Pais doidos.

Eu realmente tinha pais doidos. Quando fui para a Sociedade Dark, no dia seguinte, conseguia sentir dor em lugares que eu nem pensava que seria possível, mas não disse nenhuma palavra a Drake ou a Annice, mas, era óbvio que Rose iria contar ao meu pai sobre o que estava acontecendo.

Ou ele veria em minha mente.

Então, quando eu cheguei ao castelo Dark e encontrei meu pai sentado no sofá, rindo e assistindo uma série de comédia, franzi o cenho. Ele deveria ter captado meus pensamentos, certo? Como se para confirmar os meus pensamentos, Christian levantou os olhos cinza para mim e deu um meio sorriso.

“Hey, querida.”, ele se levantou e me abraçou. Segurou-me pelos ombros, me olhando de cima a baixo. “Nossa, quando Rose me contou que Nara pegaria pesado nos treinamentos, ela não estava brincando.”

Fechei os olhos por um momento, tentando filtrar todos os xingamentos que passaram em minha mente. Escutei Drake rosnando e Annice arfando.

Passei a língua pelos lábios e suspirei abrindo meus olhos lentamente e me preparando para o que viria em seguida.

Senti minha camisa grudando em minhas costas, conforme eu hiperventilava e esperava a reação do meu namorado.

“Como assim Nara pegaria pesado nos treinamentos'?”, ele andou até onde eu e meu pai estávamos; e parou ao lado de Christian, que me soltou. “Nara está de volta?”, ele estreitou os olhos azuis, raivoso. “Era por isso que você saiu tão apressada com Christina e Dimitri?”

Eu não estava preparada para enfrentar a fúria de Drake. Na verdade, não queria brigar com ele. Então, preferi me focar em outro assunto. Encarei meu pai, com os olhos cinza que herdei dele. Ele esperou que eu colocasse todos os meus pensamentos em pausa e ordem, para poder confrontá-lo.

“Você sabia sobre Nara.”, eu disse. Não era uma pergunta, era uma afirmação. Mas mesmo assim, meu pai concordou. “E você concorda que a garota que tentou me matar, fique a menos de três metros de mim, todos os dias?”

Christian suspirou e passou os dedos pelos cabelos loiros.

“Jordana me entenda.”, ele franziu os lábios. Eu comecei a me acalmar. Para ele me chamar por meu nome real, isso era sério. “Eu acho sim, que é uma idéia precipitada de Rose, mas você deveria saber que quando sua mãe coloca algo na cabeça, é quase impossível tirar. Além disso, ela tem total controle de Nara. E eu acho que essa garota se arrependeu do que fez. Ou pelo menos, está tentando se arrepender.”

“Você concorda com isso, Christian?”, Drake perguntou focando os olhos faiscantes em meu pai. Então passou a mão pelos cabelos negros, exasperado. “Vocês estão loucos.”, ele começou a andar pela sala, puxando os cabelos. Parou e apontou para mim.

Congelei.

“Nara tentou matar Jordan, mesmo sabendo de quem ela era filha. Isso não significa nada para você?”

Todos ficamos quietos, esperando que Drake terminasse com seu discurso. Eu concordava com ele em cada vírgula. E tinha certeza que se Dimitri estivesse ali, eles iriam dar os braços, mas meu pai parecia não estar escutando meu guardião, ele estava balançando a cabeça antes que meu namorado terminasse de falar.

Por um momento, Christian aparentou sua verdadeira idade.

“Jordana precisa ter um treinamento digno.”, meu pai continuou e sentou-se no sofá, parecendo cansado. “Se você se esqueceu, Drake, Annice também teve treinamento quando soube que iria assumir o trono.”, ele levantou a mão, impedindo que Drake dissesse algo. “Todos aqui sabemos que Jordan tem a tendência de correr diretamente para o perigo. E sozinha. Então, que jeito melhor de treiná-la, do que com uma pessoa que já foi perigosa para ela?”

Mas, Drake não se deu por vencido.

“Como você disse, Annice também teve treinamento.”, ele voltou a andar e parou ao lado de minha prima, segurando seus ombros de modo possessivo. “Ela pode ensinar Jordan a lutar e você pode convencer a Rainha a esquecer essa loucura...”

“Drake, já está decidido.”, meu pai se levantou. Só então notei que tinha algo se formando em sua mente. E no fundo, eu sabia que não ia gostar. “Mas, você me deu uma idéia, Drake.”, ele olhou para minha prima e sorriu. “Annie, querida, você poderia ajudar Jordan com o treinamento. Afinal, duas são melhores do que uma; certo?”

