“Sair no meio da noite para o centro da cidade? Onde estavam com a cabeça?”

Eu e Ethan abaixamos a cabeça, mantendo o silêncio enquanto Megan andava de um lado para o outro no tapete da sala. Estávamos sentados no sofá, escutando o sermão da minha madrinha á quase meia hora. Segurei o bocejo e senti meus olhos se umedecendo. Espiei Ethan e o vi segurando o riso. Talvez estivesse pensando a mesma coisa que eu.

Ah, se ela soubesse que não foi a primeira vez.

Mas permaneci em silêncio. No fundo sabia que Megan não estava tão irritada quanto queria aparentar. Na verdade, seus pensamentos estavam focados na minha roupa. Vi seus olhos brilhando de orgulho. Ela queria beijar a mão de Ethan por ele ter me feito usar aquele vestido depois de tanto tempo que ela ficou implorando.

Eu sabia que não demoraria tanto para esses dois terem uma recaída.

“Hey”, reclamei. Megan me encarou e deu de ombros. Balancei a cabeça. “Não é isso que você está pensando, Meg. Somos apenas amigos.”

Ela deu um meio sorriso de cruzou os braços.

Seus olhos estão dizendo outra coisa, mocinha.

Revirei-os.

“Estão dizendo que essa ideia é estúpida.”, sorri.

Se avaliar do meu ponto de vista...

“Hey, vocês duas poderiam parar de falar como se eu não estivesse aqui?”, Ethan disse e sorriu. Megan e eu coramos, ficando caladas. “Obrigado.”, ele levantou os seus olhos queimando em jade para minha madrinha. “Jordan tem razão, Megan. Somos apenas amigos.”

Ainda sinto um tom de “por enquanto” no ar.

“Megan!”, me levantei e encarei Ethan. “Vamos. Vou te levar até a porta.”

Ele assentiu, se levantando e me seguiu. Megan segurou o riso e eu senti a mão do Carmim na base das minhas costas. O calor subiu desde aquele ponto, até que meu rosto ficou totalmente vermelho. Invejava a elegância e a leveza com que Ethan andava. Parecia seguro de cada passo que dava ao meu lado, enquanto eu lutava para não tropeçar em meus pés naqueles malditos saltos.

Paramos do outro lado da rua e uma sensação de dejá vú me tomou. Pelo olhar mórbido que Ethan possuía, ele também lembrava. Aquele era o lugar exato em que estávamos quando dissemos que nos amamos pela primeira vez depois do ataque de Nara. Fechei os olhos, me lembrando de como ele tinha voltado correndo e me abraçado forte. Suspirei e me peguei encarando seus firmes olhos verdes.

“Parece que faz anos.”, ele murmurou se virando para a minha varanda. “Parecíamos tão seguros do que sentíamos.”, balançou a cabeça, passando os dedos pelos cabelos. Mordi o lábio, um pouco afetada pelas lembranças. “Algumas poucas palavras e ...”, estalou os dedos. “Acabou.”

“Nós sabemos que não foram algumas palavras que nos separaram, Ethan.”, eu disse sem pensar. Ele me encarou com os olhos tingidos em azul. Dei um passo a frente, sentindo larva descendo por minha pele. “Eu estava preparada para o seu não. Mas você fez pior.”, bati com o meu dedo em seu peito. Ele não desviou o olhar, o que fez meu coração traidor disparar. “Você me julgou e cuspiu no chão, Ethan. Não é uma coisa que eu possa esquecer-se de um dia para o outro, sinto muito.”

A raiva tomava conta de cada membro existente em meu corpo. Parecia que eu estava pegando fogo, mas gostava. Senti como se pudesse respirar, depois de dizer tudo o que estava entalado por meses. Minha respiração era profunda e meus olhos estavam estreitos, esperando uma reação dele. Meu coração batia com tanta força que estava com medo que quebrasse algum osso.

A apreensão de Drake passar de carro e me ver com Ethan, foi esquecida. Caramba, eu esquecia tudo quando estava com esse loiro. Ainda mais quando eu estava com a guarda baixa depois de tanto desabafar e ele me puxou para o círculo seguro que eram os seus braços. Eu lutei um pouco, tanto internamente, quanto contra o seu corpo. Mas acabei cedendo á aquele sentimento. Fechei os olhos, sentindo seu cheiro pinicando meu nariz e me fazendo sorrir.

“Acho extremamente sexy quando você está irritada, mas não quando diz coisas que me magoam.”, ele sussurrou pousando seu queixo no topo da minha cabeça. Seu coração batia contra o meu peito, rivalizando com o meu. “Mesmo que eu tenha te magoado primeiro.”, ele continuou. Suas mãos acariciavam minhas costas, fazendo meu corpo voltar á se esquentar. “Jordan, eu sei de tudo o que está sentindo. Mas você tem que entender que eu me senti traído.”

Fechei os meus olhos e dei um passo para trás. Ethan hesitou, mas me soltou. Contrariado, mas soltou. Não quis me afastar muito, mas aquela proximidade estava mexendo com o meu bom senso novamente. Já haviam sido três tentativas de beijo em um único dia. Quatro, se contar com o que havia acontecido mais cedo.

