O que Restou escrita por Anita


Capítulo 4
Quem Sou Eu


Notas iniciais do capítulo

É milagre! Este capítulo foi entregue em dia! Aposto que amanhã cai temporal por aqui, rs. De qualquer forma, esta fic se passa no ambiente de Sailor Moon Classic, um pouco depois da Lita ter se juntado ao grupo, antes da Venus aparecer. Lembrando a todos os meus perdidinhos que eu não sou a Naoto Takeuchi, real autora de Sailor Moon, esta é pura obra de ficção e a pobre Anita não tá ganhando nada com esta joça. Esta fic tem uma irmã, escrita pela Nemui e até hoje ainda não terminada/publicada. Briguem com ela por isso, porque vocês mereciam ler sobre o Jens!!! Eeeee!



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Capítulo 4 – Quem Sou Eu

  Aquele apartamento estava abafado. Era difícil respirar. Não, era eu quem não respirava. Levantei meus olhos para todas as pessoas que ali se encontravam e fiquei imaginando em que estariam pensando agora que sabiam a verdade. Pois aqueles não eram todos os fatos, havia uma fumaça negra bem na parte mais crucial, como se fosse de propósito e eu odiava não conseguir me lembrar tudo.

  Mesmo assim, ouvi Darien recapitular todos os seus dias desde a minha morte. O objeto que saíra de minha bolsa, - conforme relatado por Andrew, - a sombra que sumira no ar, sua última conversa comigo... E sua visão no meio do funeral. Era apenas a partir dali que eu compartilhava daquele passado. Entre minha corrida após a escola e acordar no meio do templo em que meu corpo era velado, eu não me lembrava de um segundo sequer. Depois de tantas tentativas fracassadas, já havia aprendido a temer os efeitos de tentar vencer o bloqueio. Não apenas disto. Realmente, estava percebendo que meu maior medo era de Darien descobrir aquela minha fraqueza e concluir que eu não existia ou que, pelo menos, não podia ser a Serena.

  Minhas amigas ficaram fazendo comentários sobre por que Darien não falara com ninguém daquilo, apesar de Ami dizer entender sua situação. Lembrava-se de como ele estava com a minha morte e talvez ela própria não acreditasse em suas palavras. Rei balançava a cabeça, acrescentando que gostaria de saber quem estaria por trás daquilo.

-Eu tenho certeza de tudo o que vi e, quanto mais estranha a história está ficando, mais firme estou nessa afirmação. – Darien juntou as mãos e levou seus dedos à testa.

-Antes eu pensava ser apenas algum fenômeno sobrenatural, - interrompeu Rei, ainda agitada, - Sabe, existem pessoas que após um choque daqueles como fora o acidente, desprendem-se do corpo e ficam vagando por aí. O importante é elas voltarem o mais rápido possível. Mas agora que o corpo da Serena foi roubado, começo a suspeitar que não foi uma experiência espontânea.

-E não foi o Negaversus, - afirmou Lita, repetindo as palavras já ditas por Ami no início da conversa. – Realmente, aqueles monstros que andamos combatendo eram diferentes demais.

-Quem seria? Como o fizeram? – Rei perguntou a Lua, que apenas balançou a cabeça.

-E a Serena está realmente aqui? – Lita olhou para Darien.

  O rapaz voltou seus olhos azuis para mim, mas não esperou nem que sua visão se focasse antes de virar a cabeça para o curativo em seu pulso. Ele parecia cansado e confuso. Não havia como deixar de pensar que eu estar ali só o deixava ainda mais estranho.

-Sim, bem sentada no chão. – Mexeu o ombro direito na minha direção e voltou a apoiar a cabeça nos dedos.

-Ela não consegue sentir onde seu corpo está? Pergunte! – Lita levantou-se, correndo, em seguida, para perto de mim.

  Balancei a cabeça para Darien que, enfim, me olhava. Queria ser de maior ajuda, mas aquele corpo e eu não parecíamos possuir qualquer ligação que fosse, por isso, temia fazer o que Lita sugeria.

-Primeiro, temos que pensar em quem poderia ser. Mesmo que saibamos aonde levaram o corpo, não podemos aparecer lá sem qualquer preparo. – Ami ligou seu pequeno computador e começou a digitar. – Vou reunir os dados dos monstros diferentes que enfrentamos e tentar esquadrinhar semelhanças.

  Levantei-me e olhei para a porta fechada. Era tarde da noite e todas haviam inventado desculpas à família para poderem ficar ali. E a minha família? Não, a família da Serena que eu ainda amava como se fosse minha. Como estariam? A mamãe Ikuko que não via ninguém no velório, de tão irritados que seus olhos estavam, o papai Kenji, que não conseguia conversar direito com aqueles que compareceram e teve que confiar em meninas do ginásio para cuidar dos convidados, e o Shingo, que apenas ficara em um canto do templo com o olhar perdido, sem dizer palavra alguma.

