O que Restou escrita por Anita


Capítulo 5
O Que Restará


Notas iniciais do capítulo

Eu sinto muuuuito pela demora... Mas tanta coisa aconteceu... Muita mesmo! Eu ia postar na semana do meu aniversário, antes da minha viagem. Aí minha avó foi internada e não deu nem pra eu fazer festa, quanto mais ficar pensando em fanfic, né? Aí no meio de tudo ainda tive que fazer as malas e desde então minha vida tá uma doideira só... suspira okay, agora, à ladainha de sempre. Lembrando a todos os meus perdidinhos que eu não sou a Naoto Takeuchi, real autora de Sailor Moon, esta é pura obra de ficção e a pobre Anita não tá ganhando nada com esta joça. Esta fic tem uma irmã, escrita pela Nemui e até hoje ainda não terminada/publicada. E vamos ao último capítulo!



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Capítulo 5 – O Que Restará

  O som insistia em incomodar meus ouvidos... Continuava naquela escuridão incerta de onde estava e sem poder sentir meu corpo. Novidade, eu estava longe dele fazia um bom tempo para achar esse era um problema grave. Pensando bem, nem fazia tanto tempo assim e eu já me acostumara... Se tudo pudesse continuar como estava, meus planos, Darien e eu, apenas isso... Eu seria feliz de ouvisse que aquilo duraria para sempre.

  Tudo havia acabado... Após sair atrasada da escola naquele dia, que parecia mais um em que lograra ser uma irresponsável, saí correndo para me encontrar com Andrew. Eu já o havia avistado quando senti algo voando de minha bolsa. Uma parte de minha cabeça ainda pensou no quão absurdo fosse que qualquer coisa pulasse sozinha dali, mas a outra só estava pensando em como era perigoso justo o cetro lunar ser esmagado por um ônibus. Rei me mataria, já dava para ouvir suas frases de como eu era incompetente para cuidar do meu próprio corpo e de como ela havia sido a doida em permitir que eu cuidasse do cetro. As outras abaixariam a cabeça, também se sentido culpadas. Afinal, eu sou a irresponsável; não respondo pelos meus atos.

  Outra parte da minha cabeça gritou. Uma mancha negra vinha tão rápido... Eu não sabia como fugir. Se fosse um golpe do Negaversus no meio do campo de batalha, meus nervos estariam mais preparados, mas um caminhão em uma rua tranquila? Se ao menos ele estivesse no limite de velocidade, eu ainda teria chance. Nem posso dizer que, naquela hora, eu me preparei para o pior. Também não me lembro muito do impacto. O céu virou; bati no chão. As imagens que tenho em minha memória pareciam de alguém fora do meu corpo. Queria chorar alguns segundos depois, mas eu nem me mexia. Lá estava Andrew, gritando desesperado. Pessoas falavam. Darien... Seus olhos azuis deitavam sobre mim. Se dias depois quando o reencontrara em minha forma astral eu me recordasse daquele olhar tenro... Gostaria de haver podido agradecer-lhe por toda sua gentileza.

  Não, eu precisava agradecer por todo aquele amor que não eu havia conhecido de mais ninguém.

  Mais tarde, abri os olhos algumas vezes. Ou tudo não passara de um sonho? Muitas vozes, devia ser o hospital. Eu sobrevivera! Estava contente por haver sobrevivido. Não que a possibilidade de morrer houvesse realmente me assustado. Morrer não era para ser o tipo de coisa que acontecesse comigo. Ficar muito machucada, ter que repor anos de estudos... Coisas trágicas assim eram possíveis. Morrer, não.

  Só que aquele hospital... Eu estava sozinha lá, no meio daquele murmurinho desconhecido.

  Abri os olhos após mais sonhos confusos. Não aguentava mais sonhar, só que era difícil simplesmente abrir os olhos; era como se meu cérebro e minhas pálpebras estivessem com interferência. Apenas após muitos sonhos entre minhas tentativas pude voltar à consciência. Antes de acordar mesmo, já pude sentir um calor envolvendo minha mão.

  Ao abrir os olhos percebi do que se tratava e comentei em como era bom ter um rosto familiar assim que abria os olhos. O olhar confuso de Darien deixava-me claro que não havia compreendido minha voz embargada. Sorri do quão fofa aquela imagem me parecia. Mesmo em se tratando do Darien, que para mim nada me significava além de perturbação.

  Inspirei fundo. Tinha que me esforçar para dizê-lo antes que caísse no sono:

-Fico feliz por não estar sozinha, - disse.

-Seja bem-vinda, - respondeu-me também sorrindo, - E não se preocupe, pois não sairei mais do seu lado, Serena.

  Ele devia ter se assustado mesmo com a minha loucura, por isso, tentei sorrir-lhe em resposta, já que me sentia letárgica demais para pronunciar os sons necessários para até agradecer. De fato, devo haver adormecido logo em seguida, pois de nada mais me lembro daquele hospital. Eu realmente havia morrido...?

  Outra imagem me vinha à mente se eu me esforçasse por mais lembranças além dos dias passados assombrando o apartamento do meu príncipe encantado. Era como se eu continuasse anestesiada, mas era capaz de sentir o toque da mão que só podia ser de Darien. Sua voz como que cantava em meus ouvidos alguma música cuja letra era inaudível. Estava me falando sem que eu pudesse registrar quais eram as palavras. Apenas sentia seu aperto firme, como se me chamasse volta para o mundo material. Então, aquele calor sumiu, voltando a aparecer logo depois bem no meu rosto.

-Eu não posso te deixar ir... Não sem saber por que morreu; como foi isso, - Darien sussurrava, reafirmando sua promessa de estar sempre ao meu lado.

  Todas aquelas lembranças me vinham agora ao mesmo tempo, como se várias cenas de um filme fossem projetadas, sobrepondo uma a outra. Um recorte. Ao fundo, a trilha sonora daquele som agudo tremia como um disco arranhado enquanto o som mais grave parecia balançar mais e mais meu corpo.

