness a musica tema dessa pequena história do Alex e do Dake (pelo menos na cabeça dele, tehe)
Mas e aí, o que vocês acham que aconteceu entre o Kentin e a Lety? (se dói ter o mesmo nome que essa vaca? Sim, e muito)
Obrigada por estarem acompanhando, sério, isso me deixa muito feliz. E fantasminhas, comentem algo no capítulo, nem que seja um "posta mais" ou coisa assim, isso motiva e muito.
Kissus e até o próximo capítulo (O ㉨ o) ノ ♡