  Passei através da madeira, preocupada com o bem-estar deles, mas sem coragem de interromper aquela conversa. Eu não pertencia àquela sala. Aquelas eram as amigas da Serena Tsukino, sua gata e o garoto que era apaixonado por ela. Eu era uma cópia, ou algo assim. Um fantasma... Mas de ninguém. Quem podia provar que sequer fantasmas existiam? Eu não vira nenhum apesar de me haver autoproclamado isso.

  Desci as escadas, degrau por degrau. Quanto menos certeza eu tinha da minha identidade, menos real me sentia. Talvez, Darien realmente houvesse exagerado nos remédios e eu fosse uma alucinação sua. Nunca houve sombra, ou conversa no leito de morte. Tudo não passara de fantasia. Talvez, Serena nem houvesse morrido e agora ela queria acordá-lo de seus sonhos para se provar muito mais viva que ele.

  Fui caminhando à beira do rio próximo ao prédio, perguntando-me se eu deveria voltar àquele apartamento. Parei no meio da calçada vazia. Já era quase madrugada e apenas os postes seguiam por aquele caminho. Tive que me jurar que não iria me sentir solitária por não poder falar com ninguém dali em diante antes de dar o próximo passo. Talvez, eu desaparecesse com aquele passo, pois abria mão da minha última ligação com Serena Tsukino, da última pessoa que ainda me chamava por aquele nome.

-Serena!

  Virei lentamente, ainda sem ter movimentado a perna para voltar a andar, a fugir. Não, destino. Não precisava montar aquele teatro todo; eu já sabia que andar em frente era me afastar dele. Não precisava tê-lo trazido até aqui, como se me perguntasse: você tem certeza?

  Minhas pernas perderam as forças quando vi sua figura parada na calçada. Ele ainda tinha que atravessar a rua para chegar ali, porém, me gritava uma vez mais. Caí de joelhos na calçada. Seria algum sinal de que, inconscientemente, nem eu queria dar aquele passo decisivo? Para ele, com certeza, devia parecer assim. Darien correu pela rua assim que o sinal fechou para os veículos e ajoelhou-se ao meu lado:

-Está se sentindo mal? – perguntou, usando seu tom mais gentil.

-Eu não sinto nada, sabia?

-Por isso precisa se cuidar melhor. Nós ficamos com dor de cabeça, cansaço, sono, fome... Assim sabemos que há algo errado. Mas, e você? Como saberá?

-Não faria diferença. Mesmo que haja algo errado, eu...

-Não morreu, não. – Ele sorriu com a minha surpresa, interpretando-me mal. – Você não está morta e da última vez que vi seu corpo, ele me parecia muito melhor que o seu espírito.

  Olhei para seu pulso enfaixado e para os arranhões em seu rosto, tentando acalmar aquela ânsia que eu tinha de chorar.

-Não posso chorar; não me force. – Levei as mãos aos meus olhos. Se eu os irritasse, será que lacrimejariam um pouco? – E, respondendo à sua pergunta, quando há algo comigo, aparentemente, eu desapareço.

  Era a vez de seu rosto mostrar-me genuína surpresa.

-Pois é, - continuei, - Quando tento me lembrar da minha morte, ou tento descobrir mais sobre este meu corpo... Ultimamente, até sentir-me deprimida faz com que me venha a sensação de que eu vou “morrer”. É como se estivesse ficando invisível, ou algo assim.

-Por que não me contou nada?

-Eu não queria te preocupar. – Olhei para baixo e balancei a cabeça. – Mentira. Eu não queria descobrir que isso não te preocupava.

-Mas é claro que me preocupa!

-Então, Darien... Você ainda não entendeu. Um fantasma não desaparece... Almas são coisas eternas, né?

  Ele me franziu a testa.

-Quero dizer, se eu posso desaparecer, significa que não sou o fantasma da Serena. Talvez, aquela Sailor Moon é que seja a Serena, a verdadeira!

-Não diga besteiras.

-Você a viu. Ela era a Sailor Moon! E estava com o cetro lunar, algo que apenas a Sailor Moon pode usar. É o seu símbolo!

-E você seria o quê? Esta pessoa bem à minha frente, fazendo cara de choro?

-Acho que sou apenas alguma projeção dela. Talvez, o próprio inimigo me tenha criado com algum propósito. Por isso, achei que o melhor seria me afastar de você, a única pessoa capaz de me ver. Assim, eu deixarei de existir.

