Lady Death I - Desires escrita por Leena C Anderson


Capítulo 4
Completamente Sexy


Notas iniciais do capítulo

Olá, lindos leitores! Tenho um comunicado para vocês: devido ao meu azar nas últimas sextas-feiras (na sexta-feira passada, visitas chatas, nessa, eu fiquei sem internet por um bom tempo), eu resolvi que, a partir de agora, os capítulos serão postados aos sábados.
Devo admitir que esse capítulo é o meu favorito até agora. Preparem-se para se deliciarem muito com os comentários do Henry, e uma curiosidade: eu me envolvi tanto com os comentários dele, que um desses, acabou dando o título ao capítulo.
Tenho mais algumas novidades para vocês hoje, sendo elas o trailer da história:
http://www.youtube.com/watch?v=NZ2Ta0r64sk&feature
E a página oficial da história no Facebook:
https://www.facebook.com/ladydeathstorydesires
Boa Leitura!



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– Emilly? - Henry chamou meu nome, fazendo-me sair de meus pensamentos e perceber que os doze homens em volta de mim esperavam por uma resposta.

– Ah, claro...- falei, me recompondo - A resposta é não. - minha voz soou mais fria do que eu desejava.

Rapidamente, os rostos de todos os homens ao meu redor formaram expressões de incredulidade. Para eles, a proposta sem dúvida era irrecusável. Uma ótima forma de popularizar mais ainda a HCH, e de tornar a máfia cada vez mais global. Já pra mim, aquilo era considerado inaceitável. Eu não iria fazer uma irmandade com o homem que matou minha mãe; com o homem que poderia ter me matado, se não houvesse dado uma chance ao meu pai. Eu estava na mira dele. Uma criança inocente e indefesa...Ele não teria nenhum trabalho para sacar a arma que eu tinha certeza que estava com ele e atirar em mim no exato instante em que entrou na sala à dezenove anos atrás. Aceitar aquela proposta agora seria como um suicídio indireto.

– C-com todo o respeito... Lady...- Samuel começou a falar, chamando a atenção de todos - Não acho que essa seja uma oferta ruim. A HOM parece ser uma corporação respeitada, e não entendo quais motivos a levaram a recusar a oferta. Não fazemos parcerias à um bom tempo... Sei que a HCH tem um grande histórico de individualismo, e de que não precisa de nenhuma outra máfia para se apoiar, mas uma parceria agora não seria de nenhum modo algo ruim. A HOM parece ser consagrada, e por mais que a HCH tenha um grande reconhecimento, ainda não conquistamos completamente o mercado negro...Eles sabem que somos capazes, sabem que somos grandes e extremamente poderosos, mas como tenho certeza que sabe, alguns não aceitam o fato de uma máfia...Um tipo de corporação com histórico severamente masculino, ser comandada por uma mulher.

– Não. - indaguei novamente, dessa vez com mais convicção.

Eu não estava acostumada a tomar uma decisão concreta sem apresentar bons motivos, porém eu não iria revelar de forma alguma o verdadeiro motivo de minha resposta. Por mais que eles tivessem o direito de saber o motivo de uma decisão tão estranha e contraditória, eu também tinha o direito de manter aquilo para mim. Era algo pessoal de mais para ser falado em público...Principalmente para homens que tinham como função respeitar minhas decisões e passá-las a diante.

– Emy...- agora foi a vez de Henry protestar - Eu...Eu não entendo. Samuel está certo. A proposta é muito boa, porque não aceitá-la? Seria de grande utilidade para toda a HCH, e poderia facilitar muito algumas coisas. Uma parceria com uma máfia de histórico inestimável poderia nos render muitas coisas... Poderíamos conseguir cada vez mais credibilidade, cada vez mais gente trabalhando. A HCH se tornaria algo completamente global. Sei que não é correto, e nem nosso trabalho influenciarmos em suas decisões, mas...Eu estou simplesmente tentando entender a razão de sua decisão.

– A palavra "não" possui algum significado para vocês?! - falei, agora com a voz mais ríspida e autoritária - Quantas vezes vou ter que repeti-la?!

