A Escritora E O Personagem escrita por Moch Jelly Beans


Capítulo 5
Capítulo IV


Notas iniciais do capítulo

"Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu"
— Roda Viva, Chico Buarque



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A cena se repetiu por mais várias noites.

Judy saiu ás escondias assim que ouviu os passos de seus pais se dirigirem ao quarto deles. Colocou seu moletom cinza para combinar com a calça de pijama. Prendeu os cabelos pretos e medianos em um rabo de cavalo e calçou seus tênis. Pôs os óculos pretos de grande armação preta no rosto e piscou algumas vezes, se acostumando com a escuridão do quarto.

Olhou em volta e pôde distinguir algumas coisas devido á luz fraca que entrava pela janela. Tateou ao seu redor e acabou esbarrando em algo.

“Droga de cômoda!”, resmungou bem baixinho. Tentou fazer o mínimo de barulho possível para não acordar os dois adultos que dormiam ao final do corredor.

A passos leves e bem lentos caminhou até a porta e a destrancou.

A cada clique que a fechadura dava, era uma careta diferente da parte de Judy. Quando finalmente destrancou-a, seu rosto e corpo caíram em completo alívio e ela suspirou relaxada.

Saiu do apartamento e fechou a porta atrás de si com cautela.

Desceu as escadas do prédio rapidamente, com uma animação de começo de madrugada.

O porteiro que sempre ficava naquele horário já conhecia Judy e a “escapadinha” que ela sempre dava. Não aprovava, claro, mas nada podia fazer.

Judy podia sair e entrar quando quisesse, não cabia a ele determinar isso.

Judy foi á bares, casas de shows, lanchonetes.

Parou em um carro de lanche, em uma avenida movimentada, e decidiu comer alguma coisa. Sentou-se em um dos banquinhos e apoiou os ombros na mesinha. Retirou do bolso esquerdo um pequeno caderno de anotações e do direito uma caneta.

Passeou com os olhos pelas pessoas que também saboreavam seus lanches e achou alguém perfeito para descrever.

O resto de sua noite foi assim. Judy sempre á espreita, observando as pessoas com um olhar crítico, analítico, detalhista. Escreveu sobre várias pessoas diferentes.

Casais héteros, homossexuais, grupos de amigos ou encontros em casais. Ela viu de tudo naquela noite, assim como nas outras.

Estava começando a pegar gosto por isso. Queria poder continuar a sair durante o ano inteiro, por vários anos.

Era incrível como cada pessoa parecia ter uma história diferente.

Claro que Judy não chegava á perguntar diretamente á ela, apenas deduzia.

Quando já eram duas da madrugada, Judy decidiu voltar para sua casa e passar todo o seu rascunho para o computador.

Deu um educado “boa noite” para o porteiro e subiu as escadas assim como as desceu: correndo.

Entrou em casa tão animada que até esqueceu que tinha que fazer silêncio.

Acabou esbarrando na mesa ao lado do sofá, fazendo um alto e estridente barulho ecoar por todo o apartamento. Arregalou suas pupilas e arqueou as sobrancelhas.

Tirou o casaco euforicamente e o jogou debaixo do estofado do sofá.

Retirou a liga que prendia os cabelos e os bagunçou, jogando para os lados. Deixou os olhos entreabertos e fingiu estar cansada.

Andou como um zumbi até a cozinha e pegou um copo de água.

Ouviu passos e, ao se virar para trás, deparou-se com sua mãe a observando.

“Ei, não está conseguindo dormir?”, ela perguntou á Judy enquanto tentava sorrir, mas parecia estar tão cansada que saiu algo mais como uma careta sonolenta.

Judy não conseguiu segurar o riso e, como tinha água na boca, acabou cuspindo-a no chão. As duas caíram na gargalhada e Judy rapidamente pegou um pano para enxugar sua bagunça.

Sua mãe apenas ficou a observando, enquanto sorria.

“Não se esqueça de apagar a luz quando sair”, falou enquanto girava os calcanhares e dava meia volta para voltar á dormir.

Judy assentiu e, assim que a mãe saiu de seu campo de visão, ela soltou um longo suspiro. Recostou-se na pia e deu um sorriso de lado.

“Essa foi por pouco”, sussurrou para si mesma. Continuou a limpar sua bagunça e logo após foi dormir.

Judy estava tão feliz nesses dias que até desconfiava de que algo ruim fosse acontecer para estragar com toda a sua alegria.


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