  Darien, claramente, estava tentando processar aquelas informações. Mordia levemente o lábio inferior enquanto me olhava fixamente. Optei por dar voz à pergunta que ele próprio devia estar se fazendo:

-O que você fará se eu for apenas uma projeção?

  O jovem levantou-se e virou o olhar para o rio, antes de dar sua resposta:

-A Sailor Moon que me atacou não me parecia nem um pouco tão verdadeira como a Serena boba que não para de reclamar aqui no chão. Por isso, eu escolho a que está bem na minha frente. E, até onde posso lembrar, eu me declarei para Serena Tsukino e não para Sailor Moon. – E estendeu sua mão tão quente para que eu me levantasse, logo em seguida, abraçando-me bem forte. – É você quem eu escolho, - suspirou no meu ouvido.

  Retornamos abraçados para o prédio. Apoiei minha cabeça em seu peito, seu braço envolvia meus ombros e aquela mão, que parecia haver me tirado da penumbra, segurava bem firme o meu braço, como se dissesse que ali estava ele e que não o deixaria ir a lugar algum.

  Ri-me um pouco por não conter o alívio que se espalhava no peito. Estava me sentindo mais firme que nunca ao caminhar em sincronia com aquela pessoa.

-Você sabe que as outras pessoas só podem te ver se inclinando no ar, com o braço esticado, né? – perguntei, olhando ao redor. Por sorte, ninguém estava passando, mas havia ainda o porteiro do prédio. – Se eu visse, pensaria que você tem algum problema de saúde.

-Antes isso do que descobrirem que estou com um clone invisível não identificado de uma pessoa morta.

  Dei uma nova gargalhada.

-Essa é uma nova forma de se dizer “alucinação”? - Toda a dor começava a se dissipar, deixando minha mente mais clara quanto ao que eu deveria fazer dali em diante.

-Só o jeito politicamente correto. – Darien apertou mais meu braço antes de abrir a porta para seu prédio.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

    Já fazia algumas horas desde que Darien me trouxera de volta, anunciando a todas que havia me encontrado. Tomei meu lugar no chão ao lado do sofá e fiquei ouvindo minhas amigas conversando após o outro anunciar que precisava descansar um pouco.

  As meninas não comentaram achar que ele estava louco, como achei que ouviria. Elas continuavam a falar sobre os monstros e sobre o dia de minha morte. Aparentemente, elas haviam coletado informações das canetas de transformação e conseguiram localizar meu broche. Agora, estavam pensando nos motivos dos inimigos e em suas identidades.

  Fora um susto quando Ami começou a dar a notícia de que havia provavelmente encontrado meu corpo. Após as explicações de como achara o broche, a jovem anunciou que as coordenadas correspondiam à minha casa.

  Do meu lugar, comecei a pensar em meus pais, em quão provável era que houvessem sido feitos de reféns; mas sabia como seria inútil simplesmente ir correndo até lá. Eu mesma nem possuía um corpo físico para lutar. No máximo, podia fazer folhas de papel mexerem, desde que bem pequenas. Mesmo as meninas que eram em maior grupo discutiam o que fazer, apesar de Rei repetir o quão urgente era tentar me reencarnar. Eu já não pensava naquilo, queria ter certeza de que minha família estava mesmo viajando e não sendo torturada ou coisa pior.

  Lita suspirou interrompendo a pausa que todas fizeram e levantou-se. Disse que estava pronta e que era realmente melhor irem o quanto antes. Começaram a juntar as coisas quando Darien surgiu na porta, vestido de Tuxedo Mask. Ele também estava pronto para resgatar meu corpo, ou assim disse. Corri até sua pessoa e implorei que tomasse cuidado. Eu só queria constatar que meus pais estavam bem, que era para retornarem assim que isso fosse apurado. O resto estava longe dos planos. Repeti mais uma vez. Precisava ter certeza de que aquela não era uma missão suicida, apenas de conhecimento.

-Dará tudo certo, Serena, - respondeu-me claramente para espanto das demais presentes.

  Sem maiores explicações, Darien passou pela porta de saída.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Estávamos em frente à minha casa, ou ao que eu chamava de casa.  Tão familiar... Estendi minha mão para tentar sentir a maçaneta, mas ela passou através. Já era de se esperar. Suspirei, não podia me deprimir por algo tão pequena. Eu era a heroína, certo? Dei um impulso a fim de passar para o outro lado, mas ela se abriu repentinamente para revelar uma figura inesperada: Andrew olhava fixamente para cada um.

-O quê? - Lita deixou escapar, não conseguindo acreditar no que parecia ser o mais óbvio.

