Contando histórias escrita por Julieta


Capítulo 3
O menino que respirava borboleta


Notas iniciais do capítulo

Desculpe não ter imagens,eu vou tentar colocar ;)



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Como vou contar essa história para vocês? É difícil falar de coisas diferentes.Então já vou logo dizendo que não existe ninguém que não tenha uma coisa só dele, escondida, bem diferente. Ela se esconde debaixo da roupa, no fundo do coração ou no cantinho da cabeça. E pode ser uma verruga enorme nas costas, uma perna mais fina que a outra ou até mesmo uma vontade esquisita de morder uma flor ou uma pessoa.

O menino dessa história se chama Léo, é igual a todo mundo, só que de vez em quando, sem ele querer,escapam do seu corpo magricelo e superbranco borboletas de vários tamanhos - todas coloridas e sempre apavoradas.

Faz tempo que ele sofre e tem a maior vergonha delas. Por causa disso vive se escondendo dos outros, está a cada dia mais calado, parece até aquelas crisálidas que ainda não voam e ficam hibernando dentro de um casulo.

Léo usa sempre cachecol, porque já saiu borboleta dourada do seu pescoço. Fala o mínimo que pode, principalmente á noite, porque já deixou escapar uma mariposa nervosa, asas pretíssimas, da sua boca. Evita sempre ir ao banheiro da escola porque uma vez chegou a urinar três borboletinhas amarelas,molhadas e chorosas.

Ás vezes, o sol, os outdoors,os postes de luz, os heróis de cinema e das histórias em quadrinhos, os vilões mais simpáticos do mundo inteiro gritam para ele:

–Léo, respira fundo e mostra esse monte de borboletas para as pessoas.

Ele nunca escuta,e não é para menos - afinal não é simples sair por aí contando para todo mundo que um dia ou outro escapa uma borboleta de algum lugar de nós. Acho que só uma vez ele ficou em dúvida se mostrava ou não mostrava. Foi quando o vento,que nesse dia estava enlouquecido de tanta ventania, ordenou:

–Seja homem,rapaz, e assuma!

E na hora uma árvore quase sem folhas e quase sem ar,por causa de todo o atropelo do vento, alertou:

–Não seja besta,garotão, que soltar borboleta do corpo não é coisa que a gente vai dizendo para qualquer um, assim sem mais nem menos,não.

Léo se encolheu todo, chegou a ferir,quase esmagou uma borboleta rajada que estava saindo do seu dedo indicador e acabou ganhando com isso uma tremenda cicatriz na palma da mão esquerda.

O pai,a mãe e o irmão de Léo não têm esse problema, mas entendem e não tocam no assunto. Com a maior das boas intenções,eles fingem que não existem borboletas, e Léo fica muito ofendido.

Acho quer vocês estão entendendo o problema do menino e vão entender ainda mais quando eu contar que tudo isso aconteceu só até ontem. É que Ana Claudia, uma garota linda negra como asa de mariposa,com mil trancinhas e miçangas,olhar dengoso e boca de pedir beijo,chegou e foi logo tirando uma borboleta azul com duas antenas xeretas de trás da orelha de Léo. E,soltando o pequeno inseto,convidou:

–Hoje você vai me dar a mão e entrar comigo na aula!

É claro que Léo perguntou na hora:

–E por que justo eu?

E ela, já de mãos dadas,caminhando colada nele,respondeu:

–Sei lá, é que eu adoro suas borboletas.

Foi então que ele teve a impressão de ver saindo da cabeleira crespa e felpuda como lã,lá dentro de umas trancinhas,o bico de um beija-flor bem atrevido. Certeza ele não teve, mas sorriu,respirando fundo,apertou a mão dela e pela primeira vez deixou voar livremente uma borboleta tímida e muito apressada de seu umbigo.

Eu também não sei direito para onde essa última borboleta ia e por que tanta pressa. Agora, se vocês quiserem saber a minha opinião, ela bem que podia estar com hora marcada para o amor,que,se não tem cara de borboleta,vive voando de coração para coração.É, não tem outra:olha só o jeito de andar da Ana Claudia, pensa na história do Léo.


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Notas finais do capítulo

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