– Não vou fazer o que ele manda. Não irei entrar em um jogo para sacrificar o meu... – hesitei rapidamente. Os olhos de Raj se iluminaram, ansiando uma resposta. – Não vou. Está decidido.

– Não teremos escolhas, Katharine – disse Raj resignado, os olhos ainda brilhavam. A sala estava escura, não havia janelas ou nenhuma outra forma de ventilação. Raj estava sentado no sofá vermelho enquanto eu rodeava a sala como uma louca.

– Temos que sair desse lugar. Eu preciso encontrar a minha mãe.

O ambiente me deixava sufocada. Como em uma sala não poderia haver janelas, apenas portas. Era como a sala de Richard, pinturas mortas e flores murchas, o vermelho exalando.

– Richard disse que ela está bem – disse ele em seu tom entorpecido. – Mas não acredite nele.

– E eu não acredito – o mundo parecia desabar sobre mim, minha cabeça latejava em pensamentos fulminantes. – O que ele quis dizer com... Acabar com a vida de uma filha que ele mal conhece?

Raj ponderou. Talvez estivesse vasculhando a sua mente em busca de uma resposta concreta.

– Soube que ele tinha uma filha – disse ele parecendo ainda graduar os pensamentos. – Alguns dizem que sua esposa fugiu com ela depois do divorcio, grávida de um menino – ouvia atentamente as suas palavras. – Outros dizem que o menino morreu antes mesmo de nascer. Não sei ao certo o que aconteceu – ele deu de ombros.

– Mas... E a mulher dele? O que aconteceu com ela?

Raj ergueu a cabeça.

– Eles tiveram uma filha juntos, como já disse – seus olhos distraídos pousaram nos meus. – Soube que a mulher fugiu com a menina ainda grávida do outro filho, com medo do que Richard poderia fazer com ela. Dizem até que ela fugiu com o irmão de Richard. Mas eu acredito que estão todos mortos.

Engoli seco.

– Que horrível. Até a sua própria família com medo dele mesmo.

– Richard sempre foi assim. Não sei como Victoria o aguenta.

– Então ela está envolvida em seus planos?

Raj me encarou. Um risinho escapou dos seus lábios.

– Claro que sim. Eu já suspeitava antes.

– Victoria disse que minha mãe estava presa por um feitiço de Agatus.

– Não acredite em tudo que ela fala. Ela pode estar lhe manipulando.

– Eu estou com medo. Minha mãe desapareceu da minha vista, eu ainda não descobri quem é o meu pai e... E eu não quero morrer em busca das...

– As profecia? – sugeriu Raj. – Eu não faço a mínima ideia com quem...

– Minha mãe! – gritei. Raj pareceu não entender o motivo da minha agitação.

– Como assim?

– Não sei se ela entregou o livro para Victoria... As profecias estão com ela!

Raj suspirou.

– Tem certeza?

– Toda a certeza que o mundo pode oferecer.

Ele riu.

– Mesmo? – disse ele franzindo o cenho. – Mas como iremos saber se as profecias estão com a sua mãe ou se estão com Victoria?

– Não faço ideia. Apenas sei que a vi o entregando para a bruxa.

– Mas e se Victoria a sequestrou e roubou o livro? – perguntou ele. O ambiente estava completamente escuro, mas podia ver a sua expressão confusa. – Não sei, Katharine, é muito improvável acharmos uma resposta palpável.

– No momento, quero acreditar que nada disso...

– No que não quer acreditar, ruivinha? – disse uma voz ácida e conhecida, porém não era Victoria.

Raj se virou instintivamente.

– O que é isso? Por que estão com essas caras de assombro? – disse a menina de cabelos dourados. Minha mente tentava vasculhar a si mesma em busca de alguma lembrança do seu rosto fino e pálido. – Não quero ser indelicada, mas... Vocês são completamente estranhos, principalmente você, moreninho.

A menina piscou para Raj, que se encolheu no assento enrubescido. Pude ouvir um ruído de alguém limpando a garganta.

– Por favor, Diana.

– Jake? O que você quer? – disse ela revirando os olhos. – Me deixe em paz.

O menino loiro, idêntico a Diana, se aproximou de mim cautelosamente.

– Sou Jake. Você é...?

– Katharine... Kat. Eu sou Kat.

Raj se ergueu.

– Quem são vocês? Os...

– Os famosos sobrinhos de Richard? – perguntou a menina presumidamente. – Sim.

– Ela é Diana, e eu sou Jake.

O menino parecia conter uma áurea dourada sob a cabeça. O rosto era angular e lívido, com olhos azuis, frigidos como gelo. Os cabelos dourados caíam em seu rosto.

– Estão prontos?

Raj me olhou assustado.

– Prontos para o que?

Diana bufou, parecendo esquecer de como se fazia isso.

– Parece que Richard não explicou nada – disse ela irritada. As vestes negras a deixavam completamente gótica, enquanto Jake seguia o seu estilo. – Vamos treinar. Não quero ver ninguém gemendo na hora de enfrentar aqueles monstros nojentos.

Jake riu.

– Está assustando as crianças, Diana.

– Nós não somos crianças – pûs-me em sua frente, porém meu ato não adiantou coisa alguma.

– Pense o que quiser, ruivinha – disse Diana cuspindo as palavras como se elas fossem ácido. – Serão vocês os primeiros a morrer.

– Não se lutarmos.

Raj me encarou. Eu sabia que eu estava errada. Lutar não era a opção certa para mim.

– Lutar? – Jake ergueu as sobrancelhas. – Você não pode lutar. Não tem força o suficiente para matar um...

– Ela quebrou uma prisão de luz – interrompeu-o Raj. As palavras de Jake foram engolidas em seco, agora, ele parecia inerte. – com apenas uma varinha.

– Uma... Varinha de luz?

Raj assentiu.

– Ela é boa no que faz – as palavras de Raj foram uma melodia doce para os meus ouvidos. – Isso eu tenho certeza.

Jake continuou imóvel. Talvez o que Raj dissera estava certo. Eu era boa...

– É melhor se prepararem – disse Diana. – Vamos ter um longo treinamento pela frente.