Cendrillon escrita por Sweet Pandora


Capítulo 5
Capítulo 4 - Daily Normality




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/44503/chapter/5

 

Chapter IV - Daily normality

 

A manhã parecia normal... Mas havia algo de muito estranho nela. Hizaki tinha certeza! Aquela não era uma manhã normal! Em manhãs normais, ele acordaria por último, encontraria a casa arrumada, Teru concentrado em suas leituras e, depois de quinze minutos, os olhos azuis de Kamijo.

Como aquela não era uma manhã normal, Hizaki acordara antes de qualquer um naquela casa. A parte mais curiosa é que ele despertara no horário de sempre! Yuki e Teru desceram as escadarias ao mesmo tempo, apressados... O que Yuki fazia no andar superior era um mistério, visto que seus aposentos ficavam no inferior.

Eis que a segunda anormalidade do dia ocorreu: Kamijo estava atrasado. Salvo uma ou outra ocasião, o rapaz gostava de manter sua palavra e chegar sempre no horário no qual sabia que era aguardado.

A culpa desta vez, por certo, não seria de Kaya, visto que o mesmo estava mui ocupado com as preparações para sua festa de noivado daquela noite. A preocupação de costume voltou a atormentar Hizaki de forma quase insuportável... Ele só podia desejar que tudo estivesse bem.

Algum tempo depois, o loiro não pode mensurar quanto, as típicas batidinhas na porta ecoaram pelo hall. Kamijo justificou seu atraso dizendo que precisou ajudar Kaya em um detalhe ou outro da festa daquela noite. Ah... Como de costume, “princesinha” egoísta!

Como o rapaz parecia exausto, Hizaki pensou em oferecer-lhe um pouco de chá. Contudo, Yuki parecia ter evaporado no ar! Não se encontrava em parte alguma da luxuosa moradia... Isso não era típico dele!

Pensou em perguntar a Teru, que a um certo tempo havia se dirigido ao andar superior, se ele havia visto o servo em algum lugar. Ah, mal sabia que aquilo o faria presenciar a última anormalidade daquela manhã... A mais anormal de todas as anteriores!

Bateu. Teru nada respondeu... Estranho. Entreabriu a porta vagarosamente e constatou: Não havia ninguém ali. Usando a lógica, o garoto só poderia estar na biblioteca, o único cômodo do andar superior que lhe interessava de fato.

Novamente, abriu somente uma pequena fresta, mas desta vez não de forma intencional. Sons, estranhos e abafados, o fizeram frear. O que estava acontecendo ali dentro?

Olhou atentamente pela fresta e o pouco que vira o chocara a ponto de paralisá-lo: Yuki estava sentado em uma das poltronas da biblioteca e, apesar de ainda haverem mais umas duas ou três completamente vazias, Teru estava sentado em seu colo!

Antes fosse apenas isso... Talvez, Hizaki não tivesse se chocado de tal forma! Teru estava sem a parte de cima de suas vestes, com os lábios colados aos de Yuki, sua língua dançando junto a dele e ambos os corpos se movendo de um modo malvisto a qualquer religião.

Num impulso, ao recuperar-se do choque, Hizaki bateu a porta com força, emitindo um estrondo por toda a casa. Mais que depressa, Kamijo subiu a escadaria, transbordando de preocupação.

- Hizaki! - ele pegou a face de seu amado e a acarinhou vagarosamente - Está tudo bem? Você está pálido...

- Não consegui encontrar Yuki! - Ele desvencilhou-se do visitante, ganhando um forte rubor nas bochechas - M-Mas eu posso fazer um pouco de chá para você, sim? Venha!

Desceram, em absoluto silêncio. Era evidente que alguma coisa estava errada, mas Kamijo achou por bem não tocar no assunto... Ao menos, por enquanto.

~o~

Yuki tremia. Sentia que podia perder a consciência a qualquer instante. Ele sabia que era errado... Sabia que podia ser visto a qualquer... Ainda assim... por que? Por que se deixou levar pelos caprichos de seu mestre assim tão facilmente?

Teru arrumava suas vestes cuidadosamente, cabisbaixo. Apenas após longos minutos o servo percebeu as lágrimas que escorriam da face do jovenzinho. Sentiu um aperto forte em seu coração por culpá-lo de qualquer coisa.