-Aparentemente, é ele mesmo. Digo, esse é o corpo de um ser humano. - Ami mexia em seu computador em uma velocidade impressionante.

-O que vocês querem aqui? - O rapaz perguntou como se sua própria presença não fosse estranha.

  Todos sentiam aqueles calafrios, pelo que se podia constatar com suas expressões desconfortáveis.

-Veio falar com os pais da menina que morreu? - Darien, trajando a roupa de Tuxedo Mask aproximou-se. Mesmo ele sentia que aquele não era seu amigo, mas optara por uma abordagem mais segura.

-Não, apenas percebi que se aproximavam e vim cumprimentá-los.

  Aquele tom... Era estranho ouvi-lo dos lábios de uma pessoa tão querida para mim. Mas, sem dúvidas, o mesmo fenômeno que se dera com o meu corpo também acontecia com o dele. O que deveríamos fazer? Franzi minha testa, lembrando-me da minha razão maior para chegar ali. Decidi que o melhor era deixar os outros e adentrar no imóvel. Meus pais poderiam estar em perigo! Como saber se a tal "viagem" era verdadeira? Minha cabeça começava a pegar fogo de preocupação. Cenas com os dois amarrados e submetidos a tortura não paravam de me assombrar.

  Novamente, dei um impulso para passar pela porta, entreaberta no momento, mas a mão de Andrew segurou meu ombro com uma força dolorosa. Em seguida, ele me arremessou para longe. Pude apenas ouvir o grito de Darien pelo meu nome. Ele correu até mim deixando minhas amigas estupefatas.

-Você está bem? - perguntou-me e ajudou-me a me levantar.

-Ele pôde me tocar e...

-Sim, ele pode ver a Serena! – gritou Darien, apesar de todas já parecerem haver imaginado.

-Mas não há dúvidas de que seja humano! - Ami insistia.

  Lita pegou seu celular anunciando que chamaria Andrew, mas o toque que ouvíamos vinha da direção daquele sósia que apenas ergueu o aparelho e jogou-o ao asfalto. Então seus olhos brilharam e ele avançou em Rei. Ela não teve reação; apenas caiu de cabeça contra o chão, soltando um grito doloroso. Ami usou seu golpe de névoa para lhe atrapalhar a visão, mas apenas chamou o falso Andrew para si, o qual lhe aplicou um soco no abdômen. Ela limpava o sangue enquanto dava passos para os lados, parecendo tentar manter o equilíbrio.

-Meus pais... - Toda a cena apenas fazia pior meu medo. - O que será deles?

-Ele não nos deixará entrar.

  Darien me segurou pelo ombro, mas recusei aquela proteção. Inspirei fundo e saí correndo para dentro de minha casa, na esperança de encontrá-la vazia. Passei através da madeira, apenas para encarar uma caverna úmida. Não estava mais em Tóquio? Seria outra dimensão? Olhei ao redor e não vi nada além das paredes pegajosas, incerta de onde vinha a luminosidade.

-Ainda não é a hora do ritual, - uma voz familiar ecoou sem mostrar sua origem.

  Então, um vento forte soprou, arrastando-me de novo para fora da casa. Desequilibrada, caí no chão. O que havia acontecido? Olhei de novo a batalha e todos estavam rodeando Andrew, ainda ileso. Meus amigos, porém, estavam bastante arranhados. Darien agora avançava em sua direção tentando pegar seus braços e mobilizá-lo com alguma técnica de artes marciais. Assim que o lograra, todavia, o corpo de Andrew brilhou rubro e o outro jovem soltou um grito de agonia. As luvas de Tuxedo Mask estavam furadas e a pele por baixo parecia avermelhada.

  Considerei gritar-lhe, mas precisava pensar em um plano melhor para aproveitar o fato de aquela pessoa estar distraída. Voltar para a minha casa ou o que fosse aquele local sombrio de onde acabara de ser cuspida, parecia inútil. Tinha que antes neutralizar Andrew. Mas... Aquele era quase um irmão mais velho para mim. Ami deixara bem claro não ter dúvidas de ser realmente um humano. Considerando o que haviam feito ao meu corpo, não era difícil que também houvesse expulsado a alma de Andrew de seu próprio. Pensando nisso, todos evitavam feri-lo. Até quando suportariam aqueles ataques? Era um plano inteligente de minha sósia, pois não teria nada a perder se aquele corpo fosse morto e, sem dúvidas, aquele rival desestabilizava a todos nós psicologicamente.