Meu namorado encarou meu pai como se ele fosse um louco.

Eu não sabia mais o que pensar daquela situação, então apenas assenti. Drake bufou, frustrado e saiu, subindo as escadas em direção ao quarto.

Annice, que tinha ficado em silêncio até agora, veio até mim e pegou as minhas mãos.

“Claro que eu te ajudo, prima.”, ela deu um meio sorriso.

“Então está decidido.”, meu pai bateu palmas, voltando ao seu humor alegre. Então voltou a se aproximar de mim. “Querida, sei que está cansada.”, e acabada, ele adicionou mentalmente.

Fiz uma careta com seu comentário. “Suba e descanse um pouco.”

“Tudo bem.”, assenti e dei um sorriso fraco.

Christian tinha razão. Eu estava muito cansada e meus músculos doíam muito.

Subi a escada devagar, me deixando relaxar. Meus ombros tombaram e eu só pensava em deitar e acordar no dia seguinte.

Claro que eu deveria saber que não teria esse descanso tão cedo.

Captei os pensamentos de Drake, assim que coloquei minha mão na maçaneta.

Suspirei antes de abrir a porta e vê-lo sentado na minha cama com uma expressão cautelosa.

Um pouco de culpa me invadiu.

Afinal, há um dia, eu estava olhando para o corpo seminu de Ethan e tentando não atacá-lo. Fechei os olhos, afastando aquelas imagens de minha mente e me focando no presente.

“Drake, eu...”

“Quando você iria me contar sobre Nara?”, ele me questionou, se levantando e vindo na minha direção. Dei um passo para trás, batendo minhas costas na porta.

Ele parou a centímetros de mim, colocando os braços do meu lado, mas sem me tocar. “O que ela veio fazer aqui, afinal? Droga, Jordan”, ele socou a porta e eu fechei os olhos de susto. “Você deveria ter me contado.”

“Eu iria te contar.”, eu sussurrei, então abri os olhos encarando as safiras de Drake. Na verdade, os olhos dele estavam tingidos em um tom de preto. “Estava esperando o momento certo.”

“Ah”, ele deu um passo para trás e cruzou os braços. “Então, contar para mim, que sou seu namorado e seu guardião não era prioridade?”

“Eu não disse isso.”, balancei a cabeça. “Sabia que você ficaria alterado.”, tentei tocar seu braço, mas ele deu um passo, se afastando. “Drake, dá pra me entender, por favor?”, passei a mão por meu rosto, cansada.

Isso fez com que a expressão dele se amenizasse. Então, percebendo finalmente como eu estava, ele me abraçou, enterrando seu nariz em meu cabelo e respirando.

Eu envolvi sua cintura e suspirei. Em minha mente, o alívio dele não ter perguntado onde afinal, eu tinha ido ontem. Isso iria gerar muito mais brigas.

E eu não estava com cabeça para aquilo.

“Você está péssima.”, ele disse baixo. Eu sorri. “Sabe que segunda irão começar as provas, certo? Temos que estudar Jodi.”

Eu gemi e Drake riu.

“Vai dormir.”, ele beijou a minha testa e deu um meio sorriso, fazendo com que seus olhos azuis brilhassem. “Mais tarde eu passo aqui e estudamos ok?”

Assenti, ficando na ponta dos pés e oferecendo os meus lábios. Drake riu novamente, antes de passar os braços pela minha cintura e me beijar.

Eu precisava esquecer a loucura desses últimos dias. E Drake parecia a única coisa fixa naquele momento.

Ele me puxou com mais vontade contra seu corpo e sua língua pediu passagem e eu concedi com muito orgulho. Meus dedos exploravam as costas de Drake com curiosidade aguçada e eu suspirava em seus braços.

Ficando sem fôlego, dei um passo para trás, sentindo meu coração bater com força contra as minhas costelas. Drake passou os dedos por meus cabelos, tirando alguns fios de meu rosto. Seus olhos tinham escurecido novamente.

“Volto mais tarde.”, ele sussurrou e deu outro beijo em minha testa antes de sair.

Eu me joguei na cama, com um grande sorriso. Minhas costas latejaram, me fazendo encolher de dor. Isso me fez lembrar que mesmo que tivesse momentos bons, ainda tinha que confrontar a realidade.

E a realidade naquele instante era muito dolorosa.

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Aquela semana foi corrida demais para que eu pudesse pensar em alguma coisa que não fosse essencial. Por exemplo, a volta de Nara a escola. A expressão de Drake, Dimitri e Ethan resumiam tudo o que eu sentia por dentro.

Desconfiança.

Mas já que falar com meus pais não adiantava de nada, só podia aceitar.

