Agatus - A Descoberta escrita por Letícia Francesconi


Capítulo 26
A Cúpula


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!! Mil desculpas por não postar ontem. Porém tenho uma notícia boa... O carnaval está chegando!! Isso quer dizer que irei postar mais!
Espero que gostem desse capítulo, beijão e boa leitura.



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Eu nunca imaginei que permanecer uma, cruel e angustiada, uma única semana, sem dirigir uma palavra ou apenas um trocar de olhares, fosse acabar comigo. Era incontrolável o impulso de correr para os seus braços e chorar feito uma criança ferida, como se dependesse do seu carinho, apenas do seu olhar ou um sorriso.

Yann treinava-me. Não como Raj. Era completamente diferente. Yann parecia um príncipe britânico, mas no meu caso, preferia trocar a sua áurea por um simples sorriso de Raj. Ele era rígido e, muitas vezes, se deixava levar pela arrogância, como a mãe.

Porém não havia outra escolha. Raj ignorava-me como se eu fosse invisível. Treinava com Diana, que era completamente louca e, é claro, muito bonita. Não era uma questão de ciúmes, não tinha motivos para ter ciúmes, Raj era apenas um amigo, somente não tolerava seu comportamento perto dela. Diana parecia se aproveitar do menino, que muitas vezes cedia aos encantos da moça de cabelos dourados.

Jake parecia odiar-me. Ele sempre tentava ser maior e mais poderoso que todos, mas Yann, acabava com a sua felicidade. Diana não era má, apenas era levada pelos atos do irmão. Tudo o que Jake fazia, ela teria de aprender. Mas mesmo assim, não aguentava vê-los juntos, Diana e Raj eram apenas amigos, tentava pôr em minha memória, apenas amigos.

Semanas depois do acontecimento entre mim e Raj, a mulher de cabelos loiros, que escrevia com a pena vermelha ao lado de Victoria, nos convocou ao treinamento mais rígido, a cúpula.

Preparamos-nos com armas e varinhas de diversos poderes, mas recusei todas, pois Peter estava comigo. Um arco e flecha negro pendia nas mãos de Jake, Diana respirava fundo enquanto andávamos até o local da cúpula.

Ela nos levou a uma sala inteiramente branca. Não havia portas ou janelas, apenas, um vazio branco. Nossas roupas eram completamente confortáveis, abonando um estilo loucamente gótico. Não era um traje comum de se usar em Nova York, porém era um tecido forte, os ombros protegidos, encobria meus pulsos, arrematados com braceletes negros. O preto exalava em todas as partes, o símbolo de Agatus desenhado no canto superior da manga esquerda, em um dourado cintilante. Não que eu queira reclamar, mas, não era uma roupa para se usar no inverno extremo de Nova York.

...

Os braceletes negros de Diana brilhavam com a iluminação artificial da sala enquanto Jake prendia lâminas escuras e adagas brilhantes no cinto de couro. Raj permanecia de pé, observando a imensidão branca.

Abri a boca, mas a mulher me interrompeu.

– Isso não é uma brincadeira – disse ela rodeando vagarosamente o local. – Vocês correrão o risco de morrer aqui dentro.

– Christine, nós estamos...

– Não importa se estão armados ou não, Diana – disse Christine. – Existem forças que não podemos controlar apenas com magia.

E magia negra? – arrisquei com uma pergunta que pendia em minha cabeça. – Richard usa magia negra, não usa?

Christine me encarou com olhos semicerrados.

– Richard usa a magia de Agatus da maneira que ele compreende.

– Mas magia negra seria uma violação contra a... – tentava lembrar-me do nome que Raj dissera. Não sabia ao menos o que significava. – A corte de Agatus.

Ela hesitou abrindo os olhos por completo.

– Parece que o treinamento fez efeito em você. Quem lhe ensinou tanto?

Uma ponta de hesitação percorreu minhas veias. Raj ensinou-me tudo o que eu tinha que saber, estava bem claro. Ele me olhou pela primeira vez em semanas, o olhar fraco e doce, um pouco entorpecido, fitou-me em busca da minha resposta.

– Yann – meu coração se contraiu com o olhar de Raj lançado a mim. – Foi Yann que ensinou tudo.

Christine sorriu.

– Muito bem – disse ela em um suspiro enfático. - A cúpula não emite cenas reais, apenas faz vocês pensarem que estão no local selecionado - disse ela. – Em suas posições.

A sua ordem foi rapidamente seguida. Jake se pôs ao lado de Raj, Diana respirou com olhos cerrados e seguiu o irmão. Christine me fitou, o sorriso pendente.

– Não é a guerra verdadeira, Katharine – disse ela em meus olhos. – É apenas um treinamento, não tenha medo.

– Mas você disse...

– Eu sei o que eu disse. Agora se junte com seus companheiros.

A palavra companheiros foi uma breve surpresa para mim. Raj, Jake, Diana e...

– Onde está Yann?

– Como não sabe? – perguntou Raj não me encarando. Era a primeira vez depois de tempos que ele se dirigiu a mim. – Não é ele o seu mestre? Não foi ele que lhe ensinou tudo que... – Raj pareceu voltar à realidade. – Esqueça.