– Em...

– Não tente me fazer mudar de ideia, Henry! - vociferei, levantando-me rapidamente da cadeira e caminhando até a porta, pronta para sair daquela sala, onde eu não receberia nada além de olhares incrédulos e questionadores - E nem pense em me seguir!

Por mais que eu tivesse tentado, já sabia que as minhas últimas palavras seriam em vão. Henry me seguiria... Não apenas porque os outros discípulos esperavam que ele fizesse isso e achasse um motivo para toda aquela explosão de raiva repentina, mas também porque ele deveria estar preocupado. Eu já mais agiria de forma explosiva e irracional se não tivesse um bom motivo, e também sabia enxergar uma boa proposta de longe. Para ele e para qualquer um que me conhece ao menos um pouco, recusar uma boa proposta e logo em seguida ser explosiva poderia ser considerado um alerta máximo de algo de errado estava acontecendo.

* * *

Caminhei para o escritório em passos apressados, torcendo para que Henry não conseguisse me acompanhar para ter ao menos alguns segundos sozinha. Ele viria atrás de mim até no inferno, e essa era uma das certezas que eu tinha.

Por sorte, por um milagre, ou por qualquer coisa em que queira acreditar, tive alguns minutos de paz e silêncio antes que Henry batesse na porta. Quando ele o fez, eu estava observando os prédios de Nova York através da parede de vidro atrás de minha mesa e pensando em como o passado poderia voltar a me assombrar de forma tão repentina.

– Entre. - indaguei, sem nenhum tom diferenciado em minha voz.

– O que aconteceu lá dentro, Emilly? - ele questionou enquanto trancava a porta e andava rapidamente em minha direção - O que foi aquilo? Você...Você nunca age daquela forma. Sempre tem um motivo plausível para as decisões que toma. O que está acontecendo?

– É complicado... - respondi, sentando-me em minha cadeira sem nem ao menos olhar diretamente para Henry, simplesmente para ganhar tempo.

Ganhar tempo para organizar a confusão em minha mente. Ganhar tempo para raciocinar com perfeição e descobrir porque aquela proposta estava sendo feita. Ganhar tempo e conseguir explicar exatamente tudo para Henry. Ao menos ele tinha que saber. Ele tinha e merecia saber. Isso também influenciava a vida dele. Damien Kleeman. O bastardo idiota que havia matado não só a minha mãe, mas também o pai de Henry.

– Complicado assim como é administrar a maior revista do país e uma das maiores máfias do mundo ao mesmo tempo? Complicado assim como é ajudar, proteger e tentar entender a pessoa que consegue fazê-lo? Complicado assim como é estar com você o tempo todo e tentar não enlouquecer por querer não estar com você o tempo todo, mas sim estar na cama com você o tempo todo? - Henry questionou, com um sorriso maléfico se formando rapidamente em seu rosto - Eu acho que eu consigo entender, Emy. Você nunca fica assim...Tem que haver uma explicação no mínimo razoável.

– Você está certo... - eu digo, suspirando logo em seguida.

– Sobre o fato de querer estar na cama com você o tempo todo? Ora, se também é o seu desejo, porque nós não...

– Cale a boca, Henry. - indaguei, interrompendo-o - Eu não estou com humor para brincadeiras agora.

– Não me respondendo de forma hostil e irônica como de costume...O assunto é realmente sério.

– Você nem imagina o quanto. - comentei em um sussurro, mas pra mim mesma do que para ele.

– Então...Quando vai começar a falar? - ele questionou, sentando-se em uma das poltronas posicionadas na frente de minha mesa.

– Eu sei perfeitamente que a proposta é ótima...Ótima e horrivelmente tentadora, mas eu jamais poderia aceitá-la. Damien Kleeman... Ele é o motivo pelo qual eu recusei a proposta de forma tão absurda.

– Damien Kleeman, o chefe da máfia... Vocês se conhecem, certo? - Henry perguntou, com um tom calmo e calculista - Quer dizer... Se ele é o motivo para que você tenha recusado, vocês obviamente se conhecem.