  Recordei-me daquela mulher com o símbolo de lua. Minhas outras lembranças estavam tão embaralhadas que era como se fosse o sonho que eu tivera enquanto estava no hospital após o acidente. Eu havia morrido mesmo? A morte era aquele esquecimento que só aumentava até você renascer uma folha branca?

  Meu corpo sentia-se cair mais e mais naquela escuridão. Não conseguia me mexer. Uma lágrima escorreu por meu rosto. O som agudo começou a ser coberto por outros sons incompreensíveis, até que se transformaram em uma conversa. Quase um burburinho. Aquilo preenchia meus ouvidos e balançava meu corpo. Comecei a tremer um pouco e acabei abrindo os olhos por puro reflexo.

-Serena! – Senti o abraço da minha mãe me envolver, enquanto seu rosto parecia fungar no meu ombro.

  Eu me sentia dolorida como se houvesse dormido de mau jeito. Ao mesmo tempo, tão grogue que não percebia bem onde estava ou quantas pessoas se encontravam naquele mesmo cômodo.

-É um sonho? – perguntei, arrastando cada vogal e engolindo algumas consoantes, tal qual um bêbado.

-Não, querida! Você acaba de acordar, - respondeu minha mãe, enfim deixando-me ver seu rosto. Estava tão pálido e magro... – Como está se sentindo?

-Não sei... – Tentei levar minha mão direita à testa, mas ela estava enrolada por alguns fios. – O que aconteceu?

-Vai ficar tudo bem agora, não se preocupe. Shingo, chame alguma enfermeira!

  Percebi meu irmão mais novo lançar-me alguns olhares ansiosos antes de responder à nossa mãe e sair do quarto correndo.

-Seu pai acabou de sair! Nem vou ligar, senão ele vem pra cá correndo. – Ela se endireitou e pegou uma toalha branca para me passar no rosto e na testa. Eu estava lacrimejando ainda e também suando. – Quando ele voltar, avisarei às suas amigas e amigos! Aquele rapaz bonito deve ser o primeiro a chegar. Devia ter nos dito que tinha um namorado assim... E ele gosta tanto desta minha menina problemática.

-Namorado? – Era como se eu houvesse entrado em outra versão da minha vida desde que acordara naquilo que devia ser o quarto de um hospital.

  Não custou muito para um grupo de enfermeiros aparecerem e começarem a me examinar. Eu havia sido dada por morta, segundo me informaram; por isso, o médico encarregado queria fazer uma carga de exames detalhados agora que recobrara a consciência. Eu sequer pudera cumprimentar meu pai, que voltara justamente quando me levavam para outra sala de exames.

  Demoraram várias horas para minha mãe – papai Kenji já havia voltado ao trabalho – anunciar que o referido “namorado” viera me ver. O jovem entrou com um buquê de flores de um lado e uma caixa embrulhada de outro. A imagem não fazia sentido algum para mim, muito menos a felicidade com que minha mãe lhe dava a notícia dos resultados de alguns dos exames. Sim, eu estava bem, mas...

-Ainda não acredito em como você parece bem! – disse-me Darien com um sorriso branco demais.

-Ela ainda está um pouco abatida, mas a cada hora parece ainda melhor. Não imagina como aparentava logo que acordou.

-Como se sente, Serena? – Ele já colocava as flores em um vaso onde outras, que já deviam ter sido tão belas em dias melhores, já ocupavam. Procedeu em uma cerimônia que parecia rotineira.

  Ainda não havia tido tempo de reparar como o quarto parecia cheio de flores e plantas assim. Umas recentes, outras nem tanto. Observei-o jogar fora as rosas brancas e pegar novamente o embrulho, o qual me estendeu com ambas as mãos.

-São chocolates, espero não estarem proibidos, - explicou, não me dando nem o prazer da surpresa em abrir.

-Tenho certeza de que o médico não se importará já que não contaremos, - mamãe riu-se, como se aquele som da risada fosse um código secreto.

  Havia tirado apenas o laço do presente, mas levantei a cabeça interrompendo a ação e olhei para cada um com calma:

-Desde quando vocês se dão tão bem? – perguntei, sem ânimo para os doces.

-Acho que fiquei tempo demais te visitando. – Darien levou a mão trás da cabeça e olhou para baixo.

-Pelo menos, ele me fez companhia já que Shingo tem escola e meu marido trabalha tanto... Desde a primeira vez que ficou internada, Chiba-kun não saiu de perto de você, Serena. Devia sentir-se grata por ter alguém que se importe tanto.

  Ele pareceu abaixar ainda mais a cabeça, evitando meu olhar curioso.

-Não tem nada melhor para fazer? – perguntei com sincera curiosidade, mas senti-me mal assim que seus olhos se lançaram contra os meus em um momento fulminante antes de passarem a olhar para os lados.

-Filha! Tanta bondade do Chiba-kun e é assim que você agradece?

  Darien continuava mudo, encarando-me.

-De qualquer forma, - continuou mamãe com um suspiro resignado, - tenho que pegar umas roupas para a Serena e vou me aproveitar mais uma vez dessa gentileza sua para tomar conta da minha filha boba.

  Ela se despediu de mim e de seu “Chiba-kun”, abandonando-me com um quase estranho.

-O que deu nela!? A filha acorda e ela fazendo sala pra um qualquer!? – Lancei um olhar irritado para a porta recém fechada.

-Não precisa mais fingir, ela já deve estar longe o bastante, - Darien levantou-se e foi ajeitar as demais plantas, parecendo averiguar se alguma mais devia ser descartada.

-E o que eu estaria fingindo? Até onde sei, o impostor aqui é você, sujeitinho convencido! Pra que ficar de babá minha?

  E, novamente, seu olhar me bombardeou. Era límpida sua surpresa ante meu tom de voz. Concordava que eu estava sendo ingrata demais, mas ainda não o estava tratando nada pior do que em qualquer uma de nossas discussões públicas.

