Voluntários - Interativa escrita por BDP


Capítulo 16
Capítulo 16 - O Meu Maior Trauma


Notas iniciais do capítulo

Okaay, antes que vocês me apedrejem, eu tenho justificativa. Depois da minha viagem, eu entrei em semana de provas e depois, fiquei muuuuuuito doente. Entrei no antibiótico e tal. Quando ia tomar banho, nem fechava a porta com medo de desmaiar. Sério. Só de levantar da cama me vinha tontura, mas agora estou bem melhor e voltei!
Nesse capítulo, aparecem muitos poucos personagens, era só um "voltei, minha gente!" aushausha



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A Sala de Treinamentos tinha virado uma espécie de enfermaria. Lizie não sabia como não havia pensado nisso antes de reformar a casa. Se iria treinar vários Voluntários era mais que óbvio que precisaria de uma enfermaria. De qualquer jeito, já havia falado com Ed, os dois estava com projetos para construir a nova sala.

Foi aí que todos, mais que nunca, sentiram a falta de Micah. Ele poderia resolver isso tudo em um segundo.

Annie e Metamorfo estavam deitados em dois sofás, que foram trazidos da sala por Finn. Os dois ainda estavam desmaiados, o que preocupava a todos. Lizie olhou para os dois e suspirou. Cada vez mais difícil de alcançar a sua vingança. Ela olhou para o outro lado. O escritório onde, antigamente, ela procurava por Voluntários, mas agora ele era inteiramente de Ed. Ele instalou vários programas para segurança da casa ali e passa a maior parte do tempo na sala. Às vezes na companhia de Lizie, que adorava juntar-se a ele, ajudando até onde podia ajudar, ou pegando um dos mil livros que pertenciam à sala e lendo. Os dois quietos, cada uma fazendo aquilo que gostava, mas gostavam da companhia um do outro.

Ed estava sentado no escritório, não fazia nada, ficava apenas sentado olhando para o nada. Lizie se encaminhou até ele e sentou-se ao seu lado, mas não falou nada.

Depois de um tempo calados, Lizie resolveu quebrar o silêncio:

– Ed?

– Fala.

– O que te fez matar aquela cobra? Eu te conheço, Ed. Sei que se fosse aquele mesmo garoto de algum tempo atrás, nunca faria isto. Ficaria com medo, ele te congelaria a ponto de você não conseguir fazer nada.

Ed, por sua vez, respirou fundo e falou:

– Também tenho pensado nisso. Acho que Eno me mudou – ele começou a corar enquanto falava, mas continuou –, a convivência com ela, entende? Eno é um dos seres mais malucos e inconsequentes que eu já conheci. Ela me mudou, me fez deixar de ser tão... careta as vezes, sabe?

Lizie apenas balançou a cabeça em concordância e eles voltaram a ficar quietos. Não com um silêncio constrangedor e perturbador, era confortável. Como nas outras mil vezes em que eles passaram horas no escritório.

As horas foram passando, já eram quatro horas da manhã, mas nenhum dos Voluntários conseguia dormir. Todos estavam em seus quartos. Annie e Metamorfo já tinham acordado, mas ainda precisavam descansar, por isso foram mandados imediatamente para seus quartos.

Mas Jake não conseguia dormir, os gritos de Mely atormentavam seus sonhos. Ele, então, desceu para a cozinha para tomar alguma coisa e se acalmar. Quando chegou lá, viu que Sora estava sentada na bancada, tomando leite quente.

Sora, ao vê-lo, ofereceu um copo de leite, que Jake aceitou de bom grado. Ele se sentou no banco da frente dela, e ela sorriu.

– O que foi? – Ele perguntou, rabugento.

– Nada – ela respondeu, sorrindo ainda mais.

Jake resmungou e cruzou os braços:

– Fale logo!

– Tudo bem. É que hoje eu finalmente consegui ver quem você realmente é. Não estou dizendo que já não tinha percebido isso antes, mas só hoje você conseguiu demonstrar isso.

– Do que você está... Ah! É sobre Melody, não é? – Ele revirou os olhos, colocando o copo de leite na sua frente com força. – Olha, se for começar a falar sobre ela e...

– Tudo bem – disse Sora ainda sorrindo. – Não está mais aqui quem falou.

Ela terminou seu leite e foi em direção a pia com o copo vazio na mão. Ela ligou a pia e começou a lavá-lo, em silêncio.

Jake queria ter ficado irritado. Mas não conseguia, sequer conseguia parar de pensar em Mely. Seguindo o exemplo de Sora, ele terminou seu leite e em seguida foi lavar o copo.

Quando Sora estava prestes a sair da cozinha, ele falou:

– Não, Sora... espere.

Sora deu meia volta e sentou-se.

– Sim? – Perguntou arqueando as sobrancelhas. A verdade era que ela sabia exatamente o que o garoto queria falar, mas estava se divertindo com isso. Era engraçado ver justo Jake deste jeito.

– O que... o que você queria falar? – Perguntou Jake, tentando não perder a postura.

