Sociedade Renegada escrita por Nynna Days


Capítulo 8
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Sinceramente, estou desanimando com o baixo número de comentários, mas não vou parar de postar.

Por enquanto. Então, leitores fantasmas apareçam. Beijos.



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"Espero não estar atrapalhando."

Pisquei algumas vezes diante das palavras de Ethan, mas continuei com os olhos fixos na panela a minha frente. Eu tinha entrado como um jato na cozinha, sendo seguida por ele. Mesmo que, eu não o tivesse convidado.

"Não.", eu disse, fazendo uma careta para os milhos grudados. "Eu só iria ver um filme. Aproveitar a primeira vez que fiquei sozinha em algum lugar."

Mas não por muito tempo, devo admitir.

Ele ficou em silêncio, despertando a minha curiosidade. Levantei os meus olhos cinza até onde ele estava, e o vi me observando.

O ar pareceu mais pesado, tornando o simples ato de respirar uma coisa quase impossível. Pigarreei, voltando a minha atenção para a panela.

"E você, Ethan?", tive que limpar a garganta mais uma vez. Era incrível que nem conseguia dizer o nome dele em voz alta, sem o risco de a minha voz falhar. "O que está fazendo aqui?"

Minha voz saiu tão baixa que quase tive certeza que ele não havia escutado. O seu silêncio me deu certeza disso. Peguei as alças da panela, com cuidado para não me queimar e a coloquei no balcão. Soltei o ar e quando me abaixei para pegar uma vasilha, Ethan me estendeu uma.

"Vim aqui...", ele hesitou. Mantive os meus olhos presos nos dele, vendo como o verde florescente se misturava com o azul claro, formando um caleidoscópio de cores. "Queria ver se você está bem. Depois dessa semana."

Mordi o lábio inferior, temendo que tudo o que estava sentindo por dentro (coração acelerado, dificuldade em respirar, hiperventilação...), viessem à tona.

Percebi que nossas mãos ainda estavam juntas, ambas segurando a vasilha. Pisquei algumas vezes e o encarei. Ele levantou os olhos de nossas mãos.

"Eu - eu estou bem", sussurrei, me afastando com o rosto totalmente corado.

Concentrei-me em colocar a pipoca na vasilha. Engoli em seco e respirei fundo antes de voltar a encará-lo. "Quero dizer, estou bem o máximo que eu poderia ficar depois de tudo."

Recostei-me na bancada e desviei os nossos olhares. Como tudo poderia estar acontecendo? No fundo, eu tinha um leve temor que alguém aparecesse e visse aquilo. Não. Não era disso que eu tinha medo. Eu tinha medo de que alguém aparecesse e atrapalhasse aquilo.

Porque, querendo admitir ou não, eu gostava da paz e da apreensão que Ethan causava em mim. O silêncio em sua mente fazia-me sentir o mais próxima da normalidade que me era possível. Ele bufou e passou os dedos pelos cabelos.

Minhas mãos coçaram, revelando o meu desejo interno de poder fazer aquilo por ele.

"Eu não queria te deixar sozinha com Nara solta.", Ethan finalmente admitiu. Seus olhos capturaram os meus e ele deu um passo à frente, hesitante.

"Sei que tivemos nossos maus momentos, mas eu não quero que você morra Jordan."

"Não mais.", eu o corrigi.

"Não mais.", ele repetiu assentindo consigo mesmo. Passou as duas mãos no cabelo, parecendo mais frustrado do que antes. Pressionei minhas costas na bancada e meus pulmões trabalharam com o dobro de força.

"Eu sei que tivemos nossos desentendimentos, mas Jordan...", ele hesitou e me encarou com os olhos totalmente azuis. "Eu quero que comecemos direito."

"Direito?", perguntei confusa.

"Direito.", ele deu um meio sorriso e mais um passo.

Engoli em seco, impressionada com o fato que o encanto que ele possuía sobre mim, nunca perdia o efeito. "Como amigos."

Meus olhos devem ter expressado o quanto eu estava decepcionada, porque ele se aproximou o suficiente para que ficássemos frente a frente, e então abaixou o rosto para que ficasse do mesmo tamanho que eu.