- Teru... - Os braços fortes de Yuki o envolveram carinhosamente pela cintura - Me perdoe. A culpa foi minha. Só minha, você não tem culpa de nada. Perdoe-me. Perdoe... me...

- Yuki...

A voz do mais jovem era fraca, quase inaudível. Ah, que situação deplorável... Vergonhosa. Mas Teru não podia arcar com as conseqüências dela, não seria justo! Com um suspiro, Yuki optou por agüentar sozinho o que quer que acontecesse depois daquilo.

Em um súbito de coragem, desceu a escadaria, pronto para encarar Hizaki de frente e assumir toda a responsabilidade pelo ocorrido.

Um estrondo vindo da cozinha o fez perder absolutamente a concentração em seus próprios problemas e, como era de praxe, correu em socorro dos demais habitantes da casa.

Adentrou o cômodo e, para sua surpresa, adorou ter visto o que viu: Kamijo e Hizaki embalados em um abraço dulcíssimo, repleto de amor. O rapaz repetia vezes e vezes “eu te amo” enquanto distribuía beijos no rosto do outro, que somente ria, em uma quase plena alegria.

No chão, resquícios do que fora uma bela chaleira e muito chá espalhavam-se por toda parte... Nada que não pudesse ser limpo depois.

O toque delicado de Teru em seu braço o fez recordar-se daquela vergonha que sentira minutos atrás, mas, inexplicavelmente, ela parecia ter desaparecido!

- Não há problema... - Hizaki balbuciou, olhando nos olhos de Yuki, com um sorriso - Se existe amor, não há problema algum.

O que era aquilo? Hizaki, que negara o amor de Kamijo desde a primeira vez que o viu, havia se rendido por fim?

- O que... - O mais jovem arriscou perguntar, confuso - O que aconteceu aqui?

- Teru, ele disse! - O apaixonado rapaz suspirou, agarrando seu amado com ainda mais força - Ele disse que me amava!

- Ora, cale a boca! - O que costumava ser chamado de Cendrillon riu, jogando-lhe um biscoito na cabeça - Você me opuviu errado, estou dizendo!

Teru sorriu e abraçou a cintura de Yuki, enquanto ambos observavam o alegre casal à sua frente... Talvez, as coisas fugirem da normalidade, não era algo assim tão, mal, era?

~o~

As últimas preparações para a festa de noivado eram finalizadas. Kaya já estava arrumado e, como de costume, estava estonteante. Mirou-se no espelho, prevendo que receberia milhares de olhares repletos de inveja das damas da alta corte e inúmeros convites para dançar, não recusaria nenhum!

Animou-se a imaginar a música a tocar e, como se o baile já houvesse se iniciado, pôs-se a dançar com seu parceiro imaginário por todo o cômodo. Ria um bocado de sua própria tolice, dentre um rodopio e outro.

Ouviu aplausos e, ao ver pelo reflexo do espelho Juka a adentrar o quarto, voltou bruscamente à realidade... E, repentinamente, seu sorriso desapareceu. Forçou, rapidamente, um outro da forma que pode e virou-se para seu velho amigo, que não havia parado de aplaudir.

- Impressionante! - O confidente beijou a mão e esquerda de Kaya de forma cortês - Sua graciosidade e beleza é muito maior que a de qualquer dama deste universo!  Seu noivo ficará encantado!

- Não diga besteiras, Juka! - O membro da realeza o repreendeu, num risinho - Você bem sabe que isso não acontecerá.

- Mas após vê-lo vestido de forma tão elegante... Depois de viver ao seu lado dia e noite... Não se apaixonar é... impossível.

Kaya corou fervorosamente e desviou o olhar para baixo. Ah, se ele pudesse abrir mão de roupas luxuosas e morada confortável... Se pudesse abandonar os doces finos e as festas... Se pudesse se tornar uma donzela de origem humilde... Nesse caso, entregar-se-ia ao seu amado Juka, sem mais importar-se com nada.

~o~

A festa havia se iniciado a algumas horas. Após o brinde em honra aos futuros noivos, os convidados espalharam-se por todo o salão.

Kamijo, desinteressado em grande balburdia e barulho exagerado, decidira passear pelos jardins com Hizaki, que não estava habituado a freqüentar reuniões sociais tão agitadas.

Teru já havia se misturado aos representantes da alta nobreza... Provavelmente, contava histórias à velhas damas entediadas que se divertiam com tamanha alegria e jovialidade.

