Lady Death I - Desires escrita por Leena C Anderson


Capítulo 5
A Mais Bela das Rosas


Notas iniciais do capítulo

Esse não é um dos meus favoritos, mas eu adorei escrevê-lo, e espero que vocês gostem. Mais uma vez, o Henry está cheio de comentários e ironias.
Boa Leitura!



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Horas depois, o plano finalmente começou a ser botado em prática. Vestida da forma perfeita para cometer um crime, utilizando um sobre-tudo tão negro quanto à noite, luvas de couro da mesma cor, uma meia sete oitavos que escondia uma arma, e saltos louboutin, se destacando tanto quanto a cor rubra em meus lábios; com um plano perfeitamente bem arquitetado; entrei no carro e dirigi até o local da festa, dando voltas e voltas pelas ruas até que Charles finalmente saísse, exibindo uma expressão preocupada em seu rosto.

Seus passos eram apressados e silenciosos, levando-o rapidamente até seu carro, que o aguardava com uma surpresa. Ao ver os pneus furados, Charles entrou em pânico, se apoiando no veículo e suspirando de forma pesarosa, como se aquele fosse o fim do mundo...Do mundo não, Charles...- pensei– Apenas de sua medíocre vida.

Liguei o carro, que até então estava parado no final da rua, já que esperava a hora certa para atacar; e fui de forma completamente inocente até onde o veículo de Charles estava, parando e abrindo o vidro.

– Ora, ora...Quem vemos por aqui, o incrível Charles Peterson. - indaguei, com um sorriso simpático no rosto.

– Emy! À quanto tempo não nos vemos...- ele disse, parecendo estar tentando maquiar toda sua preocupação.

– O que houve? - questionei, fazendo uma expressão um tanto preocupada - Você não me parece estar tão bem...Posso ajudar de alguma forma? Não minta. Eu o vi de longe, e você não parece estar lá em um de seus melhores momentos, Charles...

– Eu recebi uma mensagem de Nathalie, minha esposa...Ela está grávida, por isso não está aqui comigo, e disse que estava se sentindo muito tonta e tendo fortes contrações. Ela está com apenas cinco meses, então não acho que essa notícia seja tão empolgante.

– Então o que você ainda está fazendo parado aí, conversando comigo?

– Os pneus do meu carro estão completamente estragados... - ele disse, dando de ombros e suspirando - Não sei como isso aconteceu... Eu estava em uma festa com um de meus sócios e não acho que isso tenha acontecido simplesmente por causa de um acaso do universo.

– Não se preocupe, irá ficar tudo bem... Eu vou levá-lo até sua casa, entre. - disse, dando um sorriso fraco e fazendo um pequeno movimento com a cabeça, indicando o banco do carona.

– Eu agradeço, mas você não precisa fazer isso... Sei que a ajudei muito no início de sua carreira, mas você não me deve absolutamente nada, e sem dúvidas deve estar indo a algum lugar... - ele indagou simplesmente por educação, mas seus olhos quase clamavam para que eu não cedesse à esse seu ato.

– Não se preocupe, eu estava simplesmente voltando para casa, e somos velhos amigos, certo? Ficarei ofendida se você recusar novamente. Não incomode nenhum de seus amigos da festa por causa de uma emergência. Eu o levo até lá, não me dará trabalho algum.

– Nesse caso... Obrigado.

Charles entrou no carro e eu dei partida, acelerando alguns quilômetros a mais do que o permitido, coisa que eu faria até mesmo em uma ocasião normal. Uma multa por velocidade não é algo preocupante, principalmente quando se tem dinheiro ao suficiente para pagar milhares delas.

– Por onde estamos indo? - Charles questionou, não parecendo estar mais tão preocupado - É algum caminho alternativo? Porque, não sei se lembra, mas minha casa fica no...

– Eu sei perfeitamente onde você mora, Charles. - indaguei de forma fria, interrompendo-o - O que não significa que eu vá te levar para lá...

– O quê? Pra onde você está me levando, Emy?! Você...V-você ficou louca? Minha esposa precisa de mim, minha esposa e meu futuro filho! - sua voz estava completamente alterada, não exatamente por medo, mas por preocupação.

– Não se preocupe, mon amour....Ela irá se virar bem com a fortuna que ganhará com o seu testamento...Além do mais, tenho uma péssima notícia para te dar antes de sua morte: ela tem um amante, e digamos que ele não se preocupa em fazer sexo com segurança. - indaguei, me divertindo completamente em contar algo tão trágico para ele em um momento tão... Delicado.

