Acordei com a alguém tacando um travesseiro na minha linda cara. Não é preciso nem comentar que esse gênio tá frito.

–QUEM FOI A CRIATURA SEM MÃE?-viu como acordo de bom humor?

Pulei na minha cama com uma cara que faria o tio Voldy mijar de medo e meus olhos sonolentos vislumbraram a cara sorridente do Hugo, maldito seja. Ele tá morto.

–O QUE VOCÊ QUER? SE FOR MORTE PODE DEIXAR QUE EU DOU UM JEITO!-a criatura ruiva e inútil que eu chamo de irmão apenas soltou uma risadinha enquanto eu observava, com o canto do olho, minhas primas acordando assustadas com os meus gritos.

–Mas o que é que... –Lily soltou um gritinho e se cobriu com o cobertor para Hugo não ver o pijama de hipogrifo dela. Ele olhou para ela malicioso, e a ruivinha corou enquanto Molly, Lucy e Nicky reviravam os olhos coletivamente. Roxy estava ocupada demais interpretando uma pedra dormindo, então não ia notar Hugo nem se ele colocasse um berrador no ouvido dela. Já eu estava ocupada demais tentando matar Hugo só com o olhar que nem percebi que meus olhos primos safados entravam em nosso quarto sem fazer barulho.

–Credo, Rose, não quer tentar gritar mais alto não?-Alvo fez uma careta. James, Fred e Louis vinham atrás, olhando para as respectivas namoradas com cara de retarda mental.

–Claro. –dei um sorrisinho cínico. –VÓ! OS MENINOS ESTÃO NO NOSSO QUARTOOOOOOOOOOOO!

Os meninos aqui presentes arregalaram os olhos e trataram de vazar, enquanto eu ouvia berros no andar de baixo, provavelmente de todos os meus tios.

–QUE PARTE DE SOLTAR O VAMPIRO DO SÓTÃO EM VOCÊS SE ENTRASSEM NESSE QUARTO VOCÊS NÃO ENTENDERAM?-vó Molly começou a perseguir os meninos, que debandaram pra algum lugar.

Dei um sorrisinho vitorioso enquanto as quatro prendiam o riso.

–Não acredito que ainda assim a Roxy não acordou!-Lucy falou e nós cinco rodeamos a cama da preguiça, que roncava como se não houvesse amanhã.

–Já sei!-Nicky falou perversamente. Ela piscou para nós e chegou bem perto do rosto da Roxy. –EU BEIJEI O ALVO ONTEM!

Roxy levantou mais rápido que o The Flash e começou a falar incoerentemente:

–Onde? Quando? –ela olhou para Nicky como se fosse pular nela a qualquer hora.

–Nunca falha. –a loira piscou para todas nós novamente.

–Unh, sei. –Molly grunhiu. –Rose, um dia eu ainda arranco suas cordas vocais fora e ainda faço você cantar fino! –ela mandou um olhar fulminante para mim.

–Entra na fila. –Roxy resmungou e caiu na cama novamente.

–Meninas?-a voz melodiosa de Victoire fez todas nós nos virarmos imediatamente para a porta.

Vicky, a deusa loira de olhos azuis que era minha prima e irmã mais velha de Nicky, entrou no nosso quarto com um sorrisinho divertido no rosto perfeito. A barriga dela ainda não aparentava gravidez, e ela com certeza não tinha cara de “mamãe do ano”.

–VICKY!-um furacão ruivo e sardento mais conhecido como Lílian Luna Potter pulou na loira e ela soltou uma risadinha enquanto abraçava Lily, que era vários centímetros mais baixa que ela.

Não demorou muito e todas nós já estávamos em cima da Vicky que, sem brincadeira, parecia feliz em ser quase asfixiada com tantos abraços nossos.

–Ouvi alguém berrando por aqui e decidi vim onde é que é o incêndio. –ela deu uma piscadela na minha direção e fiz cara de inocente.

–A Rose não parece muito preocupada com nossos ouvidos, fazer o quê, né?-Lucy sorriu.

–Nem vem que a culpa é toda daqueles mamíferos descerebrados, mais conhecidos como meninos. –eu falei em minha defesa. –Eles pareciam bem felizes em ver os amores das vidas deles de pijama de hipogrifos, pôneis, unicórnios, o que for!

–Ela só tá assim porque o Scorpius não era um desses “mamíferos descerebrados, mais conhecidos como meninos”. –Nicky tentou (eu disse “tentou”) imitar minha voz.

–Ainda não é. –eu ignorei o fato dela não conseguir copiar minha voz melódica e harmoniosa (ela é assim mesmo, algum problema?) e dei um sorriso enorme. –Mas ele chega hoje à tarde.

