Reckless escrita por Moony, Bela Barbosa


Capítulo 19
Capítulo 20 - Rosa de Papel




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Algumas semanas se passaram, sem nenhum vestígio de Daniel, exceto por seus misteriosos e insuficientes origamis. Eles apareciam do nada, quando eu menos esperava, dando-me a sensação de ser completamente maluca. Por vezes, eu jurava ter olhado naquele mesmo lugar segundos antes e não ter visto absolutamente nada, mas, repentinamente, uma pequena rosa feita de dobraduras aparecia ali como se sempre houvesse estado naquele lugar. Toda aquela confusão me gerava a ideia de estar sendo constantemente vigiada por Daniel, como se ele acompanhasse cada movimento meu, mas não de um jeito invasivo, e sim protetor. Mas ele mesmo nunca havia aparecido desde o nosso encontro, se é que posso chamar assim.

Não sei se ainda conta como encontro quando uma das duas partes sai carregada por um carro da polícia.

Tudo o que eu sabia é que todos os meus esforços para lhe encontrar eram em vão. Depois que Ben chegou em casa, ele não abriu a boca para me dizer nenhuma palavra sequer. Mesmo eu lhe fazendo dezenas de perguntas diariamente, sua reação era sempre a mesma: me ignorar e fingir que a minha existência era desprezível. Por isso, acabei indo até a delegacia poucos dias depois e, para minha surpresa, o último dia que eles haviam visto Daniel havia sido o mesmo que eu. Isso embasava a minha teoria de que os origamis eram ele mesmo que deixava por aí, para me dar a sensação de proximidade com ele. O que eu não conseguia entender era por que ele não aparecia para mim em carne e osso para me dizer que estava tudo bem.

Logicamente, só me restava mais um lugar para procura-lo: sua própria casa. E, como eu não sabia como chegar lá, usei minhas incríveis habilidades investigativas para pesquisar o nome da boate que eu tinha me enfiado noites antes para, assim, encontrar o lugar em que Daniel morava. E consegui. Mas ao chegar lá, dei de cara com uma Sophie nervosa e ocupada cuidando de Tom. O irmãozinho de Daniel, assim que ouviu minha voz, começou a repetir meu nome freneticamente me convidando para entrar. Mas a única adulta do ambiente barrou minha entrada. Sophie dizia que o próprio Daniel tinha pedido para que ela não me deixasse entrar, e eu podia até duvidar disso, mas ela falava de forma tão sincera que nem passou pela minha cabeça a ideia de que estivesse mentindo. Além disso, os olhos de Sophie pareciam tão aflitos quanto eu estava. Como se ela não quisesse me mandar embora, mas fosse obrigada a fazê-lo, mesmo contra sua vontade. Naquele momento, percebi por que Daniel confiava tanto nela. Sophie não era, definitivamente, uma má pessoa. Eu podia até tê-la julgado mal assim que a vi, mas agora sentia até certa simpatia pela morena. Só realmente lamentava o fato de ter sido impedida, pelo próprio Daniel, de entrar na sua casa.

Tudo isso só me levava a crer que a distância entre nós havia sido provocada por ele mesmo, mas eu não via razões para isso. Novamente, eu era o ser humano mais incompetente da face da Terra em compreender o Daniel e suas ações. Em alguns momentos, só Deus sabe, eu sentia muito a sua falta. Queria passear pela cidade, conhecer algo diferente, ou simplesmente sentar no chão com ele e Tom para brincarmos. Mesmo sem ter um plano, só estar perto dele parecia uma boa ideia; um dia nunca era monótono ao lado de Daniel. Por outro lado, eu queria esganar seu largo pescoço branco usando as duas mãos por ele não ligar, aparecer ou mandar uma mensagem sequer.

Quando eu via as dobraduras em forma de rosa, meu coração acelerava só de saber que ele estava por ali, e o mais importante: que estava vivo, e bem. Mas, ao mesmo tempo, queria amassar todo aquele papel e pisar em cima só de raiva dele por nunca mais ter aparecido na minha vida.

