Acordo com alguém batendo na porta. Retiro-me da cama, mesmo não querendo ao sentir o ar frio que impregna o lugar.

Não suporto ser acordada e isso só faz o meu mau-humor matinal piorar. Vou em direção a porta e a abro olhando Blight sorrindo parado em minha frente:

–O que você quer?-pergunto com certa frieza:

–Mau-humor matinal?! Isso é uma das certezas do universo quando se trata de você, Johanna!-ele fala sorrindo:

–Piada de manhã...? Diz logo, o que você quer?-pergunto:

–Estamos chegando na Capital!-ele fala e eu reviro os olhos:

–É sério que você me acordou para dizer que estamos chegando no inferno?!-eu digo:

–Você sabe o por quê disso...-ele diz:

–Sei! Só vou trocar de roupa.-eu digo:

–Não demora!-ele berra enquanto eu fecho a porta em sua cara.

Respiro fundo e tento me concentrar passando as mãos pelos cabelos. Vou ao banheiro, faço minha higiene pessoal e retiro o pijama colocando uma blusa de lã branca, uma calça marrom escura, e botas de salto.

Olho-me no espelho e encaro o meu reflexo. Nunca me imeginei nesta situação novamente, apenas iria assistir quando ganhei aquela porcaria, e agora... Tudo voltou outra vez!

Paro pensando na raiva que os outros tributos devem estar sentindo também, e em como eles devem lutar para acabar com todos se esquecendo da amizade que "supostamente" existia entre ambos.

Isso será complicado... Proteger os "causadores" disso por assim dizer, não será fácil. Os vitoriosos querem sangue e permanecer vivos, e é o que tornará essa brincadeira ainda mais mortal!

Saio do quarto e vou em direção ao vagão cozinha. Chego lá e observo o trem começando a chegar perto do túnel que dá entrada a Capital.

Pego um pedaço de bolo e um chá quente e começo a comer. Blight toma café enquanto Pierre está animado contando como todos devem estar eufóricos pela nossa chegada. Eu tento ignorá-lo o máximo que posso, Blight faz o mesmo se concentrando em seu café.

Nenhum de nós diz algo, apenas nos concentramos em nossos pratos e os saboreamos no mais completo silêncio e atenção, ignorando as demais coisas irritantes ao nosso redor.

Apenas vamos prestar a atenção em algo, quando entramos no túnel, e Blight segura por instinto em minha mão. Minha vontade era de bater nele, mas me seguro e o deixo desse jeito, mesmo odiando.

Começamos a ouvir os gritos infernais do povo da Capital soando em nossos ouvidos:

–Isso é música para os meus ouvidos!-fala Pierre:

–Para mim é o som do inferno!-eu digo tomando um longo gole de chá.

Blight se levanta e vai recebê-los sorrindo e acenando, o que só os fazem gritar e berrar mais ainda. Eu reviro os olhos e como mais um pedaço de bolo, isso era mais importante do que dá atenção a aquelas coisas:

–Johanna! Você não vai?-pergunta Pierre:

–Vou perder o apetite, e eu estou com fome!-eu digo e ele me olha com desgosto. Apenas o ignoro.

Pacificadores adentram no trem e começam a nos retirar. O Sol invade meus olhos com seu brilho intenso, mas o calor não preenche meu copo, apenas o frio que reina. Os gritos são insuportáveis, a medida que vamos saindo mais as pessoas gritam e tentam chegar até nós.

Vários pacificadores nos empurraram para dentro mais rapidamente. Pegamos o elevador e encaramos o prédio feito de bronze onde ficam os tributos.

Suspiro pesadamente e percebo que Blight também, afinal de contas já viemos anteriormente e vivemos um pesadelo sobre essas paredes que são como muros que separam a vida e a morte.

Do elevador, transparente que fique claro, eu vi os trens dos distritos 10, 11 e 12 chegando. Não pensei que estivéssemos tão atrasados assim. Blight os olhos com verdadeira raiva enquanto tenta ignorar um Pierre louco acenando para ambos os distritos.

Meu olhar e o de Haymitch se cruzaram, ele estava preocupado dava para perceber. E olhou fixamente para mim como me dando um aviso e me lembrando do que fazer e que... Queria falar comigo?! Não dei importância assim que cheguei em meu andar.

Não me importei com a decoração exagerada do lugar, apenas sentei-me no sofá e fiquei esperando nossos estilistas atrasados aparecerem:

–Já não era para eles estarem aqui?-perguntou Blight:

–Bom, eram... Mas a incopetência é grande demais! Eu estou cercada por idiotas!-eu digo afundando minha cabeça em uma almofada:

–Johanna não se comporte assim, está parecendo uma adolescente fria e não uma mulher madura!-fala Pierre e eu ergo o rosto em sua direção:

–Pouco me importa com o que eu pareça! Nesse instante me sinto uma jovem fria mesmo, porque é apenas jovens que vão para os Jogos Vorazes e não adultos maduros!-eu digo elevando minha voz me erguendo do sofá:

–Johanna se acalma.-fala Blight pegando em meu braço:

–Não vou me acalmar! Nos mandam para cá novamente esse povinho "arco-íris" ainda exige respito nosso?! Não! Vão vocês lutar até a morte, aí eu vou achar muito mais engraçado...-eu digo indo para o meu quarto:-E guarde a maldita de sua opinião inútil para você, Pierre! Independente se está certa ou não.

Vou para o meu quarto, (entro em três portas erradas até encontrá-lo mas tudo bem) tranco a bendita porta e me deito na cama.

Uma garota fria... Será que é isso que as pessoas pensam de mim?! Pouco importa, e mulher madura?! Realmente não sou eu!

Nesta edição eu serei apenas a Johanna Mason, não a anterior ou a nova... Eu serei eu! Serei eu porque lutarei por um único objetivo que bem maior do que minha própria vida, serei eu para ser lembrada se uma revolução realmente acontecer!

Ouço batidas na porta. Respiro irritada e a bro, vejo um homem de cabelos azuis pele esverdeada e duas mulheres. Uma laranja de pele roxa e uma verde de pele dourada completamente brilhante:

–Johanna Mason! É uma honra, sou seu estilista Marco e essas duas sua equipe de preparação!-fala o homem:

–Não acredito que é você mesma!-grita a de pele brilhante:

–Johanna Mason! Que honra conhecê-la! A vitoriosa rebelde!-grita a laranja:

–Oi...-eu murmuro em um profundo tédio.

Eu tinha esquecido o ódio que eu sentia pelas equipes de preparação independente de quem fosse. Só me fazia perder a paciência, e mesmo sendo adulta isso somente piora!