A love of porcelain escrita por Cherry Bomb


Capítulo 12
Sentido




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Aproveitei que Henry já tinha ido deitar e desci até o laboratório. Eu precisava ver os últimos estudos e relatos que eles tinham feito a meu respeito e o por que de eu estar tendo essas coisas.

Sentei na mesa onde Edgard costumava ficar e peguei a pilha de papeis da gaveta “Projeto M.” a julgar pela quantidade de papel a minha noite iria ser muito longa.

Já era quatro horas da manhã quando ouvi barulhos vindo da sala. Levantei e fui até lá sem fazer um som se quer. Peguei um pedaço de madeira que ficava atrás do console entre um dos banheiros e a porta da sala e dei um pulo e um grito para ter uma grande entrada na sala.

–Margot! Que susto menina! – Era Henry. –Pra que esse negocio ai na sua mão?

–Pensei que fosse um ladrão, pretendia acerta-lo com isso.

–Ok eu não sou um ladrão então abaixa isso. – Coloquei a madeira no chão e fiquei observando Henry que agora estava com o longo cabelo preso em um rabo de cavalo baixo.

–Por que está acordado? –Perguntei.

–Perdi o sono. E você, por que está acordada?

–Eu não durmo então decidi rever as pesquisas feitas a meu respeito.

–Tudo bem se eu ver também? – Não espera que ele fosse me pedir isso. Ter Henry lendo a meu respeito, vendo como eu fui feita, como eu funciono, é um pouco... um pouco... acho que esquisito.

–Tudo bem só não fique assustado com as coisas que vai ver. – O modo como fui feita pode parecer assustador para muitas pessoas.

Uma garota que foi criada baseada em partes de outras pessoas. Cada detalhe do corpo foi feito exatamente do mesmo jeito de outra mulher, para assim conseguir a mulher perfeita.

Henry não falava nada ele apenas lia as pesquisas sem esboçar qualquer reação.

–O que estamos procurando? –Henry perguntou.

–Ultimamente eu tenho estado com coisas esquisitas. Pontadas, pensamentos embaralhados, mão molhadas sem motivos. Isso não é comum.

Não encontrei nada de útil nas pesquisas. Tudo estava sempre com a mesa coisa “Tudo certo”, “Projeto Perfeito”... nada de realmente útil.

–Margot, olha só o que eu encontrei. – Henry estava segurando uma fita de vídeo com o meu nome. –Vou mudar a fita para DVD e nós podemos assistir.

–Tudo bem. Enquanto isso vamos subir, você deve estar com fome. –Deixei os papeis em cima da mesa e fui para a cozinha preparar alguma para o Henry comer.

Enquanto ele terminava de comer eu arrumava a cozinha mas ainda não conseguia entender o por que destas coisas estarem acontecendo, pra tudo existe uma explicação.

–Margot? –Henry encostou no balcão ao meu lado.

–Sim.

–O que você acha de frequentar a faculdade?

–Impossível. – De onde ele tirou essa ideia?

–Por que Margot? Olha eu vou começar a ir e você vai ficar sozinha em casa, seria legal fazer alguma coisa.

–Não! – Sai da cozinha o mais rápido que pude na tentativa de evitar aquela conversa, mas Henry correu e parou na minha frente evitando minha passagem.

–Você não vai mesmo me contar o motivo né? – Não respondi.

Consegui desviar dele e fui para o laboratório pegar o DVD que já estava pronto.

Na sala Henry já estava sentando no sofá só esperando eu chegar com o que poderia conter muitas respostas. Coloquei o DVD e me sentei no outro sofá.

Na televisão a imagem de Edgard apareceu. Ele parecia estar no laboratório e estava mais novo do que da ultima vez que eu o vi.

Hoje é dia 20 de setembro de 1994, eu não tenho tido tempo de escrever, desde de que o processo de fazer um novo corpo foi acelerado. Vou fazer um relato em vídeo que é mais rápido mas é mais difícil eu não sei usar essa coisa.

Tenho notado que o comportamento de Margot vem sendo diferente do que o de costume. Ela não é do modo como eu tinha feito.

Está sempre séria, não é mais interativa, animada, como antes. Isso tem me deixado muito preocupado.

Em minha pesquisas achei o motivo dela estar assim. “

Henry tinha dado pause no vídeo.

–O que foi? -Perguntei

–Tem certeza que você quer ver o resto?

–Tenho. –Eu precisava saber o que tinha de errado comigo.

Henry deu o play de novo e a imagem de Edgard voltou a falar.

“ O comportamento dela mudou depois do primeiro dia de aula.

Ela provavelmente foi doce e simpática com as crianças, porém elas foram maldosas a respeito da sua aparência.

Baseado nisso e em seu novo comportamento cheguei a conclusão que Margot criou, involuntariamente, um bloqueio em suas emoções, para assim quem sabe não ter as mesmas coisas que teve naquele dia.

Isso me preocupa um pouco porque se ela tivesse qualquer chance de chegar o mais próximo possível do que é o ser humano, foi perdida com este ato de bloqueio.”

Então o vídeo travou.

–Margot? –Henry estava na minha frente me encarando.

Eu não queria falar, apenas precisava absorver tudo aquilo que Edgard tinha explicado. Novas perguntas vieram a minha mente e a presença de Henry ali me olhando ao mesmo tempo que me acalmava me deixava mais confusa.

Edgard não tinha explicado o porque de eu estar assim, muito pelo contrario ele havia criado mais duvidas.

–Margot, isso explica o fato de você não dar risada, não chorar, não ter emoções. – Henry tinha novamente aquele sorriso no rosto.

–Mas não explica o que eu tenho tido nesses dias. –Levantei e comecei a andar de um lado para o outro.

–Muita coisa tem acontecido, talvez por isso as coisas que estavam deligadas estão ligando de novo.

–Isso não faz sentido Henry.

–Nada na vida faz sentido Margot, mas essa é a única opção que temos. –Henry parou na minha frente e pegou a minha mão. –Estou com sono por isso vou dormir. Quando eu acordar te ajudo. –Ele levou minha mão até seu lábio e os pousou em meus dedos fazendo com que eu sentisse um leve choque.

Fiquei observando Henry subir as escadas e foi ai que tudo começou a fazer sentido na minha cabeça.


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