A love of porcelain escrita por Cherry Bomb


Capítulo 11
Agulhas




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Quando decidimos parar de dançar notei que a palma da minha mão estava um pouco molhada mas a de Henry não estava, mais uma coisa que devo pedir para o Paolo ver.

–Henry, preciso fazer um novo curativo no seu machucado. – Falei.

–Tudo bem. – Antes de sair do salão Henry parou ao meu lado e sorriu. – Obrigada Margot. – Fiquei alguns segundos parada observando o salão e vendo nós dois dançando de novo.

Depois de pegar as coisas necessárias para o novo curativo fui para a sala. Henry já estava lá, parado em frente ao sofá sem camisa. Tirei as ataduras velhas e comecei o mesmo processo de antes. Eu queria ouvir o coração dele de novo mas aquela não era a hora para isso.

–Pronto. – Falei. – O que quer para o almoço? – Perguntei.

–Ah não precisa. Vou almoçar fora. – Henry vestiu a camisa e subiu as escadas.

Alguns minutos depois Henry apareceu usando outra roupa e com um simples aceno e uma piscada ele fechou a porta da sala e o silencio tomou conta da casa de novo.

Eu não sabia muito bem o que deveria fazer então fui arrumar as coisas que ele tinha feito mais cedo. Enquanto guardava as sobras de comida inúmeras perguntas me vinham na cabeça. Onde ele estava? Por que estava lá? E a mais importante... Por que eu estava pensando nisso tudo?

Foi ai que tive um estalo! Lembrei do termo que ele tinha usado hoje mais cedo “Encontro”, lembrei de onde eu conhecia essa palavra, mais uma coisa que aprendi em filmes. Pelo o que lembrei um garoto convida uma garota para esse tal de encontro para eles se conhecerem melhor e depois terem contatos físico.

Terminei de arrumar o salão e subi para o meu quarto. Ultimamente tenho usado muito o meu computador para fazer pesquisas e isso tem me ajudado muito. Pesquisei a tal palavra e várias opções apareceram. Nenhuma delas falava sobre o que eu e Henry tínhamos feito então acho que não foi um encontro. Será que Henry foi em um encontro?

Entrei no quarto do doutor e fui até onde estava a foto dele para começar a minha secessão de todos os dias.

–Doutor eu devo estar com alguma falha. Meus pensamentos estão bagunçados, venho tendo vontades que nunca tive antes e hoje mais cedo notei que minha mão estava um pouco húmida mesmo eu não tendo mexido com água ou qualquer outra coisa. Será que estou com defeito? – Do quarto pude ouvir a porta da sala abrir e alguém gritar meu nome.

Corri para a escada com o estranho pensamento de que poderia ser o Henry mas era Ariele e Paolo.

–Você ficou bem Margot? – Ariele perguntou.

–Um pouco. Devo ter algumas falhas.

–Vá para o laboratório que nós já vamos. – Paolo falou.

E assim eu fiz. Fui para o laboratório, tirei minha roupa e coloquei apenas um avental e fiquei deitada na maca esperando eles.

Quando chegaram fizeram os mesmo exames de sempre, olharam cada milímetro do meu corpo, fizeram testes de visão audição e tudo mais.

–Margot está tudo bem com você. – Paolo falou.

–Não está! Estou com defeito. – Falei.

–Me explica o que você tem querida. – Ariele sentou ao meu lado e pegou um papel e uma caneta.

–Meus pensamentos estão bagunçados e eu tenho a estranha sensação de estar vazia, como se algo estivesse faltando. –Expliquei.

–E você sente essa sensação sempre? –Ariele perguntou.

–Não. Ela vai e volta. E hoje cedo minha mão estava húmida mesmo sem eu ter tocado em nada molhado. – Ariele levantou os olhos para o marido e deu um sorriso.

–Onde está Henry? – Paolo perguntou.

–Ele saiu já faz algum tempo. –Respondi.

Paolo saiu da sala sem dizer nada e Ariele fez um gesto para que eu mês vestisse. Enquanto colocava meu vestido de novo ela me fez mais perguntas.

–O que você estava fazendo quando a sua mão ficou húmida?

–Eu estava dançando com o Henry, mas eu sempre dancei, tanto com o doutor quanto com o Paolo e isso nunca aconteceu.

–E esse vazio que você sente. Ele some quando o Henry está por perto?

–Sim. Mas ai outras coisas surgem, ele embaralha minha mente. –Ariele pegou a minha mão e seus olhos se encheram de lágrimas.

–Margot querida. Você não está com defeito mas acho que o que tem acontecido com você a ciência não pode explicar e a tendência é piorar.

–Estou doente? – Perguntei.

–Talvez. – Uma lágrima escorreu pelo seu rosto por baixo dos óculos.

–Por que está chorando Ariele?

–Porque Edgard iria gostar de ver o que tem acontecido e o que vai acontecer. Margot você precisa entender que irá sofrer algumas mudanças daqui pra frente e infelizmente eu não poderei presencia-las.

–Como assim?

–Paolo e eu vamos nos mudar. Você já pode cuidar de si mesma e terá a ajuda de Henry. Nós estamos velhos querida. Estamos cansados, e não queremos que você presencie a partida de outra pessoa de novo. – Ariele me explicou que iria escrever sempre e mandar fotos.

Depois disso ela e Paolo começaram a arrumar as coisas deles. Eu não sabia o que fazer então apenas fiquei parada observando, minha cabeça parecia vazia, o que de certo modo era um alivio, mas a sensação de vazio estava maior.

Da janela da sala vi quando Paolo e Ariele entraram no caminhão de mudança e aos poucos sumiram do meu campo de visão. Naquele momento senti como se alguém tivesse pego uma agulha e me espetado bem onde fica o coração mas quando coloquei minha mão em cima não senti batimentos mas as agulhadas vinham de minutos a minutos.

Já estava escuro quando Henry chegou em casa. Eu estava sentada no chão em frente a lareira ligada me concentrando no fogo que ali queimava.

–Por que as pessoas tem que partir? – Perguntei.

–Me pergunto isso desde que minha mãe se foi. – Henry sentou ao meu lado e notei como seu rosto estava vermelho e uma marca roxa havia surgido em seu pescoço.

–Se machucou de novo? – Apontei para a marca depois de perguntar.

–Mais ou menos. – Ele deu um leve sorriso que logo sumiu quando ele viu a minha expressão seria. – Aconteceu alguma coisa?

–Ariele e Paolo foram embora. Edgard foi embora. Justamente quando eu estou começando a dar defeito.

–O que você tem?

–Sinto pontadas no peito. – Henry se virou e ficou de frente pra mim.

–Você tem coração Margot?

–Tenho. Mas ele funciona diferente do seu. Ele não bate.

–Bom. Quando eu sinto essas pontadas é porque estou triste, talvez você esteja triste. – Henry voltou a se sentar do meu lado, delicadamente ele me puxou e fez com que eu deitasse minha cabeça em sua perna, como uma vez ele fez comigo.

Eu podia sentir os dedos dele passarem no meio do meu cabelo mas a minha cabeça ainda estava focada no que ele tinha dito, “talvez você esteja triste”. Tristeza é um sentimento e eu não tenho sentimentos.

Aos poucos a pontada estava sumindo e o vazio também mas Ariele, Paolo e o doutor não iam embora dos meus pensamentos.


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