Bem, tudo isso é um saco. Por que eu tenho que fazer quinze anos? Por que não passos logo para os 16? POR QUE AOS QUINZE ANOS A GENTE TEM QUE FAZER A MERDA DE UMA FESTA!? Ok, eu estou calma, estou calma. Respira. Inspirando... Expirando...

Acabei de sair da sala de costura/tortura da Heather. Ela tem um estúdio em casa só pras roupas que ela faz. Gretchen está satisfeita demais. Heather ainda vai ter que dar uns últimos ajustes no vestido, diminuir a cintura e aumentar o comprimento. Gretchen ficou na casa da Heather, vai dormir lá. Eu consegui convencê-las a me deixar dormir na minha própria casa.

Josh ia me deixar lá de carro, é claro. Ele ficara na sala de estar conversando com o Sr. Sunshine, pai da Heather, enquanto eu provava meu vestido de 15 anos. Eca meleca.

Tirando isso, Josh estava tenso demais quando eu entrei no carro. Ele estava mexendo distraidamente nos botões do celular. Ele me fez algumas perguntas, mas não sorriu com nenhuma das minhas ironias e nem me chamou de Sally ou Emilly ou qualquer outro apelido que lhe ocorresse.

- Mas aí... O que a Lindsay conta de novo? – perguntei já no meio do caminho. Por que estava mais que na cara que a tensão dele tinha a ver com a namorada dele.

- O que? – ele me olhou, chocado.

- Ah, qual é? – eu rolei os olhos – Ta na cara que ela ligou. Você não para de olhar pro celular, todo tenso.

- É, ela me ligou. – ele respondeu sem me olhar – As coisas estão pesando pro lado dela. Ela anda sem dinheiro e não está conseguindo... Você sabe... Bagulho. E isso está deixando ela maluca.

- Ela não está... Hmm... Isso não é bom?

- Nem bom nem ruim. – ele franziu a testa – Eu tentei convencê-la a não procurar mais nada. Mas eu sabia desde o começo que não ia adiantar. Queria poder ajudá-la.

Mas ele não podia, por que estava preso a Franklin. Percebi que ele encarava as coisas assim. E já notei que ele ia entrar em conflito com o pai dele. Ah, merda. O problema é que já estávamos na frente da minha casa, eu não teria tempo suficiente pra convencê-lo. Droga.

Saí do carro dei a volta, mas estava decidida a impedir uma briga entre Josh e meu chefe. Me debrucei na janela do motorista e falei, olhando nos olhos dele:

- Não brigue com seu pai, está bem? Ele só está fazendo o que acha que vai ser melhor pra você.

- Do que você está falando? – ele me olhou com uma expressão chapada.

- E não diga nada de cabeça quente. – continuei ignorando-o. Ele sabia do que eu estava falando, tinha certeza. – Não diga, por que você vai se arrepender depois, está bem?

Não me pergunte por que, mas eu me inclinei, simplesmente dei um beijo na bochecha dele e me afastei sem dizer mais nada.  Cara, nunca mais reclamo quando me chamarem de estranha. Eu não tenho o controle das minhas próprias ações! Provavelmente foi o tempo na sala de tortura (costuraa! Droga.) da Heather me deixou assim.

É claro que quase dez da noite, eu estava no meu quarto jogando Guitar Hero na internet. Eu tinha acabado de fazer cinqüenta notas em Smoke on the Water do Deep Purple quando uma janelinha no MSN me informou que eu acabara de receber um e-mail.

Fechei o jogo e fui ver imaginando o que a Gretchen ia querer comigo a essa hora. Por que Gretchen é contra internet, por isso nunca entra no MSN. Ela é a única pessoa que eu conheço que só manda e-mails e em emergências. Ela diz que não quer se submeter a um vício generalizado da juventude.

Quando abri a caixa de entrada, meu queixo caiu. Não era o endereço de e-mail da Gretchen. Era do Ryan, meu ex-namorado.

“Mille,
Sei que amanhã é seu aniversário. Sinto muito a sua falta então resolvi mandar esse e-mail... Sabe como é, pra dar os parabéns. Não acredito que você está fazendo quinze anos! E longe de mim ainda por cima.
Queria poder estar aí e te dar um beijo de feliz aniversário. Nós dois estávamos juntos... Sei lá, desde crianças? Juro que um dia achei que fosse ficar com você pra sempre, casar e essas coisas. Ainda não me acostumei com sua ausência.  Tiara também sente sua falta.
Bem... Feliz aniversário.
Com amor, Ryan.”

