PDV Nate

–Onde estão suas vestes a rigor Nate? –Meu pai perguntou ao meu lado enquanto me observava terminar de arrumar as malas.

–Vestes a rigor? Para que vou precisar disso?-Perguntei confuso.

–Veio na lista de materiais esse ano. –Minha mãe falou entrando no quarto, ela trazia um dos meus cachecóis. –Aqui querido, coloque isso na mala também.

–A lista pedia? –Perguntei guardando o cachecol.

–Sim, pelo jeito vocês terão festa em Hogwarts esse ano. –Minha mãe respondeu entusiasmada.

–Hum... –Resmunguei pensativo.

Será que tinha a ver com o tal evento secreto? E o que será que Lyra havia descoberto estando esse tempo lá em Hogwarts?

–Você já está pronto Nate? Mamãe avisou que já estamos quase saindo. –Rose falou na porta do meu quarto.

–Já! –Falei fechando o malão.

Levantei a cabeça olhando para Rose, ela vestia um vestido verde, havia deixado o cabelo solto e usava uma leve maquiagem no rosto, ultimamente ela andava se arrumando, desse jeito os garotos não vão parar de olhar para ela.

Suspirei.

Pensei nesse estranho sentimento que eu tinha por ela, essa proteção. Sim, eu gostava da Rose, como irmã, eu digo. Mas de acordo com o que fomos crescendo isso foi mudando, ela foi a garotinha que eu cuidava, foi meu primeiro amor e eu pensei gostar dela de um modo mais profundo por um tempo, mas não sabia se estava confundindo tudo. Hoje eu não fazia ideia do que sentir quando olhava para ela.

–Nate? –Meu pai me cutucou com a ponta do pé. –Vamos rapaz, está na hora.

–Tá bem pai.

Ele levantou meu malão e me levou até o carro da Tia Angie.

–Cuidado em Hogwarts, tome conta de suas irmãs. –Ele me avisou dando um abraço. Eu sabia que ele se sentia um pouco mal por não me levar até a plataforma 9 ¾ , mas ele ainda não podia por que os pais dos alunos estavam de orelha em pé com o professor lobisomem do ano anterior.

–Vou tomar pai. –Respondi passando os braços pela sua cintura.

Entrei no carro tirando o casaco e jogando no banco, Rose entrou logo em seguida e sentou no banco de trás, ao meu lado. Tia Angie e minha mãe já estavam prontas.

Quando o carro começou a andar eu virei para Rose e sorri ansioso, ela sorriu de volta ficando vermelha, então naquele instante eu senti o cheiro...

Era apimentado e levemente doce, aquele cheiro me fez ficar quente, um arrepio desceu pela minha coluna e me senti consciente de todos os movimentos que Rose fazia. Quando ela colocou o cabelo atrás da orelha, quando passou a língua nos lábios e quando cruzou as pernas fazendo e vestido escorregar um pouco.

Virei o rosto para a janela sentindo minhas bochechas quentes e uma parte na minha anatomia bem acordada.

Deus do céu! Eu estava ficando excitado!

Pela minha própria irmã!

Que tipo de desgraçado doente eu sou?!

Foi então que eu me lembrei da conversa que tive com meu pai há alguns dias. Sentir fragrâncias de um modo mais apurado, apelo sexual muito grande, corpo mais suscetível às mulheres, foi isso que ele disse né?

Forcei a mente para lembrar suas palavras exatas.

“Se qualquer garota que goste de você em um nível puramente sexual, mesmo que somente te ache bonitinho, passar perto de você vai ser como se estivessem jogando uma nuvem de feromônios na sua cara.”

Olhei para Rose que estava com as mãos no colo, ela levou a mão até o pescoço e tocou a orelha com os dedos. Eu quase senti os dedos dela me tocando e tremi levemente.

Sou uma pessoa horrível!

Era isso que eu estava sentindo: Ferômonios. Rose gostava de mim... Por isso eu sentia aquele cheiro que me deixava louco. Rose, minha irmãzinha, gostava de mim num nível sexual. E eu não fazia ideia do que fazer com aquela informação.

Tudo bem, eu imaginei algumas vezes que ela pudesse gostar de mim, mas achei que fosse uma paixão infantil como a que eu sentia por ela quando era mais jovem.

Respirei fundo sentindo aquele cheiro apimentado nas minhas narinas e a reação foi direto para... Coloquei o casaco nas pernas para esconder minha vergonha e abri a janela do carro para deixar o vento entrar.

