— O que vai ser de Billy agora? — Charlie balançava a cabeça, inconformado com o acontecido. — Eu não entendo! Estivemos lá mais cedo, ele estava tão bem, e de repente...

— Pai, não podemos controlar esse tipo de coisa, mas sabe de uma coisa? Tenho certeza de que ele vai ficar bem. Ele tem você ao lado dele, tem Jake, os quileútes, e se preciso, estarei lá também.

Abracei Charlie. Alguns quileútes estavam no hospital também, pessoas que vim a conhecer naquele momento. Sue e os filhos, Seth e Leah, Sam e sua esposa, Emily. Mais pessoas queriam vir, mas a sala de espera ficaria superlotada. Estranhei o fato de Jake não estar ali e estava nos meus planos ir atrás dele, só estava esperando Carlisle sair da sala de cirurgia com maiores notícias.

Quando cheguei, tudo o que soube foi que Billy havia sido trazido por Sam. Segundo ele, Billy havia caído da escada, desmaiou e, quando acordou, não conseguia sentir as pernas. Foi levado com urgência para a sala de cirurgias.

— Com licença. — Carlisle apareceu na sala, fazendo com que todos levantassem ao mesmo tempo.

— E então, doutor?

— Fiz tudo o que estava ao meu alcance, porém a área atingida foi a coluna lombar e o impacto foi intenso. Sinto muito.

— O que isso quer dizer? — perguntou Sue.

— Isso quer dizer que o Sr. Black perdeu o movimento das pernas — explicou de maneira mais simples. Sue desabou nos braços de Seth e meu pai esfregou a cabeça, com nervosismo.

— Mas isso tem cura? Alguma coisa a ser feita além da cirurgia? — insistiu Sam. — Quer dizer, já ouvi falar que muitos paraplégicos fazem fisioterapia e voltam a andar.

— Infelizmente, o caso do Sr. Black é irreversível, realmente sinto muito.

Abracei Charlie e saí daquela sala. Precisei sair dali. A tensão era tão grande que chegava sufocar. Todos ali sofriam por Billy. Eu sequer era tão próxima dele, mas também sentia muito. Estava encostada no apoio da varanda quando Carlisle apareceu.

— Bella, que bom encontrar você sozinha. — Ele também se apoiou no encosto. Apesar de sua aparência quase perfeita, era possível perceber seu cansaço, como se todos os acontecimentos recentes pesassem em suas costas. — Billy não caiu da escada. — Assustei-me com aquela declaração. — Qualquer um naquela sala de cirurgia pode afirmar a mesma coisa. Tem marcas de unhas... Não, de garras, nas costas dele.

Meu coração disparou e pensei imediatamente em Jacob. Naquele dia fiquei sabendo da existência de lobos e liguei isso ao fato do próprio filho não estar ali para apoiar o pai.

— Será que Jacob... ? — perguntei, morrendo de medo da resposta.

— Bella, Jacob pertence a uma longa linhagem de lobos — disse Carlisle, confirmando meu medo. — Mas seria ele capaz de fazer isso com o próprio pai? Eu não sei como funciona realmente a transformação deles, porém se for tão ruim quanto estou imaginando, nossa família corre sérios riscos.

Respirei fundo o ar gelado da noite. Como para ironizar a situação, aquela era uma noite de crepúsculo. Um cenário sombrio para combinar com o momento. Tomei uma decisão que eu sabia ser necessária, mesmo que me assustasse.

— Tenho que falar com Jacob. Preciso descobrir o que está acontecendo.

— Eu também ia sugerir isso, mas Bella — Olhei para ele. — tenha cuidado. Não vá até a reserva, convide ele para sua casa. Aqui é mais seguro, tem quem a proteja. Não sabemos com o que estamos lidando.

Esperei que o dia amanhecesse (o que pareceu durar uma eternidade) para sair do hospital. Disse a Charlie que precisava de um banho e dormir um pouco. Realmente, eu estava cansada, mas o sono passava longe. Sentia a adrenalina correr pelo meu corpo com as informações novas que chegavam a todo o momento. Como eu, uma simples humana, fui parar no meio de toda aquela confusão? Melhor perguntando, como eu causei toda aquela confusão?