-Por mais que eu entenda que tenha adquirido intimidade com a minha mãe de tanto que eu fiquei “fora”, - completei. Já estava ciente dos dias em que fora dada como morta e até velada. Então, havia acordado sozinha da funerária e andado até algum ponto onde as amigas da Sailor Moon me acharam. Uma história esquisita, mas da qual sabia que ouviria mais detalhes com certeza quando reencontrasse as meninas.

-Quer dizer que não se lembra de nada?

-Não desde que o caminhão me atropelou, por mais cômica que a cena possa soar! – Ia acrescentar mais ataques a ele quando, ao mencionar aquele dia, outras lembranças embaçadas me interromperam. – Você estava lá! Eu me lembro de como parecia surpreso... E no hospital também... Por isso ficou tão próximo de todo mundo, porque você esteve lá o tempo todo!

  Darien franziu a testa por um breve momento, mas retornou à sua expressão normal para me sorrir:

-Sim, é isso mesmo.

  Assenti, suspeitando que me estivesse mentindo. Havia algo errado... Todavia, meu corpo começou a se sentir pesado e não pude continuar a conversa. Logo, havia me ajeitado e fechado os olhos. Fora um longo dia apesar das poucas horas que ficara acordada de fato.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Acordei apenas no dia seguinte. Minha mãe estava lá, reclamando da forma como tratara Darien, quem fora tão gentil comigo durante todo aquele tempo. Ela sabia que não possuíamos muita intimidade, mas eu deveria me conscientizar mais de como eu aparentemente morrer havia afetado alguns. Tentei argumentar; ela realmente não sabia de como era a “intimidade” que nós dois não tínhamos! E partes da conversa com o rapaz surgiam na minha mente a cada palavra de resposta que dava à minha mãe.

  Ela pretendia insistir, passando a um tom mais gentil, quando minhas amigas surgiram cheias de presentes. Novamente, mamãe Ikuko achou melhor deixarmo-nos a sós e aproveitou o tempo para cuidar um pouco da casa.

-Pobre da mamãe... – comentei, sentindo pontadas no peito, - Porque fui burra o bastante para ser dada como morta, ela tem que virar dona de duas casas: a nossa e o meu quarto no hospital.

-Vamos, Serena! Ela tomaria conta das casas que fossem para vê-la bem e você sabe disso, - disse Lita, vindo para mexer em meu cabelo disfarçando uma bronca.

-E nós ficamos sempre que podemos aqui. O Andrew e o Darien também. – Rei amarrou os balões infláveis que trazia nas mãos no ferro da minha cama. Todos tinham símbolos de coelhos ou de lua. – Aliás, Andrew comentou ontem quando viemos que Darien tinha te visitado mais cedo e foi o único a te ver acordada. Como foi o reencontro?

  Minha expressão confusa não fora o bastante para elas se explicarem, continuando a insistir. Foi quando pedi que me explicassem direito o que havia acontecido desde a noite em que o hospital me dera como morta. Era a vez de todas ficarem surpresas:

-Você não se lembra? – Ami foi a primeira a perguntar.

  Para mim, já era óbvio que não; mesmo assim, balancei a cabeça.

  As três mexeram-se em seus lugares, como a procurar a posição mais confortável e escolher quem seria a narradora. Rei acabou por se eleger:

-Começarei pelo final, todos os eventos foram fruto do plano de um inimigo diferente do Negaversus. Apenas percebemos isso quando seu corpo foi roubado e batemos de frente com ninguém mais que a própria Sailor Moon. Ela até tinha seu cetro!

-E vocês pensaram que fosse eu?

-Não, de jeito nenhum! Então, nós localizamos seu corpo através do broche e quando fomos ao lugar, deparamo-nos com Andrew, também controlado pelo inimigo. – Narrou, a seguir como a própria Sailor Moon se desfez do monstro e isso as fez perceber que a única forma de reverter o domínio que o inimigo tinha sobre meu corpo era usando a Cura Lunar.

  E, então, perderam a rival de vista, notando que o covil não era realmente ali, mas em outro lugar. Graças aos cálculos de Ami não custou muito para determinarem que a base real era nenhum outro lugar senão o porão da própria funerária, que sumira no ar logo após a batalha. Não passara de uma empresa falsa que enganara a todos.

  Interrompi uma vez mais para perguntar sobre Andrew.

-Ele está bem, como já comentamos. Deixamo-lo desmaiado lá, já que não tínhamos tempo de levá-lo a um hospital, mas chamamos uma ambulância antes. Segundo o que pudemos descobrir pelo Darien, ele acha que perdeu os sentidos no meio da rua e não se lembra de nada, exceto que foi à funerária, - respondeu Rei.

  Percebi que Lita estava incomodada com o assunto e me lembrei do quanto ela era atraída por ele, mais até do que eu mesma já fora.

-Não imagina como ficou feliz quando soube que sua morte não passava de um engano! – disse a menina, cujo rabo de cavalo balançava.

-E a Lita tava cuidando tão bem do Andrew, fazendo comidinha pra ele... – acrescentou-Rei com um tom maldoso.

  A outra não respondeu, apenas virando um pouco o rosto para uma direção diversa.

-Pois devia ter se aproveitado mais! – sugeri eu, com um sorriso.

-Acha? – perguntou-me surpresa.

-É claro!

-Eu não fiz por interesse. Ele só estava tão abatido... E não ficamos muito tempo sozinhos, o Darien também estava lá. E ainda apareceu um youma, se é que podemos chamar assim.

-Pois volte lá e confira se ele está bem! – Eu me sentia animada com a sugestão e, principalmente, da forma como a própria Lita parecia gostar da ideia.

-É, até que a Serena tem razão, - concordou Rei, sendo a minha vez de ficar surpresa. Era impressão minha ou ficara mais gentil comigo?

  Pensando bem... Eu não podia me enganar dizendo que não havia motivo. Era difícil aceitar, mas eu não apenas havia morrido para elas – como para meus pais, Darien, Andrew – eu havia sido usada pelos inimigos. Interrompi a conversa animada de Lita com Rei sobre planos para chamar atenção do Andrew e perguntei como a história continuava depois que elas rumaram à funerária.