Felizmente, no fim desse túnel de confusão e desencontros, eu havia me aproximado muito de Ben, Claire e Jason. Depois, é claro, de Claire e Ben terem se acertado. Eles sentiam uma atração muito forte um pelo outro, mas não falavam em relacionamento e muito menos sério. Ainda assim, formavam um casal muito bonito. Eu gostava de ver o jeito que eles se olhavam, dava para notar que não era apenas um sentimento passageiro. Só eles que ainda não haviam se dado conta disso. Ainda.

Claire era excessivamente sincera, explosiva, mas também incrivelmente sensível. Sabia, melhor do que eu, Ben e Jason, juntos, como sentir se alguém estava bem ou não e lhe ouvir ou dar conselhos, caso necessário. Já o Ben era o rei das piadas ruins, quase tão explosivo quanto a Claire, a única diferença é que ele jamais reconhecia que estava errado e era o ser humano mais cabeça dura do universo. Diferente do Jason, que era o mais calmo de nós quatro e também o mais razoável. Ele sempre sabia como ponderar a situação perfeitamente, e isso tornava sua companhia maravilhosa. Falava sobre quase todos os assuntos com um domínio de dar inveja. Às vezes, ele se juntava ao Ben na realeza das piadinhas toscas. Ao contrário dos três, eu que fazia as piadas mais bem elaboradas, mas que nem sempre acabavam em tantas risadas. Isso porque meu humor era mais irônico mesmo. Não que eu não amasse as coisas idiotas que meus amigos diziam, era apenas mais seletiva. Também era a mais positiva e otimista do grupo todo, e geralmente colocava todos para cima nos piores dias. Resumindo: formávamos um quarteto e tanto.

— Droga, minha pipoca acabou! – Claire reclamou, cruzando os braços com um belo bico em seu rosto.

— Quem mandou comer igual um cavalo?! – Ben brincou.

Imediatamente, ela empurrou o ombro dele em resposta.

— Não teria acabado tão rápido se você não tivesse devorado a minha e a sua de uma vez só! – Reclamou a loira.

Eu e Jason nos entreolhamos, e, juntos, rolamos os olhos. Eles eram adoráveis, especialmente quando brigavam.

— Tudo bem, sem brigas. Eu posso ir até a cozinha fazer mais pipoca – Sugeriu Jay.

Eu concordei com a cabeça, mas Ben pareceu não aprovar a ideia.

— Não, você não! Manda a Lizzie, ela é mais nova, tem mais energia! – Insinuou meu primo.

— Ei! – Reclamei, exagerando na indignação – Por que tem que ser tudo eu, eu e eu?

— Porque a gente te ama muito e vai te amar ainda mais se for fazer pipoca pra gente – Ben explicou com a expressão descarregada de qualquer culpa.

Jay e Claire estavam rindo.

Em resposta, apenas revirei os olhos e me levantei do sofá, pegando com cada um deles suas respectivas vasilhas de pipoca, agora cheias apenas de vento.

Tomei o rumo da cozinha e abri um dos milhares de pacotes que Ben havia comprado para o final de semana – o último antes do recomeço das aulas. (Nota: Nos países da Europa, as aulas começam no início mês de setembro, só pra situar vocês) Coloquei uma pipoca sabor manteiga no micro-ondas e comecei a bater o pé insistentemente no chão, esperando que o milho estourasse e eu pudesse voltar logo para a sala.

A cozinha da tia Maisie era pequena, ao contrário do resto da casa, mas era muito aconchegante. Era em forma de retângulo, sendo que uma das paredes tinha uma janela de vidro e uma porta que dava para o quintal. Enquanto esperava a pipoca ficar pronta, estava exatamente de costas para a tal porta e a janela, quando de repente escutei um som de galho quebrado vir do lado de fora da casa, como se alguém tivesse pisado de maneira desajeitada por ali.

Por impulso, olhei para atrás para verificar se não havia ninguém ali. De fato, não havia. Mas, assim que me virei, enxerguei próximo à pia, logo abaixo da janela, um pequeno volume de papel vermelho dobrado em forma de uma flor. Uma rosa. Era Daniel.


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