Eu me esgueirei pelo estacionamento, me abaixando para que os carros me escondessem. Ninguém vai me ver. Não, eu vou escapar. Rastejei no melhor estilo Tom Cruise. É idiota, mas na minha cabeça eu podia quase ouvir aquela musiquinha do Missão Impossivel. Espiei pra ver se a área estava livre antes de sair de trás do carro. Tã-tã... tãtãtã...

- Luh, o que  você está fazendo?

 - AH! – Levantei de repente, derrubando o skate com um barulho que podia ser ouvido da América do Sul. Virei-me pondo a mão no peito e respirei aliviada. Era só o Adam. – Nossa, que susto, Adam. Achei que fosse a Gretchen ou a Heather

- Hmm... O que você está fazendo no chão? – ele me perguntou.

- Fugindo. – sussurrei. Ouvi um barulho e me atirei pra frente, correndo para trás do Adam. – Gretchen?

- Não, isso foi só um gato. – Adam me olhou, escondida atrás dele, como uma maluca. – Está se sentindo bem?

- Estou péssima. Estou fugindo da Gretchen por que ela quer que eu experimente o meu... Vestido! – falei a palavra “Vestido” se tivesse sugerido que Gretchen queria me fazer experimentar sentar numa cama de espinhos. Eu preferia a cama...

- Quer uma carona pra casa? – ele me perguntou sacudindo a chave do carro.

Carona pra casa? Com o ADAM? Ah, não. Não, obrigada. Nem pensar.

- Hmm... Adam, moro a cinco quadras daqui. Posso ir de skate na boa. – respondi colocando o skate no chão.

- Ei, espera! Er... Como está o seu braço?

- Vou tirar o gesso amanhã. – respondi distraída, olhando para os lados... Sabe como é, só pra verificar.

Adam mordeu o lábio e e olhou de cima a baixo, como se estivesse procurando alguma coisa ou estivesse tomando coragem pra alguma coisa. Eu esperei e pensei que a qualquer momento, o lábio dele começaria a sangrar, dada a força com a qual ele o mordia.

- Luh, posso fazer uma pergunta? Promete me responder com sinceridade?

- Ahr... – Ergui as sobrancelhas – Claro.

- Por que ele e não eu? – Sem sentido? Nem um pouco. Como eu não respondi, Adam continuou – O que o Josh tem que eu não tenho?

-... Adam, não tenho a menor idéia do que você está falando, mas eu tenho que ir antes que a Gretch...

- Eu quero saber por que você gosta do Josh e não de mim.

Ok, agora vamos por partes. Eu fiquei vermelha. MUITO vermelha. Eu nem me lembro quando foi a ultima vez em que eu fiquei vermelha, mas cá estava eu parecendo um camarão frito no colorau por que o Adam me acusou de gostar do Josh. Patética, eu? De jeito nenhum.

- Ei, Adam! Não viaja! – falei erguendo as mãos como quem se rende – O Josh é meu amigo.

Infelizmente, junto com a careta incrédula do Adam, chegou alguém – e eu sei QUEM por que ele é o único que faz isso – por trás, me abraçou pelas costas e plantou um beijo no meu pescoço.

- Joshiiiie! – Lamento dizer que a ênfase que eu pus na ultima sílaba do nome dele transformou o que era pra ser um gemido de exasperação num apelido carinhoso. Pior ainda: Meloso. Como a Gretchen as vezes fazia chamando o Tyson de Tyzitcho e afins. Mas MESMO que o Josh fosse meu namorado, eu nunca cometeria a indignidade de chamá-lo de Joshitcho ou coisa assim.

- Luh, achei você! – Josh falou num tom feliz

- O que você quer, Watson? – perguntou Adam num tom não-amigável, digamos assim.

- Eu estou falando com a minha amiga, não posso? – perguntou Josh erguendo as sobrancelhas entre divertido e surpreso. Oh oh...

- “Luh, achei você?” – repeti, numa imitação ruim da voz do Josh – Por que estava me procurando?

- Por que você não vai escapar – Josh falou malignamente – Heather tem seu vestido pronto e quer que você prove pra ter certeza...

Eu gemi e empurrei o Josh. Ele me soltou, rindo. Argh, argh, argh! Depois de todo o meu esforço, eles me pegaram. Tudo por culpa do Adam que me atrasou! Filho da mãe.

- Josh, por favor... Nãããão! – gemi como se ele estivesse prestes a me levar pra guilhotina.

- Luh, como você quer ir a sua festa de quinze anos com um vestido sem provar o vestido antes?  - ele me perguntou.

- Simples: NÃO quero uma festa de quinze anos. NÃO quero um vestido. NÃO sei dançar e... – Olhei para o gesso no meu braço – Adam, será que a sua mãe engessaria minha perna?

- O que há de errado com a sua perna? – Adam olhou para meus tornozelos, que infelizmente estavam em perfeito estado.

- As pessoas não podem me obrigar a ter uma festa de quinze anos com a perna engessada, podem?

- Luh, é da GRETCHEN que estamos falando – Gemeu Josh – Ela vai te fazer ter uma festa de quinze anos nem que seja de cadeira de rodas. Não seja difícil e vamos logo.

- E se ela não quiser ir? – Adam perguntou em tom de desafio

Eu olhei de boca aberta para ele. Ele estava sério, os braços cruzados na frente do peito, definitivamente ENFRENTANDO o Josh. Eu quase ri. Quase, por que era patético demais para que eu risse. Adam Carrow, o mauricinho pegador, estava desafiando o Josh, que por acaso era mais alto que ele um meio metro mais ou menos. Numa briga, Adam conseguiria no máximo deixar o Josh com um leve hematoma.