  Rei baixou os olhos e pôs as mãos no rosto. Suspirou fundo antes de encerrar o relato:

-Depois de tanto quebrarmos a cabeça, acabamos desistindo. E Tuxedo Mask desferiu o golpe final contra você... – Limpou uma lágrima.

-Encontramos uns casulos nojentos nesse esconderijo e o destruímos também, não dando chance de surgir nenhum inimigo. Então o prédio todo virou um prédio vazio como que por mágica, - Lita prosseguiu.

-Ainda estávamos assustadas com tudo quando Tuxedo Mask me chamou para confirmar o que ele sentia... Você estava viva. Seu corpo estava quente e respirava bem fraco. Liguei imediatamente para pedir uma ambulância e demos a versão de que a encontramos numa missão, que você devia ter acordado na funerária e se perdido no meio do prédio, desmaiando antes que achasse alguém.

  Aquiesci, entendendo o quanto deviam estar abaladas. Era como se houvessem me perdido uma segunda vez e aí, Tuxedo Mask-

-O que ele fazia lá!? Tuxedo Mask... – perguntei, franzindo a testa.

-É aí que o Darien entra. – Rei levantou-se e passou a olhar a janela de meu quarto que dava para o pátio do hospital. – Nesse tempo todo em que seu corpo fora alvo dessa inimiga, cujo objetivo parecia ser obter o cristal de prata... Seu espírito, despojado da própria morada, encontrou-se com Darien. Ele era o único que podia vê-la. Mesmo eu apenas podia ter a sensação de que estava ali, mas nada muito confiável.

-Darien?! E viu minha alma penando por aí?

-Ele disse que devia ser porque foi o último a falar contigo antes de a funerária pegar o seu corpo. – Ami me olhava calmamente, como que a ler minhas reações.

-E, por causa disso, ficamos tão amigos a ponto de ele vir me visitar constantemente?

-Não apenas isso, - interrompeu-me Rei, - Segundo o que soube pelo Darien, vocês- A verdade é que Darien gosta de você mais do que como um amigo. Você descobriu isso e parecia havê-lo aceitado. Por isso, sinto pena dele. Deve ter ficado ansioso com como reagiria agora, se ainda estava disposta a ficar ele. Aí, você simplesmente esquece tudo o que passaram juntos durante aqueles dias. É como voltar ao ponto de partida, quando vocês não tinham nada em comum, né? Só que sem as mesmas emoções para reuni-los.

  Olhei o nada, tentando assimilar tudo. Era mais fácil aceitar que um desconhecido havia possuído meu corpo do que eu haver vivido com Darien e até “aceitado” seus sentimentos por mim. Não, era ainda mais difícil imaginar que aquela pessoa tão fria pudesse ter sentimentos por mim. Só que seu olhar no dia anterior voltava à minha mente.

  Por isso estava tão desapontado?

  Senti-me mal. Como se realmente houvesse fracassado. Sabia que aquela amnésia nada tinha a ver com a minha vontade própria, mas era impraticável não se sentir incomodada. Eu havia me esquecido de um sentimento e todas as causas do mesmo. Era possível recuperá-lo? Eu o queria?

-Não se preocupe com isso agora, - disse Lita, parecendo ler meus pensamentos. Sorriu-me tenramente e fez um cafuné na minha cabeça. – Sei que ele já está satisfeito só em tê-la de volta. Qualquer coisa é melhor, nós três temos certeza disso. – Havia lágrimas em seus olhos.

  Ami e Rei também pareciam emocionada enquanto concordavam silenciosamente com a informação.

  Tudo o que eu podia fazer por Darien era ter pena dele? Busquei em meu coração meus sentimentos reais e apenas percebia o quão cansada eu já estava daquele dia e como eu somente queria dormir. De preferência, para não ter que me encontrar com ele.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Eu ainda fiquei mais de uma semana internada, o que totalizava aproximadamente um mês naquele hospital. Por três semanas, Darien havia comparecido sem falta, mesmo quando não podia entrar ainda no meu quarto – nos primeiros dias, eu havia ficado na emergência do hospital já que não conseguiam dizer se minha condição era estável. E por mais uma semana ele, sem falta, apenas perguntou por mim a Andrew diariamente.

  Normalmente, para mim, aquilo não faria diferença. Não, normalmente, aquilo seria... O... Normal. Qual outra palavra para descrever o fato de Darien não dar a mínima para a minha pessoa? Exatamente porque, normalmente, eu não dava a mínima para ele. De repente, dois Dariens se formaram na minha mente. Aquele que eu conhecia e que me achava a sujeita mais infantil do mundo e aquele que fora me visitar e a quem eu tratara da maneira mais fria que poderia considerando tantos dias que teríamos passado juntos.

  Por causa dessa ausência, eu ficara cheia de dúvidas sobre as quais não conseguia perguntar a ninguém. Minhas amigas passaram a ignorar meus dias com Darien – ou Tuxedo Mask, como acabaram me dizendo ser ele – fingindo que tudo não passara de uma loucura. Tinha vezes em que parecia que eu apenas havia sido atropelada por um caminhão e não usada pelo inimigo para de uma forma que eu ignorava tentar conseguir o cristal de prata.

  Ainda descobri que o inimigo não lograra seu intento, por alguma sorte, todos os cálculos que a tal pessoa havia feito estavam errados. É nisso que dá não ter alguém como a Ami a seu lado, pensei eu.

  Bem, fosse como fosse, eu estava de volta minha casa e com uma licença de mais uma semana da escola. Muitos mais vieram me visitar em casa, incluindo o motorista do caminhão que dissera haver renascido de novo quando ouvira que não havia matado ninguém. Ele também não se lembrava do momento do acidente, apesar de não estranhar muito já que ficara muito abalado na ocasião. Minhas amigas e eu desconfiamos que o inimigo pudesse estar por trás disso.