Outra coisa que tínhamos que engolir era a entrada de Pierre na escola.

Não que ele fosse chato ou difícil de lidar, mas ele ficava me chamando de Princesa Jordana na frente de todos e isso era desconfortável.

Tirando isso, era engraçado ver Nara reagindo aos comentários maliciosos das garotas sobre Pierre. Afinal, ele era bonito e novato, mas Nara parecia estar pronta para cravar as unhas na primeira que se aproximasse do francês.

Eu e Ethan continuamos nos cumprimentando superficialmente no corredor.

Curtas palavras e poucos comentários.

Claro que tínhamos muito que conversar e todos sabiam disso, mas eu não me sentia preparada para tocar em um assunto mais profundo do que o almoço do dia, não depois do que aconteceu na casa dele.

A guarda de Drake e Dimitri redobraram. Chegou a triplicar. Eles não me deixavam sozinha nem um segundo.

Escutei, na quarta-feira, eles comentando sobre pedir a um dos meus pais para que arrumassem uma guarda costa feminina para mim. Fiz uma careta, mas preferi não dizer nada.

E final de semana finalmente chegou. Poderia dizer que tinha tirado notas razoáveis. Elas tinham sido boas o suficiente para que eu entrasse de férias na segunda e pudesse ir para a casa de Megan.

Não tinha percebido o quanto sentia falta das minhas visões até aquele momento, mas, antes de ir para a casa de minha madrinha tive o prazer de sofrer com mais alguns treinamentos.

Então quando segunda-feira finalmente chegou, eu me sentia a pessoa mais contente do mundo.

Dimitri me ajudou a colocar minhas malas para dentro da casa de Megan, e eu sorria feito uma criança pequena.

Não tinha percebido quanta saudade eu sentia, até que minha madrinha me abraçou.

“Oh, querida, que bom que veio”, ela me segurou pelo ombro e olhou para Dimitri. “Olá, Dimitri.”, ela sorriu. Dimitri assentiu e subiu para colocar minha bolsa no quarto. “Vamos subir também. Quero que me conte tudo o que aconteceu esses dias.”

Era incrível que, com quase 28 anos, Meg ainda se comportava como uma adolescente as vezes.

Eu sorri com esse pensamento.

Então, captei um pensamento a mais na casa. Quando eu iria questionar Megan sobre isso, vi Dean saindo do banheiro enrolado em uma toalha e secando os cabelos com outra.

“Ai, Deus.”, eu disse tapando os meus olhos. Dean deu um pulo para dentro do banheiro e, eu e Megan, começamos a rir. “Já estamos no quarto, Dean.” eu gritei e bati a porta.

Dimitri foi embora alguns minutos depois, me garantindo que semana que vem vinha me buscar, e eu tive que prometer a ele que não iria a nenhum lugar sozinha.

Então, resumindo, eu era uma prisioneira. Mas, assim que escutei o carro dele se afastando, me joguei na minha antiga cama de solteiro com a tranquilidade que eu não sentia há meses.

“Dean está morando aqui?”, eu disparei.

Megan soltou um riso nervoso enquanto corava e passava a mão por seu cabelo loiro. Abaixou seus olhos azuis e balançou a cabeça. Fiquei tentada a olhar sua mente, mas me segurei. Ela daria sua resposta quando estivesse pronta. Assim como, eu contaria sobre Nara quando estivesse pronta.

“Nós resolvemos nos dar uma chance.”, ela deu de ombros. “E você estava longe e eu estava sozinha e apaixonada.”, seu rosto ficou ainda mais vermelho. “Pode parecer besteira, mas eu preciso arriscar.”, ela me encarou. “É incrível como você, dez anos mais nova, viveu e amou muito mais do que eu. Espero que você não me julgue.”

Peguei a mão dela e dei um sorriso fraco.

“Meg, eu te amo e mais do que tudo, quero que seja feliz.”, suspirei. “Temos que errar para acertar. Então fico feliz que você esteja se arriscando, sinceramente.”, levantei uma sobrancelha. “Só peça para ele não entre no meu quarto de toalha.”

Megan riu.

“É o costume.”, ela balançou a cabeça.

Então fomos interrompidas por uma batida tímida na porta. Logo em seguida, Dean entrou vestido e sorriu para nós duas.

“Tenho que resolver uma coisa no trabalho. Mas não irei demorar.”, ele olhou para Megan e seu sorriso aumentou. “Prometo que na volta trago pizza.”, ele piscou um dos olhos castanhos e saiu.

Encarei minha madrinha.

“Agora sim, eu estou gostando desse cara.”