Peguei minha picape e parti rumo a La Push sem sequer passar em casa, ignorando completamente o aviso de Carlisle. Eu sabia que Jacob não viria até mim. Lembrei de Ian naquele momento. Não pensava nele desde que desabafei com Edward. Eu achava que aquele havia sido a pior coisa que eu havia feito, e guardei aquela culpa por muito tempo, aquele peso em meu peito. Agora tudo se repetia, eu estava prestes a causar mais dor, dessa vez para duas famílias.

Não, eu não ia permitir isso!

Cheguei na casa dos Black e gritei por Jacob, mas ele não estava lá, apenas seu carro. Pensei onde mais ele poderia estar e me lembrei da praia que sempre íamos quando eu estava em La Push. Segui com Gladis para lá e uma mistura de alívio e apreensão me preencheram quando o encontrei.

— Jacob! — gritei e fui recebida por seu olhar sofrido. Ele estava sentado na areia, perto o suficiente da água para que molhasse seus pés, os braços apertavam as pernas.

— Vá embora, Isabella. — Parei no meio do caminho. Ele nunca me chamava de Isabella. Era como a minha mãe me chamar por meu nome completo. — Se o sanguessuga é perigoso para você, eu sou o dobro. — Recuperei minha coragem e voltei a andar. — VÁ EMBORA!

— NÃO VOU! Não vou. Da outra vez você se quer me deu uma chance de falar, eu fiquei sabendo de uma coisa sobre você e agora seu pai está no hospital... Jake, me fala o que aconteceu.

— Você sabe como meu pai está? — perguntou, ignorando tudo o mais que eu disse.

— Ele... Billy... — Como você dá esse tipo de notícia a um filho?

— Fala, Bella! Ele morreu? — Vi o choque e a dor em seus olhos.

— NÃO! Não, ele... Ele ficou paraplégico, Jake.

O maxilar de Jacob se apertou e seus olhos se encheram de lágrimas. Ele se levantou e gritou ao mar:

— POR QUE? POR QUE ISSO? POR QUE EU? — Finalmente começou a soluçar e derramar-se em lágrimas. Senti meus olhos marejarem junto com aquela cena. Cheguei perto de Jacob e o abracei, ele enterrou seu rosto em meus cabelos e deixou a dor ser extravasada — Vai embora, Bella.

— Jacob. Jake. Conte o que aconteceu. Fui avisada sobre seu lado lobo. — Ele congelou em meu abraço, obviamente tenso. — Mas queria ouvir de você, queria que você me contasse tudo. Sabe que de todos, vou ser a última a te julgar.

Jacob voltou a se sentar na areia, trazendo-me junto. Consegui ver nele o mesmo cansaço que vi em Carlisle, o mesmo peso que apareceu em menos de 24h. Aquilo era irreal.

— Ontem eu descobri através de você que a história sobre os vampiros era real. Fiquei com tanta raiva quando vi seu pescoço. — Ele tremeu um pouco, mas respirou fundo, retomando a calma. — Corri para o meio da floresta. De repente comecei a tremer muito e a sentir um frio como nunca senti antes.

— Quando peguei em você antes de correr, parecia que estava com febre. Isso explicaria o frio.

— Eu sei que minhas roupas rasgaram, comecei a ver tudo de outra forma e minha cabeça estava cheia de vozes. Eu enxergava tudo em vermelho, só tinha espaço para a raiva e a vontade de rasgar aquele vampiro, membro por membro, até não sobrar nada.

— Jacob — chamei sua atenção para o presente ao perceber que ele tremia novamente e me afastei um pouco. Meu Deus, ele era uma bomba pronta para explodir! Novamente, Jake se acalmou antes de retomar a história.