–E parte uns minutos depois... –Molly disse e todo mundo olhou confuso para ela. -... Para o Além!

Essa era uma óbvia alusão ao fato de Molly achar que Scorpius não sobreviveria nem cinco minutos perto do meu pai. Bem, não como meu namorado, já que ele já veio outras vezes aqui na Toca, mas nunca corria um real risco de vida por parte do meu pai, só agora que o negócio tava sério.

–Deixem disso. –Vicky revirou os olhos. –Se o Teddy consegue sobreviver perto do meu pai, por que Scorpius não poderia?-sorri agradecida para ela, mas Roxy balançou a cabeça.

–Talvez porque o tio Rony tem um pavio muito cuuuuurto?

–É, só que agora o tio Gui tá valendo dois do tio Rony, lembra? Ele tá ocupado demais bolando um plano para matar o Teddy e o James, e o tio Rony só o Scorpius, lembra? –Lily postou-se ao meu lado e ao de Victoire.

–Ah, o tio Rony que vale por dois tios Gui. –Lucy deu de ombros.

–Duvido. –eu disse. –Quer apostar?-minha prima Lucy fez cara de quem tinha ganhado cem galeões e apertou minha mão estendida. É, ela adora apostas. Acho que mais até que adora o Louis. Só que não.

***

A mesa do café da manhã já estava posta, apinhada de comidas feitas pelas mulheres mais velhas da Casa (vó Molly e o resto das tias). A mesa era enorme, tão comprida que tinha lugar para trinta pessoas, que era o nosso número, aliás. Perto disso.

Todos estavam sentados, apenas à nossa espera. Os meninos engoliam os doces caseiros da vovó e os adultos conversavam entre si, tomando xícaras de café quente.

Todos se viraram para me olhar quando eu berrei um “BOM DIA POVO” animado, que fez todo mundo pular de susto e o tio George derrubar o café que tomava na mão do tio Percy, que, bem, já não precisava de muitas desculpas para explodir, o coitado.

–GEORGEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE!-e depois ainda falam que eu quem exagero nos gritos primais!

–PERCY! Será que não dá pra gritar mais alto, não?-vó Molly fulminou o cara de óculos de tartaruga e cabelos ruivos crespos com os olhos e ele resmungou.

–Bom dia, Rosinha!-meu pai sorriu para mim do lado da mamãe, que também sorria para mim.

Meus tios Potter também me encararam com um sorriso, e tia Angelina piscou para mim enquanto o tio George tentava, a todo custo, abrir uma lata de pêssegos com a mão. Tio Gui estava ocupado demais enviando Avadas mentalmente para o James, que dava um beijo carinhoso em Dominique e a puxava para sentar ao lado dele, o Teddy levantava a caneca dele em saudação a mim, puxando Vicky para o colo dele (ainda bem que o tio Gui não viu isso), a tia Fleur deu um sorriso caloroso para mim, ao mesmo tempo em que tia Audrey acenava com a cabeça para mim e o vovô e a vovó abriam sorrisos reluzentes.

Ô família mais doida e perfeita essa que eu tenho! Não posso reclamar de nada, eu sei.

–Então, Rosie... –tio George finalmente abriu a lata e se voltou para mim, enquanto eu sentava no meio de Nicky e Roxy. -... Que horas o futuro defunto, quer dizer, genro do Roniquinho chega? –ô , será que o tio George não consegue ser mais discreto não? Afe, até parece o Fred!

Todo mundo direcionou os olhos para a discrição em pessoa que era o ruivo sentado ao lado da tia Angelina e eu pude sentir meu pai enrijecendo e apertando a faca do pão com a mão. Merlin, ainda bem que o Scorp ainda não chegou!

–Puxa, tio George, será que não dava pra ter perguntado alguma coisa menos mortífera, não?-Nicky tirou calmamente a faca da mão do meu pai e ele nem se mexeu direito.

–Bom, adiar o Julgamento Final não vai dar certo. –Roxy tentou, desesperadamente, pegar uma azeitona com o garfo, mas ela preferiu voar para a cara do Alvo, o que, convenhamos, deixou o tio George bem mais feliz.

–Juízo Final, Roxy!-Molly Sabichona revirou os olhos e o tio Percy lançou um olhar do tipo ai-que-orgulho-da-minha-princesinha-linda pra ela.

–Tanto faz, isso não muda o fato de que existirá um Malfoy a menos na face da terra. –Roxy deu de ombros.

–E ninguém vai reclamar por isso. –meu pai grunhiu.