– Ela o quê? E hora da minha morte...? Emilly, por Deus! Do que você está...?

– Não. Grite. - disse, de forma completamente autoritária, levantando meu sobretudo de um lado e mostrando à ele a arma presa em minha meia.

– O-o que v-você irá fazer? Você...V-você não pode ser a Emy que eu conheci, é...É impossível! Q-quem é você? - ele estava incrédulo, como se estivesse mais assustado por ser eu a pessoa que estava fazendo aquilo, do que por saber que iria morrer em poucos minutos.

– Eu, meu caro...Sou nada mais, nada menos do que Lady Death, e não finja que não sabe do que eu estou falando.

– V-Você...- ele não tinha palavras para completar a frase.

– Eu sou Lady Death, nesse momento seu pior pesadelo. Acredite, Charles...Eu fiquei mal em saber que teria que matá-lo...Por cinco segundos, até descobrir o quanto ganharia por isso. Veja pelo lado bom...- esbocei um sorriso completamente malicioso - Amanhã você estará em todos os noticiários do país!

– V-Você não seria capaz de fazer isso...- ele sussurrou, com o medo tomando conta de seus olhos.

– Por favor...Não finja. Não finja que não sabe do que sou capaz, não finja que nunca viu um de meus trabalhos na televisão e que nunca pensou o que faria se algo do tipo acontecesse com alguém que ame, não finja que não sabe que você vai morrer...

– Você é completamente maluca... - ele sussurrou novamente.

– Não leve para o lado pessoal, Charles... Esse é apenas o meu trabalho. Agora... - peguei a arma e apontei para a cabeça dele, fazendo-o fechar os olhos com força - Saia do carro. Abra os olhos e saia do carro. Dessa forma você parece uma garotinha com medo do escuro... Me enfrente, Charles. Você é um homem, certo? Eu sou apenas uma mulher... Uma mulher completamente indefesa. - sorri maliciosamente - É o que todos pensam, não é?

– V-você não me assusta... - ele disse, mas algo me dizia que ele não convenceu nem a si mesmo com o que disse.

– Saia. - indaguei, de forma fria e cortante, destravando a arma com um clique.

– C-como quiser... - ele disse, abrindo vagarosamente a porta do carro e saindo.

Estávamos em uma rua deserta, o que pode se considerar raro em Nova York. Não havia absolutamente ninguém para salvá-lo naquele momento. Ele poderia gritar o quanto quisesse, e ninguém o ouviria. É assim que se comete um crime perfeito: sem testemunhas, sem suspeitos, sem falhas. Somente um cadáver e uma marca registrada.

– Parece que você tem um grande inimigo, Charles...- indaguei, caminhando vagarosamente até ele, fazendo-o se afastar e se chocar contra a parede atrás de si.

Os únicos sons que se ouviam eram o tilintar de meus saltos sobre o chão, a respiração ofegante de Charles e as minhas palavras, que eram sussurradas em um tom cada vez mais ameaçador.

– Q-quem? - ele questionou, em um sussurro quase inaudível - Q-quem é o responsável por isso?

– Normalmente eu tenho um grande pacto de sigilo com os meus clientes...- sussurrei, me afastando vagarosamente, com passos delicados e um tanto ruidosos - Mas, por que não revelar a você, certo, mon amour? O que de mal pode acontecer? Sabe como dizem...Duas pessoas só podem manter um segredo se uma delas estiver morta, e um de nós irá morrer imediatamente.

– Quem? - ele questionou, agora com a voz um pouco mais forte.

– Richard Fitzgerald. - indaguei em um sussurro, colocando o silenciador na arma, já que precaução nunca seria exagero.

– Aquele bastardo...- Charles sussurrou de forma raivosa, fechando os olhos.

– Um bastardo que paga muito bem, eu diria...E, não, não, não, não, não...Você não deve fechar os olhos, amour...Veja o mundo pela última vez. As luzes de Nova York...Não é uma bela última vista? - questionei, apontando a arma para ele e apertando o gatilho, fazendo a bala partir em direção ao seu peito. Um tiro certeiro.

Charles caiu no chão subitamente, com os olhos arregalados e assustados. Finalmente, seu último suspiro. Sua respiração parou, assim como seus sinais vitais e seu coração.

