“Quer escutar alguma música?”, Ethan propôs.

Eu assenti, querendo eliminar aquele silêncio tenso que estava seguindo viagem conosco. Eu imaginava que, á essa hora, eu estaria em algum parque com Megan e Dean. Tentando não reclamar por eles estarem tão grudados. Talvez eu até ligasse para Drake me fizesse companhia. Mas ali estava eu, no carro com Ethan Ramirez, indo conhecer os seus pais.

Me sentia um pouco culpada no fundo. Afinal, Drake nunca havia me levado para conhecer o seu pai. Sabia que sua mãe tinha morrido quando ele tinha 13 anos e que seu pai não merecia o título de Pai Do Ano, mas mesmo assim. Eu queria uma base. Queria saber de quem eram os olhos azuis do meu namorado. De quem era os cabelos escuros. De quem era o humor bipolar e amável e o instinto protetor.

A música Wanted You More do Lady Antebellum soou em meus ouvidos, me fazendo desviar dos pensamentos. Meus olhos foram automaticamente até os de Ethan, que também me observava enquanto a letra daquela música entrava em nossas mente e nos fazia repensar. Ele voltou a encarar a estrada.

“Isso está me enlouquecendo.”, eu disse por fim. Ele manteve os olhos na estrada, mas levantou uma sobrancelha. “Me diga o que você está pensando, Ethan.”

Ele sorriu. Não pensei que teria essa reação por ter sido confrontado pelos meus poderes. Era tão mais fácil fingir que eu era normal e apenas ficar em silêncio o resto do caminho. Mas eu não era assim. E estava frustrada por essa limitação do meu dom.

“Desculpe.”, ele disse depois de soltar uma breve risada. “Tem que admitir que seja estranha a ideia de uma leitora de mentes perguntando o que eu estou pensando. Ainda mais que estou pensando em você.”, ele deu de ombros. “E você?”

Pressionei os lábios juntos, tentando não ficar afetada com as suas palavras. Mas o traidor do meu coração se acelerou. Tentei colocar meus pensamentos no lugar, mas aquela maldita música estava me atrapalhando. Irritada, desliguei. Isso fez com que Ethan risse novamente. Podia sentir minhas bochechas queimando.

“Drake nunca me levou para conhecer o pai dele.”, dei de ombros, como se aquilo não importasse. “É um pouco estranho seu ex fazer isso quando estou com outra pessoa. Não que eu já soubesse disso antes. Já que minha vida amorosa se baseava nos filmes melosos que Megan assistia. E na própria Megan.”

Pensei que Ethan iria se ativer ao fato de não tido uma vida amorosa e faria alguma piada. Qualquer garoto faria isso. Mas quando vi seus dedos apertado o volante com tanta força que os nós de seus dedos ficaram embranquecidos, vi que minha mudança rápida de assunto não havia funcionado como eu esperava.

“Nunca conheceu o pai de Williams?”, ele perguntou e me encarou com os olhos azulados. “Que tipo de namorado é esse?”

“Não culpe Drake.”, defendi-o. Por mais que ainda gostasse de Ethan, Drake ainda era o meu namorado. “Não faço muita questão. É só que, ás vezes, queria poder compará-lo com alguém. Já que não tive ninguém para se comparar comigo por muito tempo.”

Ele assentiu, absorvendo cada uma das minhas palavras com cuidado. Até que sorriu.

“Você vai ter bastante tempo para fazer isso enquanto estiver com minha mãe.”, ele garantiu e eu senti um pequeno sorriso se formando em meus lábios. “Se bem que eu tenho quase nada da minha mãe.”

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Ethan estava redondamente enganado.

Assim que pisei em sua casa novamente, percebi que estava mais habitada do que antes. Christina pintava as unhas dos pés, sentada no chão. No sofá ao seu lado, estava um homem lendo jornal. Ele parecia ter a idade do meu pai, mais ou menos. Os cabelos acobreados levemente bagunçados e os olhos escuros astutos que me encaravam. Ele encarou Ethan, que assentiu, e sorriu para mim.

Finalmente estou conhecendo o motivo para Ethan ter quebrado três abajures.

Engasguei uma risada e vi o rosto de Ethan ficando corado. Mesmo não lendo a mente do seu padrasto, ele já o conhecia o suficiente para saber o que ele estava pensando. Christina sorriu e piscou os grandes olhos verdes para mim. Era um pouco estanha vê-la sem o glamour habitual. Os cabelos ondulados estavam presos em um rabo de cavalo improvisado, que deixava alguns fios soltos. Usava uma camisa branca enorme – que eu tinha quase certeza que era de Ethan – e um short vermelho.