– Sim, na verdade não exatamente. Eu já o vi uma vez, quando era criança. Tinha cinco anos, e jamais poderia esquecer dele. Eu... Não sei como dizer isso, Henry, mas foi ele o responsável pela morte da minha mãe... E obviamente, do seu pai.

– Ele foi responsável pelo o quê?! - Henry questionou, parecendo completamente atordoado e ao mesmo tempo concentrado nas palavras que eu diria a seguir.

– E-eu vi, Henry... E-eu...Você precisa me prometer que ninguém irá saber do que eu vou te contar agora.

– Eu prometo.

– Eu vi minha mãe sendo morta. - afirmei, de forma direta e fria. Fria de uma forma que eu já mais imaginei ser possível dizer uma coisa dessas.

– Você... Mas, sua mãe... S-seu pai...Ele sempre dizia que sua mãe havia sido morta quando estava junto com ele, em um cassino, em Las Vegas. Eu poderia jurar que essa notícia foi a primeira página de jornais e de revistas por toda aquela semana..."Mulher de empresário, dono de uma das maiores redes de canais de televisão morre em cassino".

– Você sabe como ele é... Conseguiria manipular qualquer um para que tivesse a notícia que ele quer como primeira página. Essa não foi a verdade... Eu vi como aconteceu. Ele... Ele atirou nela, simplesmente mirando em seu peito e apertando o gatilho. Eles pensavam que eu estava dormindo, mas eu estava assustada de mais para dormir naquele dia... Eu havia ouvido uma conversa dele com Damien mais cedo, e não conseguia dormir de forma alguma. Saí do quarto para pedir pra dormir com eles naquela noite, e...Acabei vendo como tudo aconteceu.

– O Edgar...E-ele matou a própria esposa? Isso significa que ele também matou o meu pai? Como...Como aquele bastardo filho da...

– Não foi exatamente assim que aconteceu, Henry. - disse antes que ele pudesse terminar de falar, sabendo que se eu não esclarecesse logo as coisas, aquilo se transformaria em um grande estágio de fúria.

– Como não foi assim que aconteceu?! Como Damien pode ter culpa se foi seu pai que a matou?! Como ele pode ter feito isso?!

– Ele não teve escolha, Henry...- meu tom continuava calmo e controlado, completamente diferente do de Henry, que apresentava-se completamente banhado em raiva.

– Como ele pode não ter tido escolha?! - ele vociferou, fazendo-me estremecer internamente.

– Ele simplesmente não teve escolha... Porque era ela, ou eu. - indaguei com um sussurro, de forma que as últimas palavras saíram de minha boca de forma dolorida.

Henry suspirou, fazendo um grande esforço para se acalmar e provavelmente tentando entender o que eu estava tentando dizer com aquilo.

– O que você quer dizer com isso? - questionou ele, em um tom muito mais calmo.

– Naquele dia, mais cedo...Eu estava com meu pai na sala, mostrando à ele uma boneca nova, que eu havia ganhado. De repente, um homem apareceu e ele mudou completamente sua expressão, mandando que eu subisse as escadas e fosse ficar com minha mãe. Eu não obedeci completamente. Subi as escadas, mas continuei lá, ouvindo a conversa... Eles começaram a falar algo sobre um traidor em meio aos homens do meu pai, que ficou imediatamente furioso... Damien disse que já que não teria o que supostamente era seu por direito, meu pai também perderia algo que queria, ou melhor, algo que amava. Ele tinha até a meia-noite do dia seguinte para matar uma de nós, se não o próprio Damien o faria. - parei de falar, fechando os olhos e tentando impedir que as lágrimas começassem a brotar.

– Emy, eu...- Henry começou, sendo interrompido por mim novamente.

– Não, por favor...Me deixe terminar de falar.

– Como quiser...

