A love of porcelain escrita por Cherry Bomb


Capítulo 9
Acidentes




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Geralmente a esse horário eu tenho aula mas como Ariele não está aqui vou estudar sozinha.

Subi para o meu quarto e peguei meu livro de literatura inglesa, comecei mais uma das minhas leituras, gosto de estudar, aprendo muita coisa sobre o mundo lá fora.

Algum tempo depois tive minha leitura interrompida com Henry batendo na porta.

–O que você ta fazendo? – Ele perguntou.

–Estudando.

–Você não sai de casa?

–Não.

–Nunca?

–Nunca. – Ele pareceu surpreso com a minha resposta. Mas parando para pensar eu nunca saio de casa, só sai uma fez e foi a pior coisa que já me aconteceu, não quero repetir isso.

–Então você passa o dia todo estudando?

–Não. As vezes toco piano, danço e assisto filmes.

–Que vida emocionante a sua em Margot. – Henry sentou na ponta da minha cama e passou os dedos no cabelo tirando os fios dos olhos.

–Você me lembra o Legolas do Senhor dos anéis. – Comentei.

–Antes elfo do que anão. – É estranho o modo como as vezes do nada ele para de falar e me encarando.

–O que você fazia? – Perguntei, quem sabe assim ele para de me encarar.

–Saia com os meus amigos, namorava... essas coisas. Mas como me mudei pra ca perdi o contato. Dificil ter contato estando na Finlândia. – Guardei meu livro e me sentei ao lado de Henry.

–De onde você veio?

–Morava com a minha mãe no Canadá. Era legal. –Henry mais uma vez ficou me olhando, era como se ele procurasse alguma coisa no meu rosto.

–O que você tanto me olha? – Perguntei.

–Os desenhos são muito perfeitos e você parece uma pessoa de verdade. – Fico feliz em saber que o trabalho que o doutor teve pra me fazer deu certo.

Nos não falávamos nada apenas ficamos olhando um para o outro. Henry também parecia que tinha sido feito por alguém, esses dias achei o adjetivo certo pra ele, bonito, procurei no dicionário. Henry é bonito.

–Está com fome? – Perguntei.

–Um pouco, mas não sou muito bom quando o assunto é cozinhar. – Me levantei e sai do quarto em direção a cozinha.

Enquanto comecei a preparar o almoço pude ouvir Henry ligar a tv. Sempre fui um boa cozinheira, mesmo não podendo sentir o gosto dos alimentos, Ariele, Paolo e o doutor sempre elogiavam a minha comida.

Coloquei a louça ne mesa e chamei Henry para comer. Deixei ele comendo e fui arrumar a bagunça que eu tinha feito.

–Quando Ariele e Paolo vão voltar? – Ele perguntou.

–Eu não sei. O doutor tinha muitos assuntos pendentes na cidade.

Henry deixou o prato na pia e passou por mim passando bem rapidamente a mão na minha cabeça. Seu toque não foi pesado mas foi esquisito, ainda estou tentando entender qual o motivo dessa obsessão dele por tocar as pessoas.

Quando voltei pra sala Henry estava colocando o casado e abrindo a porta.

–Vou sair. – Ele disse antes de fechar a porta.

Nunca liguei de ficar sozinha em casa mas desta vez foi diferente, parecia que algo estava faltando. Subi para o meu quarto e terminei de fazer mais um dos meus vestidos. Este é branco e azul escuro, fiquei três meses fazendo ele, todas as minhas roupas são feitas por mim.

Quando terminei decidi tentar entender um pouco melhor sobre como é a vida das pessoas lá fora. Liguei o computador e comecei a pesquisar.

As meninas não parecem gostar muito de roupas, elas praticamente não usam nada e os rapazes se vestem de um modo esquisito, calças que estão praticamente no chão e tênis maiores que os próprios pés.

Gosto de ver o modo como as pessoas se vestem. Peguei algumas ideias de roupas que vi e passei para o papel, talvez fosse bom mudar um pouco meus estilo, mas nunca usar calça, sou uma dama, devo mostrar a minha feminilidade.

–Margot! –Ouvi quando alguém gritou meu nome.

Da ponta da escada eu vi Henry de joelhos no chão com o corpo curvado, ele fazia uns barulhos estranhos e então vi sangue começar a escorrer pelo chão.

Não sei como mas cheguei muito rápido ao lado dele. Sentei Henry no sofá e tirei sua camisa. Um corte profundo tinha sido feito no seu abdômen.

–Como você fez isso? – Perguntei enquanto ia até a gaveta de primeiros socorros.