Guardei a arma novamente em minha meia, indo até o carro e pegando uma rosa negra, que poderia simplesmente desaparecer se colocada contra o céu noturno.

Me aproximei do corpo de Charles e fechei seus olhos. Já que estava usando luvas, não havia com o que me preocupar. Segurei a rosa delicadamente contra o ferimento que a bala havia feito, já que ele ainda sangrava. Depois de alguns segundos tirei a rosa de lá e observei-a. Suas pétalas agora estavam manchadas de sangue, porém não completamente. Detalhes em um tom escarlate, contracenando contra o negro de suas pétalas.

Gotas de sangue escorriam da rosa e caíam no chão. Uma. Duas. Três.

Coloquei a rosa ao lado do corpo e caminhei em direção ao carro, pegando o meu celular e mandando uma mensagem para Henry.

Você fala como se isso fosse algo surpreendente...Um de seus homens já está no restaurante com Richard. O que acha de uma pequena comemoração, envolvendo vinho e as peças que você ganhou no ensaio de hoje?

Revirei os olhos ao ler o fim de sua resposta.

Se com isso você quer dizer que você irá vestí-las, se sentir como um travesti, beber vinho e ficar fora do meu quarto. Ótima ideia.

Você está partindo o meu coração, Emy...Ficar fora do seu quarto? Onde você espera que eu fique? Em uma boate gay?

Respondi e desliguei o celular, dando partida no carro.

* * *

Voltei novamente para o prédio da revista, que já estava quase completamente vazio. Já eram quase dez e meia da noite, o que não significava que meu trabalho do dia estava acabando.

Subi até o meu escritório, sentando em minha cadeira e suspirando, pensando um pouco antes de começar novamente a trabalhar, dessa vez com negócios da revista.

Abri uma gaveta, pegando pastas e pastas, cheias de propostas, documentos, e sem dúvidas, muitas, muitas horas de trabalho.

– Ainda aqui, Lady? - ouvi a voz de Henry questionar, dando-me um susto e me fazendo levantar os olhos rapidamente, encarando o homem sentado à minha frente.

– Por favor, diga-me que você acabou de chegar aqui. - indaguei, fechando de forma vagarosa a pasta que estava analisando.

– Tecnicamente, eu já estou aqui à mais de cinco minutos. Você deveria tomar mais cuidado...

– Eu sei...Eu, eu...Só estou um pouco cansada. Ainda tenho muitas coisas pra fazer, e acho que não vou sair daqui antes de meia-noite.

– Emy, você já trabalhou muito hoje, precisa descansar um pouco. Não é porque está em Nova York que tem que levar a sério o termo "Cidade que nunca dorme". Você tem trabalhado muito ultimamente, deveria se divertir um pouco...- um sorriso maldoso brotou nos lábios dele - Talvez eu possa te ajudar com isso.

– Quando você vai parar com isso, Henry? - questionei, guardando as pastas na gaveta e me levantando da cadeira.

– Apenas quando você me der o que eu quero, Lady. - ele disse a última palavra de forma debochada.

– O Sr. Edgar Le Blanc sabe que você fala dessa forma comigo? - questionei, sabendo que ele debocharia do que eu acabara de dizer.

– Ah, então se importa com a opinião dele agora, Emy? - ele perguntou, levantando-se também - Você deveria saber que ele apoia nosso relacionamento.

– Que. Relacionamento? – caminhei de forma rápida até a saída, saindo do escritório e fechando a porta.

Meus passos continuaram apressados até o elevador, para evitar que Henry me alcançasse. Por mais que eu não tivesse nada contra ele, precisava ficar um tempo sozinha depois do dia cheio que havia tido. Depois de rever Jennifer e de ter uma lembrança nada agradável, eu definitivamente, tinha que pensar um pouco, coisa que não conseguiria fazer de forma alguma com Henry fazendo suas piadas e comentários sexuais perto de mim.

– Emy. - ouvi a voz de Henry me chamar assim que saí do elevador.

– Como você conseguiu chegar aqui mais rápido que eu, super-homem? - demandei, caminhando até a entrada do prédio.

– O que foi? Não acredita mais nos meus super poderes? Você acreditava quando tinha cinco anos...- ele deu um sorriso debochado.

– Se é que você consegue fazer isso...Pode, por favor, me deixar em paz por um tempo?