Cara, eu juro que fiquei olhando para tela do computador de boca aberta. Será que o Ryan andou bebendo? Mille... Ninguém me chama de “Mille” desde que eu saí de Boston. Não sei qual nome é mais idiota: Ludmille, Luh ou Mille.

E como assim “Ainda não me acostumei com sua ausência”? O que o Ryan acha que eu sou? Eu sei que ele não está numa abstinência por mim (como o Josh está pela Lindsay), a Tiara e outras amigas com quem eu já falei me contaram das galinhagens que ele anda fazendo. Que patético!

Desliguei o computador sem responder o e-mail e me larguei na cama. Caraca! Quer dizer... Ryan não me dava noticias há... Quanto tempo mesmo? Meses? Eu estava viajando nos meus pensamentos quando a minha mãe me chamou mandando atender ao telefone. Simplesmente peguei a extensão do meu quarto e atendi.

Era o Josh.

- Oi. – disse ele e alguma coisa na voz dele me disse que ele estava meio chateado e parecia quase envergonhado.

- E aí? – respondi ainda meio aérea. – Ei... Espera um pouco... Por que está ligando a essa hora?

- Eu... Eu precisava ouvir a sua voz.

...

...

?

Enquanto eu arregalava os olhos, minha mãe gritou lá embaixo.

- Mãe? – chamei alarmada – O que foi?

- Nada, meu bem, é só um rato.

...

- Desculpe, Josh. – falei voltando ao telefone – Mas o que houve?

- Eu precisava falar com você.

- Você brigou com seu pai... Não brigou? – perguntei, resignada

- Briguei. – ele respondeu sem ânimo nenhum – E falei muita besteira, também.

- Josh, eu realmente queria ter o poder de tapar a sua boca quando você está irritado. Cara, vou te matricular na ioga. Você precisa aprender a controlar seu gênio. Jesus, um lobisomem com raiva é melhor que você com raiva, guri! – ralhei

- Lobisomem com raiva? – ele repetiu e eu quase podia ver suas sobrancelhas erguendo.

- Você sabe... Que nem o Jacob. De Twilight. Quando eles ficam com raiva, eles viram lobos. – expliquei.

- Você precisava mesmo me lembrar que a minha amiga é uma retardada viciada em leitura que leu... Eca!.. Twilight? – ele perguntou num gemido.

- Eu ainda acho que seria o máximo se o Jacob existisse de verdade. – comentei – Além de ser demais, ele não é um maníaco machista controlador como o Edward¹.

- Ah, claro. Que legal. – disse Josh e riu um pouco.

- Se sente melhor? – perguntei o mais delicadamente que pude.

- É, acho que sim. – ele suspirou. – Você é que é a sabe tudo. O que devo fazer?

- Peça desculpas a seu pai. – falei – Ele não faria nada que acha que faria mal a você. Eu sei como você se sente, Joshie. Mas você sabe que seu pai só quer proteger você daquela confusão toda em LA. Não estou dizendo que ele está certo. Ou mesmo errado. Ele só está fazendo que ele acha que é melhor pra você.

- É, você sempre sabe o que é certo, né?

- Nem sempre. Principalmente quando se trata de mim mesma. – respondi sorrindo feito boba.

- Não se preocupe. Quando você precisar se lembrar dos próprios ensinamentos, vou estar lá pra ajudar você. – eu podia imaginar ele sorrindo também.

- Uuuuuuh, que profundo. Já pensou em escrever músicas? – perguntei rindo – Você sabe mesmo agradar uma garota não é?

- Claro que sim. É por isso que você me ama. Eu sou o máximo. – Admito: Como essa eu ri alto.

- Tão modesto... – Comentei – Sabe, eu sou legal demais pra amar você.

- Ah, meu Deus! Você não me ama? Está brincando comigo? Não vale mais a pena viver! EU VOU ME AFOGAR NA COCA COLA!

- Seu retardado! Eu disse que sou legal demais pra amar você, não que eu não amo. Não se afogue na coca cola, coca cola engorda. Você quer mesmo morrer gordo? Josh, e se você ficar com celulite? OMG!

- Ah, claro, muito engraçado. – ele falou, mas mesmo assim riu – Obrigada, Sally.

- Não por isso, Jack.  Quer dizer... JACK NÃO, DROGA! Não foi  o que eu quis dizer. O que eu posso fazer se você tem cara de Jack?

