A love of porcelain escrita por Cherry Bomb


Capítulo 14
Gelo




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Fui para o meu quarto e deitei na cama. Fechei meus olhos na tentativa de sentir as borboletas de novo, mas infelizmente nada aconteceu. Meus pensamentos estavam no Henry e no que ele estava fazendo. Provavelmente deve ter saído com a garota do outro dia e não sei por que, mas isso não me agrada muito.

Nunca o tempo tinha passado tão devagar. Só tinham se passado duas horas e Henry ainda não tinha voltado.

Decidi passar um tempo com o Edgard, fazia tempo que não tínhamos uma conversa. Coloquei a foto dele na cadeira e me ajeitei na cama no lugar de sempre.

–Encontrei o vídeo que você fez. Henry está me ajudando a ter emoções de volta e por incrível que pareça acho que vai dar certo. Hoje mais cedo eu senti a minha mão ficar um pouco húmida, como antes, e a parecia que a minha barriga estava com borboletas. Sabe Doutor, eu gostei de ter sentido aquilo mas passou tão rápido quando o Henry foi embora. –Me deitei na cama e afundei minha cabeça no travesseiro. –Eu queria que ele estivesse aqui.

Perdi a noção do tempo em que fiquei deitada na cama do Edgard apenas pensando em tudo que tinha acontecido hoje e nos outros dias, até que finalmente ouvi a porta da sala se abrir.

Dei um pulo da cama e fiquei espiando por uma brecha da porta do quarto. Vi quando Henry passou, ele estava sozinho e eu gostei de ter visto isso.

–Margot? –Ele me chamou batendo na porta do meu quarto que estava fechada.

–Estou aqui. – Falei saindo do quarto e fechando a porta.

–Desculpas ter saído daquele jeito.

–Ah tudo bem. Você se divertiu? –Eu não queria saber se ele tinha se divertido porque se tivesse seria por causa da outra garota.

–Um pouco. Não quer saber com quem eu estava?

–Isso não é da minha conta. –Entrei em meu quarto e notei que Henry me seguia.

–Aconteceu alguma coisa depois que eu sai? Você conseguiu sentir algo novo? – Eu não sabia se devia ou não contar pra ele o modo como me senti. Ficamos em silencio parados olhando um para o outro.

Henry se aproximou de mim. Seus olhos estavam fixos no meu. Ele então colocou a mão no meu braço por cima da manga do meu vestido azul escuro.

–Seu corpo também é marcado? –Ele perguntou.

–Sim. Marcas de costuras. – Ele então começou a dobrar a manga do vestido, até que uma das marcas de costura ficassem a mostra.

–Nossa. –Henry ficou ali, apenas observando minha pele branca como gesso com a costura que dava uma volta completa no cotovelo.

Seus olhos então começaram a subir analisando cada detalhe meu até que finalmente chegou em meu rosto. Seus dedos longos e finos passavam pelos traços desenhados por cima das costuras. Fechei meus olhos e as borboletas voltaram. Eu não sabia o que fazer mas de algum modo eu queria fazer ele sentir as borboletas também. Quando me dei conta, minhas mãos estavam no rosto dele.

A pele lisa, diferente da minha. Conforme meus dedos exploravam cada detalhe do rosto de Henry meus olhos acompanhavam. As borboletas estavam mais fortes agora e eu queria saber se ele também as sentia. Notei então de que ele é o motivo das minhas borboletas, então se eu estiver ao lado dele, sempre vou sentir as borboletas.

–Eu vou! –Falei.

–Vai pra onde? –Ele perguntou sem entender muito bem.

–Para a faculdade com você. –Se e fizesse isso teria mais tempo com ele e assim iria ter as minhas borboletas e muitas chances de fazer ele sentir borboletas.

–Ta falando serio? Mas e as pessoas? –Henry me pegou pelo braço e sentamos na ponta da minha cama. – Margot, você sabe que é diferente dos outros mas não precisa ter medo, vou estar com você.

–Eu sei. –Falei. E eu realmente sabia disso. Tudo que eu mais quero agora é ficar perto dele e se pra isso eu precisar enfrentar as pessoas, então enfrentarei.

–Fica aqui que eu já volto. – Henry saiu do meu quarto e eu fiz o que ele pediu, fiquei esperando.

Quando ele voltou me entregou um par de patins brancos.

–Pra que isso? –Perguntei.

–Vamos patinar. – Não tive nem tempo de questionar ele.

Em pouco tempo estávamos parados em cima do lago congelado atrás da mansão. Henry já estava deslizando pelo gelo, seus movimentos faziam com que o longo cabelo ficasse ao vento, e eu estava ali, parada apenas olhando ele.

–Vamos Margot. –Henry gritou do outro lado do lago.

Então eu fui. Quando dei o primeiro passo cai de bunda no gelo. Vi que Henry já estava vindo para me ajudar então tentei levantar, eu não queria a ajuda dele, queria mostrar que sei fazer, pra ele ter orgulho de mim mas tudo que consegui foi mais e mais tombos.

–Segura minha mão. –Henry esticou a mão para que eu a pegasse. –Você não tem que andar, tem que deslizar. – Ficamos de frente um para o outro. Henry segurava minhas duas mãos e me puxava com delicadeza. Deslizamos juntos por todo o lago até que finalmente ele estava apenas ao meu lado segurando uma das minhas mãos.

Depois de algum tempo patinando decidimos ficar deitados na neve. Na verdade Henry deitou primeiro, com os braços e pernas abertos fazendo o desenho de um anjo na neve branca e eu quis fazer um também.

Estávamos só eu e ele, deitados em cima de desenhos de anjos olhando para o céu. Eram poucas as vezes que eu estive fora de casa mas com Henry ali eu não ligava. Por mim tanto faz estar em casa ou fora dela, com tanto que ele esteja comigo vai dar tudo certo.

–Por que a noiva cadáver? –Ele perguntou.

–Porque a Emily não sente dores físicas mas sente emocionas e eu acho isso incrível.

–Isso explica o fato de você usar só esses vestidos e não ter frio. –Vi pelo canto dos olhos quando Henry tirou uma das luvas e pegou a minha mão.

–Sua mão vai congelar. –Falei.

–Não vai não. O contato humano mantem ela quente.

–Henry acontece que eu não sou humana. Meu corpo também é frio, coloca essa luva.

–Desculpas ser grosso mas da pra você ficar quieta? Se um cara pega a sua mão apenas retribua isso. –Foi o que eu fiz.

A pele estava muito gelada mas aos poucos eu pude sentir que estava esquentando e não era só a mão dele que estava quente. Se eu consegui fazer isso significa que a minha pele foi capaz de se aquecer também.

–Obrigada. –Falei.

Ele não respondeu mas entendeu o motivo de eu ter agradecido. Henry está fazendo de mim mais do que uma boneca, ele está me tornando humana.


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