– Sky me contou sobre o ataque, o que você, ela e Mely passaram. Ela disse que você parecia tão preocupado com ela, desesperado, até. Segurou-a com força, enterrando o rosto nos cabelos dela, tentando se acalmar.

Jake, mais uma vez, revirou os olhos. Ele ia inventar uma desculpa, falar que Sky, claramente, tinha exagerado. Mas, ao olhar nos olhos de Sora viu que seria impossível mentir para ela. Era com se a garota pudesse enxergar sua alma com seus olhos cor de mel. Por fim, ele suspirou e decidiu que, pela primeira vez, iria falar a verdade.

– Eu... quando eu a vi daquele jeito, foi... horrível. – Sora percebeu reparou que os olhos do garoto estavam distantes, provavelmente se lembrando do terrível momento. – Eu não sabia o que fazer, só queria que ela parasse de sofrer. Tentei dormir esta noite, mas seus gritos vieram atrás de mim em meus pesadelos. Sora, você tinha que ver o estado de Mely. Ela gritava e se esperneava e eu podia fazer nada para que aquilo parasse, só abraçá-la e sussurrar no seu ouvido que estava tudo bem, que eu estava com ela e, então, eu pedia para que ela voltasse... voltasse para mim.

Finalmente, Jake olhou para Sora, achando que ela iria rir sacaneá-lo. Mas Sora apenas se levantou e abraçou Jake. Ele, de início, não retribuiu, espantado. Porém, logo retribuiu o gesto.

Depois de um tempo, Sora voltou a se sentar. Ela olhou para Jake, sorriu e estendeu sua mão, segurando a do rapaz por cima da mesa. Ela lhe lançou um olhar sábio e seguro, falando:

– Jake, pode ser difícil de aceitar. Mas você a ama, e isto está claro. Antes de Mely, o amor era algo raro na sua vida, por isso, você pode não saber como lidar com isso. Mas você tem que contar para ela, ok? Não pode esconder isso. Eu sei que é difícil, mas pode se arrepender depois.

Jake apenas abaixou o olhar, sem saber o que responder. Sora levou a mão de Jake à sua boca e depositou um beijo carinhoso ali. Depois, ela se levantou, deixando o garoto sozinho, e foi dormir.

Ele olhou para o chão. No fundo, sabia que Sora estava certa. Ela sabia que estava... apaixonado por Mely. Só de lembrar os gritos da garota, ficava agoniado e com raiva. Sim, com raiva. Ele queria matar o garoto que causou isso tudo em Mely. Mas a vida de Voluntários sempre fora perigosa, e se ele não pode livrá-la de ser quem ela é, podia, ao menos, protegê-la.

Era isso. Ele iria ficar com ela até seu último suspiro. Jake sorriu com a ideia, mas logo se repreendeu. Estava parecendo uma garotinha apaixonada. Era ridículo. Ele começou a subir a escada para voltar a dormir, mas, quando chegou ao meio dela, voltou a sorrir.

Começou a se dirigir ao seu quarto, mas parou quando um de seus pesadelos se tornou real. Vindo do quarto de Mely, Jake escutou um grito. Sem sequer pensar duas vezes, ele correu até lá, abrindo a porta com força.

– Desculpa – ela disse, com voz de choro. Ela suava e seus cabelos estavam bagunçados, espalhados pela sua cara. Sua respiração era arfante. – Foi só um pesadelo.

Melody esperava que ele desse meia volta e saísse do quarto. Do jeito que Jake era, ele ter ido conferir se ela estava bem, já era raridade de acordo com Mely.

Mas não foi isso que ele fez. Jake estava decidido. Ele se aproximou da cama, e sentou-se na beirada.

– Quer que eu fique até você dormir?

Mely iria ficar chocada em qualquer outro momento, mas seu pesadelo ainda a assombrava. Ela nem conseguia falar, por isso, apenas afirmou com a cabeça.

Jake pediu para que Mely desse espaço para ele se deitar, ela o fez. Mely se aninhou nos braços de Jake e fechou os olhos com força, tentando ao máximo se esquecer do pesadelo. O ato não passou despercebido por Jake, por isso, ele começou a acariciar os cabelos da garota.

– Se quiser, pode me contar sobre o seu pesadelo. Minha mãe fazia isso comigo, quando eu era pequeno.

Mely respirou fundo, agarrou os dedos na camisa de Jake, como garras, e apertou o tecido, buscando apoio. Depois de um tempo, ela começou:

– Você já sabe da minha história, não é? O governo me capturou e então, me levaram para um laboratório. – Sua voz ainda era de choro, e ela começou a lacrimejar, mas não parou de falar. – E lá, começaram a fazer testes comigo. Em um deles, tentaram me afogar. – Então, as lágrimas deixarem seus olhos. A garota começou a encharcar a camisa de Jake com seu choro, mas nenhum dos dois comentou sobre isso. – Quando eu consegui fugir de lá, eu comecei a ter pesadelos constantes com agentes arrombando a porta e me sequestrando novamente. Esses sonhos me perseguiram até eu chegar à Mansão. Quando cheguei aqui, eles foram embora. Eu me senti segura, como nunca tinha me sentido antes. Até hoje... foi como se tudo tivesse voltado e ainda estivesse lá...