- Eu entendi, calma. – ele falou rindo – Tenho que desligar. Ei, eu te amo mesmo, guria.

- Claro que ama. – funguei – E eu também amo você, peste.

Eu ainda estava rindo quando eu desliguei o telefone. Eu estava largada na cama sorrindo sem o menor motivo. Claro, estava feliz por que havia animado o Josh já que ele estava tão pra baixo e tudo mais. E provavelmente eu o havia convencido de fazer as pazes com o pai. Era por isso que eu estava tão estranhamente feliz. Ah é. Claro.

Não, Luh. Não, não e não. Esse papo de se apaixonar pelo melhor amigo é pros filmes e não pra você. Você não vai ficar a fim do seu melhor amigo de jeito nenhum. Não vai. Então minha mãe entrou no meu quarto parecendo tão feliz que estava lesada.

- Posso falar com você um instante? – perguntou mamãe sentando na minha cama.

- Claro. – respondi sem ter idéia do que estava por vir.

Ao invés de falar, mamãe deixou que eu me sentasse e passou a mão nos meus cabelos olhando sonhadoramente para o meu rosto.

- Não acredito que você está tão... Madura! Encara as coisas de um jeito tão adulto! Nem parece uma adolescente rebelde de quinze anos.

Esperei que a minha mãe dissesse alguma coisa que fizesse sentido, mas ela não falou. Eu devia ter notado. Mas não notei. Achei que ela só estivesse ficando meio sentimental com a coisa do aniversário no dia seguinte e tudo mais...

- Há quanto tempo não temos uma conversa de mãe pra filha, Ludmille? – ela perguntou passando a mão pela minha cabeça. – Como estão as coisas na escola?

- Ah... – fiz confusa – Sabe como é... Estão bem... Hm... Escolares.

- E seus amigos? Conheceu algum menino especial? – perguntou minha mãe, ignorando a resposta “inteligente” que eu dera a primeira pergunta.

- Menino especial? – eu repeti sem saber do que diabos ela estava falando e ainda sem notar nada.

- É, meu bem. – minha mãe pareceu sem graça – Não sei... Você tem muitos amigos meninos... Nenhum deles demonstrou... Você sabe... Interesse. Por você?

Meu queixo caiu. Por que diabos ela estava me perguntando isso? Eu não soube o que dizer. O que eu poderia dizer? “Ah, claro, mãe. Tem o Adam. Ele dá em cima de mim, já me beijou umas duas vezes, mas sei lá, ele é o ex da minha melhor amiga e é um playboy nojento, apesar de gostoso. Não rola. Ah! Eu mencionei que tem alguma coisa ESTRANHA na minha amizade com o Josh e que ele ama loucamente a ex-namorada?”.

É, não rola.

- Não, mãe. Não tem ninguém. Por que está perguntando isso?

Ela fez um ar tão decepcionado... É quase como se ela tivesse me perguntado se eu a amava e eu tivesse dito que não. Ou como se ela perguntasse qual era meu maior sonho e eu respondesse “Ser prostituta”.

- Bem... Não sei. Quando eu tinha quinze anos eu já tinha um namorado. Ele me ligava as vezes... De madrugada. Só pra dizer que queria ouvir minha voz.

Foi aí que a ficha caiu: Minha mãe estava ouvindo a minha conversa pela extensão do telefone.

- MÃE! – gritei fazendo-a pular – Você estava ouvindo! Estava ouvindo minha conversa com o Josh!

- Bem... É. – disse ela. E de repente o grito que eu ouvi quando Josh falou – Eu achei que você me contasse tudo.

- Mãe, eu te conto tudo! – respondi meio histérica – Mas da MINHA vida, não conto nada da vida dos meus amigos. O que implica que você NÃO deve ouvir meus telefonemas!

- Mas você mentiu! – acusou minha mãe – Disse que nenhum garoto interessa a você, mas Josh estava todo romântico com você e vocês disseram que se amam e...

- Mamãe! – gritei – Do mesmo jeito que eu disse que amo o Josh, eu diria que amo a Gretchen ou a Heather. E não, eu não sou bissexual. Eu estou falando de amor-amizade, mamãe. Não amor homem-mulher. Nossa, mãe! Quero que prometa que não vai mais fazer isso! Que feia!

Nem acredito que eu estou dando uma bronca na minha mãe. Agora com licença, preciso ter certeza que mamis vai parar de se meter na minha vida.