Evolution escrita por S A Malschitzky


Capítulo 3
Capítulo um; parte três




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Suspiro e encaro meu braço com a escritura 1309 em meu antebraço direito, junto com as marcas de furos de agulhas de seringas.

Não entendo porque 1309, embora possa ser a escritura 1309 que ele faz no braço de alguém, mas tento pensar em outra opção, pois esta não é muito legal.

Apenas imaginando que outra pessoa tenha passado o mesmo que eu alguns anos antes – 1309 pessoas -, me causa arrepios e náuseas.

Ainda mais quando penso que eles morreram para dar lugar a outras pessoas, tento ao máximo mudar de imagem em minha cabeça – fechando os olhos para não encarar o lugar escuro e me lembrar do braço, fazendo tudo voltar novamente, tornando minha tentativa de esquecer, nada mais que inútil.

Mas outra coisa me vem à mente.

E se alguém conseguiu fugir?

Encaro o teto, observando as marcas que parecem tinta.

Porque alguém pintaria um teto de uma jaula? E além disso, porque Elvis daria uma tinta a alguém aqui preso?

Coloco as palmas das mãos sobre a superfície gelada e escorregadia, tentando erguer meu corpo, mas meus braços doem.

Talvez seja porque eu esteja aqui na fase de desenvolvimento dos ossos, e como esta jaula não é nada espaçosa, alguma coisa aconteceu.

Consigo levantar, com os músculos ardendo, como se eu estivesse acabado de correr escada acima, embora eu tenha apenas me levantado do chão.

Praticamente toco o teto com a cabeça – em uma diferença de cinco ou sete centímetros -, por isto não é tão difícil toca-lo com as mãos.

Começo a raspar a tinta com as unhas, embora irritante, vendo que alguém conseguiu algo de metal para escrever.

A letra é de alguma criança, ou um adolescente mais novo que eu, escrita sem capricho – mesmo que nem eu teria capricho para escrever se precisasse.

À medida que consigo raspar uma parte da tinta, com os dedos doendo, vejo imagens desenhadas rapidamente, como caixas.

Logo percebo que as facas estão espalhadas por uma parede, ao lado de uma cama.

Olho para o lado e vejo as facas em posições diferentes, mas a cama está no lugar igual.

Mas quem e por qual motivo desenharia este lugar?

Continuo raspando e pousando as mãos na cintura.

Apenas o que vejo são rabiscos e marcas fundas no nióbio.

Até que depois de quase dez minutos, os desenhos começaram a fazer sentido e os rabiscos mal feitos no teto da jaula, se tornam minha salvação.

– O que está fazendo? – Olho para o lado, encarando Kevin com um sanduiche de queijo nas mãos. Minha boca fica repleta de saliva. Qual a última vez que comi alguma coisa a não ser sopa? – O que está fazendo em pé? Seus ossos estão fracos, Leah.

– Seu pai quer me poupar de andar nas ruas perigosas. Por isso não me fornece nada além de água ebuliente com gosto – Reviro os olhos e ele encara minha barriga quase exposta por causa das roupas pequenas. – O que está olhando?

– Você cresceu – Ele dá uma mordida no sanduíche.

– Seria pedir demais uma mordida? Para a sua querida irmãzinha?

Ele afasta o braço, embora eu esteja bem longe dele e presa dentro de uma jaula para conseguir arrancar o sanduíche de sua mão..

– Mas eu estou com fome.

– Você não vive em uma jaula! – grito cruzando os braços e ele suspira, partindo o sanduíche ao meio e me entregando a metade que ele julga menor. Reviro os olhos, soltando um grunhido e arranco o pão de suas mãos limpas. Mordo um pedaço e sinto o queijo derreter em minha boca. Ele está morno, mas pelo menos não é sopa. Ataco o resto do sanduíche e me controlo para não lamber as mãos realmente sujas.

– Então. Eu dei um sanduiche para você. Quero que me diga porque diabos estava em pé?

Olho para o chão e os livros de Kevin. Nenhum deles fala sobre alguma coisa interessante. Apenas contos de fadas, mas todas as vezes que tento imaginá-los, tenho pesadelos com cavalos brancos soltando agulhas pelos olhos em minha direção, fadas soltando pregos em meus olhos, Alice me perseguindo com dois revólveres atirando por todos os lados enquanto sua risada me causa arrepios e príncipes batendo minha cabeça sobre pedras afiadas, roseiras e esta jaula até que ela se desfaça em sangue.

– Cansei de ler – Encolho os ombros e me sento/caio no chão.

– Já leu todos? – pergunta ele segurando o primeiro da pilha.

– Não consigo terminá-los. Me fornecem pesadelos.

– São os únicos que tenho para você. A menos que se interesse por robôs.

– Prefiro os sobre robôs. – resmungo.

– Amanhã eu os trago para você – Ele termina seu sanduíche e suspira. - Você tem sorte, sabia? – Ele rumoreja.

– Sorte? – pergunto e solto uma risada. – Você é um garoto tão esperto, mas não sabe nada sobre a definição de sorte.

– Claro que tem sorte. Não precisa ir para a escola e suportar aulas e educação física.

– Você não sabe o que é sorte, Kevin – Estreito os olhos e balanço a cabeça, com as mãos atrás das costas apoiadas no chão agora ebuliente e sujo por causa de meus pés. – Realmente não sabe.

– Porque nunca tentou... me matar? – Ele engole em seco encarando-me.

– Nunca fez nada para mim. – Encolho os ombros.

– Mas sempre diz que me quer morto – Ele esfrega as mãos.

– Ainda quero. Você está cego. – Balanço a cabeça e suspiro. – Me avise quando voltar a enxergar.