– Eu era muito pequena para entender precisamente o que aquilo queria dizer, mas me lembro de ter ficado com medo. Mesmo assim, não contei nada a minha mãe. E à noite... Quando eu vi aquilo tudo acontecendo... - balancei a cabeça vagarosamente para os lados, em uma tentativa completamente inútil de detalhar os acontecimentos sem repetir a cena em minha mente - Eu fiquei os observando pela porta do quarto, que estava entreaberta. Os dois conversavam... Minha mãe já parecia estar um pouco conformada com a ideia. Preferia, definitivamente, morrer a me perder. Já meu pai... Ele ainda tinha esperança de que iria achar um jeito... Um jeito de não ter que matar nenhuma de nós duas, mas minha mãe foi mais sensata. Ela sabia que Damien provavelmente não esperaria até o término do prazo que deu ao meu pai, e que ao escolher uma de nós duas para matar, escolheria a mim... Ela conseguiu convencê-lo de que o melhor a ser feito naquele momento era matá-la imediatamente e arrumar um jeito de fazer uma cena falsa e trágica por trás da morte dela. Ela... Disse que não conseguiria viver sem mim, principalmente sabendo que poderia ter morrido no meu lugar. E então, eles se despediram, e ele... Ele simplesmente a matou. Diga o que quiser, mas a culpa sempre será de Damien.

Ficamos em silêncio por alguns minutos. Henry parecia estar tentando arduamente digerir todas aquelas informações, e depois que parecia bem conformado com a ideia, finalmente falou:

– Eu teria feito o mesmo... No lugar dele. - suas palavras foram ditas em um tom baixo - A boneca... É aquela que você guarda no seu closet, não é? Em cima da caixa do seu vestido de formatura...

– Sim...- respondi, dando um suspiro longo em seguida - Minha mãe havia me dado naquele dia...Disse que me daria uma nova no Natal. Eu pedi a boneca pra ele depois disso, e...Ele negou. Disse que a única pessoa que poderia me dar aquela boneca era ela, e que se ela não me daria, então eu jamais teria a bone...Ei, como você sabe disso?

– Disso o que? Que você estava mostrando uma boneca ao seu pai? Você acabou de falar...- Henry me olhava de forma confusa.

– Não. Como você sabe que eu guardo uma boneca no meu closet, mais precisamente em cima da caixa do meu vestido de formatura?! - questionei, já tendo quase certeza de qual seria a resposta.

– Talvez eu goste de observar suas coisas, Lady. - a última palavra era pronunciada quase em um tom de deboche, porém eu não conseguia ficar brava com ele simplesmente por causa disso. Ele era como um irmão mais velho... Um irmão mais velho implicante, idiota, intrometido, e inegavelmente sexy.

– Observar minhas coisas? Como assim observar minhas coisas?! Você simplesmente entra no meu quarto sem permissão e fica...Olhando pra ele?

– Não, Emy...A verdade é que o meu grande sonho é ser um travesti, então eu entro no seu quarto sem permissão, abro seu closet e fico observando todas aquelas roupas e sapatos caros, desejando poder vesti-las algum dia, embora na verdade meu sonho não seja apenas ser um travesti, mas também fazer uma cirurgia de mudança de sexo... - Henry indagou, com um falso tom maravilhado e com os olhos brilhando um pouco. Talvez o tom não fosse tão falso assim, afinal...

– Isso é sério? – questionei, indecisa entre rir ou ficar chocada.

Henry caiu na gargalhada.

– Tão sério quanto o fato de eu nunca ter te visto nua, Emy... - ele suspirou, se recuperando de seu repentino ataque de riso e dando um sorriso fraco - Talvez não tenha sido uma ideia tão brilhante contratar uma empregada que é completamente caidinha por mim, Emy...Foi só pedir o pequeno favor de me deixar entrar no seu quarto, dispensando uma camisa no momento do pedido e... Vouilá.

– Eu não acredito que a Madeleine deixou você entrar no meu quarto...Ela deveria ao menos ter um preço mais caro.

– Ah, não...Quer dizer, eca, Emilly. Eu sou um homem de princípios, já mais faria isso somente para entrar no seu quarto.

– Falando nisso...Pra que diabos você queria entrar no meu quarto?!

– Razões pessoais...Além do mais, acho que temos assuntos mais importantes para discutir agora. - ele indagou, fazendo-me suspirar e fechar os olhos com força, abrindo-os não mais do que dois segundos depois.