  Suspirei, ainda tentando não chamar a atenção de ninguém. Devia haver uma forma de deixá-lo inconsciente. Enfim, Darien avistou-me e deu um sorriso aliviado por ver que eu continuava bem. Iria correr até mim, mas fiz-lhe sinal que não me denunciasse. Por sorte, ele era um rapaz inteligente e afastou ainda mais Andrew de perto de mim. Por outro lado, minha mente não conseguia pensar em nada de útil. Com um novo suspiro, optei pela pior ideia: servir de distração enquanto alguém o prenderia por trás.

  Gritei para o homem, cujo olhar era como o de um desconhecido, e fiz uma posição de ataque. Antes que eu pudesse dar um passo à frente, todavia, ele já corria em minha direção e com o impacto jogou meu corpo longe. Darien pareceu preocupado, mas preferiu não perder aquela chance e fez sinal para Ami usar novamente seu golpe enquanto Rei tentaria formar um círculo de fogo ao redor do sujeito. O plano não funcionou. Vir-me-ei no chão, ainda me recuperando. Estava atordoada. Como ele podia ser tão forte? Ou seria puro medo dos demais e, assim, não lançavam mão de um ataque com todas as forças?

  Olhei para minhas mãos que ardiam, mas não estavam sequer arranhadas do atrito com o chão. Comecei a ensaiar levantar-me quando uma mão me foi estendida. De início imaginei ser de Darien, quando percebi ser bastante diferente. Ainda assim, eu a conhecia.

-Andrew? - perguntei confusa.

-O que estamos fazendo por aqui? - O loiro balançou a mão para que eu a aceitasse logo.

-Eu acho que a pergunta é o que você está fazendo aqui!

  Ao me pôr novamente de pé, meus olhos foram direto para outro Andrew, que agora media forças com Darien, o qual não parecia que suportaria o embate por muito mais tempo. Então aquele à minha frente só podia ser o verdadeiro! Era a alma de Andrew, alguém assim como eu. Pela primeira vez eu via um espírito desde que presenciara meu próprio funeral.

-Também não sei, quando acordei estava no chão da sua casa. Tentei abrir a porta e passei bem através dela. Foi quando me vi atacando os amigos da Sailor Moon!

  Imaginei se a situação dele era a mesma que a minha. Eu não acharia que estava morta se estivesse em seu lugar.

-Você se lembra de alguma coisa antes disso?

-Só que eu tinha ido tomar um banho e aí... Devo ter desmaiado! Mas aquele lá sou eu mesmo? - Andrew passou a mão na cabeça, ainda parecendo incerto de que aquilo seria real.

-Pode ser um sonho, -aproveitei a deixa.

-Pensando bem... Acho que eu fui à funerária perguntar sobre a situação do seu corpo depois disso. Eu lembrei! Fui lá sim! Foi quando... eu te vi... O que fazia lá, Serena? E o que faz aqui!?

-Na funerária? - O que minha sósia fazia lá? Essa era a pergunta mais correta.

  Então, percebi que a luta continuava e todos desistiram de considerar aquele Andrew o verdadeiro. Eu conhecia aquela formação das minhas amigas. Elas atacariam todas ao mesmo tempo com todas as suas energias enquanto Darien distraía o rival.

-Eles pretendem me matar? - A voz do verdadeiro dono daquele corpo soou estrangulada. Ninguém gostaria da ideia de ser morto, mas havia ainda mais desespero em seu tom.

-Acho que sim... - Eu, mais que ninguém, conseguia entender sua constatação de que nunca mais as coisas voltariam ao normal. Assim que seu corpo morresse, não seria mais possível voltar atrás.

-Não podemos deixar! - Andrew agira tão rápido que me custou um tempo até acreditar no que faria.

  Correu com toda a força em direção ao atacante e jogou-se na frente dele, gritando a todos que parassem, que apenas fugissem. Fiquei atenta para Darien, segurando minha respiração. O que faria? Já considerava a “morte” de seu amigo um caso perdido?

  No entanto, a realidade era muito pior. Seus olhos nem se mexeram enquanto avançava sobre o agressor, passando através do verdadeiro. Ninguém mais o enxergava.

-E agora? – Andrew soava ainda mais desequilibrado, olhando de um lado ao outro, imóvel.

  As meninas estavam já concentrando suas energias em um golpe preparatório. Se aquilo desse errado, todos estariam exaustos demais e seriam mortos. Se desse certo, Andrew nunca mais poderia ser salvo. Gritei para Darien que desistissem daquilo, esperando que ele ainda me ouvisse. Ele apenas me respondeu que não havia mais opção, que era o mais digno a se fazer.

-Mas não é o que Andrew quer!