  Mais desconfianças pairavam sobre haver mais alguém querendo o cristal de prata, ou mesmo que o Negaversus pudesse haver descoberto minha identidade de alguma forma e se aproveitasse da minha fragilidade. Mas os youmas continuavam apenas aparecendo normalmente, talvez apenas com menos frequência.

  A pessoa que nunca aparecia mesmo era Darien Chiba. A cada dia que virava noite, eu olhava a janela um pouco desapontada com sua ausência. Desde que soubera da história toda, vinha tendo vontade de agradecê-lo e tratá-lo bem. Se as meninas não exageraram, ele estava apaixonado por mim, ou estivera, de sorte que eu me sentia lisonjeada a ponto de querer-lhe bem. Meu desapontamento só não era maior que o da minha mãe. Toda vez que Andrew aparecia, ela perguntava pelo amigo; a resposta não variava muito, dando a entender que o próprio não fazia ideia da razão para o moreno simplesmente evitar aquela casa.

-Talvez, ele pense que estava incomodando. Serena o tratou tão mal da outra vez... – mamãe Ikuko dizia para o loiro, quase como que me dando uma bronca.

  Eu me sentia culpada; era verdade. Mesmo sabendo que não o havia causado propositalmente, não podia evitar sentir-me incomodada.

  Uma pessoa havia gostado de mim... Era a primeira vez que aquela percepção me atingia. Não sabia como reagir a alguém que tivesse sentimento por mim. E eu o havia rechaçado. Como fazer a coisa certa agora? Qual seria esta?

  Levantei-me da cama na qual já fazia alguns dias que estava deitada e decidi tomar um banho. Ao me arrumar e descer, minha mãe ainda tentou me convencer a não sair, mas eu não podia corresponder a seu desejo: tinha que me esforçar um pouco em gratidão a tudo o que aquele rapaz me havia feito.

  Caminhei por todos os caminhos em que sempre o encontrava e após um tempo, percebi que não seria tão fácil cumprir com minha missão. Estava para desistir e voltar para casa quando suas costas surgiram em meu campo de visão. Não era como se ele estivesse andando de costas, mas reparei de longe das suas costas. Aliás, exatamente por ele não estar andando de costas, ficava cada vez mais difícil alcançá-lo; eu não apenas estava cansada, como me desacostumara a simplesmente andar por tanto tempo.

  Contei as três ruas que teria que atravessar até alcançá-lo. A primeira fora fácil, sinal estava aberto para os pedestres. Mas tive que esperar nas outras duas – é claro, que não ousaria sair correndo mesmo que não viesse carro algum. Corria na calçada, tentando não perdê-lo de vista. Quando enfim o alcancei percebi que não tinha como chamá-lo. Como cumprimentar uma pessoa que já gostou de você como me dissera haver sido o caso do Darien? E se ele ainda gostasse, eu tinha que ser uma boa menina e tratá-lo bem, para não decepcioná-lo...

  Optei por uma abordagem casual e apliquei-lhe um tapa perto do ombro, dizendo “boa tarde” em um tom jovial.

-Serena?- Sua expressão confusa não fazia parte dos meus planos. Ele me olhava como se eu não fizesse parte daquele mundo.

-A própria! – Tentei ainda estabelecer o clima de amizade tencionado.

  Seu olhar me observava por inteiro; talvez, tentasse descobrir se era a Serena que convivera com ele durante aqueles dias, ou a mesma chata de sempre. Perguntei-me por qual delas ele se apaixonara; imaginar que não fosse eu me deixava inesperadamente ansiosa, e não era porque isso tornaria impossível minha decisão de compensá-lo.

-Estava imaginando por que não veio mais me visitar... – falei, ao perceber que o outro não continuaria a conversa sem ser provocado.

-Ando ocupado. – Darien balançou a cabeça logo a seguir. – Você já ouviu tudo e eu também; seria melhor se não nos víssemos. Foi assim que pensei. Mas já deveria estar andando sozinha pela rua?

-Há alguns anos ganhei permissão! – brinquei, mostrando-lhe a língua. Sua continuada falta de reação começava a me tirar do sério. – Sabe, você não está proibido de me ver.

-Sinto muito, eu achei mesmo que fosse o melhor. Então, eu apareço lá qualquer hora dessas. – Sorriu-me lentamente, como se sua bateria estivesse acabando.

  Aquele episódio não estava saindo como eu imaginara. Eu me sentia expulsa dali... Será que minhas amigas me contaram a verdade? Só podia ser, fazia sentido perto da forma como ele me tratara até então. E se fosse como antes, não ficaria tão quieto. Minha cabeça estava zonza.

-Está livre hoje? – perguntei, lançando mão do meu último plano.

-Como assim?

-Eu pretendia não ser tão direta, mas minhas amigas realmente me contaram tudo o que sabiam. Que você me abrigou no seu apartamento e que estava apaixonado por mim. – Fiz uma pausa nessa parte, em parte por querer absorver como reagiria, em parte por perceber como aquelas palavras eram embaraçosas. – Aí tava pensando se não poderíamos nos conhecer melhor de novo, já que só você se lembra de tudo.

  Suspirei. Já havia dado por vencida a esperança de que aquela pessoa me tornaria a situação mais fácil.

  Peguei seu pulso e comecei a puxá-lo pela rua até o primeiro lugar que me vinha à cabeça. Ele já tivera sua chance de recusar. Interpretei todo aquele silêncio como “irei aonde você quiser”, já que era o mais favorável para mim. E ele gostaria, afinal, ele também não negara estar apaixonado por mim. Ninguém ficaria chateado por passar um tempo agradável com a pessoa com quem se importa, certo?

  No entanto, Darien parou logo após e ficou me olhando enquanto franzia a testa. Pareceu hesitar sobre qualquer que houvesse sido sua resolução antes de me explicar por que agia assim:

-Qual a sua intenção?

-Passear um pouco ao ar livre! – disse, abrindo um sorriso. Eu mesma estava tensa, sem entender por que ele não comemorava aquela chance. Talvez, já houvesse me superado e isso me angustiava um pouco.