– Por favor, me prometa que você vai guardar isso pra você, e que não vai tentar, de forma alguma, fazer o cara pagar pelo o que fez. - indaguei, olhando diretamente para os olhos de Henry.

– A rainha da vingança falando dessa forma? Peguem os guarda-chuvas, Nova York...Parece que vai chover. - ele esboçou um sorriso debochado.

– Primeiro, eu não sou a rainha da vingança, e segundo...Eu não quero que esse assunto renda boatos. Isso morre aqui, e sim, a minha decisão ficará sem uma explicação para os outros.

– Sim, senhora. - Henry disse, sabendo completamente que eu odeio quando ele me chama de senhora - Ah, e só pra constar...Eu não iria fazer nada, de verdade. Ele, quer dizer...Seu pai sempre dizia que a mesma pessoa tinha matado os dois, sua mãe e meu pai...Eu nunca pensei que fosse saber quem fez isso, e de qualquer forma, não vai trazer os dois de volta, certo?

– É...- respondi em voz baixa - Eu só queria saber o por que dessa proposta...

– Não pode ser só uma proposta de parceria, simplesmente isso? - Henry questionou, recebendo um olhar repreensivo em troca - Ok, você está certa, pergunta idiota. Não, não pode ter sido só isso.

– Ele sabe quem é meu pai, Henry...É claro que sabe. Se ele sabe que Edgar Le Blanc é Lord Death, sabe perfeitamente que eu sou Lady Death. Não sei o que ele poderia querer comigo, mas não quero tocar no assunto. Vamos simplesmente esquecer isso...É o melhor que temos a fazer.

– E quanto ao e-mail? - ele perguntou, voltando a falar em um tom completamente profissional.

– Ignore-o. Se ele voltar a mandar e-mails, me avise imediatamente e eu pensarei em uma solução.

– Perfeitamente. O carro está lá em baixo esperando-a...E eu tomei a liberdade de fazer uma reserva no seu restaurante favorito.

– Isso é ótimo...Vamos descer. - me levantei da cadeira, andando vagarosamente pelo escritório até chegar a porta, sendo obviamente acompanhada por Henry, que me deixou ir na frente.

– Você sabe o quão absurdamente sexy você fica com essa roupa? - ele questionou, e mesmo estando de costas, eu sabia que estava exibindo mais um de seus sorrisos.

– Com certeza sei. - respondi, sem nenhum senso se humor - E só pra constar, eu ainda não sei o que a Madeleine vê em você.

– Hmm, por onde eu deveria começar? Talvez ela esteja apenas se espelhando na chefe...Ela sabe que você me acha completamente sensual, provocante, desejável e...

– Desprezível, é eu sei. E só por isso, mon amour, você vai ir pelas escadas... - disse, entrando no elevador e apertando o mais rápido que pude o botão.

– Filha da mãe. Completamente sexy, mas uma filha da mãe...- ouvi ele dizer em voz baixa, enquanto a porta do elevador se fechava.

* * *

Quando Henry chegou até a Limousine, eu já deveria estar lá à quase cinco minutos. Fui contemplada com um belo olhar que dizia: "É total e completamente desnecessário você me obrigar a descer vinte e cinco andares pelas escadas", e simplesmente o ignorei, dando um sorriso fraco ao ver que ele não parecia nem um pouco cansado mesmo depois de tanto esforço físico.

– O que vai pedir? - ele perguntou, sem parecer estar tão interessado assim no assunto.

– O mesmo de sempre...- respondi sem muita convicção - Você...?

– Isso depende...- ele sorriu maliciosamente e logo continuou - Você está no cardápio? Porque eu adoraria saborear cada canto de seu belo, escultural e completamente desejável corpo...

– Qual é o problema, Henry? Você não costuma ser tão pervertido assim. O que está acontecendo? - questionei, já que já havia ficado cansada de todas as cantadas e propostas maliciosas que ele havia me feito apenas nesse dia.

– Não posso querer relembrar os velhos tempos, Lady? - ele questionou, mas eu sabia que não era apenas provocação. Havia algum motivo para ele estar agindo daquele jeito...

