Cendrillon escrita por Sweet Pandora


Capítulo 3
Capítulo 2 - Pure-hearted Flower




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Chapter II - Pure-hearted Flower

 

   Haviam fitas e outros enfeites extravagantes por toda a sala de visitas. Kamijo observava-os rindo silenciosamente. Teriam o rei e a rainha permitido que Kaya fizesse aquilo? Eles realmente o mimavam demais!

Ele se atrasara propositalmente por uma hora ou duas. Não queria ter que ir até lá aquela noite, mas não seria ousado a ponto de recusar um convite desses e desafiar a ira da “doce e gentil princesa”.

O convite revelava pouco sobre a natureza do evento. Dizia somente “Festa de Celebração do Outono” com o nome de Kaya e a data assinados logo embaixo.

Kamijo esperava encontrar somente seu amigo de infância conversando com Juka e mordiscando alguns docinhos coloridos. O que encontrou não fora muito diferente daquilo, mas o espantara um bocado.

Aquele rapaz, forte e bem educado, que costumava lhe entregar recados de Cendrillon, estava lá! Sim, ele estava lá, graciosamente posicionado de pé ao lado de uma poltrona onde um jovem de olhos inocentes e tez alva sentava-se confortavelmente.

Preenchido por uma ridícula e tola esperança, buscou sua dama aos arredores recinto... Nada! Ela definitivamente não estava lá. Suspirou, decepcionado, pouco antes de sentir “algo” abraçar-lhe por trás bruscamente.

- Darling! - Kaya gritou, fazendo os demais presentes exalarem risadinhas baixas - Você está terrivelmente atrasado, sabia disso?

- Estive distraído... - Kamijo justificou-se rapidamente - Por curiosidade, qual é a razão disso tudo?

- Festejar o outono! - O garoto, nada familiar a Kamijo, respondeu alegremente enquanto enfiava três ou quatro bombons na boca - E comer chocolate!

Um sorriso foi inevitável. A primeiro momento, aquele rapazinho pareceria uma criança muito pequena e repleta de inocência, capaz de se divertir com qualquer coisa. Apenas após alguns minutos de atenção era perceptível que ele não deveria ser muito mais jovem que Juka.

Yuki censurou o garoto com o olhar, como se aguardasse algum gesto de sua parte. Gesto esse que não veio de imediato.

- Teru. - O servo perdeu a paciência e tocou o ombro do mais jovem, em tom de censura - Não está se esquecendo das apresentações?

- Ah... - O menor suspirou, em tom de desgosto, e se levantou, fazendo uma reverência ensaiada. - Sou Teru e é um enorme prazer conhecê-lo.

- Muito prazer. - Um riso absolutamente impossível de ser contido fugiu dos lábios do loiro. - Sou Kamijo.

Teru pareceu simplesmente ignorar o comprimento do outro e correu na direção de Kaya, insistindo que jogassem uma partida de xadrez. Apesar de tudo, ele era uma pessoa agradável.

Kamijo questionava a si mesmo se Cendrillon convivia com Teru... Se ela se assemelhava a ele em personalidade. Vagando nesta linha de raciocínio, um pensamento cruel o atingiu: E se ela fosse como Lillie?

No instante que isso lhe ocorreu, ele pode finalmente se dar conta: Talvez aquilo tudo não fosse amor. Talvez ele só estivesse tentando substituir sua amada Lillie Charlotte. Mas... nesse caso... Não! Ele se recusava a acreditar que só estava mentindo a si mesmo.

Precisava da luva rendada. Precisava vê-la... Sentir um resquício do perfume de Cendrillon... Precisava perceber que a amava realmente e acalmar a tempestade que se formava no âmago de seu ser.

Contudo.... A luva não estava lá.

Impossível! Não saíra um único dia de casa sem levá-la consigo! Lembrava-se perfeitamente bem de tê-la colocado no bolso de seu casaco... Exatamente! O qual a empregada que o recepcionara anteriormente definitivamente havia pendurado em algum lugar.

- Kaya! - Kamijo gritou num repente, espantando todos ao redor - Para onde levaram meu casaco?

- Ordenei que o levassem para o quarto de hóspedes. - Algo cintilou nos olhos de Kaya, como se ele se visse prestes a vencer um jogo - Talvez você deva subir depressinha e buscá-lo, não?

Kamijo apressou-se na direção do quarto de hóspedes. Os olhos astutos de seu anfitrião o seguiram até que ele desaparecesse pelos corredores. Um detalhe pequenino que o rapaz desesperadamente apaixonado fora incapaz de perceber: Seu casaco estava pendurado junto com tantos outros no hall.