– Eu até poderia.. Mas, infelizmente não consigo. - ele apressou seus passos e ficou em minha frente - Emy. Você esqueceu sua bolsa no escritório. - meu olhar foi direcionado à uma de suas mãos, que segurava minha bolsa.

– Obrigada. - peguei a bolsa da mão dele, caminhando até a limousine, mas infelizmente, antes que eu pudesse entrar, a mão de Henry segurou-me.

– Você sabe que não é com a intenção de te atrapalhar, certo? - ele questionou.

– É claro que sim, eu só...Não estou de bom-humor hoje, Henry. Você sabe, depois de ter lembra...

– Eu entendo. - ele respondeu - Você tem razão, eu não deveria ter te perturbado tanto depois daquilo. Até mesmo porque isso afeta à nós dois...

– Você não tem culpa por ser um tarado assumido, Henry...É simplesmente parte de sua natureza. - debochei, fazendo-o dar uma risada fraca.

– E com isso você compreende que eu não posso prometer que não vou te estuprar na limousine, certo?

– Perfeitamente. - respondi, entrando no carro.

* * *

Ao chegar em casa, fui imediatamente para o banho, sem nem ao menos prestar atenção na direção que Henry tomava, que provavelmente era seu quarto.

Saí do banheiro vestindo somente a lingerie e um roupão branco, me sentando na frente da penteadeira e encarando meus olhos azuis reluzirem na superfície do espelho. Tudo que qualquer um possa imaginar se passava em minha cabeça.

Não havia sido fácil relembrar algo que me assombrava por toda a minha vida, e que eu tinha demorado tanto tempo para guardar em meu subconsciente, mas eu não poderia deixar que aquilo me atrapalhasse. Um plano maluco de vingança não fazia parte de meus planos, e eu realmente não imaginava um motivo plausível para pensar em algo do tipo. Aquilo não traria minha mãe de volta à vida, não mudaria nem um pouco as coisas, e sinceramente...Eu não gostaria que elas mudassem.

Uma batida na porta me despertou de meus pensamentos.

– Entre. - indaguei, me virando para ver quem adentrava o quarto.

– Com licença, Senhorita Emilly. - Coraline, uma das empregadas disse, entrando vagarosamente no quarto.

– Pode falar, Coraline. – esbocei um sorriso fraco, que sumiu na mesma velocidade com que foi criado.

– Deixaram isso para você hoje de manhã, assim que saiu. - ela disse, tirando de trás de suas costas uma pequena caixa, decorada com um papel cor de rosa e com um cartão pendurado.

– Ah, obrigada por avisar. Você viu quem deixou?

– Não. - ela respondeu, parecendo sincera - Eu fui jogar o lixo fora, quando vi a caixa.

– Ok, não há problema nenhum. - respondi, pegando a caixa de suas mãos e a analisando.

– Com licença. – ela saiu rapidamente do quarto.

Movida pela curiosidade, peguei o cartão que se encontrava na caixa e o li em voz alta o que estava escrito:

– "Para a mais bela das rosas."

Por um momento pensei que aquilo poderia ser um sinal. Com a palavra "rosas" sendo destacada, aquilo poderia ter vindo de alguém que, sem dúvidas, sabia que eu era Lady Death, o que não era nada bom.

Abri a caixa, me deparando com um colar dourado, que tinha um pingente em formato de rosa, feito de ouro envelhecido. Aquilo realmente queria dizer algo? Parte de mim acreditava fortemente que sim, mas outra parte queria somente esquecer aquilo, pensar que era só um presente de um fã e colocar na caixa de joias onde eu guardava vários outros colares.

Tendo como qualquer um dos dois pensamentos citados a escolha final, não pude deixar de notar a beleza do colar em minhas mãos. Era uma peça delicada, e ao mesmo tempo bonita, lembrando-me de filmes de época, algo que realmente admirava.

Afastei meu cabelo do pescoço e coloquei o colar, admirando-o reluzir sobre a luz do quarto.

– Emy? - a voz masculina que eu reconheceria em qualquer lugar soou em meus ouvidos. Henry.

– Pode entrar. - indaguei, sem tirar meus olhos do espelho.

– Eu vim apenas ver como você está. - ele entrou no quarto e me observou detalhadamente - Não me parecia muito bem quando voltamos para casa. É por causa daquele tal de Damien, certo?