– Não. Quando você começa a me tratar como se eu fosse um objetivo sexual ainda não alcançado, isso não é uma opção...O que está acontecendo? Por que você está agindo dessa manei...- antes que eu pudesse terminar minha frase, uma lembrança me veio em mente, uma lembrança que poderia ser o motivo pelo qual Henry estava agindo de forma tão sádica - Você está com ciúmes não é?

– O quê? Não, por favor, Emy...- ele deu uma risada debochada, esboçando um sorriso da mesma espécie - Porque diabos, em sã consciência, eu ficaria com ciúmes de você?

– Hoje de manhã você estava exageradamente preocupado com o meu paradeiro de ontem à noite, e agora tenho certeza de que você sabe exatamente onde e com quem eu estava. Não gosta da ideia de que eu tenha beijado um homem desconhecido ontem à noite, na boate?

– Primeiro: minha preocupação era algo extremamente plausível, levando em conta sua importância. Segundo: Eu não sou seu namorado, você tem o direito de beijar e fazer outras coisas com quem quiser, quando e onde quiser. Terceiro: Eu não sou um homem que ficaria com ciúmes simplesmente por isso, principalmente de alguém que nem ao menos me pertence.

– Ok. Entendi, você não está com ciúmes. Mesmo assim...Porque está agindo dessa maneira? - questionei, deixando de lado todas as especulações sobre o suposto ciúme que Henry sentira.

– Simples: enlouquecer você é um dos meus passatempos favoritos, Emy...E a forma mais rápida de fazê-la perder a cabeça é tentando convencê-la a admitir que você se sente atraída por mim.

– Mas, eu não me sinto...

– Não importa. Você não vai se livrar de minhas provocações de forma tão fácil...- ele me interrompeu, sorrindo ao terminar de falar e saindo da limousine, voltando ao seu papel de guarda-costas e abrindo a porta para que eu saísse.

Como de costume, o restaurante havia preparado uma mesa bem longe de todos os outros clientes, simples e puramente para que me sentisse à vontade, o que jamais aconteceria com pessoas ao meu redor tirando fotos de forma discreta, ou nem tanto, e observando cada palavra que dizia e cada ação feita por mim.

Depois de menos de dois minutos que entramos no estabelecimento, um garçom foi até nossa mesa para anotar o pedido. Uma grande vantagem de ser reconhecida publicamente é que você nunca tem que esperar como as pessoas normais para ter algum tipo de serviço. Você sempre será atendido de forma especial e impressionantemente rápida, o que é completamente útil como se tem compromissos à toda hora.

– Emy...- Henry me chamou, fazendo-me virar para ele, parando de prestar atenção na decoração do restaurante, que era completamente impecável.

Paredes pretas na parte inferior, e brancas na superior, decoradas com quadros de diversos artistas, que eram postas em molduras pretas perfeitamente bem desenhadas, como réplicas perfeitas das seculares molduras de ouro que decoram quadros em museus de todo o mundo. Em uma das paredes, uma enorme janela com vista para um jardim repleto de plantas e roseiras de todos os tipos, as quais eram muito bem cuidadas. Na parede contrária à que estava a janela, se encontravam duas enormes pilastras retangulares de vidro, com as laterais pretas, que na verdade eram aquários, decorados com as mais belas plantas aquáticas, e com diversas espécies de peixes. Ao meio dessas pilastras, uma roseira falsa, generosamente decorada com rosas vermelhas, dando ao restaurante todo um tom de superioridade. Mesas redondas e negras, assim como as cadeiras; sendo as mesas cobertas com toalhas brancas e sendo decoradas ao centro com uma rosa vermelha em cada mesa, posta dentro de jarros de vidro exuberantemente trabalhados. Um restaurante completamente luxuoso e detalhadamente decorado.

– Sim? - respondi, encarando-o diretamente.

– Eu andei pensando no que você disse...Sobre Damien, a proposta dele, o que aconteceu...Não acha que seu pai deve saber disso? - ele questionou, com seus olhos me observando de forma aflita.

– Não. De forma alguma. - respondi automaticamente, sem nem ao menos pensar na hipótese.

