Agatus - A Descoberta escrita por Letícia Francesconi


Capítulo 5
Primeira Morte


Notas iniciais do capítulo

Oii lindos ;)
Rrsrs



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Mais tarde, mandei uma mensagem a David.

Mudanças de planos.

Encontre-me perto de sua casa.

Tive uns probleminhas.

Depois de uma hora o celular apitou. A resposta de David havia chegado.

O.K...

Que tipo de ‘probleminhas’?

Não respondi. Preferi deixar um gostinho de mistério, como ele sempre fazia comigo. David não era de ligar para minha casa, e ficar horas conversando no telefone. Ele era calmo e exultante. Falava sobre coisas que até eu mesma desconhecia. A maioria dos garotos que eu conheço, direcionavam sua atenção para o futebol ou lideres de torcida. No entanto, David não se importa em estar ligado nas notícias do futebol ou namorar a a líder do grupo de torcida. Ele é do tipo de se divertir, às vezes sem moderação. Assistir filmes de terror e mangás, estava entre as suas fantasias.

A TV estava inteiramente um tédio. Não havia filme ou série que me interessasse.

A hora passou sem mesmo que meus instintos normais percebessem.

Olhei para a janela. A luz do quarto de David estava apagada. Imaginei que ele estava dorminho, ou não...

O relógio indicava 13h em ponto. Hora do almoço.

Desci as escadas. Podia sentir o cheiro da comida. Peter estava vendo TV.

– Lembra do que David disse? – ele me ignorou – O monstro da TV vai arrancar seus olhos...

– Cala a boca Kat!

Arregalei os olhos enquanto ele me olhava. Já era normal ele agir de tal maneira. Peter abriu a boca, mas foi interrompido. Minha mãe nos chamava provavelmente para o almoço.

Um silêncio terrível pairava pela mesa. Peter olhava para o prato, como sempre, comendo pouco. Minha mãe nos observava atentamente.

Acabei de comer e retornei ao meu quarto. Liguei a TV, que passava um filme interessante, sobre a destruição da terra, aliens que quase dizimaram o planeta. Lembrei dos filmes que assistia com David.

Acho que acabei pegando no sono. Acordei com o controle na mão e com uma intensa dor de cabeça. Olhei para o relógio. Eram quase 17h da tarde. Assustei-me o quanto eu dormi.

Algumas horas se passaram sem pressa. Tomei um banho demorado e quente. Abri meu guarda-roupa bagunçado. Não havia nenhuma roupa de meu gosto enjoado. Vasculhei o guarda-roupa inteiro, por fim, achei um vestido azul-marinho, que ainda não era de meu gosto. Sua extensão se rematava acima dos joelhos, o corte tomara-que-caia que deixava meus ombros vulgarmente expostos. Achei que David estranhasse, pois não era da minha natureza me expor daquele jeito. Acomodei o vestido numa jaqueta preta, para não me exibir. Afinal, o tempo não se encontrava cáustico, e sim, frio.

Não exalava nas habilidades da maquiagem, mas me esforcei. Deixei os cabelos soltos, pois não era boa com penteados também. Olhei-me no espelho, estava estranha. Nunca me maquiava tanto. Era incomum me ver assim.

Desci as escadas vagarosamente, sem fazer qualquer ruído. Já estava escuro, provavelmente minha mãe e Peter se encontravam em seus quartos. Passei pela sala escura, pouco menos de alcançar a maçaneta da porta, fui interrompida. Peter. Seu sorriso malicioso era evidente em seu rosto pálido.

– Ela sabe que você vai sair? – perguntou apontando para as escadas.

– Isso não é da sua conta. – abri a porta.

– Se você sair – disse com atrevimento – eu conto para minha mãe – disse ele, como se a mãe fosse exclusivamente dele. – Eu quero ir à festa. Não terá outra escolha.

– Conte. Não me importo. Não quero nenhum pirralho atrás de mim.

Peter me olhou exalando fúria.

– Então vá. – ele soltou uma risada curta. – Vá se divertir com as vadias das suas amigas e com seu namorado estúpido e sem noção. Logo, vai ser como elas.

Olhei para ele do mesmo modo, com desprezo, que ele olhou para mim. Eu já estava cansada de tudo aquilo. Cansada de ele me desfavorecer. Já estava cansada de todas as suas palhaçadas irritantes. Cansada de ser culpada por coisas que não fi. Cansada de acordar com bichos estranhos em minha cama, por causa de uma briguinha pela TV. Essas palhaçadas ignorantes e nojentas, já estavam me enchendo. Desejei no momento que ele sumisse e nunca mais voltasse ou mesmo morresse, eu não me importaria. Sei que era errado, no entanto, eu estava com raiva, e ninguém arrancaria isso da minha cabeça.

– Vai se ferrar Peter! – meu tom leve se elevou, para minha surpresa. – Eu te odeio e quero que você morra! – ele arregalou os olhos claros. Ele estava assustado, e eu também. Não tinha previsto isto.

Fechei a porta num rápido estalo. Minha fuga foi um sucesso. Minha mãe não notou a minha saída, apenas Peter, que era a maior das intervenções.

...

David estava sentado na sua varanda, com o celular em mãos. Ao me notar ali, soltou um belo sorriso. Retribui o mesmo.

– Eu... – as palavras faltavam em sua boca – Uau... Você está linda.

Fiquei um pouco envergonhada, pois David nunca fizera um elogio assim. Ele usava roupas bonitas e bem passadas. A jaqueta preta, acomodava a camiseta branca e usava uma calça jeans nova. Seu perfume era muito forte, mas não me incomodava.

