A love of porcelain escrita por Cherry Bomb


Capítulo 7
Sozinhos




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Eu já havia lido sobre a morte em inúmeros livros e visto ela, e do que ela é capaz de fazer, em filmes. Mas é estranho presenciar isso. Edgard apenas parece estar dormindo, igual aos dias que eu vinha observa-lo sem ele saber, acho que em algum momento ele vai acordar e brigar de novo por eu ter feito a caveira em meu rosto.

–Margot e Henry saiam do quarto, eu e Ariele cuidamos de tudo.

–Não vou sair. – O menino com cabelos de mulher falou.

–Por favor querido. – Ariele falou com a voz doce de sempre.

Me levantei e parei na porta para esperar o menino, mas ele começou a falar alto com o Paolo e aquilo me irritou. Peguei em seu braço e o levei para fora do quarto.

–Desculpas. – Falei fechando a porta do quarto para depois encarar o menino.

–Eu não queria sair. Ele é meu pai, tenho o direito de ficar com ele. – O rapaz gritava comigo.

–Você é mal educado. – Falei.

–Mal educado? Ohh garota eu nem te conheço pra você me chamar de mal educado. – Como ele não abaixou o tom de voz para falar comigo desci as escadas o ignorando totalmente.

Ele ainda resmungava mas eu evitei prestar a atenção, aprendi desde de cedo que sempre devemos ter classe. Sentei no sofá ereta como sempre, uma perna posta delicadamente atrás da outra e as mãos me cima das pernas. Pude ouvir o menino descer as escadas e se sentar em uma cadeira de frente pra mim.

–Desculpas ter gritado com você. Não estou em meus melhores dias.

–Por que você tem cabelo de mulher? – Perguntei inclinando um pouco a cabeça para ver melhor o caimento dos fios em seus olhos vermelhos por causa do choro.

–Meu cabelo não é de mulher! Isso é um estilo de vida. E você em, por que tem uma caveira no lugar do rosto?

–Porque eu vejo gente morta. –Respondi a pergunta dele tentando fazer uma piada mas acho que não deu muito certo, ele arregalou os olhos e ficou com a boca aberta sem dizer nada. – Foi uma piada. – Falei séria.

–O seu humor é bem esquisito garota. –Depois de falar isso ele ficou de cabeça baixa sem me olhar de novo.

Henry é... é... ai droga não sei a palavra. Acho que agradável , sua aparência é agradável, ele me lembra um pouco Edgard então gosto de ficar olhando pra ele.

–Da pra parar de me encarar? – Ele falou ainda com a cabeça baixa.

Levantei e fui até a cozinha preparar um pouco de chá para ele, da janela eu podia ver a neve cobrindo as árvores no jardim, lembro de quando era criança, sempre quis sair pra brincar com as meninas da rua mas quando eu lembrava do meu primeiro dia na escola a vontade sumia.

Levei o chá até a sala e deixei na mesa de frente para Henry. Subi as escadas para o meu quarto. Gosto do meu quarto, ele tem uma cama enorme, mesmo que eu não a use para dormir, ela tem um véu que começa no teto e vai até o chão. As paredes são cinzas cheias de prateleiras com livros que eu já li. A mansão inteira tem um estilo vitoriano.

Abri a porta do meu closet e procurei entre todos os vestido um para usar no enterro de Edgar. Peguei um preto com a saia rodada e o corselet rendado, mangas compridas sem tecido apenas renda com sedenhos de flores, preso por uma fita que passava pelo pescoço formando um colar.

Quando terminei de me vestir abri uma das gavetas da minha penteadeira e peguei um porta retrato onde tinha uma foto de Edgard recortada de um jornal, deixei ele ao lado do espelho. Olhar essa imagem fez com que eu me sentisse vazia, mais vazia que o comum.

Sai do meu quarto e fui até o do Edgard. Seu corpo não estava mais na cama, os aparelhos não estavam mais lá, parecia só mais um quarto sem nenhum atrativo.

–Margot? – Ouvi quando Ariele me chamou.

Segui o som de sua voz e a encontrei usando um vestido também preto. Seu rosto ainda estava inchado por causa do choro. Ela pegou a minha mão e fomos juntas até a parte de trás da mansão, um pouco mais além dali havia uma arvore enorme, andamos em direção a ela. Quando chegamos Henry e Paolo estavam lá baixando o caixão de Edgard.

Não dava pra ver o seu rosto, mas eu queria muito vê-lo, a única imagem que vinha era a de quando eu era criança e ele me explicando sobre as borboletas.

Henry e Paolo começaram a jogar terra para tapar o buraco, Ariele chorava ainda mais e eu me perguntava se chorar iria aliviar o vazio que eu sentia, mas não posso chorar então é uma duvida que levarei para sempre.

–Ariele e eu vamos até a cidade resolver algumas coisas que Edgard deixou. Vocês ficarão bem? – Paolo perguntou.

–Sim. – Respondi.

Os dois desceram para casa e sumiram do nosso campo de visão. Henry estava agachado ao lado das marcas da terra que havia sido colocada agora. Me aproximei dele.

–Você está bem?-Perguntei

–Vou ficar. – Ele respondeu levantando.

Quando me olhou notei que ele tentou disfarçar o fato de ter tomado um susto mas eu já não ligava mais para as reações das pessoas.

–Por que se veste como se vivesse na época vitoriana? – Ele perguntou enquanto descíamos para casa.

–Gosto do modo como as mulheres se vestiam. Por que você usa essa calça que parece ser tão dura e nada confortável? – Não conheço esse tecido. Paolo e Edgard sempre andavam de social até mesmo em casa.

–O nome disso é jeans e é o que jovens de hoje em dia usam. Você devia experimentar. – Ele não parava de olhar para frente, provavelmente ignorando meu rosto.

–Acho que não. – Entramos em casa e Henry se sentou no sofá.

Ele tem uma expressão triste então achei melhor não incomoda-lo. Assim que comecei a subir os degraus da escada parei quando ouvi meu nome.

–Margot. Eu sei que não nos conhecemos mas ficar sozinho é a ultima coisa que eu quero agora. – Desci e me sentei ao seu lado no sofá.

Arregalei os olhos e fiquei sem reação quando Henry deitou a cabeça em minhas pernas. Nunca ninguém tinha feito aquilo e eu não sabia o que fazer. Decidi deixar ele ali.

Ficamos um longo tempo imóveis naquela mesma posição.


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