Se isso dizia respeito ao meu pai? Sim, é claro que dizia. Porém, ao mesmo tempo eu queria simplesmente poder cuidar disso sozinha, ao menos por enquanto.

– Emilly, eu... - Henry começou, suspirando logo em seguida - Eu não quero discutir com você, questionar suas decisões, já que isso é uma opção sua, mas...Primeiramente, se ele está fazendo a proposta somente pelo o que aconteceu à anos atrás, o seu pai é o primeiro a ser o culpado por isso. Ele precisa saber...

– Não, não precisa, Henry. Podemos...Podemos só deixar as coisas acontecerem, certo? É claro que podemos. Você mesmo disse que o melhor a ser feito agora é ignorar o e-mail e deixar isso morrer, ou deixar que ele tente contato novamente. Sei qual é o seu ponto de vista, e também sei que não está errado, mas acho que devemos esperar um pouco. Se ele mandar outro e-mail, se tentar contato novamente, eu prometo que vou mandar alguém investigá-lo, e que se for necessário, contarei ao meu pai sobre o que está acontecendo.

– Ele sabe...? Ele sabe que você viu o que aconteceu, você sabe... Quando sua mãe morreu? - ele questionou, parecendo ansioso pela minha resposta.

– Não. - respondi, suspirando logo em seguida - E eu adoraria que não tivesse que saber.

* * *

Logo após saímos do restaurante, fomos para um estúdio, onde eu teria uma sessão de fotos para promover uma nova marca de lingerie, que com certeza decolaria depois dessa sessão. Ponto negativo? Henry. Depois de suas amostras grátis de comentários um tanto maliciosos, fazer um ensaio fotográfico usando lingerie na frente dele não seria lá a melhor das coisas.

Saí do vestiário usando somente um conjunto de calcinha e sutiã pretos de renda, atraindo o olhar de Henry automaticamente, que me chamou discretamente com um aceno de cabeça.

– Fazendo uma pergunta completamente profissional...Você fica com as peças que usar no ensaio, certo? - ele questionou, fazendo um certo esforço para desviar o olhar do meu decote.

– Sim.- respondi automaticamente, prevendo que logo em seguida iria ouvir mais uma de suas brincadeiras nada amigáveis.

– Sabe...Propaganda enganosa é um crime sério, e uma lingerie sensual à esse ponto, sem dúvidas passa a imagem de fazer milagres em uma mulher, porque não fazemos um test drive mais tarde...Simplesmente para ver se o produto é tão fácil de tirar quando seu modelo assombrosamente sexy exige ser? - ele questionou, sussurrando as palavras de forma atraente em meu ouvido.

– Ok, pessoal, vamos começar as fotos...- Amanda, uma fotógrafa que já havia feito vários ensaios comigo disse, mandando todos para sua posição e me salvando de ter que responder à aquele questionamento.

O ensaio acabou em duas horas e meia, algo rápido considerando o tempo de alguns outros ensaios um tanto mais elaborados. Cenário, maquiagem, cabelo, troca de roupa...Tudo isso pode exigir uma grande quantidade de tempo. Como o esperado, não faltaram sorrisos e olhares maliciosos e Henry em minha direção, retribuídos simplesmente por olhares repreensivos.

***

– Eu me enganei mais cedo...- Henry disse, enquanto estávamos no elevador do prédio da Manière, subindo diretamente para o meu escritório.

– Sobre o que exatamente? - questionei, sem entender o significado daquelas palavras.

– Você não fica completamente sexy com essa roupa que está usando...- ele disse, olhando-me de cima à baixo - Mas, sim com as roupas que estava usando no ensaio.

– É ótimo saber disso. - indaguei, pronta para dar uma resposta a altura - Mas, ao contrário de você, minha opinião não mudou...Você continua sendo desprezível. - completei, saindo do elevador e entrando em meu escritório.

Depois de algo que parecia ser meia hora, Henry entrou no escritório, carregando uns papéis em sua mão.

