Agatus - A Descoberta escrita por Letícia Francesconi


Capítulo 6
A Morte e a Ascensão da Dor


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é bem pequenininho, mas prometo que o próximo será bem maior!
Não deixem de comentar!! Amo vocês, beijos!



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O hospital mantinha uma frialdade sombria, que me arrepiava da cabeça aos pés. Havia poucas janelas, o que deixava o lugar mais tenebroso ainda. Havia portas enfileiradas nas paredes do local. Eu podia escutar gritos e lamúrias de algumas das salas. David parecia espantado.

O chão brilhava como uma pérola escorregadia e valiosa. O ar era úmido e frio. Às vezes, era como estivesse em uma geladeira.

Ao longo no corredor gélido, avistei uma figura escura e curvada, assentada em um dos bancos de espera. Minha mãe. Seu rosto estava pálido e os olhos vermelhos inundados de lágrimas. A me ver, ela limpou as lágrimas e se ergueu em um breve impulso.

Corri ao seu encontro.

Katharine. – ela abraçou-me em um instinto inegável.

– Mãe, o que aconteceu?

Ela esfregou os olhos.

– Ele saiu de casa – disse ela com tamanha aflição. – Suponho que tenha ido atrás de você.

Hesitei por um instante.

– Não é minha responsabilidade o que aconteceu. – minha mãe se espantou. – Prossiga.

– Foi um assalto – ela fez uma interrupção para respirar. – Os bandidos queriam algo dele, e como ele não possuía nada, o espancaram.

David estava quieto, apenas segurava fortemente minha mão. Teria certeza de que ele estaria pensando – Malditos bandidos. Malditos bandidos. Uma raiva consternada surgiu sobre mim. Eu poderia pegar uma arma e matá-los, como num jogo de Vídeo Game, mas não podia. Minha mãe limpou as lágrimas e se remanejou calmamente, apesar do acontecido.

– Não foi sua culpa, Katharine. – disse ela calmamente, elevando a palavra culpa. Mas sabia que ela estava mentindo. Peter estava atrás de mim. Não deveria ter negado o seu pedido, muito menos ter dito aquelas palavras para ele.

– Como soube o que aconteceu? – dessa vez foi David, falando pela primeira vez.

Ela respirou fundo.

– Recebi uma ligação – disse ela se sentando novamente. Por um extenso instante, ela parecia perdida, olhando para o chão brilhoso. Logo ela se voltou à tona, tentando se lembrar do que teria ocorrido. – Ele passou por uma longa cirurgia, mas – seus olhos se encheram de lágrimas, logo descendo por estes como uma cachoeira. – Ele não suportou...

Eu odiava ver minha mãe chorando. Nesse momento, acho que eu não podia segurar as lágrimas. David limpava minhas lágrimas não contidas. Podia sentir gotas de água queimando em meu rosto.

– Por que não me ligou antes? – eu parecia indignada. Se eu não tivesse ido para aquela festa idiota, tudo isso não teria acontecido. – Está martirizando a si mesma, mãe.

– Eu não sei – seus soluços aumentavam a cada segundo. – Desculpe-me, Katharine. Desculpe-me.

O cemitério era um lugar familiar para mim. Ia poucas vezes para visitar meu pai. Eram sempre dias escuros e sombrios. Dias de lamuria e escuridão. Agora, não só meu pai eu teria que visitar, e sim, Peter, meu irmão mais novo. Minha mais nova perda.

Lembro-me perfeitamente do que teria dito a ele – Eu te odeio e quero que você morra – Foram às últimas palavras amargas que ele ouviu de mim. Eu estou me culpando, pois foi a minha culpa, foi a minha responsabilidade. Estava enganada quando disse “Não é minha responsabilidade o que aconteceu”. Na verdade, foi tudo minha culpa. Uma irresponsabilidade inegável.