Juka riu baixo e direcionou seu olhar à Kaya. Como tudo sempre saía da forma que ele planejara?

 

~o~

 

Apesar de muito permissivos, o rei e a rainha tinham uma regra absoluta e irrevogável: Kaya poderia usar apenas um quarto de visitas. Dessa forma, evitariam visitas constantes de pessoas ligeiramente desagradáveis.

Tal cômodo já era familiar à Kamijo, era a terceira porta do corredor oeste do segundo andar. Por sua presença naquele lugar ser freqüente, não sentiu necessidade de bater à porta ou qualquer gesto bem educado de gênero... Ah, que doce engano.

Ao que o rapaz entreabriu a porta suavemente, viu uma figura branca, alva e deveras familiar... Sim, a conhecia de seus mais profundos delírios apaixonados: era Cendrillon.

Seu perfume delicado era equiparável com o de um lírio do ápice de seu frescor. Ela estava sentada confortavelmente sobre a cama, com os olhos sobre um livro grosso de capa azul adornada por grandes contornos dourados e rubis do tamanho de um morango maduro e suculento.

Kamijo adentrou o local sem emitir um único som. Aproximava-se da dama, incrédulo. Seria realidade... ou outro de seus devaneios? Estava prestes a tocar a delicada face da jovem que ainda não o havia percebido... Mas, eis que subitamente ela o viu.

A primeiro momento, Cendrillon arregalou os olhos acastanhados. Sua reação seguinte foi emitir um grito audível e levantar da cama num sobressalto.

- C-Cendrillon! - O rapaz tentava, confuso, acalmá-la - Sou eu! Kamijo! Não se recorda?

A donzela correu para a porta o mais depressa que seu pesado vestido lhe permitira. Tocou a maçaneta e, naquele exato instante, o som da chave girando pelo lado de fora tornou-se audível seguido por uma risadinha familiar a ambos.

- Desculpem-me, Hizaki... Kamijo... - Era a voz de Kaya, definitivamente - Mas nenhum de vocês dois saíra deste quarto até que resolvam tudo.

Qualquer criatura do universo amaldiçoaria vossa alteza por tal peripécia, mas Kamijo se viu incapaz de fazê-lo. Graças a seu velho amigo, agora estava ali, frente a frente com a donzela de seus sonhos! e ela não fugiria desta vez! Mas.... afinal de contas, por que ela queria tanto partir?

- Cendrillon... Eu...

- Já chega dessa história de “Cendrillon”, não? - A voz que lhe respondeu era suave e firme, contudo, claramente diferente da voz de uma mulher normal. - Já chega de sonhar acordado... Não?

Kamijo estava estupefato. Em seus sonhos e delírios, ela possuía a voz mais doce e angelical do universo. Até mesmo corais de anjos invejavam seu timbre doce e suave. Aquilo era... Deveras diferente do que havia imaginado, e nada desagradável, afinal. Mas o pior, é claro, ainda estava por atingi-lo.

Ele fitou de cima a baixo aproximadamente seis vezes... Delicada como uma borboleta no ápice de sua existência. “Cendrillon”, percebendo o olhar de seu companheiro, entregou-se a risinhos gentis.

- Você não percebeu, não é, Kamijo? - “Ela” perguntou, num suspiro - Sou Hizaki e... Sou um homem. Espero que isso não o tenha decepcionado... E que você não tenha se apaixonado por mim.

A última sentença destruiu Kamijo por dentro. Apaixonado ele tinha certeza de que estava! Todas as suas incertezas evaporaram ao que ele vira Cendrillon ali. Mas, ora, um homem apaixonado por outro? Impossível... Certo?

O fato que mais o espantava era que, apesar de tudo, ele não se sentia menos atraído pela figura à sua frente. Era como se nada tivesse mudado... Apesar de tudo, ainda era “Cendrillon”. A pureza de seu próprio amor o assustava um bocado.

- Talvez.... Hizaki... - Kamijo aproximou-se, abrindo mão da razão uma vez mais - Talvez eu já esteja apaixonado. E talvez... Não haja problema algum nisso.

- Já chega dessa conversa. - Hizaki deixava sua frustração diante de toda aquela situação transparecer por trás de uma falsa calmaria - Você só está confuso.... Apenas isso!