– Yann não pode. Apenas vocês quatro.

– Victoria não permite que seu tesouro participe – praguejou Raj.

– Talvez seja isso – disse Christine não o encarando. – Ou talvez seja. Mas isso não importa agora, garoto. Foque no seu objetivo principal – ela pareceu apontar com a cabeça para mim. Raj levantou o olhar engolindo seco. – Brigas não irão sustentar ninguém.

– Podemos começar? – disse Jake em um cúmulo de tédio.

Christine assentiu. Ela fechou os olhos, por um momento, parecendo estar concentrada. O chão parecia tremer abaixo dos nossos pés. A imagem de Christine desapareceu em um piscar de olhos. A imensidão branca se transformou em um clarão verde e sombrio. Uma floresta. Cambaleei para frente, porém Raj me segurou firme, como fez em diversas vezes. O solo de terra molhada cessou a tremedeira. Raj me jogou de lado em um gesto violento. Escorei-me em uma árvore recuperando o ar perdido. Ergui os olhos encarando Raj com uma tremenda fúria. Ele me retribui o mesmo.

– Onde estamos? – perguntou Diana.

– Não sei – disse Jake vasculhando o local com seu olhar.

– É a floresta de Alaris – disse Raj desviando o olhar de mim.

– Quem é Alaris? – perguntei, mas Raj não me respondeu.

– É um dos maiores feiticeiros do mundo – disse Diana. – Nem Richard pode vencê-lo.

– O cara nem sai do seu covil e tem uma floresta somente dele – disse Jake de braços cruzados. – Impressionante.

– A floresta em si não é dele – explicou Raj. – Alaris recebeu o dever de cuidar dela. É um lugar praticamente extinto.

A corte de Agatus – sibilou Diana. – sempre nos metendo em confusões.

– Não imagine dessa forma – disse Raj. Ele sorria como um idiota para ela.

– E como acha que é, garoto? – perguntou ela. – Nunca confie na corte, ela pode acabar com a sua vida.

Raj envolveu a cintura de Diana com o braço esquerdo. Não cinto ciúmes, não mesmo. Ela retribuiu com um sorriso.

Diana – a voz de Jake soou rígida o bastante para que eles se separarem rapidamente.

Diana se ajeitou ao lado de Jake, que a olhava rigidamente. Raj continuou inativo.

– O viemos fazer aqui? Não vejo...

Um rosnado feroz cortou minhas palavras. Diana se virou instintivamente sacando a espada prateada. Jake preparou uma flecha dourada enquanto Raj fitava a criatura horrenda. Sua pele era coberta por pelos cinzentos, havia três olhos em seu rosto deformado. Ossos negros pendiam de sua boca feroz. Concluí que eram os dentes da criatura. Raj observava esta fixamente. Permanecia parado. A criatura avançou lentamente em sua direção, o deixando ainda mais tenso. Meus punhos estavam cerrados, eu hesitava enquanto Jake e Diana estavam imóveis.

Jake gritou avançando, com o o arco negro e uma flecha dourada em mãos. A criatura sibilou, como um sorriso. Uma perseguição se iniciou naquele momento. Jake corria ao lado de Diana, que parecia loucamente assustada. Raj tropeçava com uma varinha azulada em mãos. A espada de Diana brilhava a luz do sol.

Não havia saída. Árvores e pedras cinzentas bloqueavam a passagem. Jake praguejou quando errou o alvo.

– Como iremos atravessar? – perguntou Raj recuperando o ar.

– Não tem saída. Vamos ter que pular – disse Jake.

– Pular? Como assim pular...?

Jake agarrou meu braço, me puxando pela floresta densa adentro. Nãos havia motivos para gritar. Minha garganta seca, ansiava por um copo de água. Raj corria sem olhar para trás, Diana, agora, seguia ao seu lado.

Um som doce e tranquilo ressoava por trás das árvores escuras.

– Uma cachoeira – disse Jake enfático. – Iremos pular.

– Mas...

Raj!– o grito ecoou da minha garganta interrompendo Diana. Jake sacou uma flecha dourada quando me pus na frente da criatura. Raj recuou caindo ao chão. Saquei Peter, que, com o mesmo, agredi o abdômen do animal. - Corra!

– Não vai enfrentá-lo sozinha - anunciou Jake em meio ao som da cachoeira.

– Deixe com ela, Jake - disse Diana sacando a espada. - É para isso que estamos aqui. Para treinarmos.

A criatura era mais forte do que eu imaginava. Suas garras me encurralavam no chão enquanto Peter ainda pendia em seu abdômen. Ele urrava, mas não recuava. Raj, jogado no chão, observava a cena imóvel. Jake armou o arco e flecha em direção a mim.

– Não! E se não acertá-lo?

Jake riu.

– O meu foco é o monstro, garota.

A flecha dourada atingiu as costas da criatura, que emitiu um chiado sibilante. Este se transformou em um pó dourado, criando uma chuva cintilante sobre mim. Um alívio percorreu minha espinha.