Senti-me um esquilo assustado.

Minhas mãos apertavam o granito com força o suficiente para que ele saísse. Seu sorriso aumentou e ele pôs uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.

"Podemos começar como amigos, então confidentes.", ele passou a língua pelos lábios e me observou engolindo em seco. "Depois..."

"Depois?"

Ethan riu e fechei os olhos, totalmente envolvida. Senti sua bochecha se pressionando a minha; e seu hálito batendo em minha orelha entorpecida.

Todos os meus pelos se arrepiaram e eu segurei um suspiro. A voz de Ethan soou rouca em meu ouvido.

"Depois você poderia me fazer o favor de terminar com seu namorado Dark.", ele disse sério. Todo meu interior se agitou. "E então podemos continuar de onde paramos há dois meses."

Eu tinha que me parabenizar.

Realmente possuía muita força de coragem. Minhas pernas, que quase sempre me traiam, se mantiveram firmes, mas meu rosto estava tão quente, que eu quase comecei a suar. Ethan estava me fazendo uma proposta quase irresistível.

E ele sabia disso. Eu estava quase vendendo a minha alma para saber o que se passava em sua mente.

Na verdade, eu queria lhe dar um chute nas partes baixas por mexer tanto comigo e fazer aquele joguinho de Bem-Me-Quer e Mal-Me-Quer. Mas, a pior parte era que eu gostava daquele jogo.

Cocei meu cabelo e o vi se afastando com o mesmo sorriso de antes.

"Agora vamos ver assistir ao filme que você escolheu", ele disse pegando a bacia de pipoca e piscando, antes de ir para sala.

*****************************

"Droga, eu sempre choro no final."

Ethan me encarou enquanto eu limpava as lágrimas com a manga da minha jaqueta de moletom. O pote com a pipoca já esquecido em cima da mesinha de centro.

Levantei-me, tirando o DVD e fungando um pouco enquanto o guardava.

"Não sabia que você chorava com tanta facilidade.", Ethan disse. O encarei e ele tinha o cenho franzido. "Quero dizer, quando te conheci você era toda não ligo para o que dizem de mim."

"E eu continuo assim.", coloquei o DVD de volta na pilha e o encarei. Pus minhas mãos na cintura. "Tanto que quis investir em você mesmo sabendo que odeia metade de mim."

Fiquei surpresa comigo mesma quando aquelas palavras escaparam de meus lábios.

As bochechas de Ethan assumiram um tom de rosado, denunciando que eu não era a única que tinha ficado sem graça com aquelas palavras.

Pigarreei e continuei arrumando a pilha de DVD, procurando mais alguma coisa para assistir.

"Qual o seu filme favorito?"

Interrompi a minha busca mais uma vez e encarei Ethan.

"O que?"

Ele estava sorrindo.

"Seu filme favorito", ele repetiu lentamente, ignorando que isso o deixava bem desejável. Aquele loiro era realmente perigoso. "Já que vamos ser amigos e passar por todas essas etapas, eu tenho que saber alguma coisa sobre você. Já sei que sua cor favorita é lilás."

Levantei uma sobrancelha.

"Como você sabe?"

"Seu quarto na Sociedade Carmim.", ele esclareceu. Isso me fez ficar cada vez mais curiosa. Afinal, não sabia que Ethan já havia entrado em meu quarto. Ele abaixou os olhos. "Eu passei lá antes de vir para cá."

"No meu quarto?", questionei.

Seu sorriso aumentou.

"Pulei a varanda.", uma gargalhada soou pela sala. Ele levantou os olhos verdes e piscou. "Parece que velhos hábitos não mudam."

Eu não consegui me mexer por alguns segundos.

Meus olhos cinza permaneceram arregalados. Pensamentos tomaram conta de mim. Ethan pulando a minha varanda e invadindo o meu quarto era o que dominava os meus mais proibidos sonhos. Quantas noites eu passei em claro, debruçada ali, olhando para baixo e o esperando?

E na única vez em que ele foi eu não estava.

"O Conde de Monte Cristo.", respondi desviando os meus olhos do dele. "Eu adoro como Edmund Dantes volta e se vinga de todo mundo que o prendeu e arruinou a sua vida. E a inteligência e a destreza com que ele o fez.", permaneci de costas para ele, sentindo sua presença. "E o seu?"

