Chapter VII - Dear you

Era um momento de grande expectativa. Kaya mirava-se no espelho pela última vez, arrumando a postura enquanto várias criadas arrumavam seu maravilhoso vestido. O membro da realeza ouviu a porta abrindo por trás de si a e a figura entristecida de seu amado Juka surgiu por ela.

O confidente, lentamente, estendeu-lhe a mão, como forma de indicar que a hora havia chegado, por fim.

De braços juntos, se encaminharam lentamente para o grande salão de festas do palácio, como se caminhassem para os portões do inferno.

Hizaki e Teru já os aguardavam junto à porta, ambos bem arrumados. Ah, um casamento duplo! Que idéia esplêndida! Não fosse pela tamanha tristeza que se instalava em seu coração, Kaya estaria borbulhando de alegria.

Ah... Se ao menos fosse Juka ali, ao lado do altar, aguardando-o com um sorriso... Se ao menos pudesse passar a resto sua vida ao lado da pessoa amada...

Mas não. A pessoa a recebê-lo no altar não seria seu amado Juka e, depois daquela noite, pairava uma cruel certeza: a de que não o veria de novo. Cada passo era como um pedaço de seu coração a morrer e murchar, tal qual uma delicada rosa que seca e perde as pétalas uma por uma.

Apesar de estar rodeado pelas pessoas que mais amava - Hizaki, que o acompanhava com uma expressão preocupada, e Juka, que segurava sua mão com força durante o caminho até o altar - Kaya sentia-se infinitamente solitário.

Um frio terrível ocupou sua alma ao sentir seu amado afastar-se lentamente e uma outra mão, mais fria e indesejável, substituir a dele. Aquele homem com quem se casava, francamente, causava-lhe uma profunda náusea.

Hizaki e Kamijo sorriam, um ao lado do outro. Estavam imensamente felizes... E se sentiam imensamente culpados por isso. Desejavam que Kaya e Juka também pudessem ser assim, igualmente felizes. Ah... Se o mundo fosse um lugar justo...

~o~

A primeira manhã após o casamento invadiu a janela e tocou a face lisa e macia de Hizaki. Preguiçosamente, ele se remexeu, afastando os lençóis e cobertores que o protegiam do frio. Ele era oficialmente a pessoa mais feliz em todo universo.

Tocou uma sineta, deixada delicadamente ao lado de sua cama, e logo três ou quatro empregadas entraram correndo, tropeçando nos próprios pés, prontas para ajudá-lo a vestir-se.

Antes, apenas Yuki ou Teru ajudariam a vestir e abotoar aqueles complexos e caros vestidos... Repentinamente, arrumar-se ficara mil vezes mais fácil! Ah, a vida poderia melhorar ainda mais? Tudo estava tão perfeito que o rapaz se via obrigado a temer: Por quanto tempo tamanha felicidade havia de durar?

 Já arrumado e deslumbrante em seu vestido vermelho, Hizaki desceu a escadaria animadamente, pronto para dar um beijo gigantesco de bom dia em seu amado.

Contudo, foi surpreendido por uma desconhecida figura loira e feminina no hall. Ela era bela, e chorava, enquanto conversava com Kamijo... com o seu Kamijo.

- Kamijo! -Falou impulsivamente em voz alta pela primeira vez desde que pisara naquela casa - Quem é essa moça?

- Hizaki... - O rapaz se voltou à sua “esposinha” lentamente, organizando uma explicação coerente para aquilo tudo - Essa é...

- Lillie Charlotte. - A moça falou depressa, ainda chorosa e pouco surpresa, mirando Hizaki com uma ponta de ódio lhe escapando pelo olhar - Foi com ela que se casou, Kamijo? Essa é a famosa e delicada Lady Hizaki?

- Lillie, pare, por favor.

- Foi por essa... essa... essa coisa que você se apaixonou depois de mim? - Ainda assim, ela não parava - Por esse trocinho sem graça de voz grotesca?! Eu pensei que você me amasse!

- Pare, Lillie!

- Agora que finalmente poderíamos ficar eternamente juntos, você...

- Lillie, já chega! - Kamijo gritou, batendo com força na mesinha ao seu lado, derrubando um belo vasinho italiano no chão - Eu te amei, você foi embora! Agora estou casado e feliz, eu amo Hizaki, talvez bem mais do que havia lhe amado!

- Eu fui embora... Mas eu me arrependi! Agora estou viúva e se não fosse pelo seu casamento, poderíamos por fim...

