Crônicas do Universo escrita por Lidy


Capítulo 3
Capítulo 3




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Assim que acordei, as informações do fim de semana inundaram minha cabeça. No inicio pensei que tivesse sido um sonho, mas logo me lembrei que não era. A previsão estava certa, assustadoramente certa.


Assim que tomei o café-da-manhã, me arrumei para sair. Chegando no centro da cidade me dei conta de algo: eu não sabia como chegar na casa daquela mulher. Na sexta, Lara e eu havíamos nos perdido, e achamos aquele lugar sem querer, e agora eu não fazia ideia de como voltar lá.


Andei um pouco tentando me lembrar onde exatamente pegamos qualquer ônibus. Então um outro passou, o ônibus que usamos pra voltar pra casa, aquele 543 que a mulher disse. Raciocinei um pouco devagar, se ele vinha de lá pra cá, quando chegasse ao ponto final, ele iria de cá pra lá.


Só que eu perdi tempo demais, lá ia ele dobrando a esquina enquanto eu terminava de raciocinar. Sem vontade de esperar outro, fui seguindo o caminho por onde ele foi, poderia adiantar o meu lado ir andando até outro passar. Tal foi minha surpresa, quando virando a mesma, me deparei com o ponto final!


Fui até o ônibus que estava saindo já tentando visualizar as ruas por onde me perdi com minha melhor amiga. A viagem de volta não demorou muito, mas não sei exatamente quanto tempo durou.


Quando passou certo tempo, fiquei um pouco assustada, não reconhecia nenhum lugar por onde o ônibus andava. Tinha certeza que aquele dia não durou nem meia hora a viagem, e agora tinham exatamente 32 minutos que o ônibus começou a viagem. Olhava pela janela e nada.


Quando finalmente reconheci algo mais ou menos parecido com o que me lembrava de ter olhado enquanto, junto com a Lara, procurávamos um ponto de ônibus pra voltar pra casa. Era uma casa charmosinha com as paredes verde claro, lembro de ter olhado para ela por um momento. Desci no ponto seguinte e tentei lembrar dos meus passos depois que passamos pela casa.


Mas aí eu vi ele, passou logo ali na frente, no outro lado da rua. Fae. O gato da maluca. Praticamente corri atrás dele, chamando feito uma desesperada. Acho que devo ter assustado ele, pois ele correu mais ainda. Segui ele, imaginando que estava correndo pra casa, mas ele acabou me levando a um beco onde haviam outros gatos. Ele não estava voltando pra casa, estava saindo de lá para um passeio. Que. Ótimo.


Voltei desanimada pelo caminho por onde o segui. Acabei perto da casinha verde de novo. Como o vi do outro lado da rua, fui até lá. Tentei refazer o caminho por onde achava que ele havia vindo. Bingo! Lá estava! A esquina!


Dessa vez não corri, ou pelo menos acho que não. Segui até o portão pintado em azul com desenhos de estrelas, estava entreaberto como no outro dia. Entre e bati na porta, também entreaberta. Não obtive resposta. Entre como no outro dia, admirando a sala, mesmo não tendo grande coisa a ser admirada.


–Sabia que voltaria, eu acertei, não foi? - ouvi a voz dela atrás de mim, vindo do corredor.


–É, parece que sim. - esperei que ela aparecesse, mas não aconteceu.


Fiquei parada ali um pouco, até perder um pouco da minha já pouca paciência e adentrar o corredor. Quase no fim havia uma porta, dei uma espiada por ela e lá estava ela, sentada sobre uma almofada e de olhos fechados. Esperei que terminasse sua meditação ou sei lá o que.


–Sente. - ela disse ainda de olhos fechados. - sentei em frente a ela em uma almofada que peguei do sofá no canto. Ela abriu os olhos e sorriu daquele jeito esquisito de novo. - Então?


–Pode me explicar como o Alexander não ficou com nenhuma menina em três dias de festa e de farra, sendo que ele é um dos mais bonitos do grupo de amigos? Fora que ele é charmoso e tem um imã ou sei lá que faz todas se atraírem por ele!


