A love of porcelain escrita por Cherry Bomb


Capítulo 10
Som




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Não vi o Henry durante o resto do dia mesmo assim deixei uma troca de faixas e antibióticos em uma caixa na porta do quarto dele, depois de um tempo a caixa não estava mais lá então considerei como missão cumprida.

Durante a noite eu não queria mais ficar no meu quarto então decidi ir para o do doutor.

Nada tinha sido tirado do lugar. Tudo estava como ele gostava e se dependesse de mim continuaria assim. Durante o tempo em que estava me criando ele sempre me pedia para sentar em sua cama enquanto ele se sentava em uma cadeira e anotava tudo que eu falava.

Ele fazia perguntas sobre o que eu tinha aprendido no decorrer do dia, se eu sentia alguma coisa mudar, se eu meus cinco sentidos já estavam funcionando, e por ai vai. Desde o inicio a ideia era criar a mulher perfeita mas que sentisse tudo o que o ser humano sente. Fome, sono, cansaço, alegria, tristeza... e eu nunca senti nada disso.

Peguei a única foto que ele tinha no quarto, era eu e ele mas na época em que eu estava no corpo de criança. Coloquei a foto na cadeira que ele costuma sentar e fui para a cama me ajeitar.

–Meus dias tem sido esquisitos doutor. Com todo o respeito, mas o filho do senhor é bem esquisito. Ele fala de um jeito estranho, se veste de um modo nada elegante e conseguiu ser esfaqueado por um estranho. Sem contar o problema dele com o contato físico. – Passei a madrugada toda ali. Conversando com uma foto como se o doutor realmente estivesse me ouvindo.

Contei tudo a respeito do filho dele e também sobre como me senti na noite em que ele se foi, ultimamente venho sentindo coisas muito estranhas, deve ser alguma coisa que foi ajustada errada, quando Paolo voltar vou pedir pra me examinar.

Coloquei a foto onde estava e fui para o meu quarto me arrumar para descer e preparar o café da manhã.

Depois de tomar banho e vestir um vestido vinho longo com mangas curtas e gola que transava uma fita preta em meu pescoço fui até a escada para descer mas parei quando vi Henry parado na ponta da escada me olhando com um sorriso.

–Bom dia Margot.

–Bom dia. Está melhor?

–Sim obrigado. Pode descer por favor? – Ele parecia diferente do que de costume. As roupas escuras eram as mesmas mas o jeito dele estava diferente.

–Vou preparar o café. – Falei. Mas Henry não me deixou descer o ultimo degrau e seguir para a cozinha.

–Eu estive pensando. Você me disse que nunca sai de casa e tem feito muita coisa por mim, então decidi fazer algo por você. – Henry esticou o braço em minha direção e eu pousei delicadamente minha mão delicadamente nele deixando-o me guiar.

Fomos até o salão da mansão, mas ele não estava como sempre esteve. Boa parte do enorme espaço estava sendo ocupada por uma toalha vermelha e branca com inúmeras comidas em cima. Frutas, pães, sucos, doces, a visão era realmente bela. Henry me levou até um espaço vazio na toalha e fez um gesto para que eu me senta-se.

–Por que fez tudo isso? – Perguntei.

–Você tem feito muito por mim. Eu queria te levar em um piquenique de verdade mas você nunca sai de casa então improvisei.

–Eu não como, você sabe disso né? – Tudo estava tão lindo que pela primeira vez eu quis poder ter a vontade de comer.

–Sei mas é o que dizem... O que vale é a intenção. Só de você ter vindo já está bom. –Ele pegou uma maçã e em seguida deu uma enorme mordida.

Eu não sabia o que fazer ou como agradecer aquilo. Apenas fiquei sentada com a mesma postura de sempre observando a janela.

–Você podia ao menos olhar pra mim. – Henry disse e automaticamente virei o rosto, só depois parei pra pensar o por que de ter feito aquilo mas não obtive resposta.

–Desculpas mas eu não sei o que fazer em uma situação como esta. –Talvez falando isso ele me dê uma ajuda.

–Eu também não. Nunca tive um encontro como este. – Parei e comecei a refletir sobre a palavra “encontro” eu já ouvira em algum lugar mas não conseguia me lembrar onde.

Henry se levantou e foi até o outro canto do salão ele ligou uma música e veio até a minha direção.

–Posso ter a honra? – Ele disse esticando a mão. Levei meus dedos até a palma de sua mão, minha pele é bem mais branca que a dele mas a pele dele é quente, então o ser humano é quente.

Henry passou o braço pela minha cintura e eu pousei meu braço em seu ombro. Desse jeito deu pra ver o quanto ele é mais alto que eu. Quando a música começou nossos corpos começaram a se mover lentamente juntos. Eu não sabia que ele dançava ainda mais de forma tão elegante. Os longos cabelo dele se moviam junto com a musica também, parecia que eu estava fora do meu corpo observando nós dois.

–Já ouviu essa música? – Henry perguntou. Só então eu parei para prestar atenção na música que estava tocando.

–Essa é... – Henry não deixou eu terminar de falar.

–A música deles. – Ele falou.

Eu ouvia muito essa música, Can’t Help falling in love, Elvis Presley. O doutor ouvia ela a maior parte do dia e as vezes a noite do meu quarto eu conseguia ouvir que ele estava escutando essa música de novo.

–Deles? – Perguntei. Nunca soube o motivo do doutor ouvir tantas vezes a mesma música.

–É. Minha mãe ouvia ela todos os dias. Foi a música que ela e o meu pai dançaram no casamento deles. –Henry aproximou ainda mais nossos corpos tirando qualquer espaço que ali estivesse.

Minha cabeça encostou em seu peito e eu pude ouvir algo bater dentro dele. Inúmeras batidas rápidas mas com o som baixo, até a sua respiração eu conseguia ouvir. Senti quando ele apoiou a cabeça dele na minha e ali ficamos. A musica repetia, repetia, repetia, repetia e nos continuávamos ali, dançando juntos. Fiquei todo aquele tempo ouvindo o coração dele bater e sentindo inveja pelo fato do meu não fazer isso mas a partir da primeira batida que o coração de Henry deu eu percebi, que aquele era o som que eu mais queria ouvir no mundo.


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