– Raj? - abaixei-me tocando os ombros do garoto recuado no chão. - Você está bem?

Raj assentiu ainda assustado.

– Eu... Eu... Desculpe-me, Katharine – Diana observava a cena como se quisesse vomitar. - Eu devia ter o atacado - disse ele se restaurando do susto. - Devia tê-la... Devia ter lhe salvado.

– Não, tudo bem – Raj me observou, os olhos negros pareciam perdidos. Seus lábios se curvaram em um sorriso, me abraçando fortemente. Era tão bom sentir o aroma perfeito do seu cabelo, depois de tanto tempo. Jake e Diana estavam enojados.

– Já acabamos?

– Parece que sim – disse Raj se levantando do chão.

Limpei o pó dourado vindo do arco e flecha mágico de Jake, dos meus ombros protegidos pela camada de tecido negro.

– Pessoal – alarmou Diana. – Acho que não acabou por aqui.

Havia mais. Não apenas um ou dois, mas milhares. Jake se recompôs, limpou a garganta, e aprontou a arma com flechas douradas, um arco e flecha de Agatus.

– Não iremos conseguir – disse Diana, a espada prateada erguida. – São muitos.

Jake praguejou.

– Diana, você vem comigo – disse ele sem nos encarar. – Katharine e Raj, vocês atacam o grupo de lá – disse ele apontando com a cabeça. Raj o observava assustado e inerte. – Andem!

Seu grito de gerra foi o bastante para Raj empunhar a varinha – que no caso, não era Ramech, e sim, outra desconhecida de cor azulada e brilhante – e sair correndo. Saquei Peter, que brilhou instantaneamente. Pude ver Diana atacando as feras em movimentos brutais.

Katharine! – gritou Raj.

A criatura avançou em minha direção. Fechei os olhos hesitando um ataque, quando ouvi um urro violento e estagnado. Abri os olhos. Raj permanecia de pé, sangue negro encobria sua roupa e parte do seu rosto, a varinha azul, ainda cintilava.

– Obrigado.

– De nada – disse ele readquirindo o ar perdido na luta, porém não conteve um sorriso bobo. – Desculpe-me.

– Não tem com o que se desculpar.

– Katharine, eu não gosto de Di...

Raj foi interrompido pelo rugido feroz da criatura cinzenta. Os olhos sinistros me fitavam agressivamente. Esta pulou para cima de Raj enquanto outra se aproximava de mim. Cortei sua garganta em um gesto violento, fazendo com que sangue escuro exalasse pelo ar. Limpei o rosto com a manga do traje e corri em direção ao monstro atacando o menino.

– Saia! Saia! – a fera me encarou. Esta bufava e rosnava ao mesmo tempo, como se fosse possível fazer isso. Podia ver Diana e Jake enfrentando as criaturas. Jake atirava flechas nas feras, que sumiam pelo ar em um pó dourado. Diana os atacava com a espada cintilante. – Eu não tenho medo de você!

Peter brilhava em minha mão, agora, flamejava no maxilar da criatura caída no chão. Estendi a mão esquerda para ajudar Raj, mas ele se levantou sozinho.

– Parece que estamos em um empate – disse ele com um sorriso.

– Espero que sim – falei suspirando. Podia sentir uma forte dor no braço esquerdo. Meu pescoço ardia repleto de sangue das criaturas.

– Onde foi festa? – disse Jake guardando uma flecha dourada.

– Você é patético – disse Diana.

– Como voltaremos?

Não houve resposta. Apenas Jake desviou o olhar malicioso de mim, para as árvores altas e sombrias, que levavam a cachoeira.

– Não. Você não quer dizer que...

– Vamos pular? – sugeriu ele logo assentindo. – Não teremos outra escolha.

...

O barranco que despencava em água, era como prata ao sol. A vegetação densa encobria o local. Olhei para baixo. Uma náusea surgiu em mim. Odiava altura, isso eu tinha certeza. Raj me olhou um pouco assustado, talvez também estivesse com medo. O mesmo segurou minha mão firmemente, fazendo com que sangue humano e sangue de criaturas estranhas se misturassem sem demandas. Apenas pude ver um clarão enquanto nossos corpos colidiam com a água fria. Agora, estávamos de pé, na mesma sala de uma imensidão inigualável.

– Até que não se saíram tão mal – disse Christine. – Exceto você – ela apontou para o menino moreno de olhos negros e assustados. – Uma hesitação em meio uma gerra. Isso não se faz, Raj.

Ele olhou para os pés cobertos pelas botas negras.

– Desculpe. Foi um erro.

– Erros como esses não podem ser repetidos – disse ela em uma expressão séria. – Mas fico feliz em saber que atingiu o seu objetivo principal.

Raj sorriu olhando para mim. Abaixei a cabeça tentando esconder um sorriso também.

Aliás, brigas não sustentam ninguém.


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Notas finais do capítulo

E então???? O que acharam?? Bom, médio ou ruim... Não importa, comentem o que acharam, isso me deixa motivada! Ah, se estivem dispostos a dar dicas ;) elas serão aceitas. Beijão, eu sei que eu falo demais... Amo vocês ♥♥♥



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