Estava frio, mais frio que o tempo teria direito de ficar, o beco tão pequeno parecia ainda menor, estavam atrás de alguns prédios antigos, um parecia abandonado, o outro estava ainda em pior estado, Rafaela, Angelina, Ethan e Blair estavam encostados em uma parede, como se fossem prisioneiros, do lado onde não havia saída tinha uma lixeira, provavelmente havia um corpo dentro por que o fedor era sobre-humano, do outro lado havia o táxi meio enviesado, impedindo a passagem, na frente deles havia o taxista, que colocara as chaves do táxi dentro da cueca, um lugar realmente apropriado para se colocar, afinal quem nunca, seus olhos estavam vermelhos e ele não parara de sorrir, em suas mãos a tal faca, era na realidade um facão, como aquilo coube escondido em um corpo tão pequeno, Angelina não saberia dizer.

Suas mãos procuraram as de Rafa, a amiga se agarrará a elas, ambas tremendo, Ethan que estava do lado de Angelina tentava pensar em quais seriam as suas chances contra o magricela com a faca, pensou também que o que aconteceria a sua irmã, que por sinal chorava baixinho ao seu lado, e as amigas dela, se ele se ferisse e não estivesse ali para protegê-las.

–Vocês são realmente um grupo bonitinho, não? É uma pena, realmente, realmente uma pena ter que machucar carinhas tão angelicais, vejam bem, eu não queria, realmente lamento- o taxista dizia naquele seu tom estridente, não parecendo lamentar nada, apenas desencostando da parede em que estava e andando de um lado para o outro na frente do grupo amedrontado, gesticulando com a faca que passava perigosamente perto do rosto deles. Até que parou, em frente Angelina e fitara seu rosto por alguns instantes, a garota quase chorava de desespero e se agarrava com cada vez mais força a mão da amiga, que zonza de medo só tinha forças para continuar de pé.

– Um rosto muito bonito para ser machucado, realmente muito bonito. - disse o homem sorrindo e passando uma mão extremamente suja no rosto da garota, se aproximando, então ela não aguentara mais, gritara a plenos pulmões, não um pedido de ajuda, apenas gritos.

–Você me toma por um idiota qualquer? Acha que eu não escolhi esse lugar com uma razão? Ninguém pode ouvi-la, docinho.- ele não se abalara, apenas fora pro lado, se postando em frente a Rafa.

–Ora, você também não é de se jogar fora, não? Vocês três devo dizer... Acho que o garotão usuário de bomba aí também não, mas ele não faz bem o meu tipo, se é que me entendem- ele recomeçara a andar, e novamente parou em frente a Angelina.- Comecemos com você, tire tudo, vamos ver o que você tem...

Ele não chegara a completar a frase, Ethan aparentemente tinha um bom gancho de direita, o homem ficara atordoado por um momento, Blair e Lina correram em direção a lata de lixo, se escondendo atrás da mesma, já Rafaela correra para o outro lado, em direção ao carro, por que exatamente Ethan não saberia dizer, estava mais ocupado olhando para o homem que se levantava, ainda armado.

Ethan recuará o tanto que pode, queria atrair a atenção do homem para si, mas teve que parar quando chegara a parede, não havia mais para aonde ir.

Ele começou a olhar para os lados a procura de algum objeto para se defender, não achou, apenas um pedaço de madeira, grande o suficiente, mas esse estava ao lado da lata de lixo, talvez as meninas pudessem usá-lo para se defender, pensou tentando se reconfortar, e esse minuto de distração fora o suficiente.

Olhando para baixo viu uma mão muito suja puxando a faca de volta, a camisa de Ethan começara a grudar ao corpo e rasgara naquela região do abdômen, viu o sangue se espalhar rapidamente, e só então sentiu a dor. Colocou a mão ali tentando estancar o sangramento e avaliar o estrago feito, não era muito profundo, mas o sangue não parava, olhou para frente e o homem sorria, apreciando sua obra, se preparando para termina-la, a visão de Ethan escurecia.

Então se ouviu uma pancada surda, aparentemente Blair entendera a ideia do irmão em relação ao pedaço de madeira, e a pusera em prática, quando o taxista drogado caiu inconsciente, Ethan percebeu que a irmã era mais forte que aparentava.

–É uma pena, não deu tempo de dizer que eu não sou usuário de bomba, isso se chama ser gostoso, é uma habilidade natural a qual eu aperfeiçoei com o tempo, mas não com bomba.– Ethan dizia isso em uma voz meio rouca, aquilo doía muito, mas conseguiu forças para sorrir para as meninas, Angelina tinha os olhos arregalados e úmidos, olhando para o machucado do garoto, Blair chorava e pulou para abraçar o irmão mais velho, uma sorte era ele já estar encostado na parede, se não ambos iriam parar ao chão.

–Como você está se sentindo?- Rafaela chegara, e depois de pedir para que Blair lhe desse licença, se aproximou mais e sem tempo para pudores rasgou a blusa ensanguentada e já meio rasgada dele, enrolando-a e pressionando em cima do ferimento do garoto, uma tentativa de estancar o sangue, Ethan tremeu e sentiu arrepios pelo corpo todo, o beco ainda estava muito frio, Blair e Angelina se postaram uma do lado da outra, assistindo- Consegue andar? Precisamos ir ao hospital, vamos, só até o carro.

–E você pegaria as chaves ali, por mim? Que doce de sua parte, mi amor.

–Não se ache tanto, eu sei fazer ligação direta, uma das vantagens de ser amiga do Hugo é que ele ensina algumas coisinhas, se fosse para pegar a chave que tá junto do saco desse homem, eu preferiria deixar você apodrecendo aí mesmo.- enquanto Rafa falava e tirava um sorriso dele, Angelina saíra correndo para arrumar o banco traseiro para que ele conseguisse ficar mais confortável, Ethan passara o braço por cima do ombro de Blair que se adiantara pra ajudar, com a mão do braço desocupado segurou o tecido encharcado contra o abdômen, sua visão escurecia e a respiração ficava difícil, estava zonzo, devia ter perdido muito sangue.

–Seria muito difícil vocês não tocarem no nome dele por meia hora?- perguntou ele entrando de forma desajeitada no banco traseiro.

–Um pouco.- respondeu Angelina, a cabeça do menino em seu colo, ele meio enviesado no banco, arfando, com dificuldade conseguiu deitar, ela pegara delicadamente o pano que outrora fora a camiseta dele e agora tomava para si a missão de tentar estancar o sangramento que já começara a parar.

–O que faremos com ele?- Blair questionou, sentando no banco do passageiro, enquanto Rafa dava a partida, falando pela primeira vez desde que tudo acontecera, sua voz saiu em um sussurro, mas se falara significava que pelo menos não estava tão mal, pensou Rafa com alívio, e depois franziu a testa ao absorver as palavras da menina, como assim? Ela queria abandonar o irmão?- O taxista.- esclareceu Blair.

–Não sei- por um momento Rafaela se esquecera do homem, ele ainda estava desmaiado, mas não tardaria a acordar, o facão ainda em sua mão.-Ligue para a polícia, fale onde a gente está, mas agora o mais urgente é levar seu irmão ao hospital.

–Certo- respondeu a garota.- Mas a gente não pode ir a um hospital, e aliás, onde a gente está?