– Sim. - respondi, virando-me para encará-lo e tendo uma surpresa. Henry estava apenas usando calças, e seu abdome definido me chamou atenção de forma imediata, mesmo que não fosse a primeira vez que eu o via daquele jeito.

– Que colar é esse? - ele questionou, se aproximando de mim com um sorriso fraco, notando a direção de meu olhar.

– Coraline disse que deixaram essa caixa aqui hoje de manhã. – fechei a caixa onde estava o colar - O conteúdo era o colar, não posso dizer que não o achei bonito. - indaguei, decidindo não falar sobre o cartão para Henry, não ao menos naquele momento.

– É um belo colar. - ele admitiu - Mas, eu realmente prefiro você sem ele.

Henry caminhou vagarosamente até atrás da cadeira onde eu sentava. Suas mãos acariciaram minha nuca de forma fugaz, e assim que pararam, ele abriu o fecho do colar, tirando-o e repousando-o sobre a penteadeira.

– Sabe o que mais? - ele disse, virando minha cadeira de forma delicada - Eu também prefiro você sem esse roupão...- ele desfez o nó do roupão, tirando-o como se eu fosse um manequim, e não uma pessoa, como se eu não possuísse vontade própria. A verdade? Naquele momento eu realmente não possuía nada além de uma forte admiração pelos atos carinhosos e ao mesmo tempo sensuais de Henry. Simplesmente o permitia fazer o que quisesse, sem nenhum tipo de questionamento. Não estava com cabeça para uma discussão agora, e embora não quisesse que aquele momento fosse em frente, sabia que não poderia evitar sem um bom argumento.

– Muito melhor...- ele encarou meu corpo coberto somente por uma lingerie preta.

Me levantei rapidamente da cadeira, percebendo que eu não poderia evitar as vontades de Henry naquela noite. A porta estava trancada, e nenhum empregado tinha permissão para entrar sem que eu deixasse, o que Henry não permitiria que acontecesse naquele momento.

– É isso o que você quer, certo? - sussurrei em seu ouvido, passando a mão por seu peitoral despido.

– Perfeitamente. - ele respondeu, me puxando para mais perto de si e encostando seus lábios nos meus de forma selvagem.

Suas mãos percorriam todo o meu corpo, dedilhando minhas curvas e parando rapidamente sempre que chegavam em meus seios. Nossas línguas se encostavam, fazendo-me sentir eletrocutada sempre que a ação se repetia. Minha mão esquerda dedilhava seu cabelo macio, enquanto a direita acariciava habilidosamente seu abdome. Não pude nem ao menos me dar conta do que havia acontecido quando Henry se cansou daquilo e me jogou na cama, de maneira quase selvagem.

* * *

Acordei com a luz invadindo meus olhos e percebi que havia adormecido sobre o peitoral de Henry, que me encarava com um sorriso fraco.

– Bom dia, Lady. - ele deu um sorriso debochado, como se contasse vitória pela noite anterior.

– Bom dia. - indaguei, me levantando rapidamente - Se alguém souber do que houve, você está morto, Henry.

– Também achei a noite de ontem incrível, Lady. - ele disse de forma debochada, se levantando e vestindo suas roupas.

– Saia. – ordenei assim que ele terminou de se vestir.

– Tudo bem, não precisa chamar o segurança...Opa, ele sou eu. - ele sorriu novamente, erguendo as mãos ao perceber a forma mortal como eu olhava para ele - Ok, ok, eu saio.

Assim que Henry saiu, eu fechei a porta, me encostando nela e suspirando fundo. O que havia acontecido na noite anterior havia sido um erro, um total e completo erro. Eu não tinha tempo para pensar no que aquilo acarretaria caso alguém descobrisse, mas também não conseguia parar de pensar na hipótese de Henry espalhar aquilo para Deus e o mundo. Ele era uma das poucas pessoas em quem eu confiava, mas não era por isso que eu não deveria pensar no assunto. Ele havia passado o dia todo me dando cantadas baratas, fazendo piadas e comentários com calão sexual, e no final, havia conseguido o que queria, não seria algo tão improvável se no final das contas ele resolvesse se gabar por isso.

Pare de pensar besteiras, Emilly. Ordenei a mim mesma em pensamento, indo até meu closet e escolhendo uma roupa.