Ela deu uma gargalhada.


–Ora, seus sentimentos em relação a ele atrapalham um pouco seu julgamento a respeito dele. Aposto como ele não é tudo isso, já que em apenas uma mudança no seu itinerário arruinou o fim de semana dele.


–Bem, é certo que eu exagerava um pouco nas desconfianças dele com as amigas, mas... não importa! Só me explique.


–Ah, é bem simples. - ela começou - Lembra que Fae havia nos dito que pegasse um número de ônibus? Bem, naquele ônibus, você e sua amigam o pegariam cheio, o que as faria ficar de pé logo na entrada do corredor, logo, impediriam que um passageiro pudesse chegar até os fundos do coletivo e encontrasse um amigo, esse que o chamaria para uma festinha com outros amigos, impedindo também que ele conhecesse uma menina.


Eu a olhava tentando processar as informações. Como não disse nada, ela continuou:


–Bem, com a consulta que fiz, vi que isso aconteceria e mudei vocês de ônibus, e deveriam me agradecer, pois nesse vocês pegaram lugares vagos também. - ela se ajeitou na almofada. - Bem, sem o impedimento de vocês para passar aos fundos do ônibus, o menino encontra seu amigo, marcam de sair, ele encontra uma menina, o que incrivelmente faz com que todos daquela festa consigam um par, com exceção do seu alvo. Até mesmo eu admito que isso é estranho. - ela riu - Com bastante diversão na noite, durando até de manhã, os amigos marcam de sair novamente no dia seguinte e no outro.


–Ah, tá. - disse eu, sem entender muita coisa. Ela apenas me olhou como se soubesse que ainda tentava raciocinar, quando terminei, perguntei - E como você faz isso?


–Eu apenas pergunto ao universo, ele me diz tudo que irá acontecer, eu vou traçando as possibilidades, aqueles riscos no papel, sabe, e por eliminação, fico com a que fará o resultado que quero. Ou no caso, o que o cliente quer.


–Está me dizendo que pode prever o futuro? - eu olhei pra ela com um misto de surpresa, admiração e animação.


–Pode-se dizer que sim.


–Nossa, você pode ter o que quiser!


–Isso é trabalhoso, fora que pra ter a vida perfeita, eu precisaria consultar toda hora, o que resultaria em uma não-vida. - ela apenas sorriu.


–Preciso que faça isso de novo! Mantenha todas longe dele. - ela me olhou como se eu fosse louca. É certo que exagerei na animação, mas como ela me olha assim? Ela que fala com gatos e com o "universo".


–Fins de semana são fáceis, na maioria das vezes um único ato pode mudar muita coisa, mas dias de semana são complicados. Você teria que mudar muitas coisas que estavam no seu plano, para que apenas uma dê certo.


–Ah, por isso você vive bem! - eu disse meio irritada. - Faz pessoas como eu virem aqui sempre, prendendo elas com uma ilusão de resultado, apenas pra fazer voltar de novo, e de novo.


–Na verdade não. Não vem muita gente aqui com motivos tão egoístas. - ela não sorria tanto mais. - normalmente as pessoas que me procuram esperam ajudar aos outros, ao invés de dar uma de mimadinhos e tentar ter uma pessoa de volta. Eu consulto para o irmão de alguém conseguir um emprego, para a amiga de alguém passar no vestibular, para que a mãe de alguém possa ganhar um coração. Agora menininhas choronas que não aceitam que o namorado terminou, é a primeira vez.


Eu fiquei sem fala. Apenas virei as costas à ela e saí. No corredor Fae passou por mim e entrou no lugar que eu tinha acabado de sair. Enquanto cruzava a sala pra chegar na porta ouvi ela rindo enquanto falava:


–Fae, seu danadinho, tentou fazer a menina se perder? - mais risadas - Na próxima ajude-a, ou não vai ganhar peixe. - ela deve ter continuado e rindo, mas não dava mais para eu ouvir.


–Tsc, maluca...


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Notas finais do capítulo

e então?? *w*



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