  Antes que eu pudesse me explicar, porém, as meninas dispararam contra o rival, fazendo-o cair no chão. Seu corpo estava tremendo, não havia como saber se ainda poderia se levantar ou não. Esperei ansiosa, incerta se minhas esperanças eram de querê-lo bem ou o exato oposto. Enquanto olhava ao redor, todos estavam concentrados em cada movimento daquele inesperado rival.

  Enfim, ele conseguira se erguer e nos encarava de maneira ainda mais ameaçadora, prestando especial atenção em seu sósia. Estava pronto para atacá-lo mais uma vez, provavelmente irritado com sua presença quando a porta de minha casa se abriu para aumentar nossa tensão.

-Já é o bastante. – Sailor Moon saiu de lá em toda sua glória e ergueu o cetro lunar. – Cura Lunar!

  Mordi meus lábios vendo o corpo de Andrew se contorcer e então cair límpido no asfalto. Meu medo de aquela realmente ser a Sailor Moon retornara ao vê-lo executar meu golpe com tamanha perfeição. Os demais soltaram diversas exclamações, ainda prontos para um contra-ataque caso aquele cetro fosse apontado para eles.

  Darien foi o primeiro a correr até o amigo e a sacudi-lo. Em seguida, Ami pegou seu pulso e olhou surpresa para Sailor Moon:

-Ele está vivo...

-Quem é você, afinal? – Sailor Mars deu um passo à frente parecendo pronta para lançar seu golpe.

-Sailor Moon, a quem nenhum de vocês poderão enfrentar de tão exaustos os bobinhos ficaram com minha cobaia.

  Suspirei aliviada que fosse uma inimiga. Finalmente, ela se revelava assim pelo menos. Não que qualquer outro ali pensasse com a mesma leveza sobre o assunto.

-Por que fez isso com ele?-Sailor Jupiter também não parecia nada satisfeita.

-Ah, esse garoto decidiu xeretar minha casa, então eu o convidei a participar de meus planos já que eu precisava de um hospedeiro para essa criatura que acabaram de conhecer.

  Andrew começou a se mexer logo em seguida e abriu os olhos perguntando onde estava, apenas para desmaiar uma vez mais.

-Ele voltou ao normal! – Anunciou Darien, olhando justamente para mim.

-O Cetro então seria a cura da Serena, né? – Ami perguntou-lhe de maneira retórica.

-Não que alguma de vocês possa usá-lo! – Sailor Moon gargalhou levemente e voltou seus olhos para Tuxedo Mask. – Mas eu poderei devolvê-lo se me fizerem um pequeno favor.

-Não negociamos com assassinos! – Lita jogou seu corpo contra ela, recebendo um pontapé no estômago.

-Ninguém matou ninguém aqui. Na verdade, eu até devolverei a amiga de você já que ela é apenas útil aos meus planos. Explicarei: de início, eu só precisava do cetro, mas descobri que não seria bem isso. Por isso, peguei este corpo emprestado. Mas, mesmo assim, ainda não pude fazer nada. O único elemento que falta seria, então, a própria princesa! Mas, para despertá-la, eu precisaria de seu príncipe, certo?

  Sailor Moon sorriu maliciosamente e, em alguns passos, já estava pondo suas mãos no rosto de Darien, que se quedava paralisado. Eu não sabia como reagir. Mesmo que tentasse atacá-la, e ainda que pudesse fazê-lo, não faria nenhuma diferença.

-Vai devolver o corpo à Serena? – perguntou Darien, olhando-lhe fixamente.

-Não terei mais nenhum uso para ele mesmo.

-Tuxedo Mask, ela está mentindo! – Rei lançou seu golpe mais forte, mas não pareceu tanto quanto estava antes.

  Não custou nada àquela figura revidá-lo e ainda fazer com que minha amiga fosse ao chão. Nesse mesmo momento, gritei. Não queria presenciar mais uma luta sobre a qual nem eu, nem ninguém podia fazer nada. O desequilíbrio era mais que evidente, principalmente, levando em conta a exaustão de todos.

-Por favor, Darien... Mate-a! Faça como com o Andrew, mas desta vez sem se conter. Apenas mate-a!

-Não podemos! – respondeu-me.

-Eu sei que ela é forte, mas se derem o melhor de si...

-Não é isso, Serena.

-Serena está dizendo alguma coisa? – Ami perguntou.

-Nada, - mentiu Darien e, voltando-se para Sailor Moon: - Afinal, o que deseja que eu faça?

-Venha comigo, já que deseja cooperar. Apenas preciso de seu corpo. – A sósia sorriu vitoriosa e abriu a porta da minha casa novamente. O interior que podíamos ver não era outro senão a caverna em que me encontrava momentos antes.