-Comigo?

  Assenti algumas vezes erguendo minhas sobrancelhas.

-Desista. Não estou em busca de gratidão ou pena.

-Não tenho pena de você! É verdade que é uma droga eu ter me esquecido, mas vi como estava me tratando no hospital e... – Parei no meio da sentença percebendo que ele também já havia recusado a “gratidão”. –Por que não me deixa agradecer por tudo? Ainda que eu não me lembre, eu sinto que faz sentido.

-Eu não te ajudei em momento algum. Devem ter te contado quem foi que tomou a iniciativa de passar a tratá-la como inimiga. E não me sinto culpado. Se antes deixei que ficasse no meu apartamento foi apenas por egoísmo, por achar que poderia tê-la comigo para sempre, frágil como estivesse, mas falhei em perceber toda a insegurança que te rondava. – Pôs a mãos no bolso e olhou para baixo; aquilo estava se tornando um monólogo sobre um mundo que não me pertencera. – Em todos os momentos, eu hesitava e te dava meias palavras, como se ainda não pudesse crer que estivesse bem ali comigo. Creio que seus dias houvessem sido bem melhores se eu fizesse por merecer esse seu reconhecimento, Serena.

  Eu também passei a olhar a calçada e a respirar lentamente. Como responder àquilo? Eu queria retrucar, mas eu sequer compreendia todas aquelas palavras. Era como ouvir de uma relação que ele tivera com uma terceira.

-Você não me quer assim, sem me lembrar daqueles dias? De como superamos tudo isso? – perguntei mordendo meu lábio inferior. Havia uma frustração crescente em meu peito que ansiara por apenas se divertir e compensar aquele rapaz.

-Disse que não quero sua gratidão. Por que não começamos do zero, de uma discussão como outra qualquer da próxima vez que nos virmos? Será o mais fácil.

-Não para mim. – Comecei a ofegar, sem alcançar aquele desespero. – Eu preciso que me diga seus sentimentos.

  Seus olhos tão azuis aumentaram de tamanho com meu pedido. Seria tão inconveniente ouvir daquele pessoa a sua versão, perguntei-me ainda exasperada.

-Eles apenas aumentaram; não se preocupe. – Voltou a evitar meu olhar.

-Por mim ou por ela?

  De repente, ele não apenas fitou-me nos olhos como sorriu tenramente. Senti-me um pouco como uma criança pronta a ser mimada e odiei-me por gostar de, enfim, estar para conseguir pôr aquela conversa na direção que eu almejava.

-Você apenas se esqueceu; não quer dizer que existam duas Serenas. Tanto que em uma de nossas últimas conversa, confessou-me exatamente essa sensação de não se reconhecer. – Estendeu o braço para mais à frente. – Por que não nos sentamos no parque aqui perto? Acho que faltou a minha versão dos fatos, né?

  Anuí satisfeita.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Seus olhos haviam perdido a cor, nublados nas lembranças dos dias que passara com a minha projeção, deixando claro como apenas me considerara uma fantasia a me ver no funeral, logo após jogar a flor sobre meu corpo, e como, aos poucos, passara a me ver como a verdadeira Serena. Seguiu com os trechos de que se lembrava da conversa que tivemos perto de seu apartamento e de como eu estava agoniada antes a possibilidade eu realmente ser alguma alucinação.

  Ele realmente parecia haver me tratado muito bem, mas não pude deixar de compreender todo o drama por que eu devia estar passando. Realmente, a indagação que eu fazia agora era similar à de então: qual seria a verdadeira? Darien não mentiu ao me dizer sua resposta, escolhendo aquele ser invisível, quase desaparecendo.

-Eu não errei e foi com base nessa promessa que eu... – Sua voz falhou antes de dar continuidade, contando de como fora me encontrar naquele quarto escondido da funerária, com os casulos de monstros prontos a se abrir. – Fisicamente, aquela era mesmo a Sailor Moon, mas a forma como atacou Andrew... Pergunto-me se ela sabia que o corpo mesmo sobreviveria e voltaria ao normal; não que devesse se importar. Custamos todos a reagir, era custoso, muito mais que com meu próprio amigo, investir contra a sua sósia. Não, o seu corpo era aquele e só ele poderia usar o cetro lunar, a única forma de reversão daquilo.

-Eu compreendo o problema todo e agradeço tanta consideração. Sei que foi difícil.

-E eu já a havia perdido de vista, seu espírito; então, eu nem sabia qual era seu real desejo: acabar de uma vez por todas com o inimigo ou ainda ter a esperança de voltar a viver. Foi quando me lembrei de nossa conversa e, por fim, pude cumprir alguma promessa que lhe fiz. Não importava, mesmo que nos sobrasse aquela casca vazia, não creio que pudéssemos fazê-la voltar ao normal. Por isso, eu pedi que suas amigas sincronizassem seus ataques com o meu e nós...

  Darien não mais continuou.

  Fiquei olhando para longe. As pessoas passavam para todos os lados e conversavam animadas. Talvez parecêssemos namorados a elas, mas havia uma parede entre nós. Mesmo seguindo a risca suas palavras e mesmo desconsiderando que aquela Sailor Moon pudesse ser eu, Darien ainda sentia como se houvesse falhado. Por isso, ainda que me deixasse compensá-lo, não veria pelo quê.

  Um suspiro cobriu meus ouvidos. “É você quem eu escolho,” dito na voz de Darien, apesar de sua boca não se mover. De repente, meus olhos estavam lacrimejando sem parar, apesar de eu não estar especialmente triste para isso. Olhei de novo ao meu redor, até que o jovem me inquiriu sobre minhas ações. Menti-lhe que não era nada.

  Aquela história havia mexido comigo, provavelmente. Esfreguei meus olhos para impedir o choro antes que ele se desse conta disso também.

-Algum problema, Serena? – perguntou-me com sincera preocupação expressa em sua face.