Ia ser, definitivamente, uma longa viagem.

E um longo ano também.

–--

PDV Rose

Nate estava estranho.

Durante todo o caminho ele parecia me evitar e apesar de tentar parecer discreto... Bom, ele não estava conseguindo.

Na estação nos despedimos das nossas mães depois de acalmarmos a crise de choro da Tia Andrea, ela sempre chorava ao se despedir do filho e logo mais encontramos a família Weasley e Harry. Eles estranharam a falta da Lyra, mas aceitaram quando Nate falou que eles não se preocupassem por que ela não estava encrencada.

–Irmãzinha! –Harry sussurrou baixinho quando me abraçou.

–Ah Harry, eu estava com tanta saudade! Nas férias que vem você fica na minha casa. –Falei o apertando num abraço.

–Onde está Lyra? –Ele perguntou confuso.

Sorri.

–Ela já está em Hogwarts. –Respondi.

–Já está em Hogwarts?! –Ele respondeu surpreso.

–Longa história, explico no trem. –Falei.

Olhei para Nate que foi direto falar com Rony e quando Hermione foi cumprimenta-lo ele arregalou os olhos e fugiu assustado para dentro do trem. Ele fugiu de Hermione! Assim como fugiu de mim! O que havia de errado com ele?

Gina e eu entramos no trem e saímos para nos despedir da família dela.

–Talvez eu volte a ver vocês mais cedo do que pensam - disse Carlinhos, rindo, ao dar um abraço de despedida em Gina.

– Por quê? - perguntou um dos gêmeos interessado.

–Está falando do tal evento misterioso né? –Nate perguntou ficando subitamente interessado.

– Você verá - respondeu Carlinhos. - Só não diga a Percy que eu falei isso... Porque afinal é “informação privilegiada, até o Ministério resolver divulgá-la”.

– É, eu até sinto vontade de estar estudando em Hogwarts este ano - disse Gui, as mãos enfiadas nos bolsos, contemplando com um ar quase saudoso o trem.

– Por quê?- perguntou o outro gêmeo impaciente.

– Vocês vão ter um ano interessante - comentou Gui, com os olhos cintilando. - Talvez eu até peça licença para ir dar uma espiada...

– Uma espiada em quê? - perguntou Rony.

–Meu Deus! Até eu estou ficando curiosa! –Comentei baixinho para Gina que me olhava com uma interrogação no olhar.

Mas naquele momento o apito do trem soou e tivemos que entrar, Gina me puxou para dentro pela mão sem me deixar falar nada mais.

–Espere Gina, o que deu em você? –Perguntei rindo.

–O que deu em mim?O que deu em você! –Ela girou ao meu redor, e podia ouvir a voz dos garotos falando com a senhora weasley não muito longe. –Você está tão arrumada! Está tão bonita Rose.

–Obrigada! –Falei fazendo uma reverência. –Você estava certa sobre me arrumar, descobri que isso pode ser viciante.

–Só poderia ter escolhido o vestido de uma cor melhor... Tipo vermelho. –Ela disse.

Olhei para o meu vestido verde esmeralda, ela estava certa, era a cor da sonserina. Não que eu ligasse muito para a rivalidade entre as casas, sempre gostei de verde mesmo.

–Não seja tão detalhista. –Falei.

Gina riu gostosamente e me pegou pela mão andando pelos corredores.

–Vamos encontrar a Luna. –Ela disse.

–Espere, preciso falar com o Harry, vai ser rápido, prometo.

–Então vou na frente.

Acenei que sim com a cabeça e virei na direção contrária procurando o Harry. Ele não estava mais onde o vi pela última vez e como não passou por mim deduzi que estivesse em outro corredor a esquerda. Havia pessoas de várias casas rondando por ali, alguns primeiristas já de uniforme.

Uma garotinha esbarrou em mim e virou com o queixo empinado.

–Você não olha por onde anda? –Perguntou petulante.

Senti graça de seu tom arrogante.

–Bem, sim eu olho. Mas foi você quem bateu em mim. –comentei.

Ela ficou levemente envergonhada e virou as costas fazendo um “humpf!”

Sorri balançando a cabeça negativamente, essa daí era um sonserina, com certeza. Virei para voltar a procurar Harry, mas foi o mesmo momento em que um garoto saia de uma cabine e acabamos por esbarrar um no outro, eu perdi o equilíbrio e acabei caindo, mas ele me segurou.