-Darien! Não vá! Apenas acabe com ela.

-Não se preocupe, Serena. Não há por que ela não manter sua promessa.

  Então a porta se fechou. Não consegui me mover. Não podia acreditar que Darien pudesse se entregar tão facilmente e minhas amigas estavam com a mesma expressão que devia estar no meu rosto.

-Não acredito que Darien possa confiar naquela mulher! – gritou Rei, ameaçando seguir ambos.

-Há uma espécie de portal nessa entrada que nos leva a outro lugar... Fico imaginando onde seria. – Sailor Mercury, com o rosto e os joelhos arranhados, voltara a seu pequeno computador.

-Em outras palavras, aqui não é o real esconderijo? – Sailor Jupiter aproximou-se da entrada de minha casa e parecia estudá-la, enquanto franzia a testa.

-Temos que ir atrás deles! – Rei exclamou, segundo os mesmo passos de Jupiter, mas sem parar. Logo, girou a maçaneta.

  No entanto, nada aconteceu. Anunciou que a porta estava fechada. Lita pediu que se afastasse que ela mesma arrombaria a casa. Eu estava desolada. Apenas podia observar. Mesmo que seguisse os dois, como ajudaria? Não estava certa onde seria o melhor para mim.

-Eu estava certa, - interrompeu Ami, - Foi apenas um chamariz. Acho que, desde o início, ela queria levar Darien para si.

-A coisa do príncipe da princesa? – Rei ergueu as sobrancelhas e cruzou os braços.

-E ele caiu que nem um patinho! – falei desesperada, pronta para passar de novo pela porta. Só que, ao fazê-lo, encarei a minha familiar entrada, onde ainda podia ver meu chinelo de usar em casa e alguns de meus sapatos ajeitados cada par em seu lugar determinado.

  A passagem estava fechada... Eu havia perdido Darien porque hesitara demais. Um desespero me envolveu e minha vista começou a piscar. Novamente, chegava-me a sensação de que não pertencia a ali, de que eu não existia mais. Disse-me que era mentira, que eu apenas havia perdido meu corpo, mas haveria jeito e tudo daria certo no final. Darien tinha razão, eu não havia morrido.

  Voltei meus olhos mais uma vez para os meus pares de sapatos e suspirei, dizendo-lhes que me esperassem. Repeti o mesmo para minha casa. Olhei, então, para o teto e pedi a Darien, desta vez, que em esperasse antes de fazer alguma loucura.

  Passei pela porta, para assim aguardar as pesquisas de Ami. Tinha que confiar na sua capacidade de solucionar mistérios, posto que nunca me decepcionara antes. Contudo, encontrei a rua vazia. Exceto por Andrew desmaiado, o qual havia sido depositado em um canto com todo o cuidado, ninguém mais estava ali. Elas haviam me deixado para trás.

  O dia escureceu repentinamente e minha cabeça zunia. Sim, era um barulho agudo. No fundo, um som mudo começara a soar. Tentei abrir os olhos – quando eu os fechara? – e de, início, continuava a ver escuridão. Era assim o fim? Pisquei novamente, sentindo-me ensurdecer com aqueles sons. Um mexia com minha cabeça, outro fazia meu corpo tremer. Talvez, não. Eu não tinha corpo.

  Quando abri de novo os olhos um brilho muito forte estava na minha frente e uma mulher com o mesmo penteado que eu e cabelos prateados me sorria. Começou a mexer os finos lábios e voltou a me sorrir afetuosamente. Algo dentro de mim a reconhecia e sentia-se bem.

  O que estava acontecendo? Onde eu estava? Tentei juntar todas as informações possíveis, mas...

  Quem era eu?

  Olhei de novo aquela mulher... Era... O brilho à minha frente diminuindo tornando aquele rosto mais visível. Sua testa tinha um sinal de lua semelhante ao de minha gata e sua presença me era tão familiar.

-Pegue, minha querida. É seu. – Ela estendeu seus braços tão pálidos para o objeto brilhoso, uma bola cristalina.

  Quando o toquei, a mulher ainda me sorria. Então, o brilho voltou a aumentar até me cegar completamente. Pulei para me levantar sem nem me lembrar quando fora que me deitara. Observei o meu arredor e estava em um cômodo conhecido. Olhei para minhas mãos vazias. Fora apenas um sonho? Todo aquele brilho e aquela mulher...

  Pelo menos, agora me recordava bem de quem eu era, e um som agudo lembrava-me de outra informação: se não me arrumasse logo, iria me atrasar para o colégio! Peguei meu uniforme e escovei os dentes enquanto me vestia com uma técnica que aperfeiçoara após tanta prática.