-Que tal você me levar em um encontro? É o que eu realmente quero, dar uma chance pra essa sua confissão. – Então eu me levantei, como se minha mente não houvesse acabado de se lembrar de todos aqueles dias confusos em que minha alma vagou pelo apartamento de Darien.

-Um encontro? – A confusão tomara conta de seu rosto. Ele já havia me rejeitado antes, mas ele tinha que perceber que desta vez era diferente.

-Se você recusar, vai se arrepender. Isto tudo não te mostrou que não dá pra sabermos do futuro? Dessa vez eu morri, fui parar no sue apartamento, você teve esta segunda chance e, por isso mesmo, aqui estou na sua frente! – Fiz um gesto exagerado para meu próprio corpo.

  E sorri, apesar de estar nervosa. Conseguia entender todas as reações de Darien e aquele plano era meu último na manga. Em razão disso, eu não tinha outra opção senão prosseguir. Eu havia tentado ser madura, mostrar que eu levava a sério toda a situação. Havia saído da minha personalidade, esforçado-me para dar o melhor de mim, mas não funcionara. Só me restava a mim mesma, a cabeça de vento que sempre fora. Alargando o sorriso nos lábios e mostrando a ponta da minha língua entre os dentes, andei um pouco para trás, enquanto me afastava dele e continuei:

-Quem sabe agora eu não conheço um ator rico e famoso? Esses dias de hospital deixaram meu corpo com o peso ideal, ele não resistiria! – Joguei os braços para cima. Era verdade que perdera uma ótima quantidade quilos extras. Era uma maravilha usar com facilidade aquelas roupas no fundo do meu armário que antes só entravam comido deitada reta sobre a cama.

  Rodopiei e dei-lhe uma piscada. Fora um movimento para checar sua expressão, já que o outro nada falara até então.

  Só que Darien não estava apenas mudo, mas também sem qualquer expressão. Ou talvez ligeiramente boquiaberto. Tinha que admitir, de quase chorar para rodopiar pelo parque era uma mudança no mínimo digna de uma pessoa bipolar. Mas não era para ser forçada. Aquela era a minha personalidade, ela saía de mim de forma tão fácil que eu nem temia o não na cara que estava para levar. E, como havia dito antes, era tudo o que me restava ali.

  Ergui os braços, como se houvesse terminado um espetáculo de ginástica e deu um pulo para ficar em uma posição mais confortável. Exceto que...

  Okay, juro que esse movimento não foi forçado, não sou a favor de automutilação, ainda que ande me jogando contra caminhões no meio da rua. E quem em conhece já até sabe aonde minha bunda foi parar. E como minhas pernas ficaram em uma posição nada sedutora. Nem mesmo cena de desenho eu consegui imitar, com a calcinha aparecendo só para deixar o cara animado. Não que isso funcionasse com Darien. Não, minha queda de bunda no chão fora na frente do garoto de quem eu lembrei gostar tanto havia pouco e de forma muito dolorosa.

  É claro que chorei! Quem liga se o Darien tava vendo. Não, exatamente porque o maldito estava de olho tão vidrado em mim é que eu chorei ainda mais alto. Estava doendo, poxa! E logo o idiota do Darien nem ia se lembrar de que gostava de mim, ia rir e começar a jogar na minha cara o quão desastrada, irresponsável e infantil eu era. Certo que eu queria usar minha real personalidade por que ele supostamente se apaixonou para reconquistá-lo, mas abrir o berreiro no chão de um parque era demais.

  Foi quando senti um calor me envolvendo junto com aquele aroma familiar. E ele me ergueu gentilmente. Era sério que Darien estava resistindo a um perfeito momento para tirar uma comigo? Nenhum amor deveria resistir a isso, mas ele me estendia um lenço enquanto parecia avaliar se não havia me machucado.

-Darien... – disse, com o rosto molhado de lágrimas e o nariz escorrendo. Tá pelo menos eu pronunciar o nome dele foi fofinho, né? Deve reduzir as centenas de pontos negativos que acabara de ganhar com o grand finale de minha performance.

  Ele levantou o rosto.

-Não acredito que está rindo! – gritei, dando-lhe um soco no peito.

-Sinto muito? – E caiu na gargalhada que parecia haver segurado até que eu houvesse me acalmado. – Ninguém nunca te ensinou a não ficar andando de costas?

-Para de rir! – ordenei, pondo as duas mãos na boca cujos eu ainda lembrava a textura. Sabia que todos olhavam com ainda mais atenção, sem disfarçar. – Para, tá todo mundo olhando!

-Mas você caiu! Não sei nem como conseguiu!

-Quem mandou ficar me olhando sério daquele jeito? É difícil me coordenar pronta para ser rejeitada.

-Rejeitada, é? Pelo tal ator?

-Você sabe do que estou falando, senhor depressão que nunca se satisfaz com nada do que faço.

-Pois estou muitíssimo satisfeito com o espetáculo de agora.

-Ridículo!

-Cabeça de vento.

-E você que é um convencido?

-Ainda bem que continua assim, pois nunca nenhum homem vai te querer.

-Deixa de ser implicante! – Dei língua. – Você é o último que agora pode dizer isso.

-Eu sei. – E me abraçou.

  Tentei olhar ao redor, as pessoas haviam parado de olhar a garota que pagara o mico na frente do que antes parecia ser seu próprio namorado, mas não queria dizer que estávamos sozinhos. Só que o abraço era tão apertado que eu não conseguia ver o nosso arredor. E logo não importava, porque havia sido tragada por aquele calor.

-Isto quer dizer que temos um encontro? – perguntei tempos depois.

-Sim, mas garanto que não foi por causa da ameaça de você ser levada pelo tal ator.

-Duvido.

-Não foi não. Só percebi que você é um risco de vida a você mesma; esta cabeça de vento aqui precisa de cuidados vinte e quatro horas por dia. E eu, como bom samaritano que sou, estarei sempre lá.

-Convencido das cabeças ao pé, hein...

-Desastrada até a alma.

  E rimos.

