A love of porcelain escrita por Cherry Bomb


Capítulo 15
Velha




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/446083/chapter/15

Sei que estou evoluindo. Já faz duas semanas desde que Henry decidiu me ajudar a ter emoções de novo. Eu já consigo sentir as coisas quentes ou frias, não tão claramente como ele deve sentir ou a ponta de usar um casaco de lã, mas já tenho uma noção do frio e do quente.

Nesses últimos dias aproveito quando Henry está dormindo para estudar. Eu não tenho histórico escolar mas a faculdade disse que se eu fizer uma prova e conseguir a nota necessária posso ser uma estudante como qualquer outra.

Nós não dormimos mais em quartos separados. Ele sabe que gosto de ficar observado seu sono então dorme na minha cama e eu fico na escrivaninha de costas mas as vezes viro para poder observar ele.

–Bom dia. –Ele falou enquanto se sentava.

–Bom dia.

–Mas o que????? –Henry arregalou os olhos quando me viu e então puxou um dos travesseiros para tapar o rosto.

–O que foi? –Perguntei.

–Você está só sutiã e calcinha Margot.

–Sim, eu estava tomando banho.

–Eu nem sabia que você tomava banho.

–Claro que tomo. Mas ainda não entendi qual o problema. –Henry se levantou da cama e puxou outro travesseiro. Um estava em seu rosto e o outro entre suas coxas.

–O problema é que eu sou homem e você mulher. –Ele então saiu do meu quarto.

Eu não entendi nada. Edgard e Paolo sempre me viram vestida assim e nunca tiveram esse tipo de reação. Coloquei um vestido verde escuro, longo com desenhos nas mangas e na barra em dourado.

Desci e fiquei esperando Henry para o café. O prato com ovos e pão já estava na mesa, assim como eu esperando ele.

–Sabe Margot, eu estava pensando. –Henry se sentou e deu um garfada no ovo. – O que acha de mudar um pouco suas roupas?

–Não gosta do modo como me visto?

–Claro que eu gosto. Mas eu já vi vários desenhos no seu quarto de roupas com um estilo vitoriano mas modernos.

–Gosto de ficar na internet procurando essas coisas. –Falei. E realmente é verdade. Mas nunca tinha parado para pensar em mudar e deixar de usar vestidos longos e bufantes.

–Não precisa usar calça jeans como eu uso, pode usar saias e até mesmo vestidos. Mas nada vulgar afinal de contas você vai pra um lugar onde tá cheio de homem.

–Não entendo qual o seu problema com homem e mulher.

–Não tem problemas com homens, só com mulheres. Ainda mais quando elas tem esse tipo de corpo. –Ele falou olhando pra mim.

–Com licença. –Me levantei da mesa e fui para o meu quarto.

Tirei qualquer coisa que pudesse tapar o meu corpo e fiquei de frente para o espelho. Eu queria saber onde estava o problema.

Meus seios são relativamente grandes. Minha cintura é fina por causa dos corseletes que uso mas minhas pernas e meu bumbum são grandes e bem torneados. Não entendo qual é o problema.

Me vesti de novo e voltei para a cozinha. Henry estava lavando o prato. Parei ao seu lado e falei seria.

–Não tem problema.

–O que?

–Meu corpo. Acabei de me olhar no espelho e acho que tudo está ótimo. –Henry enxugou as mãos e as passou no cabelo.

–Esse é o problema. –Ele falou enquanto saia.

–Não! Edgard disse que eu sou perfeita. –Notei que estava gritando com ele.

–Esse é o problema Margot. –Henry me encostou na parede. Sua mão estava apoiada próxima ao meu rosto, ele é bem alto pois precisa abaixar o rosto para me ver. –Você é perfeita. –Ele não falou essa frase, ele sussurrou elas próxima ao meu ouvido.

Com isso eu senti algo novo. Todos os meus pelos do corpo haviam se arrepiado. Henry passou a mão no meu cabelo colocando ele para trás deixando meu pescoço exposto. Ele aproximou os lábios da minha pele e então os pousou ali. Aquilo fez com que as minhas pernas ficassem moles, a sensação era de que eu iria cair.

Minha mão automaticamente foi para o braço de Henry na tentativa de me segurar. Ele então conseguiu passar aquele mesmo braço por volta da minha cintura. Eu sabia que seu corpo estava cobrindo o meu, seus músculos engoliam meu corpo frágil. Nossas testas estavam novamente coladas e Henry se aproximava ainda mais, quando nossos lábios estavam preste a se tocar um dos relógios da casa começou a apitar.

–Está na hora da minha prova. –Falei. Henry se afastou e eu vi que seu rosto estava um pouco vermelho.

–Vamos eu te levo. –Peguei uma bolsa e vesti um sobretudo preto pra dar uma disfarçada no vestido. Já baste ser uma caveira mexicana, não preciso de mais um motivo para os outros rirem.

Estávamos parados no que parecia ser um estacionamento, pelo menos é o que a placa que eu li dizia.

–Eu não quero! –Falei.

–Olha fica calma. Você só vai entrar por aquela porta e fazer a prova. Nos tempos de hoje as pessoas não vão achar tão estranho o seu rosto. Tatuagem hoje em dia é comum.

–Mas e se descobrirem que não sou como eles? – Só de lembrar aquelas crianças rindo de mim me fazia querer voltar para o meu quarto.

–Margot, eu to com você. Lembra sempre disso. –Henry pousou os lábios na minha testa e me deu um sorriso.

Quando entrei pela portinha uma senhora de cabelos brancos e óculos veio até mim.

–Pois não? –Ela disse com a voz rouca.

–Meu nome é Margot. Vim fazer a prova para entrar na faculdade. –Ela me mediu dos pés a cabeça e deu um longo suspiro.

–Qual o curso? –Ela perguntou enquanto se sentava e começava a escrever em um papel.

–Moda. –Respondi. Ela era a primeira mulher velha que eu conhecia.

Fiquei observando a mulher enquanto ela escrevia. Imaginei como ela era quando mais nova, o que fazia? Sempre vi fotos e filmes que tem velhinhos e sempre achei eles simpáticos. A experiência de vida, histórias, tudo isso me fascina neles mas ainda sim olhar para o rosto branco com manchas e rugas dela me fez pensar também que eu nunca terei isso.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A love of porcelain" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.