Evolution escrita por S A Malschitzky


Capítulo 2
Capítulo um; parte dois


Notas iniciais do capítulo

bem, eu ia postar só de noite, lá pelas dez e pouca, mas diante de certas PRESSÕES - Miss Jegson... - estou postando agora.
Também vou postar as dez da noite porque eu quero - tuts tuts quero ver.



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Encaro a sala separada por vidro de onde estou e arregalo os olhos.

– O que...

– Você tem algo diferente das outras crianças – Ele enfia o braço entre as duas barras geladas, tentando tocar meu rosto, mas me arrasto para trás, me colocando com as costas encostadas nas barras de nióbio. – Estes olhos. São mais do que apenas genéticos...

– São... Como uma mudança genética – diz Kevin, encarando as peças no chão, desmontando computadores em minha frente.

Já se passam quase quatro anos e ele parece mais velho que eu.

Seu corpo é magro, seu rosto me é estranho com os óculos e ele tenta parecer com seu pai.

– Porque acha que me interesso por isto? – pergunto e ele encara meus cabelos presos em um rabo de cavalo e meu corpo dentro das roupas sujas.

– Não espero que se interesse – Ele encolhe os ombros e se levanta. – Apenas quero que saiba porque está aqui. – Ele vira uma peça prateada e reta para mim. Encaro meus olhos verdes e o outro castanho, enquanto meus cabelos estão despenteados e o corte igual e reto, na altura dos ombros se foi. – Acompanhe a sua vida. Se chama espelho.

– Eu sei o que é um espelho – reviro os olhos e deixo a peça embaixo de meus joelhos dobrados e as coxas apoiadas em meu peito. – E isto não é um espelho.

– Trate-o como quiser. Até amanhã. – Ele sobe as escadas, me deixando sozinha novamente.

Encaro o relógio. Duas e trinta e sete.

Kevin passou exatamente dois minutos aqui, mas às vezes parece ser uma eternidade.

Suspiro e me inclino para trás, deitando as costas na pedra gelada e úmida, dobrando os joelhos para caber dentro da jaula.

Quinze anos.

Pelo menos é o que eu suponho, pois Kevin acha que temos a mesma idade, e semana passada ouvi muita gente batendo palmas no andar de cima, cantando alguma música que parabeniza alguém e deseja muitas felicidade e muitos anos de vida.

Eu, particularmente, espero que ele morra.

É interessante como todos estão cantando, batendo palmas e rindo – enfim. Sendo felizes – enquanto há uma garota presa dentro de uma jaula de nióbio, sangrando e sendo torturada por quem um dia achou que seria parte de sua família, bem debaixo de seus pés.

Nunca falei com Carol, nunca fui visitá-la e isto nem foi perguntado, até porque era evidente que depois de presa em uma jaula, eu não veria ninguém.

Não sei o que acontece lá fora, não sei se um filho de algum famoso nasce, não sei se algum famoso morre, não sei se descobriram a cura para câncer ou AIDS, não sei nada se Kevin não contar. Kevin não conta muita coias em dois minutos, apenas discute comigo como se seu pai tivesse razão em me manter aqui dentro enquanto ele implora para ir para uma festa de aniversário lá fora.

Liberdade. Nunca mais senti isto e... sinceramente já estou perdendo as esperanças.

– Sr. Steve – Ouço o sotaque latino de Leila se aproximando da porta do porão e me levanto, segurando as barras com as mãos esqueléticas, embora meus joelhos e todos os músculos doam e tremam por não ter nenhum exercício, a empregada de Elvis que nunca limpou este lugar – este lugar nunca foi limpo, se quer saber minha opinião -. – Limparei o porão e... – Ela abre a porta, cantarolando alguma música divertida – outra coisa que nunca ouvi de verdade nas vozes dos cantores -, fechando a porta atrás dela e virando-se para mim. Ela arregala os olhos quando me sento, sentindo dores em meus ossos. A vassoura cai de sua mão e ela gagueja.

– Leila – digo desesperada, querendo gritar, mas minha voz sai falhada e rouca por falta de água.

– Leah – Ela franze o cenho, mas vejo a sombra de alguém atrás dela.

– Não! – grito, mas já escuto o disparo e seu corpo caindo no chão. Cubro os olhos e me viro. – Seu monstro!

– Eu sempre a mantive longe daqui, então acho que a culpa foi sua. – Ele ri. – Aprenda. Sempre que alguém vier para cá, tratará esta escada como o corredor da morte.

– Você é um monstro! – grito novamente. – Porque eu estou aqui? Isto é tortura! É crime!

– Ora, nem me venha com esta história novamente, Leah – Ele se aproxima da jaula, observando minhas lágrimas. – Tinha onze anos quando veio para cá e não era uma daquelas crianças que sabem de tudo. Você é um perigo para o resto do mundo – Ele aponta para meus olhos. – Isto pode ser contagioso.

– Inclusive seu filho sabe que isto não é verdade!

– Meu filho sabe o que eu quero que ele saiba – Ele cruza os braços, com a postura perfeita.

– Você é maluco. – resmungo, me virando, encarando o corpo de Leila coberto por um pano preto.

– Pensei que eu era um monstro – Ele aqueia as sobrancelhas escuras, embora tudo pareça escuro aqui.

– Os dois – resmungo.

E este apartamento perfeito que eu achei que se tornaria uma casa de verdade, realmente se tornou uma casa.

Uma casa feita de nióbio.

– Nióbio – começa Kevin, lendo no holograma com os olhos estreitos atrás dos óculos. – Normalmente utilizado em obras...

– Ou jaulas – digo virando o rosto para o teto prateado da jaula.

Ele está sujo, mas não fui eu quem o sujei. Está sujo de tinta e eu não possuo forças para pular tão alto, muito menos tinta para realizar esta façanha.

– Veja pelo lado bom... – Ele começa, encarando meu rosto e estreito os olhos, virando o rosto para ele.

– Ah, Kevin. Então me diga o lado bom. Ou me empreste seus óculos, porque eu realmente não consigo vê-lo – Ergo a mão, apontando para seu nariz. – E eu realmente estou me esforçando muito.

Ele tira os óculos do rosto e estica o braço, toco os óculos com a ponta dos dedos, mas puxo seu braço e seu corpo contra a jaula. Seu rosto bate entre as grades e ele faz uma careta, voltando para fora.

– Consegue ver o lado bom agora? – grito e ele esfrega o rosto com as mãos limpas. Encaro a sujeira debaixo de minhas unhas, embora eu as tenha arrastado no chão, lixando-as. É sim ruim para se fazer todas as semanas, mas não ficarei com garras ao invés de unhas.

– Eu iria lhe dar uma notícia, mas, depois disso, você que descubra seu sobrenome sozinha.

Ele se levanta, com o rosto vermelho por causa do impacto entre as jaulas.

– Espera – digo puxando seu braço, mas ele continua esfregando o rosto. – Desculpe.

– Green – Ele pressiona os lábios.

– Ainda quero que morra. – digo arqueando as sobrancelhas e ele balança a cabeça, fechando seu livro e subindo as escadas.


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Notas finais do capítulo

**sem inspiração para notas finais**
Então aconselho que escutem On My Way do Phil Collins do Irmão Urso e revivam suas infâncias (se não tiver assistido, apenas lamento e peço que assista e depois escuta On My Way do Phil Collins do Irmão Urso e reviva sua infância :) )



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