O relato teve que ser parado, porque Mely começou a chorar. Não como antes, silenciosamente, mas com soluços e tremedeiras. Jake apertou o abraço e depositou um beijo na cabeça da garota.

Ele estava chocado, como Mely, aquela garota que sempre fazia de tudo para ver os outros felizes, estava sempre sorrindo, alegre e contando piadas pode estar assim? Não era justo, pensou Jake, quando todos estão tristes e choram, eles recebem a melhor ajuda do Mundo vindo de Mely, mas quando ela está triste, ela recebe... eu!

– Eu estou aqui, Mely. Nada vai te acontecer, ok? Não vou deixar ninguém te levar para longe de mim, nem te machucar.

Mely fez que não com a cabeça:

– Você não entende! A questão é que eu percebi que um dos meus maiores traumas também é a água. Quando eles me afogaram... eu quase morri. Podia sentir a água nos meus pulmões.

Então, pela primeira vez naquela noite, Mely desenterrou a cabeça do peito de Jake, para olhar nos olhos do rapaz:

– Um dos meus traumas é você.

Jake apenas negou com a cabeça e sussurrou:

– Não, Mely. Eu sou sua força, assim como você é minha. Você não consegue sentir nos nossos treinos? Juntos, somos invencíveis, separados, não, mas juntos? Podemos combater quem quisermos. Fogo e água, lado a lado.

Mely sorriu e voltou a enterrar a cabeça no peito do garoto. Ficaram assim, quietos. Cada instante que passava, as lágrimas iam diminuindo. Até que pararam. Então, Mely resolveu quebrar o silêncio confortável e acolhedor:

– Jake?

– Sim?

– Você também tem um trauma com o fogo, não é? Por causa da sua mãe. Então por que está me tratando tão bem? Quando você percebeu que somos melhores juntos que separados? – Ela perguntou, sua voz contra o tecido da blusa do garoto, quase num sussurro.

– Quando eu te vi pela primeira vez... Você representava tudo o que eu odiava e temia – Mely sorriu de leve ao ouvi-lo começar a falar. – Era toda alegre, mesmo não tendo motivo para isso. Eu sempre fui realista ao máximo, mas você... mesmo com todos os problemas tentava ver o lado positivo da coisa. Sério, você me irritava tanto! Parece uma personagem da Disney, que vai começar a saltitar e cantar por aí no meio do nada! – Os dois deram pequenas risadas com o comentário. – Mas aí – ele continuou – eu conheci você, de verdade. E tudo mudou. Aquela menina alegre estava assim por mim e isso era completamente diferente de estar alegre por qualquer coisa.

Mais uma vez, eles riram e voltaram a ficar em silêncio.

– Acho que agora você já está mais calma, não é Mely? – Perguntou Jake, depois de uns dez minutos em silêncio.

A menina já dormia, encostada em Jake. Ele sorriu ao ver a cena e tentou se levantar sem acordá-la. Ele a apoiou nos travesseiros e se levantou. Jake olhou para Mely e um sorriso brotou mais uma vez em seus lábios. Ele se abaixou e depositou um beijo na bochecha dela. Sendo assim, ele saiu do quarto da garota. Já estava tarde, ele precisava ir dormir.

~~~

Anna de repente acorda. Ela se levanta, arfante. Olha em volta e demora para reconhecer onde está. A Sala de Treinamento continha duas macas, numa estava ela e na outra, Metamorfo. Não tinha mais ninguém ali.

Ela se levanta cambaleante. Não sentia nada de diferente, nenhuma dor e nem nada. Annie imaginou que estaria horrenda por causa de tantas horas desmaiada, por isso, se caminhou para um pequeno espelho que estava em cima da mesa. Ela pegou o objeto e olhou.

Quando Annie se olhou no reflexo, ela sentiu algo estranho. Ela gostava de si mesma, se amava. Mas não era algo como amor-próprio, era mais que isso. Ela largou o espelho, muito assustada e se virou para Metamorfo. A garota sentiu algo ainda mais estranho. Olhar para o menino, era mais como se olhar do que ver o reflexo do espelho.

De repente, a lembrança de um outro garoto, que já estava muito longe dali, trocando os corações de Metamorfo e Annie veio na cabeça da garota.

A mão dela voou para o lado esquerdo de seu peito.

– Isso – ela disse, pensando alto e se referindo ao coração que batia em seu peito – é do Metamorfo. E ele gosta de mim. O Metamorfo me ama.


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Notas finais do capítulo

E aí gente? Eu sei que ficou pequeno, mas, como já disse, era só para avisar que estou de volta. O que acharam dessa declaração da Annie no final? Será que ela está se achando muito?
E as cenas entre o Jake e a Mely? Ele amadureceu muito, não é? Falando em amadurecer, o Ed também cresceu muito, não acham?!



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