– Desculpe-me, Peter. Sei que, o que eu fiz, fora completamente errado. Crescemos juntos em um mundo de brigas e violência, entre mim e você. Seu mundo, seu jeito, sempre fora indigesto e ardil. Seus planos eram engenhosos, sua vida era triunfante. Você tinha um futuro brilhante pela frente, podia ver isto em seus olhos, porém eu estraguei tudo isso. Desculpe-me, Peter...

– Isso foi inexplicável – David sorriu para mim. Minha mãe me abraçou enquanto eu guardava o papel no bolso do casaco preto.

– Eu dei o meu melhor – falei ajoelhando-me na frente da lápide escura. Seu nome estava gravado na mesma. Peter Alexander Jones. Lembro-me de como ele odiava este nome. Odiava quando o chamavam de Alex. Gostava apenas de ser chamado de Peter. Apenas Peter.

Um vento frio e pesado passeava pelo lugar.

– Está esfriando – disse minha mãe envolvendo seus braços em seu corpo. – Vamos?

David segurou em minha mão, se a joelhando próximo de mim.

– Temos que ir, Kat – ele era calmo. Eu adorava isso. – Já está tarde.

Olhei para ele. Seu sorriso brilhava, seu rosto era um conjunto de perfeição e doçura. A touca preta quase caindo de seus cabelos negros. Não domava o impulso de abraçá-lo fortemente. Uma amizade como essa, não pode ser deixada para trás.

Assenti ainda olhando em seus perfeitos pares de olhos.

Pegamos um táxi e fomos para casa. Esse foi um dia que eu nunca iria me esquecer.

A minha casa nunca fora tão silenciosa como se encontrava agora. Tudo se deparava num cúmulo de tédio e aflição. Muitas vezes, encontro minha mãe chorando no banheiro, até mesmo quebrando coisas. Ás vezes, lamentava ao ver as fotos dos quadros antigos.

Eu estava submersa em um mar de solidão e tristeza. Era terrível como a minha vida era horrível sem ele, sem brigas ou discussões.

Sempre pensei que, sem Peter, minha vida seria bem melhor. Pensei que minha mãe iria dar-me mais a sua atenção, mas tudo que aconteceu foi um silêncio mortal. Agora posso ver como minha vida mudou. Daria tudo para tê-lo de volta.

– Kat!

A voz de David soava elevadamente em meu ouvido.

– O que foi? – olhei em minha volta. Estávamos na varanda da casa de David. O tempo estava pesado e denso. Um conjunto de nuvens negras se formavam no céu. David me olhava sério.

– Hoje não foi o único dia em que você ficou dando delírios constantes.

– David eu...

– Quem é Agatus?

– O que?

– Quem é Agatus? – David perguntou outra vez. – Você fica repetindo esse nome várias vezes.

– Não faço ideia do que você está falando, David.

Ele franziu o cenho.

– Kat, você insiste em fazer isto sempre – ele parecia ausente, porém não louco. – Repetindo isso várias vezes, parece estar louca.

Uma faísca de irritação pairou em minha cabeça.

– Mais que diabos te faz pensar que estou louca?

Ele me encarou por um instante, logo encerrando o assunto.

– Sua mãe anda estranha. – disse ele resignadamente.

– Eu sei – assenti. – Desde que Peter se foi, ela anda muito estranha, até mesmo anda falando sozinha.

– Bem – ponderou David. – Acho que é um mal de família. – ele enfatizou mordazmente, enquanto eu dava tapinhas em seus ombros. Ele estava divertindo-se com a circunstância.

– Não estou brincando, David – meu tom mudou para sério, sem mesmo perceber. – É muito mais sério do que você pode imaginar.

Sua mandíbula se contraiu.

– Mas eu estou falando sério – David ainda zombava.

Segurei-me para não matá-lo naquele instante.

– David. – falei em dentes cerrados.

– Entendo – disse ele calmamente, sem perceber a minha expressão de impaciência. – Eu entendo, Katharine. Eu entendo.


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Notas finais do capítulo

Rsrsrss, deixem reviews!!!



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