Eu já havia colocado o bilhete há dois dias no armário de Peeta e ele não dava qualquer sinal que estava disposto a cumprir. A viagem seria dentro de poucos dias e se Peeta não cumprisse... eu não poderia encontra-lo. E tudo aquilo teria sido em vão. Nós não teríamos qualquer chance de voltar a ser... amigos.

Até a terça chegar e eu ouvir sua voz sair dos auto-falantes da rádio da escola.

— Oi, galera — ele disse em um tom de voz sério. — Eu vim aqui apenas porque não tive outro jeito, quero deixar claro. Vocês podem não compreender exatamente o que eu quero dizer, mas a pessoa a quem é destinada esta mensagem vai entender totalmente.

Nesse momento eu congelei em frente à porta do meu armário. Johanna estava ao meu lado e percebeu meu súbito enrijecimento.

— Oh-oh. Isso é para você, Não é?

Acenei afirmativamente e murmurei: — Muito provavelmente, Johanna, muito provavelmente.

— Nem quero saber o que você fez que o deixou tão bravo, Katniss.

— Bem, sabem aqueles momentos que você conhece alguém e sabe na hora que é especial? Você não pode ter certeza, você apenas... sente. Isso vem acontecendo comigo há algum tempo e eu venho lidando muito bem com as “exigências” que você anda fazendo, garota. E não recebi absolutamente nada em troca. Acho que certas coisas — a maioria —, você tinha razão e, portanto não questionei os motivos. Mas chega um ponto que você simplesmente cansa.

“Eu quero que você saiba que eu não estou nada contente. Não, eu estou emocionalmente exausto. Eu passei por muitas coisas estes dias que se foram e coisas que eu não posso mais mudar. Como tudo, é claro, que eu fiz durante toda a minha vida. Mas como eu posso ter a certeza de que não passa de ilusão?

”Pensando nisso cheguei à conclusão que não valia a pena ter tanta confiança em você. Eu mal a conheço. Apenas uma garota cheia de vontades, que acha que pode ter tudo o que deseja. E graças a minha pouca resistência, você tem razão.

“Francamente, eu tive que expor uma conversa particular para que você pudesse me escutar! Fiz tudo o que você deseja. Até este momento. Acabou, senhorita. Espero que tenha se divertido bastante. E pensar que eu realmente estava interessado em você”.

Peeta bufou, ouviu-se uma pequena estática do microfone e mais nada. Acabou. Eu não consegui chegar ao fim, e, pior, ele achar que eu estava rindo dele.

— Bom, foi divertido enquanto durou — Johanna deu de ombros e eu agarrei seu braço.

— Do que está falando? Isso não acabou.

— Katniss, o cara cansou. Pra ele deu. O que podemos fazer?

— Uma coisa só acaba quando eu digo que acaba — falei e tirei papel e caneta de dentro dor armário.

“É assim? Para nós acaba aqui? Ah, não, Peeta. Vamos, seja forte. Você quer uma prova de que eu sou real? Uma data é prova suficiente pra você? Eu planejava encontrá-lo em Malibu. Será que você não está disposto a passar por cima de um pouco de orgulho? Por mim. Você não irá se arrepender, eu prometo. Vou fazer tudo valer a pena, Peeta x”.

Andei a passos rápidos até o armário com Johanna em meu encalço.

— Você ficou maluca de vez! Vai fazer isso com todo mundo aqui?

— Eu não tenho muito tempo — retruquei e colocou o bilhete no armário após uma olhada rápida para os lados.

Voltei ao meu armário e fiquei encarando meu semblante lívido no espelho.

“Está tudo ok. Ele vai aceitar. Nós vamos nos conhecer. De verdade”, eu pensava como um mantra.

Enfim Peeta apareceu no corredor e seus passos foram seguidos por vários olhares curiosos que ele ignorou. Caminhou até seu armário, para provavelmente pegar o livro de Biologia III que seria a nossa próxima aula.

Quando ele abriu a porta metálica com um pouco te violência excessiva, o papel caiu delicadamente no chão. A expressão de Peeta endureceu-se e ele já se preparava para rasgar o bilhete, mas respirou fundo. Uma, duas, e três vezes. E desdobrou o bilhete.

Eu o observei ler cada palavra, torcendo com todas as forças para que ele aceitasse. Eu não devia ter contado vitória tão cedo. Agora ele resolve virar machão e ferrar com tudo, aquele idiota.

Ele respirava mais profundamente em alguns momentos da leitura. Suas costas, totalmente tensas, os músculos do bíceps também foram marcados quando ele segurou o papel com muita força, chegando a amassá-lo.

Peeta vincou a testa, franziu os lábios e trincou o maxilar. Então, assustando todos os passantes, socou o armário com toda a força que possuía.

— Garota infernal! — gritou contidamente, mas o armário estava seriamente danificado, com a marca de seu punho. Passei os dedos pelos cabelos nervosamente pensando que toda aquela raiva era dirigida a mim. Eu o estava fazendo de idiota. O que me fez pensar que ele aguentaria essa situação por muito tempo? Algumas semanas sendo feito de trouxa, pelo visto, fora mais do que suficiente para enfurecer totalmente Peeta Mellark.

E como se ele já não estivesse irado o bastante, Finnick passou, seu braço ao redor do pescoço de Annie, enquanto ambos conversavam animadamente. Na bolha de felicidade inabalável a qual sempre se encontravam, nem podiam imaginar que parte daquela fúria era dirigida a eles.

Peeta os encarou, seus lindos orbes azuis pareciam conter uma tempestade.

“Por que era tão difícil?”, pensei, “só se... Só se gostasse realmente dessa vaca traidora.”.

— Merda! — sussurrei para mim mesma quando a palma de Peeta bateu no peito de Finnick, que finalmente percebeu que ele estava ali. — Parabéns, sua idiota, você, além de estragar tudo, ainda trouxe a tona velhas mágoas.

— Oi, Mellark. Eu estava indo para a aula, mas se quiser falar sobre alguma coisa do time ok — ele olhou para Annie e disse: — Vai indo, amor, te encontro na sala — e a beijou. Eu vi o punho de Peeta se fechando. Johanna que estava parada ao meu lado até então, pegou rapidamente seu celular.

— Nem sei o que vai acontecer, mas parece que vai ser divertido.

— Não — murmurei. —, não, não, não...

Eu ia até eles para separar a briga que causara, quando Peeta ofereceu sua mão estendida para Finnick.

— Senti sua falta, cara — falou, com um fiapo de voz, o que me fez congelar no mesmo instante.

Finnick olhou para a mão de Peeta sem acreditar.

— Eu... me desculpa, Peeta — ele disse pegando a mão de Peeta. Eles se cumprimentaram como a muito eu não via, um toque especial nas mãos que tinham desde a pré-escola.

Annie estava um pouco surpresa. Ela nem havia se movido, após tanto tempo de guerra fria imagino que seu cérebro ficou amortecido com tudo aquilo. Peeta olhou dentro dos pequenos olhos verdes.

— Me desculpe por ter te colocado entre mim e Finnick, Annie.

E olhei para os lados e vi que não havia mais ninguém naquele corredor, só eu, Johanna e os protagonistas da cena.

— Vamos — falei para Johanna. — Agora. Eles vão perceber que a gente está espiando.

Caminhei rapidamente em direção a sala de aula com apenas um pensamento na cabeça:

Ele aceitou. Ele aceitou se encontrar comigo sob todas as minhas condições. Peeta está a dois dias de conhecer meu rosto.