 

~o~

 

As horas escorriam muito depressa e antes que Yuki pudesse se dar conta, já era quase três da manhã. Seria um absurdo partir por ruas escuras a tal horário e deixando Hizaki para trás! Embora a idéia de passar a noite no castelo real não lhe parecesse das melhores também.

Infelizmente, não haveria outra maneira. O servo se via sentado sobre uma cama bem arrumada, mas não muito luxuosa, embora deveras confortável, assistindo a conversa animada entre Kaya e Teru junto a porta. Talvez aqueles dois tivessem bebido vinho demais...

Juka recolhia um objeto ou outro que jazia caído ao chão. Yuki sentia-se culpado por dar trabalho a ele, isso além de ocupar seu quarto. Mas... O que mais poderia ser feito? Kaya só tinha direito de usar um quarto de visitas apenas!

- Não sinta-se culpado. - Juka pediu, como se adivinha-se os pensamentos de seu visitante - A culpa não é sua e eu pouco me incomodo. A cama de Kaya é grande o bastante para duas pessoas. Quanto a minha... Bem.... eu sinto por ela ser assim tão estreita.

- De forma alguma! - O servo, mui bem educado, sorriu de forma cortês - É grande o suficiente. Daremos um jeito. Obrigado por tudo.

- Eu é que agradeço, Yuki! - Kaya intrometeu-se de súbito - Não fosse sua ajuda e a de Teru, eu não teria conseguido colocar aqueles dois frente a frente! Agradeço-lhes profundamente!

Para os outros três ali presentes, era um mistério a linha de raciocínio que Kaya seguira até atingir seus resultados com perfeição. Mil vezes analisaram a situação e mil vezes ela não fez sentido algum. se o perguntassem a resposta seria simples e nada explicaria: “Intuição”.

Mas, ora.... Talvez fosse somente intuição mesmo.

 

~o~

 

- Em breve há de amanhecer... - Hizaki comentou, dado momento, após um longo silêncio - Kaya não tem jeito mesmo... Com essas idéias excêntricas...

Kamijo olhou para o grande relógio à sua frente e sentiu vergonha de admitir que não vira as horas passarem. Esteve, todo o tempo, admirando a beleza impar de seu companheiro... Seu perfume inigualável... E aquela voz profunda e encantadora.

Não importava o quanto tentasse racionar logicamente, não havia nada naquele universo que o convenceria de que não estava apaixonado por Hizaki. Seu coração ainda batia mais forte ao vê-lo e ele ainda sentia vontade de abraçá-lo por toda a eternidade... Não importava as palavras do outro, ele amava e pronto... Nada podia ser feito quanto a isso.

Se ele pudesse escolher a pessoa pela qual se apaixonaria, jamais teria se apaixonado pela complexa e maravilhosa Lillie Charlotte! Buscaria uma pessoa mais simples, com a qual poderia estar a todo momento, sem jamais sofrer de ausência e saudade.

Contudo... era a ausência que tornava a presença especial. Era a saudade que fazia os momentos ao lado da pessoa amada serem os mais incríveis o possível.

- Você está quieto. - Hizaki comentou, interrompendo os pensamentos do outro - Algo errado? Você esteve tagarelando nas últimas duas horas e agora...

Vulnerabilidade... Fora isso que Kamijo instintivamente detectara nas palavras do outro. Nas últimas horas ele só havia feito negar a pureza do amor entre dois homens e gritar o quanto aquilo era ridículo. Subitamente, ele pareceu baixar a guarda e, pela primeira vez aquela noite, sorriu. Um sorriso repleto de carinho e preocupação.

Não importava o que o outro lhe dizia, Kamijo sabia que todo o seu amor era correspondido de alguma forma. Tendo tal pensamento em mente, ele acariciou a face alva daquele que amava e gentilmente, como se fosse algo absolutamente natural, uniu seus lábios aos dele.

Fora um mero toque superficial, mas fizera o espírito enamorado de Kamijo atingir o nirvana. Talvez não pelo toque um tanto mais intimo nem por de seus sonhos estar, por fim, se materializando... Mas sim, pelo fato de não ter sido impedido de fazê-lo. Hizaki manteve imóvel, fingindo que aquilo era absolutamente normal... E talvez fosse. 

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Notas finais do capítulo

Aproveitando a súbita onde de criatividade para escrever o máximo possível da fanfic! Gosto de ir publicando conforme os capítulos ficam prontos, e por isso eles têm saído bem depressa!

Caso eu os esteja publicando muito depressa, por favor, avisem-me e eu reduzo o ritmo, certo?

Obrigada!



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