Por mais que eu tentasse, não conseguia desviar de minha mente o colar que havia recebido na noite anterior. Quando algo pode desabar em uma questão de segundos, qualquer sinal de alerta pode ser enlouquecedor, e isso me fazia pensar cada vez mais no que aquela rosa poderia querer dizer. Enquanto me arrumava, minha mão correu várias e várias vezes pela caixa de joias, onde o colar estava guardado. Minha ânsia para contar a Henry sobre ele era quase tão grande quanto a minha vontade de ignorar aquilo tudo e guardar aquilo no lugar mais profundo de meu subconsciente.

– Posso entrar ou corro o risco de ser assassinado pela grandiosa Lady Death? - ouvi a voz de Henry questionar do outro lado da porta.

– Por que você não opta por bater na porta como uma pessoa normal, ao invés de fazer mais uma de suas piadinhas? - questionei, levantando-me da cadeira da penteadeira e indo abrir a porta.

– Ser normal não é algo que eu goste ou admire, Emy. - ele indagou, entrando no quarto com um sorriso um tanto malicioso em seu rosto.

– Foi a primeira coisa que eu pude deduzir sobre você na primeira vez que te vi. - comentei, ignorando sua presença e escolhendo qual sapato usaria naquele dia.

– Preparada para encontrar sua amiguinha? - ele me seguiu até o interior do quarto.

– Por que isso deveria exigir um grande grau de preparação? - questionei, sem nem ao menos me preocupar em olhar para ele.

– Não sei...Faz anos que vocês não têm uma conversa, quais são suas expectativas? Mais uma daquelas conversas femininas idiotas? "Ah, meu Deus! Isso é sério? Eu nem acredito! Ah, amiga, você não vai acreditar!" - debochou ele, fazendo uma voz feminina.

Peguei um par de sapatos e coloquei, abrindo a outra parte do closet e pegando um vestido, dando-o de forma bruta para ele, que me olhou de forma confusa.

– E isso seria para...?

– Já que você imita tão bem uma conversa de mulher, porque não realiza seu sonho de virar travesti e arruma uma amiguinha pra você? – debochei de forma um tanto brava, saindo do quarto com rapidez e batendo a porta.

– É pra eu imitar a sua TPM também? - ele questionou em voz alta, para que eu ouvisse.

– Idiota. - sussurrei para mim mesma enquanto descia as escadas.

* * *

Nove horas, dez minutos.

Eu não poderia estar mais nervosa ou ansiosa para que o relógio em meu pulso marcasse nove e meia. Por mais que eu odiasse admitir, Henry estava certo. Aquela ocasião havia me deixado em grande expectativa, até mesmo porque eu não fazia a mínima ideia do que esperar. Era algo completamente profissional, assim como eu já havia feito várias vezes, mas o fato de ser com uma velha amiga dava à ocasião todo um clima diferenciado.

Eu não conseguia me concentrar direito em nada do que tentava fazer, todos os papéis entreabertos em minha mesa denunciavam isso. Sempre que meus olhos tentavam se fixar nas palavras, minha mente mandava minha atenção para um lugar completamente distante. Não poderia dizer ao certo porque eu estava tão nervosa, talvez pelo fato de não saber ao certo se Jennifer continuava sendo uma pessoa confiável, talvez por toda a tensão que havia rolado em nosso encontro no dia anterior. A verdade era única: eu havia ficado daquele jeito somente por poucas vezes em minha vida, e sempre que aquilo acontecia, eu sabia imediatamente que se tratava de algo muito importante pra mim.

O barulho de meu celular tocando em cima da mesa me fez levar um leve susto. Era uma mensagem de Henry:

"Nervosa? Aposto que sim. Desça logo daí, sua amiguinha já deve chegar, não quer deixá-la esperando, certo? Prometo não fazer nenhum comentário."

"Quem é você, e o que você fez com o Henry?" – respondi, bloqueando o celular e colocando-o em minha bolsa.

Me levantei rapidamente da cadeira, recolocando os sapatos que não haviam parado em meus pés por nem um segundo, em decorrência do nervosismo e da ansiedade. Caminhei em passos apressados até o elevador e adentrei-o, direcionando meu olhar à um ponto diferente à cada segundo.

Assim que cheguei à porta do prédio, Henry me direcionou um olhar quase cúmplice, como se esperasse uma resposta tão maliciosa como o próprio ato.

– Vá fazer algo de útil, Henry. - ordenei, dando um leve tapa em suas costas.

– E deixar minha preciosa Lady sozinha aqui fora até que sua companhia chegue? De forma alguma...- ele indagou, falando de mim como se eu fosse uma criancinha indefesa.