“Hey, Jodie.”, ela me cumprimentou e parou para assoprar a unha. “Se quiser, posso fazer a sua depois.”

“Não precisa.”, balancei a mão. Então me foquei no padrasto de Ethan e me aproximei, estendendo a mão na sua direção. “Jordan Leight.”

“Harry Ramirez.”

Minha boca se escancarou por alguns segundos ao perceber que Harry havia dado seu último nome para Ethan e Christina. Apertamos as mãos e eu dei um passo para trás, sentindo o braço de Ethan em volta dos meus ombros. Nos pensamentos de Harry, ele me estudava com Ethan, percebendo coisas que nem eu tinha.

Aos seus olhos, eu era uma simples garota. Com as bochechas coradas em contraste á minha pele pálida. Os olhos cinza brilhantes, que encaravam Ethan como um cego olhava a luz e vice-versa. Meus cabelos negros e ondulados eram o que me fazia aparentemente mais baixinha e indefesa. Ah, Harry, se você soubesse. Mas ele não sabia que convivia com dois controladores de mentes e uma vidente.

“Ethan, quem você...”

Todos nós nos viramos para encarar a Senhora Ramirez saindo da cozinha. Ela parou de secar as mãos e seus olhos verdes se arregalaram. Caramba, Ethan e Christina era a cópia perfeita de sua mãe. Os mesmos olhos verdes florescentes e os mesmos cabelos dourados. É, Ethan realmente estava redondamente enganado.

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“Desculpe-me por meu comportamento, Jordan.”, Lilian, mãe de Ethan disse. “É que você é tão parecida com sua mãe quando tinha a sua idade.”

Estávamos todos sentados na sala. Christina tinha terminado de pintar as unhas e estava sentada ao meu lado no sofá. Ethan estava do meu outro lado. E Lilian em uma poltrona á nossa frente. Ela tinha as minhas mãos por entre as suas e me olhava com surpresa e satisfação. Devo admitir que fiquei bastante surpreendida ao saber que ela e minha mãe haviam sido amigas. Mais que amigas. Lilian havia sido guardiã de minha mãe.

“Rose era impulsiva e ninguém conseguia segurá-la.”, Lilian contava. Harry tinha saído á cinco minutos para trabalhar. “Mas seu pai conseguiu.”, ela sorriu. “Devo dizer que não gostava muito de Christian no começo. Quero dizer, ele era um Dark.”, ela levantou uma sobrancelha, então deu de ombros. “Mas quando vi o quanto eles estavam apaixonados, percebi que não importava o que ele fosse. Ele faria princesa feliz. Eu saí da Sociedade quando estava com seis meses de gestação, então não soube que Rose tinha engravidado. Mas, Meu Deus, você é a cópia de Rose. Só tem os olhos de Christian.”

Fiquei impressionada. Nunca poderia imaginar que Rosemary Carmim, a mesma mulher que ficava sentada na Sociedade Carmim lendo o jornal ao mesmo tempo em que via o meu futuro, fosse uma jovem impulsiva que fazia as coisas sem pensar no amanhã. Quando percebi, estava sorrindo feito louca. Meus pais nunca contaram da época que estavam juntos, o que me irritava um pouco.

“Deve ser um tédio ter que escutar uma velha falando o dia inteiro.”, Lilian disse com o meu silêncio. “Vou deixa-los sozinhos para poderem conversar coisas mais interessantes.”

“Não, por favor.”, segurei sua mão com força, a impedindo de levantar. “Eu adoraria escutar mais.”

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“Por que eu sinto que não vou gostar do que você vai falar?”, Dimitri me perguntou.

Revirei os olhos com o seu comentário e suspirei olhando para o relógio. Sabia que tinha apenas alguns minutos antes de Megan chegar. E, com certeza, ela não iria gostar nada do que eu diria. Drake e Dimitri me olhavam com expectativa enquanto eu tentava procurar as palavras certas para expressar os meus pensamentos.

Mas elas não vieram. E tudo o que eu pude fazer era ser direta. Pus minhas mãos na cintura, tentando parecer o mais determinada possível.

“Eu estou cansada de me esconder.”, declarei. Dimitri cruzou os braços e Drake levantou uma sobrancelha. “Eu vou atrás dos Renegados e resolver isso de vez. E vou com ou sem vocês.”