Dessa vez a culpa havia sido minha.

–Sinto muito. –Falei tirando o cabelo que havia caído no meu rosto.

Ele tinha olhos escuros, foi a primeira coisa que notei. Era moreno, devia ter a mesma idade que Harry, os cabelos eram escuros e tinha um sorriso sapeca no rosto, havia nele um ar aristocrático que me fazia lembrar condes ou príncipes, o garoto era lindo de morrer!

–Tudo bem. –Ele disse me ajudando a ficar de pé. –Rosemary Reed, não é?

–Me conhece? –Perguntei surpresa.

–Todo mundo conhece a garota da cicatriz. –Ele disse apontando para o meu rosto.

Arqueei as sobrancelhas, chocada. Caramba! Ele era bem sincero. As pessoas geralmente não falavam sobre a minha cicatriz assim de cara, eu podia admirar a sua falta de vergonha.

–Nossa. –Falei rindo um pouco. –Tudo bem então, qual é o seu nome?

–Blásio Zabine. –Falou.

Ele não me ofereceu a mão para apertar, só ficou ali me olhando com aquele sorriso de quem aprontou algo.

–Certo. –Falei dando de ombros. –Um prazer Zabine. Obrigado por me ajudar e desculpe por bater em você.

Ele deu de ombros levemente.

–É sempre bom quando garotas bonitas caem em cima de você. –Ele disse.

Eu ri incrédula, era impressão minha ou ele me elogiou? Fiquei momentaneamente sem fala com aquela situação. Então franzindo o cenho, respondi.

–Tudo bem. –Falei lentamente. –Obrigada.

Passei por ele me sentindo analisada por aquele olhar, e quanto virei às costas decidida a procurar o Harry, o Zabine ele me chama.

–Rosemary? –Falou usando meu nome todo, eu parei de andar. –Esse é realmente um lindo vestido.

Não virei para vê-lo, mas sorri comigo mesma quando o ouvi andar na direção contrária. Ora, que surpresa essa não? De que casa será que ele é?

–--

PDV Lyra

–Senhorita Anderson? –A voz do professor Snape me chamou friamente.

Eu estava sentada no primeiro andar em frente ao lago negro, a coisa é que as paredes de Hogwarts são muito grossas e havia alguns corredores com grandes arcos góticos que não chegavam até o chão fazendo uma pequena amurada, os lugares serviam mais como bancos do que qualquer outra coisa. Naquele momento eu havia terminado minha corrida e decidi ficar ali descansando um pouco.

–Professor Snape? Andou um pouco sumido, não o vejo há uns três dias. –Falei surpresa.

–O professor Dumbledore está chamando. –Ele avisou sem se preocupar em me explicar por que esteve sumido.

Onde está a novidade?

–Claro, vou tomar um banho e vou vê-lo. –Avisei.

Ele virou as costas fazendo a capa ondular e me dando a impressão de que ele voava. Sorri achando aquilo divertido.

–--

Mais tarde, depois de tomar banho, fui em direção ao escritório do diretor.

–Sapos de chocolate. –Falei me lembrando da senha que ele havia me dito no dia anterior.

Como frequentava muito o lugar eu já estava familiarizada com tudo. Bati na porta levemente e a voz de Dumbledore soou abafada pela porta.

–Entre Lyra.

–Bom dia diretor. –Falei animada.

–Já comeu? –Ele perguntou.

Dei de ombros.

–Ainda não. –Falei. –Planejava fazer isso depois que saísse daqui, afinal é apenas oito da manhã.

–Oito da manhã do dia primeiro de setembro. –Ele falou perspicaz.

Sorri animada.

–Nada contra o senhor, Diretor, mas já estava na hora das aulas começarem. Isso aqui está muito vazio. –Respondi.

Dumbledore riu.

–Nisso concordamos plenamente senhorita Anderson. –Ele falou. -Bem, eu só a chamei para avisa-la que com o período letivo começando as nossas aulas não vão parar, mas ficaram mais espaçadas.

–Entendo. –Falei.

–Haverá dias em que estarei muito ocupado e não poderei ensina-la. –Ele avisou. Franzi o cenho.

–Isso tem a ver com aquele tal evento secreto que o Gui, o Carlinhos, o meu pai, o Tio Remus e até o Percy comentaram? –Perguntei sem me conter.

Dumbledore sorriu de modo enigmático.