– Parece que temos mais um serviço especial para a nossa querida chefe...- ele indagou, com um sorriso debochado no rosto - O quão é especial contratar particularmente a maravilhosa e sedutora Lady Death para fazer uma queima de arquivo?

– Fale logo. - indaguei, deixando os papéis de um contrato que analisava em cima da mesa e deixando toda a minha atenção voltada para Henry.

– O nome do cara é Richard Fitzgerald, é um empresário muito conhecido por fazer investimentos em várias empresas de todos os tipos, e também possui uma distribuidora de produtos...Ele quer que você acabe com um grande concorrente no mercado, que seria nada mais, nada menos do que Charles Peterson...

– O grande homem que foi o primeiro investidor da Manière! Seria muita crueldade minha exterminar o homem que me ajudou a dar os primeiros passos para um dos meus dois grandes impérios? - questionei, fazendo Henry entender perfeitamente qual informação deveria ser dada à seguir.

– No meu conceito, não por essa quantia...- ele indagou, mostrando-me um papel com um número bem agradável.

– Charles Peterson? Eu por acaso o conheço? Não me lembro de nenhum Charles...- disse, sorrindo de forma maldosa logo em seguida.

– Você é completamente vadia... - Henry indagou, jogando os papéis que segurava em cima de minha mesa - Uma vadia sexy, provocante, profissional e completamente respeitável.

– Por oitocentos mil dólares eu acabaria até com o próprio Papa, mon amour...

– A vadia mais brilhante de todos os tempos...- ele exclamou, esboçando um sorrindo fraco e provocante, que sumiu tão rapidamente quanto se formou, dando lugar à uma expressão séria - Quanto ao local da entrega do pagamento...? - ele questionou.

– Diga a ele para aparecer no Daniel Boulud¹, como se fosse ir para um jantar de negócios. Mande um dos nossos agentes até lá. Os dois estarão com maletas, obviamente, o dinheiro estará dentro da que o nosso cliente trouxer, eles terão uma noite agradável, e trocarão discretamente as pastas durante o jantar. Certifique-se de que o agente enviado estará preparado para responder qualquer questão proposta com maestria, sem revelar nenhum detalhe sobre a HCH.

– Perfeitamente, Lady.

– Ah, mais uma coisa...Eu quero saber onde a vítima estará hoje à noite: o local, o que estará fazendo lá, se estará acompanhado ou não...

– As informações estarão em sua mesa em quinze minutos. Se me permite perguntar, o que você sabe que não tem como evitar, o que estava fazendo antes de ser agraciada com minha maravilhosa companhia? - um sorriso debochado se esboçou em seu rosto.

– Tem um novo investidor querendo levar a Manière para a Europa, o que é uma proposta que me deixa fascinada...

– Parece que o império da rainha da máfia anda se ampliando...- Henry brincou, antes de sair do escritório.

Exatos quinze minutos depois, assim como o prometido, Henry voltou ao escritório com todas as informações que eu havia requisitado sobre Charles Peterson, que compareceria essa noite a uma festa dada por uma marca de sapatos, na qual ele investia. O plano perfeito já havia se formado em minha mente...

Durante a festa, os pneus do carro dele seriam acidentalmente destruídos, e uma mensagem supostamente mandada do celular de sua esposa o faria sair do evento antes de todos, para que ninguém pudesse interferir no plano, ou me ver atacando. Por um puro acaso do destino, uma velha e completamente inocente amiga estaria passando por aquela rua no exato momento em que Charles pegaria seu carro com os pneus completamente destruídos, e ofereceria uma carona.

Prepare-se, Charles Peterson. Nem sempre a gentileza gera gentileza. Quando o dinheiro e os negócios estão em jogo, uma gentileza pode ser esquecida, e a ficha policial de uma velha amiga pode crescer mais uma vez...


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Notas finais do capítulo

Reviews são, obviamente, muito bem-vindos. Adoraria saber o que vocês acharam do capítulo, principalmente da forma como o Henry participou dele, e o que vocês esperam para o próximo.
Não se esqueçam de visitar o tumblr oficial, com todas as novidades, spoilers e avisos sobre a história.
http://ladydeathstory.tumblr.com/



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