–Com certeza. –James disse e eu o fuzilei com os olhos. –Quer dizer, há casos piores.

–Tipo o seu!-tio Gui rosnou para ele e o Jaysito se encolheu na cadeira dele.

–Sinto muito, Gui, mas filho meu você não mata. –tio Harry disse, em tom sério, mas seus olhos verdes exprimiam divertimento.

–Então deixa isso comigo. –tio George cortou o bacon, lentamente e olhando para o Alvito, como se preferisse que o bacon fosse o Alvo, e o Potter menor engoliu em seco.

–Homens!–tia Fleur disse, com aquele sotaque francês “engrraçado” e Audrey, que também é francesa, com concordou com um aceno de cabeça. As duas são tipo “melhores amigas concunhadas” e tudo e tal. Vicky, como é filha da “Fleuma” (apelido super carinhoso que tia Gina deu pra ela) sabe falar francês fluentemente, e Nicky e Louis sabem um pouco. Nenhum deles foi para Beauxbatons porque o tio Gui não quis nem eles mesmos quiseram, Hogwarts com certeza parece mais legal. E Molly e Lucy, embora sejam filhas de uma francesa, não falam nada da língua materna, elas nunca tiveram muito interesse nisso, e tia Audrey não pressiona nem nada, então é tudo de boa pra elas.

–Sabe, eu não posso deixar de comentar que estamos nos desviando do assunto. –tio George direcionou um sorriso zombeteiro pra minha direção.

–É claro que não pode!-Gina revirou os olhos, e o tio Harry apertou a mão dela, ainda sorrindo.

–Unh, três horas. –eu disse, de má vontade.

–Três horas o quê?-Hugo disse, com a lerdeza habitual dele, e eu bati minha cara na mesa.

–O defun... Malfoy chega. –Fred deu de ombros, sob o olhar atento do tio Percy. Hoje o Louis e o Fred estão na mira do “Percivaldo”.

–Eu me recuso a acreditar que todos vocês acreditam que ele é um futuro defunto!-eu levantei as mãos para o alto.

–Não é isso, querida prima. –James deu um sorriso consolador e eu senti gratidão por ele. –É que apostamos quanto tempo vai demorar para o tio Rony perder a cabeça. –meu sorriso desmoronou na hora. Quer saber, James? Eu apoio o tio Gui, seu traíra!

–Bom, vai demorar mais do que o tio Gui perder a cabeça. –eu disse e o sorrisinho sarcástico do “Jamie” morreu na hora.

–Concordo com a Rose. –Roxy falou e Molly, Lucy e até alguns dos adultos assentiram com a cabeça.

–Esse papinho de morte tá me deixando meio incomodada aqui, alguém se importa? –todo mundo olhou com cara de besta para a Lily e ele simplesmente abaixou a cabeça. –Provavelmente não.

–Olha o drama aí! –Nicky disse e Lily tacou um pão nela, mas James pegou, em um reflexo rápido.

–Não esquenta que você também vai perder seu namo, e aí vai poder fazer o drama que quiser!-Molly riu e Lily fechou ainda mais a cara.

–Será que tem algum menino aqui que NÃO corra risco de vida? –Louis passou os olhos por todos da mesa.

–Não preciso nem responder. –Hugo disse tristemente, alvo do olhar perscrutador do tio Harry.

–Pois é. –gemi em aflição. Tadinho do meu loiro.

***

Estávamos na sala jogando Snap Explosivo e eu estava perdendo a noção do tempo. Os mais velhos estavam colocando a mesa para o café da tarde e eu podia ouvir as reclamações da tia Fleur sobre como o jardim estava desorganizado e que tinha que estar “inpecávell” para o casamento de Vicky e Teddy, que seria daqui a duas semanas, e que vai rolar aqui mesmo, nos jardins da Toca, onde a Fleur casou com o Gui. Esse é um desejo de Victoire, não da mãe dela, que ficou contente pela filha querer se casar no mesmo lugar onde ela casou. Já Teddy não liga muito para isso não, o que importa é que ele irá finalmente ter a Vicky como esposa, o que acho que ele sempre quis.

–GANHEI!-Roxy saltitou enquanto todo mundo gemia em aborrecimento.

–Beauxbatons não precisa saber disso, tá?-Lucy grunhiu.

–Nhé, você está assim só porque não ganhou. –a fabulosa mostrou a língua para a Lucy.

–Ou porque quero preservar meus ouvidos. –ela respondeu.

Roxy foi impedida de responder pelo som da campainha. Todos nós nos entreolhamos e eu senti um arrepio passando pelo corpo todo.

Scorpius tinha chegado, afinal.