  Olhei para o espelho conferindo meu broche por alguma razão. Fiz bico. Estava me esquecendo de alguma coisa? Forcei a mente, olhando ao meu redor. Minha pasta estava ali. Eu já pusera a meia... Meu cabelo também já estava com o mesmo penteado de sempre. Ah, eu teria que me encontrar com Andrew, ele tinha qualquer coisa importante demais e por isso queria falar comigo num lugar lá perto de minha escola, para variar um pouco o ambiente, já que naquele dia estaria de folga do salão de jogos.

  Andrew... Pisquei os olhos e percebi que estava atrasada para ir vê-lo. Acabara saindo tarde da escola e agora teria que correr para... Não, eu já havia corrido. Eu... havia sido atropelada por um caminhão. E mais tarde eu havia falecido. Estava começando a me lembrar tudo e ao mesmo tempo percebia que todas aquelas visões não passavam de lembranças.

  Eu mesma não conseguia enxergar, ou sentir qualquer coisa. Apenas ouvia o som agudo que não parava e o som grave intermitente.

  Aquilo era tudo o que me restava no meio do nada em que fora afundada.

Continuará...

Anita, 10/10/2009

Notas da Autora:

Depois desse parto, o capítulo chegou ao fim! Falta só mais um! Na verdade, de acordo com o planejamento original, a fic terminaria aqui, digo, no quarto capítulo, mas as cenas foram ficando longas e mudando pro capítulo seguinte até que decidi diminuir um pouco o quarto capítulo e encerrar tudo em um quinto, que deve ser menor ainda que este.

Agradecimentos a todos os que vêm pacientemente me cobrando por mais capítulos, especialmente Felipe, Nemui, Vane, Kurai Kiryu, Dumpliing, Sandra Pereira, Leninhaa', mimi e Marcy e Thaís Carter.

O que acharam? Possuem alguma sugestão? Mandem para o meu e-mail Anita_fiction@yahoo.com e se gostaram tanto assim da minha história, por que não ler as demais? Visitem meu site Olho Azul http://olhoazul.here.ws

Alguém Apresenta:

Omake

Capítulo 4 – RIP

  A autora morreu.

Fim, 27/08/2010

Sailor-V: Ué, e a história?

Andrew: Anita? Oi! Eu sacudo mas ela não se mexe...

Serena: Será que o fantasminha dela tá nos observando de algum lugar?

Andrew: Acho que foi estresse com o ffnet... Ela tava bem irritada semana passada, lembram?

Sailor-V: Não foi essa invasão de personagens no espaço pessoal dela? Até travesti apareceu aqui... Aliás, cadê a talzinha?

Serena: A autora cortou porque dá muito trabalho explicar o símbolo pro pessoal da ffnet.

Andrew: Não é justo, por culpa disso meu espaço especial para as fantásticas aventuras de GAL, o Garoto da Academia ao Lado, foi prejudicado.

Sailor-V: Ah, pelo menos você apareceu em algum lugar! Pobre de mim que nunca tenho chance. Qual é a graça de história após história ficar juntando esses dois panacas chamados Serena e Darien?

Andrew: Tem razão.

Serena: Sim! Da próxima vez quero terminar com o Brad Pitt!

Continuará (Eternamente)

Rei: Ei, peraí! Vocês ficaram de palhaçada a história toda e agora que é o penúltimo capítulo começam a fofocar!?

Ami: É o que acontece quando os autores morrem. Os personagens perdem o controle.

Rei: E eu que pensava que este lugar estava descontrolado bem antes...

Serena: É verdaaaaaade? Rei, não implica comiiiigo! A história não pode acabar aqui.

Rei: Tá escrito lá em cima, não viu? O próximo é o último capítulo.

Serena: Mas por quêeee? Não pode acabar, eu estou morta! Que final feliz é este? Matem o Darien antes e aí viveremos juntos felizes para sempre!

Lita: Pessoal, acho que a Anita é que tá se revirando no túmulo.

Chega. Acabará no próximo capítulo!

Anita, 27/08/2010

Notas da Autora:

Recuperei o domínio da minha fic, finalmente! Após tanta bagunça estou de volta. E por que estou escrevendo estas notas de novo, hein? Ninguém merece. Esse bando de personagem preguiçoso tá precisando é trabalhar. Sério. Até o próximo capítulo, então!

Darien: Teremos bolo?

Anita: Até você tá aprontando agora? Ninguém merece...

Darien: É que tão cedo não nos veremos de novo.

Anita: E pra que você acha que tô indo ao Japão? Em algum canto, o Mamoru Chiba tem que existir, ho ho ho!

Darien: *gulp*


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