Estávamos tão envolvidos com tão poucas reações. Era só piscar que eu me imaginava em seus braços. Era a fantasia mais perigosa e mais realista que eu já tive. Os ombros largos em comparação á cintura fina. O peito estufado, como se não tivesse medo do efeito das palavras nele. Os cabelos ondulados e um pouco desalinhados por conta do suor de algumas horas atrás. O nariz reto. A boca fina, mas convidativa. E os olhos... Aqueles olhos que me faziam permanecer noites em claro.

Ele era o meu querubim e minha redenção. Deveria ser um pecado querer tanto uma pessoa do jeito que eu queria. Mas apenas parecia a coisa certa e natural de se fazer. Meu corpo, minha mente, minha alma, meu coração. Era tudo coordenado pela sua existência. Pela reação de sua vida ao entrar na minha. Mas, eu não conseguia me ver do lado de alguém que havia me magoado tanto e tinha destruído a minha confiança, reduzindo-a á pó.

“É melhor eu ir embora, certo?”, Ethan perguntou sentindo a indecisão tocando a minha pele. Assenti. “Meu carro está no final da rua, não se preocupe.”, ele disse com ironia.

Dei um meio sorriso, com a tensão se dissipando lentamente. Ethan se aproximou com passos estudados e me deu um leve beijo na testa. Fechei os olhos, aproveitando o breve contato dos seus lábios em minha pele, mesmo que não fosse ao lugar exato que eu queria. O fogo quase extinguido se reacendeu e deslizou até o meu rosto, onde se tornou aparente.

“Até, Jordan Leight”, ele se despediu e seguiu rua abaixo.

Suspirei, vendo-o se afastar.

“Até, Ethan Quebrador de Coração Ramirez”

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“Que bom que ligou, Jodie.”

Assenti comigo mesma, sentando-me em minha cama e passando o dedo na ponte do meu nariz enquanto empurrava os óculos para o lugar. Parecia que o efeito da cura de Dara finalmente passou. Escutar a voz de Drake me trouxe á realidade de tudo o que estava acontecendo e a culpa tomou conta do meu peito.

“Eu sei.”, respondi fechando os olhos por um segundo. “Sou uma péssima namorada que se esquece de ligar para o namorado depois de tê-lo, praticamente, expulsado de sua casa.”

Drake riu.

“Tem razão.”, ele concordou com a voz mais baixa. “Você é uma péssima namorada. Mas, está fazendo isso pelo motivo certo. Não deveria ter reagido daquele jeito. Desculpe.”, ele suspirou. A culpa se tornou mais abrangente. “E as suas visões? Já voltaram depois de se desintoxicar de mim?”

Soltei um riso.

“Ainda não, Drake.”, me levantei, caminhando até o meu armário e passando os olhos pelas poucas roupas que ainda estavam penduradas. “Só se passaram um dia.”, revirei os olhos.

Sua voz ficou baixa.

“Eu sei.”, ele disse e eu o imaginei passando as mãos pelos cabelos escuros bagunçados. “É que pareceu que se passou mais tempo. Estava tão acostumado em te ver todos os dias.”

Achei tão fofo que sorri.

“Drake Williams. Quem te viu quem te vê.”, eu brinquei. Escutei-o rindo. Então finalmente resolvi tocar no assunto que estava me incomodando o dia todo. “Agora, preciso falar sério, Drake. Quero que você esteja na minha casa amanhã de tarde para tratarmos de um assunto que vem me incomodando á algum tempo.”

Ele ficou sério.

“Assunto guardião/princesa?”

“Exato.”

“Estarei aí.”

“Obrigada.”, suspirei aliviada por ele entender e me virei para ir almoçar com Megan. Meus olhos se arregalaram quando viram Ethan encostado no batente da minha porta. Comecei a gaguejar. “Amor, nos falamos mais tarde, ok?”

Antes que ele pudesse sequer responder, eu desliguei.

“O que você está fazendo aqui, Ethan?”

Ele deu um sorriso preguiçoso e se desencostou dali, tirando as mãos dos bolsos. Tive que me segurar para não deixar minha boca aberta por muito tempo. Ele caminhou até mim como uma cobra em direção á presa e empurrou levemente meus óculos para o lugar. Não precisava nem dizer que era a visão mais sexy que eu já havia tido em toda á minha vida.

“Percebeu que todas as vezes que eu apareço em seu quarto, você faz a mesma pergunta?”, levantou uma sobrancelha. Meus pensamentos estavam divididos em dúvidas e agradecendo aos céus que eu não estava de pijama. “Não se preocupe. Megan me deixou entrar pela porta da frente.”

Traidora.

“E você não respondeu a minha pergunta?”, cruzei os braços.

Ele manteve o meio sorriso, fazendo com que seus olhos brilhassem em verde.

“Já disse o quão linda você fica com óculos e com raiva?”, ele perguntou. Pressionei os lábios juntos e ele riu. “Vim te levar para um passeio.”, levantei uma sobrancelha, questionadora. “Acho que está na hora de você conhecer a minha família.”