–Fui até a faculdade daqui pra fazer a minha matricula, - Ele falava com dificuldade- e um cara tentou me roubar. Mas ai eu briguei com ele e o idiota me deu um facada.

–Não se mexa. – Tirei o sangue de toda a sua pele, eu podia sentir os músculos do corpo dele, até isso parecia ter sido desenhado a mão.

–Você é medica? –Ele perguntou.

–Garanto que de machucados eu entendo. – Peguei uma seringa e dei anestesia local pra ele não sentir dor. – Vai precisar levar pontos. Segure esse pano em cima do ferimento até não sentir mais ele.

–Você tem muitas cicatrizes?

–O suficiente para saber de como cuidar de um ferimento. – Não gosto de falar sobre o modo como fui feita. Muitas vezes o doutor não podia usar anestesia comigo por correr risco de falência dos órgãos. Hoje em dia se eu me cortar não vou sentir dor, resultado de muitas noites sendo costurada.

–O que pretende fazer com essa agulha? – Henry perguntou assustado quando me viu preparar a agulha e linha.

–Vai precisar de pontos. Mas você não vai sentir. –Comecei o processo. É a mesma cosia que costurar um dos meus vestidos, a única diferença é que meus dedos ficam cheio de sangue.

–Obrigado. –Ele disse quando eu corte a linha para terminar.

–Não foi nada. Fica deitado que eu vou fazer um chá. – Guardei as coisas e fiz o chá pra ele.

Quando voltei pra sala Henry estava sentado no sofá.

–Podemos ver um filme? –Ele perguntou enquanto pegava a xícara da minha mão.

–Podemos. – Me sentei do outro lado do sofá e então Henry ligou a tv.

Não prestei muita atenção no nome do filme, já que pegamos ele depois de começar, mas pelo o que entendi a garota de cabelos loiros está triste com o cara de barba e eles estão um brigando com o outro.

Gosto de filmes, aprendi muita coisa sobre as pessoas com eles. Principalmente sobre os sentimentos. Sei o nome de cada um e quando as pessoas os sentem, mas eu nunca senti nenhum, não do jeito que as atrizes mostram.

–Por que as pessoas gostam de se reproduzir? – Perguntei quando vi o cara de barba calar a boca da loira com a dele.

–Voce não sabe nada sobre sexo?

–Sei que é assim que vocês humanos se reproduzem.

–Tá querendo me dizer que você nunca viu uma cena de sexo?

–Não. –Ariele nunca me deixou ver. O que sei foi coisas que eu vi em livros de ciências mas esses dois ai do outro lado da tv estão fazendo algo bem diferente dos livros.

–Bom sexo não é só pra reprodução, é algo muito bom também. –Henry não tirava os olhos da tv, notei que ele olhava para a mulher que tinha as roupas sendo arrancadas pelo parceiro.

–Eu sou boa para a reprodução? –Perguntei.

–O que? – Henry engasgou com o chá.

–Você está olhando para a moça do mesmo jeito que olhava para a outra menina, aquele com quem você praticou a reprodução. Isso mostra que elas são boas para a reprodução.

–Eu sei lá se você é boa garota. Não é assim que as coisas acontecem. – Me levantei e fiquei na frente de Henry.

–O que você está fazendo? – Ele perguntou arregalando os olhos.

–O mesmo que a moça do filme. – Soltei o laço do vestido e comecei a abrir os botões que o fechavam. – Seu rosto está vermelho. Está com febre?

–O Garota fecha essa roupa agora!

–Quer dizer que eu não sou boa? –Henry tinha a respiração um pouco mais acelerada e ele não me olhava muito.

–Não é isso.... é que... ah fecha isso agora! – Ele saiu resmungando da sala. – Agora eu sei o porque a Ariele não te deixa ver essas coisas.

Fiz o laço de novo e me sentei para terminar de ver o filme. A loira estava deitada no peito do homem de barba, eles tinham o rosto feliz. Aquela cena me fez pensar se Henry e a menina tinham ficado desse jeito.

Como será ficar tão próximo de alguém? Ainda mais desse jeito e com essas expressões.

Na legenda li que a moça dizia "Eu te amo" e o rapaz respondia com um "Eu também te amo" e colocava os lábios dele no topo da cabeça dela.

Não entendo muito bem o sentido dessa frase. Já vi meninas chorarem por ouvir isso do menino, mas ao mesmo tempo elas choram se eles não dizem. Não consigo entender. Esse tal de "Te amo" é uma frase que traz alegria e tristeza, essa é a unica coisa que eu tenho certeza.


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