  Eu sabia que eu poderia apenas ter dito: “olhe, Darien! Recuperei minha memória e até lembrei da vez que te possuí – no sentido bizarro da palavra.” Mas preferi manter esse detalhe em segredo por enquanto e começar do início, como as coisas deveriam ser. Fazia mais sentido para mim construir nossa relação sobre bases mais sólidas do que começando com uma alma penada assombrando o apartamento.

  Talvez um dia eu contasse a ele e aí levarei uma bronca com certeza. Mas valia a pena só pela sensação de saber mais que ele... E, claro, por termos um relacionamento construído em coisas do dia-a-dia e não em situações desesperadas. Ainda que isso significasse que aquele beijo que eu tanto queria iria demorar mais para vir, também queria dizer que restaria por mais tempo em meus lábios.

  E não era como se aquele abraço já não me fizesse disparar fogos de artifício. Ninguém ali estava reclamando, né?

Fim!

Anita, 20/08/2010

Notas da Autora:

Uaaaaaaaaaaaa!!! Termineeeei! Terminei mesmo! Nem acredito! É o fim! É o fim mesmo!! Aaaaaaaaaaaaaaaaaah! Quero gritar pra todo o canto que isto acabou!

Certo, eu travei justo na parte mais simples, mas achei melhor parar de forçar a barra, investir meu tempo em outros projetos. Sinto muito a todos que fiz esperar, esta fic ficou rolando pela internet por tanto tempo, né? Sinto muitíssimo! Mas acabou! Alguém consegue acreditar nisso? Eu não! E como demorei... Gente, demorei a ponto de eu não aguentar mais pensar neste casal que tanto amo.

Só que hoje eu estava com aquele espírito de não deixar mais esta situação continuar e sem tropeçar, cheguei a este fim!

Muito obrigada a todos que ficaram comigo até aqui!!! Todas as reviews, os e-mails e até os tweets! Muito obrigada mesmo, não esqueci viram? Prometi que um dia isto acabaria e eu cumpri! Yaaaay!

Agradecimentos especiais aos que me mandaram reviews tão (im)pacientemente (foi mal... ^^UU): Nemui, Kurai Kiryu, Dumpliing, Sandra Pereira, Leninhaa’, mimi e Marcy! Sem contar com a Thaís Carter que deve ter sido a que mais me incentivou a continuar aqui! Sinto muito se me esqueci de alguém (ou se repeti, sou ruim pra associar apelidos), juro que você também estava na minha cabeça enquanto eu me martelava na frente deste computador para finalizar a história!

Ah, e como fui me esquecer! Pai do Axton, muito obrigada por todo o apoio e amizade generosamente oferecida à Serena nos momentos tão difíceis por que ela passou. Muito sorte em encontrar seu filho, estaremos todos torcendo por você.

Agora, não sei quando farei outra com este casal... Eu gosto taaaaanto dele, mas o próximo ano vai ser ainda mais difícil que este que passou. Esse foi outro motivo porque pensei que eu tinha que terminar pelo menos alguma coisa. Ainda que pela metade, sem omakes. Não consegui terminar a minha original que travou quase que no mesmo ponto, nos créditos finais praticamente! Mas um milagre ocorreu e esta aqui, que é muito mais importante, está encerrada. Resta publicar. *cara de desânimo* É tão chato revisar e publicar. ^^UU

De toda forma, não se esqueçam de mandar comentários, sugestões ou apenas um ‘oi’, que seja, para o meu e-mail Anita_fiction@yahoo.com e para os que quiserem ler mais histórias aleatórias minhas, visitem meu site Olho Azul http://olhoazul.here.ws e até a próxima!!

Omake:

Pai do Axton: Oh... Amizade oferecida? Eu dei para ela? *pega a mala e vasculha* Amizade... Amizade... Onde coloquei?

Nemui: Pai do Axton, amizade é uma coisa abstrata

Pai do Axton: Ah, entendi... Quer dizer que eu dei um pedaço do meu cérebro pra ela. Já tinha me esquecido disso ^^

Pai do Axton: De qualquer maneira, obrigado por ter me dito obrigado!

Anita: Mande lembranças ao Axton, Pai do Axton!

Pai do Axton: Claro, pode deixar que eu dou. Peraí... *abre a mala* Pode colocar as lembranças neste bolso aqui *sorri*

Alguém Apresenta:

Omake

Capítulo 5 – Afinal

Darien: Não tem narração desta vez?

Anita: Oooh!

Darien: Por que a surpresa? Eu to aqui desde o outro omake, sabe? Cadê o bolo?

Anita: Ih, foi mal, mas você sabe, este capítulo atrasou tanto que meu aniversário já passou.

Serena: Oh, já é quase Natal! Pode deixar, Darien! Eu sei de um lugar maravilhoso para se comer bolos.

Anita: Eu também... *_*

Darien: Só pago pra minha namorada, sua escritora folgada ¬¬

Anita: É assim que terminaremos? Magoei... Este é o último do último, né?

Darien: Você já até começou outra fic para me torturar. E sem bolos.

Sailor-V: Mas desta vez eu aparecerei, né??

Anita: Err... Quem sabe... lá no fundinho da história?

Andrew: Claro, o personagem principal é o GAL, o Garoto da Academia ao Lado, ho ho ho!

Serena: GAL!

Andrew: Não tema! Vim para regatá-la da terrível ameaça de Darien Chiba, mocinha.

Serena: Na verdade... Você sabe, as coisas estão meio que diferentes agora. Mas se quiser, o Darien vai pagar bolo pra todo mundo numa loja que eu conheço. É muito gostoso, venha sim, GAL!

Sailor-V: Opa, pra todo mundo!?

Darien: Quem disse isso?

Serena: É Natal, fim da nossa história, precisamos de algo especial e roupar o teclado da autora já perdeu a graça. Então, vamos todo mundo pro Sweets Paradise!

Darien: Na próxima fic, eu quero terminar morto ou sozinho. Nem era pra eu participar deste omake e já me dei mal!

FIM, 01/12/2010


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