Esperava que ele dissesse algum filme de homem, com bastante sangue e ação. Tipo, o Exterminador do Futuro. Ou Rambo. Ou Dragão Branco.

Qualquer coisa que tivesse um homem suado lutando por alguma coisa que quase ninguém conseguia saber o que era até o final.

"Truque de Mestre.", ele disse. Surpreendendo-me novamente, me virei, o encarando.

Ele riu com os meus olhos arregalados. "Que foi? Não posso gostar de mágica?", deu de ombros. "Fui ao cinema umas cinco vezes assistir.", ele abaixou a voz e suspirou. "Foi a única coisa que me manteve são enquanto você estava na Sociedade Carmim no mês passado."

Passei a língua pelos lábios, sentindo a tensão tocando cada parte do meu corpo. Se fosse há um mês, eu já teria me atirado em seus braços sem hesitar, mas só a possibilidade de fazer isso, já trazia os olhos azuis de Drake a minha mente. Balancei a cabeça e cocei minha nuca, voltando a minha atenção aos DVDs.

"E a sua cor favorita?", desconversei.

Estava tão distraída, que nem o escutei se levantando. Quando percebi estava pressionada na parede atrás de mim com o seu rosto a poucos centímetros de distância e os seus olhos queimando em azul.

Seu coração acelerou em um ritmo incalculável.

Num impulso pus minha mão em seu peito. Mas isso só serviu pra sentir que seu coração batia em uma velocidade semelhante a nossa.

Meus olhos caíram nos lábios dele, carnudos e a rosados e tão perto dos meus. Engoli em seco, passando a língua pela minha boca e Ethan acompanhou meu movimento com os olhos azuis atentos. Seu cheiro cítrico me invadiu, fazendo todos os meus sentidos ficarem despertados.

Ah, Deus.

Um som estridente me despertou. Nossos olhares caíram na mesa de centro, onde meu celular tocava no máximo. Respirei fundo, sabendo muito bem quem estava ligando. E pelos olhos estreitos de Ethan e a maneira que ele começou a respirar ruidosamente, ele também sabia.

Desvencilhei-me de seu toque e me arrastei até onde o celular estava. O nome de Drake brilhou na tela, quase queimando os meus olhos. Respirei fundo e forcei um sorriso nos lábios, antes de atender.

"Oi, amor.", ele disse alegre.

"Hey, Drake", fiquei de costas para Ethan e me sentei no sofá. "Tudo bem?"

Prestei atenção no barulho de motor no fundo.

"Sim, só para saber se está acordada.", ele riu. Levantei-me alerta e me virei para Ethan, o encarando com os olhos arregalados. Ele ficou alerta também. "Devo estar chegando aí em uns dez minutos. Se arrume, nós vamos sair."

"Ah, você está chega em dez minutos?", eu disse em voz alta.

Ethan arregalou os olhos e começou a caminho na minha direção.

"Vou sim.", Drake continuou. Agora sério. "Tem algum problema?"

"Não, amor.", bufei alto. "Só que acabei de ver um filme melodramático e estou toda sensível. Não sei se você vai querer me ver agora..."

"Eu gosto de você de qualquer jeito.", ele me interrompeu.

A culpa me bateu.

"Ok.", olhei para Ethan. "Estou me arrumando. Beijos."

"Beijos."

Desliguei o telefone e fiquei encarando Ethan. Algo em meu estômago se remexeu de um jeito estranho, como se eu fosse colocar tudo o que eu comi para fora.

Ethan assentiu devagar como se estivesse lendo a minha mente. Na verdade, não precisava ser nenhum gênio para saber que ele tinha que sair da minha casa antes que Drake aparecesse. Caso contrário...

Bem, caso contrário, eu seria uma mestiça morta.

"Eu volto amanhã.", ele disse e me segurou pela nuca. Seus lábios se pressionaram na minha testa e eu fechei os olhos, saboreando o momento. Suspirei, quase que sem perceber. "Quanto a você, me espere... Amiga"


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Notas finais do capítulo

comentem, amores.

Não me abandonem.



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