Sorri para ele, que me olhava por inteira. Isso me irritava. Escondi-me nos próprios cabelos ainda envergonhava.

– Vamos? – ele parecia animado. – Antes que acabem todos os docinhos. – ele soltou uma risada alegre, me fazendo rir também.

...

A festa estava animada, sem nenhum sinal da aniversariante. Bolas de gás flutuavam pelo salão espaçoso. Algumas pessoas dançavam como loucas a batida animada, enquanto outras se prendiam nas mesas de comida. David olhava a festa quieto, sem desgrudar de mim.

– Eu não irei fugir, David. – ele me olhou, desviando de uma bola coloria.

– Desculpe, o que disse?

Revirei os olhos.

– Vamos dançar! – eu gritava, mas ele parecia não me entender. Puxei-o pelo pulso esquerdo, o levando para a pista de dança. Ele olhou para o grande globo que se pendia no teto.

Luzes fortes e coloridas tomavam o lugar escuro. Confetes coloridos forravam o chão brilhoso. Em alguns cantos, aparelhos emitiam uma fumaça branca, que se unia com as luzes, formando uma névoa especialmente colorida. Uma enorme faixa pendia na parede oposta, com a frase “Ashley’s Party”.

Avistei Ashley em um canto escuro da festa. Estava com um garoto, com qual estava se beijando loucamente. Pude reconhecer o garoto, era Derek, um dos garotos mais populares da escola.

– Ela não tinha terminado com Derek? – soltei um risinho e David parecia estar adorando a situação.

Algumas pessoas esbarravam em nós, porém David não ligava. A batida era forte, fazendo meus ouvidos zumbir. Uma menina alta, com longos cabelos negros, esbarou em mim, fazendo David cambalear para trás. Ela me lançou um olhar sinistro balançando a cabeça, fazendo os brincos de argola se agitar. David deu de ombros.

Antes de dar início a uma louca dança, uma balada lenta tomou o local. David me olhou inerte. Ligeiramente, a pista foi preenchida de casais, dançando lentamente a melodia.

Ele me olhou com temor nos olhos, mas fiz um sinal afirmativo. Ele envolveu seus braços, cuidadosamente, em minha cintura. Sorri para ele, pois isso era estranho, uma sensação nova para mim. Envolvi meus braços em seu pescoço, podia sentir sua respiração ofegante. Cheguei mais perto, encostando a cabeça em seu peito. Seu coração batia como uma melodia acelerada. Seu perfume era bastante forte, porém a sensação era boa.

– Eu não planejava isto. –sussurrou David em meu ouvido.

– Eu... – as palavras fugiram da minha boca. Ele acariciava lentamente os meus cabelos, o que me deixou arrepiada. Era praticamente impulsivo, incontrolável, o que estava sentindo naquele exato momento por David.

Levantei a cabeça na altura de seus olhos, embora ele fosse mais alto do que eu, me deixando na ponta dos pés. Eu poderia ficar a noite inteira o olhando. Seus olhos eram como estrelas brilhantes, encantadores.

Nossos rostos estavam tão próximos, que...

Pude sentir a ponta de seu nariz tocar o meu. Nossos olhos estavam conectados. Era uma sensação inexplicável. Eu poderia beijá-lo, mas isso não seria o adequado. Afinal, são apenas dois amigos se divertindo.

Permanecemos ali por alguns minutos, até a música acabar. Separei-me de David rapidamente, mas o mesmo pegou uma das minhas mãos, o que me deixou pasma.

Sentamos em um sofá branco, com alguns confetes prateados jogados sobre o mesmo.

Permanecemos em silêncio por um bom tempo. David olhava para o chão, repleto de confetes coloridos. Toquei a mão dele, apoiada no sofá. Finalmente ele me olhou, disparando um sorriso.

Ficamos conversando e rindo juntos. Às vezes, ria alto das suas caretas e imitações. Ele imitava Peter e até mesmo, seus irmãos mais velhos.

David se deixou levar e avançou para me beijar, quando foi interrompido pelo toque do meu celular. Ele voltou ao seu lugar, ereto. Abri a bolça e peguei o aparelho que vibrava. Minha mãe.

– Atenda. – disse David olhando para os lados.

– Não – rejeitei a chamada com um simples toque na tela. – Não posso.

Escondi o o aparelho entre as pernas, ainda olhando para David, que estava ligeiramente corado. Eu ri da situação.

Ele iria falar algo, porém foi interrompido, outra vez, pelo toque irritante do meu celular. Minha mãe estava acabando com o momento.

Imaginei que ela estaria gritando e reclamando, já que escapei de casa, sem dar satisfações. Portanto, enganei-me severamente. Sua fala encontrava-se rouca em meio aos soluços.

– Mãe? – ela não respondia. Podia apenas escutar os soluços repentinos.

– Katharine. Peter está... – ela não continha o choro desesperado. – Ele está morto...

Minha respiração parou em um estalo. Não podia crer no que tinha ouvido.

– O que aconteceu? Onde você está? – minha reação mordaz mudou ligeiramente. Pela sua voz, parecia ser sério.

– Estou no hospital – ela deu um suspiro, limpando as lágrimas. – Foi um acidente. – a última palavra ecoou rouca, tomada de angústia.

– Me espere – olhei para David, que mantinha uma expressão abismada. – Não irei demorar.


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Notas finais do capítulo

0.0
Sem palavras...



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