– Me avise quando parar com os devaneios – Ele ri, andando na direção das escadas e subindo-as novamente.

Espero o barulho da porta se fechar para me erguer do chão novamente, com os ossos e todos os músculos doendo.

Me apoio nas barras geladas, continuando a raspar a tinta preta com as unhas.

Continuo respirando rapidamente, quase arfando, com o rosto molhado de lágrimas.

Há horas estou aqui, completamente sem roupas nesta sala fria, pesa pelos pulsos e tornozelos com uma faca rasgando minha pele desde trago - cartilagem acima do lóbulo da orelha – e seguindo por minhas costas até a lateral de meu corpo. Apesar de meus gritos, ele não para.

Encaro os olhos de Kevin que tenta desviar o olhar, mas a cada vez que ele tenta, Elvis grita com ele para que continue olhando.

O corte segue profundo por minha coxa e por minha panturrilha, furando meu pé direito e me fazendo soltar um grito maior do que já havia dado.

– Pare de gritar! – grita ele e sinto vontade de gritar ou cuspir em sua cara, mas a dor é maior do que qualquer coisa. – Isto não é mais do que sua culpa! Você nasceu assim, portanto, sofra as consequências. – Encaro as luvas e o avental brancos manchados com meu sangue, mas seu terno está intacto por baixo.

Ele crava a faca novamente em meu pé, puxando-a e empurrando-a para baixo, enquanto me forço para não gritar, aumentando as lágrimas.

Há uma sensação de confusão em minha mente.

Como se eu não soubesse o que fazer por estar presa.

Não posso gritar, até porque ninguém poderá me ouvir para ajudar e não consigo me mover para desviar da faca.

A faca percorre a linha imaginária da metade de meu pé, seguindo até meu dedão do pé, onde a unha começa e ele suspira, tirando o avental e as luvas, colocando os cabelos para trás e pigarreando, parecendo um empresário gentil novamente, embora luvas e um avental estejam manchados de sangue debaixo de seus pés.

Ele abre a porta, deixando a chave com Kevin e minha pilha de roupas, empurrando-o para dentro.

Nos entreolhamos e ele coça o nariz, tirando as algemas de meus pulsos e colocando a pilha de roupas ao meu lado.

– Tem barreiras... – ele diz, virado de costas para mim, enquanto recoloco as roupas o mais rápido possível. – Caso tente fugir.

Ele se vira novamente e nos entreolhamos, enquanto travo os dentes.

Eu estava sendo torturada e você não fez absolutamente nada.

Minhas unhas e dedos doem, mas está finalmente acabado.

Minha cicatriz enorme ainda dói, mas os remédios estão ajudando a me esquecer dela, embora seja... enorme.

Sinto o sangue descer até as pontas dos dedos da mão quando abaixo os braços.

Me sento de pernas cruzadas analisando o mapa feito por alguém.

Tem desenhos do apartamento inteiro e há quase cinco rotas de fuga, embora muitas me façam ter medo por serem arriscadas demais.

É sempre mais fácil quando se tem armas.

Tem isto escrito no topo do mapa, embaixo há todas janelas desenhadas um tanto mais caprichadas.

Reconheço uma ou duas.

A da sala de estar, uma que talvez seja a da cozinha e uma que realmente não sei onde fica. Espera...

Tem algo escrito embaixo dela.

Você não a viu. Provavelmente ele colocou tijolos novos. São mais claros que os outros, quando for a primeira hora da manhã, você verá.

Encaro o relógio e solto uma risada.

O que estou pensando? Não há nenhuma outra entrada de luz.

Kevin pode ligar as luzes.

Balanço a cabeça e estreito os olhos, observando o teto e seguindo os móveis do apartamento.

Não vou depender de uma parede de tijolos.

Estou tão fraca que se socar aquela parede, meu braço pode cair – tudo bem, é um exagero, mas não tem como.

Tem um desenho de apenas um tijolo.

Não entendo, mas enfim.

Tem uma única porta de saída, pela qual Elvis consegue vigiar muito bem.

Mas e se ele não estiver no apartamento?

Não haverá ninguém para destrancar a porta.

Não posso confiar em Kevin.

Nunca.

Paro de observar o mapa e penso: A pessoa que escreveu isto, ainda está viva?

Ela pode ter sido pega e todo o esforço de escrever isto, poderia ser para nada, colocando outras pessoas para morrer junto.

Como eu.

Suspiro e volto a encará-lo.

Não.

Não irei ignorar isto. Irei apenas... considerar que não tenho outro plano.

E receber um plano pronto nesta altura do campeonato, é quase um milagre.

Analiso cada traço, cada linha torta, cada... cada centímetro dos desenhos, até decorá-lo completamente, repassando tudo em minha mente.

– Oi – Kevin diz, enquanto meus olhos estão praticamente se fechando, ardendo enquanto luto para abri-los. – Trouxe os livros. – Ele senta ao lado de minha jaula. – Está... praticamente dormindo.

– Eu sei – digo esfregando o rosto, arregalando os olhos e me recusando a dormir. – Elvis trabalhará hoje? – pergunto.

– Sim – Ele diz. – A nova empregada virá hoje, mas apenas depois. Quer sua sopa agora ou...

– Não quero nada – digo esfregando o rosto novamente. – Pode ir embora agora.

– Não quero ir. – Ele se levanta. – Mas estou indo, assim mesmo. – Ele começa a subir as escadas, mas me encara uma última vez, acenando.

– Boa sorte nas suas aulas de educação física – digo encarando seus olhos.

Ele ri, subindo as escadas correndo e batendo a porta.

Suspiro, esfregando o rosto e ouvindo as portas batendo lá em cima.

O carro sai da garagem em cinco minutos e a casa está vazia.


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