— Corri sem rumo, aquele corpo não parecia meu, não estava acostumado com aquilo. Logo percebi que estava em casa, meu pai estava lá, acho que alguém o avisou. Ele tentou me acalmar, Bella, era só isso que ele queria fazer, mas eu estava preenchido com tanta raiva, aquilo não era normal. — Senti culpa ao ouvir isso. — Antes que eu percebesse ele estava no chão, desacordado, e eu cercado por outros lobos. Alguém falou para eu voltar para minha forma humana — nem sabia direito que estava em outra forma! Mas obedeci, não sei como, mas obedeci, como se minha vida dependesse daquilo. E então meu pai foi levado ao hospital, alguém me explicou minha nova situação e só naquele momento, caí na real.

— O que eles te explicaram? — perguntei com calma.

— Esse lance de ser lobo. Primeiro eles disseram que essa raiva é normal, geralmente é assim que a primeira transformação ocorre, pela raiva, e mesmo depois de anos, uma raiva ainda pode desencadear uma transformação não intencional.

— Isso é...

— Horrível. É. E meu pai está condenado a uma cadeira de rodas por minha culpa. Calma, tem mais. Isso não é só comigo, corre por toda a reserva. Aparentemente tem uma matilha inteira e um cara chamado Sam é o Alfa.

— Acho que conheci esse Sam, ele estava no hospital com a esposa.

— Tinha alguma coisa de diferente com a esposa dele? — perguntou.

— Bom... A única coisa era o rosto dela, meio deformado, como quem sofre queimaduras. — Ele acenou a cabeça.

— Os outros falaram que na primeira transformação do Sam, ele também atacou um familiar. Eu não tinha creditado muito, mas...

Pensei na moça, Emily. Naquela hora, todos desesperados por conta de Billy, não fiquei pensando muito sobre ela, mas agora... O lado esquerdo do rosto dela era deformado realmente, e agora eu sabia que o marido havia causado aquilo. E mesmo assim eles estavam juntos, assim como eu estava com Edward, apesar de sua condição... especial. Eu não carregava uma marca como aquela, mas eu a entendia.

Jacob falou mais um pouco sobre seus novos “irmãos” (ele usou essa palavra ironicamente), quando a única família com quem ele realmente se importava no momento estava hospitalizada. E então, quando o sol quase alcançava o alto do céu, tocamos no assunto delicado que desencadeou tudo aquilo.

— Bella, eu ainda não estou acreditando que você deixou aquele sanguessuga fazer isso, mas a verdade é que nenhum dos lobos realmente se importam. Você se entregou de livre e espontânea vontade, não consigo entender, mas se entregou. A trégua é importante demais para armar uma guerra por você. — Respirei aliviada, enquanto ele era pura tensão. — Mas eu vou avisando, Bella, e é bom que anote isso: um avanço mais ousado e ele vai ser ver comigo. — A ameaça saiu quase como um rosnado. Resolvi aproveitar que ele levantou a bandeira branca e voltei ao que realmente me trouxe ali.

— Bom, eu preciso ir, não dormi essa noite e o cansaço finalmente está levando a melhor. — Levantei e limpei a areia da calça. — Jake, vá visitar seu pai.

— Bella, você não entende...

— Acredite em mim, entendo mais do que pensa. — Lembrei-me de Ian na hora. — E é melhor que faça isso cedo. Não deixe para o último minuto. Ele é seu pai, te ama mais do que tudo e vai te perdoar, até porque não foi inteiramente sua culpa. — Abaixei, dei um beijo em sua bochecha e fui embora.

O que eu disse não foi mentira, o sono estava querendo levar a melhor. Pesquei durante todo o caminho para Forks. Depois da conversa com Jake, fiquei um pouco mais tranquila (se é que aquilo era possível), o que me ajudou a relaxar. Resolvi dar uma passada no hospital antes para avisar Carlisle que estava tudo bem e também para ver se o Billy tinha acordado.

Estacionei Gladis e desci. Fui caminhando, quando, para minha surpresa, encontro Edward parado ao lado da porta do hospital.

— Acho que você tem muito que me dizer Isabella.