Josh parecia saber disso por que me olhou com uma expressão que dizia: “Ele está brincando, não está?”. Lamento dizer que eu não estava nada preocupada com os ossos que Adam quebraria numa briga (e sim com o hematoma que ele faria no rosto do Josh que, convenhamos, era lindo demais pra ficar "hematomado") quando falei:

- Esquece, Adam. Se não fosse o Josh, seria a Gretchen. E ela me amordaçaria e amarraria e faria ir de qualquer jeito. – murmurei praticamente empurrando Josh dali. – Até mais.

Eu notei a expressão chateada nos olhos azuis dele antes de me afastar. Eu sei que o Adam gostava de mim no começo, mas agora ele simplesmente não quer aceitar a derrota de levar o fora de uma garota. O que teria feito se eu tivesse aceitado ficar com ele desde o começo? Bem, provavelmente ele enjoaria de mim rapidamente – mais rapidamente do que havia enjoado da Heather – e estaria tudo bem.

Mas Adam, o lindo, popular, loiro e perfeito, nunca perde. Quem sou eu, uma esquisita branquela de cabelo ridiculamente liso, para rejeitar Adam Carrow? Vou te contar: Garotos e seu orgulho masculino são um porre. Quando estávamos já ao lado do carro de Josh, ele falou pela primeira vez e sua voz não estava tão divertida quando sua expressão lá atrás.

- Não gosto de você com esse cara. – Isso. Simplesmente do nada.

- O que? – perguntei, por que o Josh realmente é uma pessoa muito clara que nunca me confunde. Ok, modo ironia desligado.

- Me refiro ao Adam. Em que planeta você estava?

- No planeta em que as pessoas são claras e não ficam falando coisas subliminares. – respondi, com acidez. O fato de Josh estar me levando para a câmara de tortura – digo, costura – de Heather não me deixou exatamente simpática com ele.

- Touchê. – Ele sorriu. Um sorriso duro, mas um sorriso – Mas não mude de assunto, não quero que você ande com Adam Carrow.

- Ah, claro. – respondi entrando no carro – E eu posso saber por que, mamãe?

- Eu queria que você me ouvisse ao menos uma vez. – Disse ele impaciente, assumindo a direção – Eu sei o que Adam pensa sobre você e, acredite , não são boas intenções. Ele gostava de você no começo, só que agora ele só está insistindo por orgulho ferido e por que... Bem, pra me irritar.

- E como você sabe disso, Edward?

- Achei que você só trocasse meu nome por outros nomes que começam com J.

- Não, Josh. Edward tipo Edward Cullen. O vampiro que lê mentes. – esclareci com irritação. Eu odeio quando as pessoas não entendem minhas alusões a livros por que nunca leram os mesmos livros que eu.

- Vamp... Ah meu Deus, você leu Twilight! – ele exclamou com uma careta.

Eu corei. Bem, eu vou ser sincera: Twilight não é um dos meus livros preferidos. Eu li, é legalzinho e tudo mais, mas eu não gostei. Isabella Swan é a criatura mais mortalmente CHATA que eu já vi. Na verdade eu li por causa da Gretchen. Ela, Josh e eu tivemos uma discussão muito comprida. Josh e eu não queremos saber da série e Gretchen é viciada, então ela me forçou a aceitar os seus quatro livros emprestados. Bem, você não pode colocar um livro na minha frente e esperar que eu não leia.

E a Bella é uma anta. No lugar dela, eu não teria nem hesitado em largar o meloso do Edward pra ficar com o gostoso do Jacob. Acho que sei por que Crepúsculo faz tanto sucesso: Retrata um amor verdadeiro e incondicional entre um vampiro e uma garota. Acontece que o que eu penso sobre amor incondicional se resume em duas palavras: Não. Existe.

- É, eu li. E é mesmo uma merda. – respondi encostando a cabeça no banco.

- Você é a primeira garota que eu conheço que reconhece isso. Eu dormi no cinema no meio do filme, sabia?

- Josh, você acredita em amor? – perguntei, só Deus sabe por que – Tipo o do Edward e da Bella?

- E falando em pessoas sem nexo...  – Ele desviou os olhos da rua para mim – Por que está perguntando isso?

- Por que eu não acredito. As pessoas se prendem a idéia de que um dia conseguirão seu amor verdadeiro e perdem um tempo danado idealizando um romance. É tão... Patético.

Josh me olhou por um instante de sobrancelhas erguidas, como se estivesse vendo uma aberração. O que não é exatamente mentira.

- Diga-me uma coisa... Com quantos anos contaram a você que o papai Noel não existe?

- Ninguém nunca me contou. Nunca acreditei em papai Noel.

- Sei. – Ele respondeu – Então por que você se tornou tão incrédula, Princesa do Gelo?

Minha resposta foi estirar a língua e, mesmo que ele estivesse focado na direção, eu sei que ele viu pela visão periférica, por que ele sorriu.

- Eu acredito em amor, Ludmille. – ele respondeu – E acho que você devia ser menos garota das trevas e mais garota normal. Acho que é meio impossível uma garota como você passar a vida inteira sem arranjar um amor.

Por mais estranho que pareça, meu coração acelerou com as palavras dele. Sim, era como se eu estivesse emocionada com o que ele falou. Mas se eu tivesse lançado uma indireta para ele ou coisa assim, eu não seria Ludmille Tonta Williams.

- Cara, essa foi a coisa mais GAY que você já disse pra mim. – Isso o fez rir alto.

- Tá legal então.  Desculpe por levar você pra tortura com as garotas. – ele falou – Mas elas me obrigaram.

- Eu sei. – suspirei, enfiando as mãos nos bolsos do meu moletom canguru – Eu sei, Josh.