Curiosamente, Kaya e seu futuro marido não foram vistos juntos muitas vezes durante a noite. As pessoas já comentavam tal fato, dentre risadinhas cruéis.

- Não estou gostando dessa situação... - Kamijo comentou, dado momento, com uma expressão de pura preocupação no rosto - Kaya negou alguns pretendentes antes... Por que dessa vez ele...

- O tempo passa, Kamijo. Não fica bem aos olhos da sociedade uma dama envelhecendo solteira. - Hizaki balbuciou, mui sério e pensativo - Por isso.. Para evitar problemas posteriores, casar com o primeiro que se interessar se torna necessário. Ou isso ou... Alegar vocação religiosa.

- E então, ir para um convento distante...

- E comprometer-se com Deus. Sim. Estes são os planos que meu pai reservou para mim.

- Eu... - O rapaz engoliu seco - Eu não quero que isso aconteça! Não! Agora que eu consegui trazer minha Cendrillon para o meu lado, eu...

- Se você não quer que eu vá... Então... - Hizaki baixou os olhos e sorriu, permitindo sua face ruborizar levemente - Case-se comigo, Kamijo.

A frase adentrou a mente dele como uma cobra voraz e espantou todos os pensamentos e preocupações. Isso era tudo que Kamijo queria ouvir! Em seus sonhos, mais doces e distantes, ele podia vê-los casados, vivendo como um casal normal.

A casa onde morariam era espaçosa e muito bela. Haveria sempre espaço para qualquer visita. E talvez uma criança, órfã e perdida, que encontrariam ali perto e criariam como se fossem seus pais. Dessa forma, a vida se seguiria perfeita, por toda a eternidade.

Contudo... Ainda no dia anterior, seu amado lhe negava até mesmo profundos olhares. Como e por que tudo mudou num repente?

- O que está acontecendo? - Kamijo questionou num suspiro - Ainda ontem você me negava com todas as forças. E hoje, sugere algo assim tão súbito... Apesar de imensamente feliz, estou preocupado.

- Por favor, não se preocupe. - Hizaki balbuciou, erguendo o olhar na direção dos claríssimos orbes do outro - Eu vi... Algumas coisas mais cedo. Acabei por refletir um pouco e pude perceber que... não há nada de errado em querer estar ao lado da pessoa amada.

Ambos pararam, bem a frente de uma grande árvore, uma das raras por ali. Trocavam olhares repletos de carinho, candura e amor puro e verdadeiro. Embalados pelos sentimentos, que fervilhavam em seus corações, iniciaram um delicado e discreto beijo.

Num súbito, um som forte foi emitido da porta do salão de festas. A voz de Yuki urrava o nome de Teru em um desespero visceral. Hizaki aviou-se. Queria ver o que ocorrera com o jovenzinho, mas Kamijo o impediu, segurando-lhe o pulso com força.

Murmúrios assustados percorreram os presentes. Um homem aproximou-se do casal em passos rápidos. Kaya gritava pela guarda real, mas esta parecia nunca aparecer quando era necessária. O homem retirou de seu bolso algo que Hizaki não pode ver o que era, pois Kamijo jogou o corpo contra o seu, mantendo-o prensado contra a árvore.

Dois sons de tiro ecoaram pela noite. Em seguida, o silêncio se manteve. Hizaki abriu os olhos com dificuldade e avistou Yuki com uma arma de fogo em uma das mãos e lágrimas nos olhos que encaravam o corpo sem vida do homem desconhecido.

Os olhos do servo ergueram-se na direção do casal e arregalaram-se em seguida. assustado, Hizaki entrelaçou a cintura de seu amado com braços... Sentiu algo úmido. Sangue.

- H-Hiza... ki... - Kamijo balbuciou com dificuldade - Ainda... não... chegou... o... “felizes.. para sempre”... mas... eu sin... to... que... está... está...

Eis que ele perdeu a consciência, tombando na grama do jardim. A última coisa que pôde ouvir fora o choro desolado e desesperado daquele que amava. Várias figuras se aproximavam, curiosíssimas e lentamente tornavam-se borrões. Kaya gritou num desespero incontrolável.

Logo, tudo tornou-se preto. 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não me matem, leitores!
isso não estava planejado pra acontecer, só segui a inspiração do momento e-e"
Daqui até o fim da fanfic: só mais dois capítulos! o/
Obrigada pelo apoio de sempre!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Cendrillon" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.