Os dias na fortaleza enigmática de Richard foram mais difíceis do que eu imaginei. Yann e Raj não se falavam, apenas trocavam olhares fatídicos. Diana era possessiva e irritante. Sua arrogância era de um nível surpreendente, já Jake, era um pouco amigo da simpatia, mas não era de puxar assuntos que não fossem sobre magia ou sobre os fatos da sua vida misteriosa. Tinha confiança em minha mente, eu já havia o visto antes.

Raj treinara muito bem. Seus truques magníficos foram revelados, mostrando para si mesmo a sua enorme habilidade, Diana parecia gostar disso tudo. Já no meu caso, era um pouco complicado. Eu não me concentrava em nada. Minha mãe não saía da minha mente, os mistérios que envolviam o meu pai vinham como uma enxurrada de pensamentos, David, tratei de esquecer, mas Peter ainda era um grande problema.

Depois de passar algumas noites no local, os pesadelos eram frequentes, dessa vez piores. Em todos, Agatus era um vilão impiedoso, Raj era mal e Peter tentava me matar. Mas nenhum desses sonhos mostrava onde estava minha mãe ou quem era realmente o meu pai.

Muitas vezes, chorava a noite inteira, mas Raj me acolhia como um irmão que nunca tive – não posso lhe dizer que nunca tive um irmão, mas lhe garanto que Peter nunca fora o tipo de pessoa que asilava a irmã em seus momentos de lastima.

...

– O que faz aqui sozinha?

Yann me despertou dos meus pensamentos que voavam longe.

– Respirando – menti. Não estava respirando, eu poderia muito bem me dar o luxo de respirar em meu próprio quarto, e não em um ambiente equipado para magia. Mas sabia que ele não acreditou.

– Não viria até aqui apenas para respirar – disse ele sorrindo. – Não deveria estar com o seu amiguinho indiano?

– Por que tem raiva dele? Ele nunca fez nada de ruim para você.

Yann riu.

– Não tenho raiva dele, Katharine – disse ele. A voz seca e leve agredia os meus ouvidos. – Apenas não o suporto.

– Por quê? – sentia-me estranha perto dele. Seus olhos azuis fitavam-me prudentemente. – Ele é um garoto tão bom.

Yann parecia zombar de minhas palavras em sua própria mente.

– Isso é porque você só o conhece há meses – disse ele mordazmente. – Tente crescer e morar com ele por 14 anos. Não vai suportar um ano.

– Se eu o suportei por três míseros meses, eu posso suportá-lo por mais vinte anos.

– Isso é uma escolha sua. Não vou me meter nisso – disse ele finalmente desviando o olhar de mim. – Agora, onde está ele? Não deveria estar lhe ensinando algo? Algum de seus truques, quem sabe?

Eu queria não estar ali naquele momento. Yann me pressionava demais.

– Talvez esteja descansando, o que eu deveria fazer também.

Yann me encarou com um olhar mordaz.

– Descansos não são aceitos nessa área, garota.

– Com isso você quer dizer... O mundo da magia?

Yann se aproximou mais. Podia sentir a energia que seus olhos transmitiam. Os cabelos negros brilhavam.

– Eu quero que aprenda comigo, Katharine – disse ele ignorando minha pergunta, tão próximo a mim, que poderia sentir o seu hálito fresco.

– Não será preciso, Yann. Raj está aqui para isso, e estou muito satisfeita com o que ele pode me oferecer.

– Passar algumas noites acordadas, aos prantos, em seus braços, não é o melhor que ele possa lhe oferecer.

Aquilo foi o fim para os meus ouvidos. Yann tinha razão, passei algumas noites com Raj, em seus braços. Ele me contava histórias e cantava canções harmoniosas, muitas vezes, fazendo-me cair no sono profundo. Eu estava triste, era o máximo que ele poderia me oferecer. Como já disse, ele é como um irmão que eu nunca tive. Sei que isso era patético, mas eu gostava, e estava disposta a lutar por sua amizade. Talvez Yann não compreendesse tudo isso.

– Ele... Eu...

– Admita, Katharine. Raj é um tolo. Ele não gosta de você – disse ele calmamente. – Apenas está tentando lhe ganhar em seus braços, para depois, na disputa, acabar com você, pois será um alvo fácil, já que está na dele.

Queria tapar meus ouvidos e sair correndo.

– Ele nunca faria isso comigo. Você está mentindo.

– O que? – a voz calma e desentendida ecoou da entrada.

– Raj...?

– Katharine, o que está acontecendo? O que ele está fazendo aqui?

Juro que meu sangue congelou em minhas veias.

– Ele apenas...

– Ela estava treinando comigo, Raj – completou Yann, mesmo não sendo a verdade. Raj arregalou os olhos. – Sabe, ela me prefere. Você é apenas um feiticeiro qualquer, já eu, sou um filho de Agatus. Posso a oferecer milhões de feitiços a mais. Sei que você sempre me odiou e me invejou por isso.

– Eu nunca o invejei, Yann. Por Agatus, eu sempre fui o seu amigo – disse Raj. – Isso é verdade Kat? Você está com ele?

Podia enxergar a martirização no olhar trêmulo de Raj.

– Não, Raj. Eu não faço ideia do que ele está falando.

– Ah, por favor, Katharine – protestou Yann. – Admita que você está do meu lado agora – as palavras de Yann pareciam machucar Raj como um canhão que o atingira.

– Por que está do lado dele? – a angústia era presente em sua voz.

– Não estou do lado dele! – retruquei. Raj parecia querer sair correndo e nunca mais me olhar nos olhos. Yann estava pacífico em um canto, apenas sorrindo e desfrutando da nossa discussão. – Eu não me importo com ele, você é o meu amigo.

Raj abaixou a cabeça. Parecia não querer que eu visse a dor em seus olhos.

– Eu não acredito em você. Não mesmo.

Senti as lágrimas quentes invadirem meus olhos, como a lava invade um vulcão. Não havia muito tempo que o conheci, mas já era o suficiente para adorá-lo, para manter um afeto especial, uma grande amizade. Ele era único para mim – não querendo esquecer David, mas, eu deveria fazê-lo.

– Mas que triste. Não era para vocês brigarem... – disse Yann transcrevendo certo afeto inexistente. – Isso é péssimo.

Yann me abraçou. Tentei soltar-me dos seus braços, mas era impossível. Raj nos fitou, e foi embora. Queria empurrar Yann e correr atrás dele, o abraçar e dizer a ele que foi tudo um grande desentendimento, mas isso não possível.

– Me solte! – mas Yann me agarrou mais forte que antes.

– Katharine, não pode lutar contra isso – disse ele. – Eu irei lhe treinar agora. Esqueça Raj, ele só irá lhe atrapalhar.

Soltei-me dele rapidamente. Meus passos foram velozes e apressados, mas incapazes de alcançar o menino moreno de cabelos negros ao fim do longo corredor. Uma lágrima, transparente como um cristal, se permutou com o tapete rubro sob o chão.

Eu não queria afastá-lo, não outra vez...