– Onde você aprendeu a ser tão implicante, Henry? - questionei, encarando-o de forma nem um pouco amigável.

– Acho que você quis perguntar onde eu aprendi a ser tão sexy, certo, Emy? - rebateu ele, devolvendo o meu olhar com um sorriso debochado.

– Você está certo em um ponto, Henry. - disse, fazendo-o se surpreender e ficar mais atento no que eu dizia - Eu realmente me enganei...Eu não quis dizer implicante, a palavra certa era desprezível.

– Não era o que parecia ontem à noite...- ele disse em voz baixa, com um tom mais provocante do que eu achava ser possível.

– Idiota. - sussurrei, observando a rua movimentada, por onde uma conhecida mulher loira caminhava. Jennifer.

– Ei, aí está você. - disse de forma animada assim que Jennifer parou ao meu lado, parecendo meio tímida.

– Oi. - ela disse, de forma envergonhada.

– É bom vê-la, Jennifer. - Henry indagou, abrindo um sorriso fraco.

– Igualmente. - a loira respondeu, encarando Henry rapidamente.

– Então...Vamos? - questionei à Jennifer - Eu escolhi a You Are. You Eat.¹, costumava ser a nossa favorita.

– Claro. - ela respondeu, esboçando um sorriso.

– Damas...- Henry caminhou até a porta da limousine, abrindo-a para que entrássemos.

Jennifer entrou primeiro, parecendo um tanto fascinada com a limousine. Tive que me segurar para não esboçar um sorriso com a expressão que a loira fazia a cada vez que começava a analisar o interior do veículo.

– Obrigada, Henry. - Jennifer indagou.

– Não é nada além do meu trabalho. - ele respondeu, sorrindo de forma divertida e olhando em minha direção - Não vai me dizer nada, Emy? - pude sentir o deboche em seu tom de voz, e sabia que Jennifer também havia percebido isso.

– Faça algo de útil. – ordenei, exibindo um sorriso debochado.

– Você é tão amável...- ele comentou de forma irônica, fechando a porta da limousine.

Assim que ele o fez, o motorista deu partida e a atenção de Jennifer se voltou à mim.

– Eu pensei que ele fosse com você em todo o lugar. - ela comentou, como se quisesse me perguntar algo com aquilo.

– Digamos que ele ainda gosta de bancar a babá. - respondi.

– Vocês continuam bem próximos...

– Sinceramente? Acho que se ele morresse, continuaria me atormentando, só que de forma fantasmagórica. - Jennifer deu uma risada fraca.

Fomos rapidamente até a cafeteria, chegando lá pouco antes das dez. Sentamos em uma mesa perto da entrada, assim como costumávamos fazer quando adolescentes.

– Essa mesa, definitivamente, tem muita história. - Jennifer comentou, como se lembrasse de todos os momentos que havíamos tido naquela cafeteria.

– Sim. - respondi, esboçando um sorriso fraco - Muita história, e muitas camadas de vários tipos de bebida. Se lembra de quando derrubávamos nossos copos de tanto rir de algo?

– Com certeza. - ela respondeu, sorrindo.

Depois de um tempo de conversa, as perguntas começaram. A entrevista não era muito diferente de qualquer outra que eu havia feito, o único diferencial era o fato de envolverem perguntas que outras pessoas jamais teriam como fazer, até mesmo porque elas envolviam coisas sobre mim que uma pessoa comum jamais saberia.

Meus ouvidos pararam de ouvir. Meu cérebro parou de raciocinar. Meus olhos pararam de prestar atenção nos movimentos de Jennifer assim que um homem entrou na cafeteria. Ele usava jeans, uma jaqueta de couro e um par de tênis, seus cabelos loiros estavam levemente bagunçados, e pelo o que parecia, seu rosto exibia uma barba por fazer extremamente sexy. O homem não havia notado minha presença no local, mas eu sabia exatamente quem ele era: Jack.

¹ You Are. You Eat. é uma cafeteria real, que fica na sétima avenida, em Manhattan, Nova York.


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Notas finais do capítulo

Reviews? Espero que tenham gostado, e até o próximo capítulo, que será ótimo para os fãs do Jack.
Não se esqueçam de visitar o tumblr oficial, com fotos, gifs, avisos e spoilers: http://ladydeathstory.tumblr.com/