- Esqueça, Lillie Charlotte. - Hizaki falou, enfurecido com a prepotência da moça - Não ouviu o que ele lhe disse? Ele ama a mim! Vá embora!

- Mas o que você...

- Vá embora!

Muito mais que enfurecida, a dama saiu da casa, batendo a porta com força. Hizaki suspirou, apoiando-se em seu amado que parecia particularmente esgotado, logo de manhã. Mas por que ela tinha que aparecer bem agora que o felizes para sempre estava começando?

Yuki e Teru, circundados por curiosas empregadinhas, observavam tudo à distância, imersos em absoluto silêncio. O silêncio se manteve mesmo depois que um choroso Hizaki passou por eles, acompanhado de perto pelo marido.

- Yuki... - Teru sussurrou, levemente assustado - Eu não gostei dessa senhora,Lillie Charlotte. Ela parecia tão.... cheia de ódio.

- Ela tem as razões dela. - Yuki comentou, deixando um braço envolver o mais jovem pela cintura - Mas é melhor pra todo mundo se ela nunca mais aparecer por aqui.

Subitamente, o servo soltou seu jovem mestre e começou a caminhar na direção da porta, sob os curiosos olhares dos demais.

- Aonde vai, Yuki? - Teru questionou, confuso.

- Ver como Juka está encarando tudo isso. - O outro respondeu, soltando um suspiro entristecido - Ele, mais que nunca, deve precisar de alguém ao lado dele... Vem comigo, Teru?

O garoto não respondeu. Cordialmente se despediu das empregadas, saltitou até seu amado Yuki e o abraçou, enquanto ele destrancava a porta.

Assim que os dois desapareceram porta a fora, um comentário ecoou pelo hall:

- Chega a ser impressionante o quanto Mestre Teru e seu servo predileto se dão bem!

~o~

O casamento não deveria ser assim tão solitário. Kaya passara o dia todo sozinho, caminhando de um canto a outro da casa, sem nada de interessante para fazer.

Ah, se Juka estivesse ali, poderiam jogar xadrez, ou passear pelos jardins, ou ler algum livro velho juntos, ou brincar de cantar músicas infantis junto ao piano. Mas ele não estava lá.

Algumas das empregadas comentavam o quanto a princesa parecia melancólica... Elas eram as únicas a realmente se importar. Sua mãe... seu marido... seu pai... seus amigos... Onde estavam todas essas pessoas? Kaya precisava de alguém ao lado, mais do que nunca.

Pela primeira vez em sua vida, ele se sentiu fraco.

~o~

As mãos de Kamijo acariciavam levemente as costas de seu amado, que mantinha a cabeça encostada em seu ombro. Que jeito esplêndido de passar a tarde!

- Onde estão Teru e Yuki? - Hizaki questionou, dado momento - Não os vi nem mesmo durante o almoço! Será que eles...

- Eu estive pensando... - Kamijo interrompeu o outro, por acidente e mera distração - Por que não nos mudamos daqui? Poderíamos ir para a Itália... Espanha... Portugal...

- Kamijo...

- Ah, já sei! França! Vamos para a França! - O rapaz sorriu, pondo-se de pé e alcançando um livro muito velho sobre uma prateleira qualquer - É perfeito! Podemos visitar o palácio de Versalhes! Já imaginou? Conhecer Vossa Majestade, Maria Antonieta, cara a cara!

- Kamijo, você sabe muito bem que não podemos fazer isso! - Hizaki retrucou rapidamente - E quanto a Kaya? Vai deixá-lo aqui sozinho?

- Podemos levar ele e Juka conosco!

- Isso é seqüestro! É loucura! - Ele suspirou, encarando seu amado longamente - Kamijo, do que está tentando fugir? Dela?

O animado sorriso de Kamijo dissolveu-se e ele se sentou novamente. Encarando o carpete avermelhado da biblioteca, ele acenou positivamente.

- Não me entenda mal, Hizaki. - Ele se justificou - Eu me sinto um pouco culpado por tudo isso. Além do que, ela estava irada, isso me deixa um pouco receoso...

- Re... ceoso?

- Nunca se SAE o que uma mulher rica e irada é capaz de fazer. - Riu, suavemente, abraçando a cintura delicada de Hizaki e depositando um beijo em seu queixo - Eu te amo. Não quero te perder, nunca, minha Cendrillon.

- Você nunca vai. Eu prometo.

Beijaram-se ternamente. Por um instante, um desejo percorreu aquele cômodo por inteiro: Ah, se o tempo pudesse parar nesse momento...