–O que você sabe sobre isso? –Ele perguntou me sondando.

–Não muito. –Respondi sincera. –Estava torcendo que o senhor me contasse.

–Sinto muito senhorita Anderson. –Ele disse arrumando os oclinhos de meia lua no rosto, tentando esconder um sorriso. –Terá que esperar até a noite, assim como todos os outros estudantes.

Bufei.

–Que triste. -Resmunguei.

Ele riu.

–Era apenas isso senhorita Anderson. Vejo-a no salão principal hoje a noite. –Acenei que sim e virei. –AH e... Lyra? –Me chamou, virei curiosa. –Tente não procurar encrenca, tudo bem?

Ele me olhava por cima dos oclinhos com aquele olhar de quem sabia mais... Oh não! Será que ele falou com Merlim?!

–Sim senhor, diretor! –Sorri sem graça.

–--

–PIRRAÇA!

Encolhi-me ao ouvir aquele grito, depois sorri. O dia tinha passado tão lentamente que pensei que não fosse ver meus irmãos mais. Estava praticamente quicando no chão quando as carroças chegaram e eles não apareciam.

–Lyra! –Rose vinha ao longe fugindo da chuva, ela acenou com a mão em minha direção, ao lado dela estavam Gina e Mandy.

Corri até ela e a peguei num abraço apertado.

–E aí? Como foi tudo? –Ela perguntou, curiosidade brilhando em seus olhos.

–Prometo que conto tudo mais tarde. –Eu ri animada e a abracei de novo. –Deus! Parece que não te vejo há séculos.

Ela riu comigo.

–Também me sinto assim.

–Onde estão Nate e os outros.

Ela ficou seria.

–Harry, Hermione e Ron estão vindo ali atrás. –Ela explicou. –Mas eu não sei onde está o Nate. Ele está estranho Lyra.

–Como assim estranho? –Perguntei confusa.

–Bem estranho. –Ela disse firme. –Ele sumiu desde que entramos no trem, perguntei a Hermione, mas ela também não o viu.

–Vou saber sobre isso. –Falei.

Ela acenou que sim com a cabeça e seguiu para o salão principal com os outros alunos. Fui em direção de onde Harry, Hermione e um ensopado Rony estavam sendo guiados pela professora Mcgonagall.

–Se molhou Ron? –Perguntei brincando.

–Fui molhado mais exatamente. –Ele respondeu sorrindo. –Olá Lyra.

–Lyra! –Harry falou me abraçando de repente.

–Oi Harry, como está? –Me separei dele pegando seu rosto em minhas mãos.

–Fiquei sabendo pela Rose que você veio para Hogwarts na semana passada. –Ele disse, com a mesma expressão de curiosidade que a Rose fazia.

Sorri encantada com aquela descoberta.

–É uma longa história. Explico mais tarde, mas primeiro... Vocês viram o Nate?

–Ele sumiu logo depois que entramos no trem. –Hermione explicou.

–Rose apareceu na cabine o procurando também. –Rony falou.

–Aconteceu alguma coisa? –Hermione me olhou confusa.

–É isso que eu vou descobrir. Vão entrando, vou acha-lo.

Eles continuaram o caminho enquanto eu fiquei do lado de fora esperando Nate, vários alunos passaram por mim, vi o Neville acenar antes de entrar no salão principal, vi Dino e Simas conversando e me cumprimentaram ao passar, vi também Draco ao longe com outros sonserinos, inclusive um garoto novo que eu não havia visto no seu grupo de amigos antes.

Mas nada do Nate.

Hagrid passou por mim logo depois que todos os alunos entraram, ele vinha com os primeiristas, todos encharcados até os ossos.

Mas ainda... Nada do Nate.

–Não vai entrar Lyra? –Hagris perguntou.

–Pode ir Hagrid, vou logo depois.

Fiquei sozinha do lado de fora, confusa. EU tinha certeza que Nate não passou, então por que...

–Lyra?

–AH, DROGA! QUER ME MATAR NO CORAÇÃO?! –Gritei pulando com a mão no peito.

Nate estava atrás de mim, todo molhado e com uma expressão culpada.

–Desculpe. –Ele disse.

–Onde você estava? Rose está preocupada, Hermione também, elas acham que você está... -Nate se aproximou de mim fazendo barulhinhos estranhos com o nariz. –Está... -Ele me rodeou como se estivesse me farejando. –O que você está fazendo?

–Cheirando você. –Ele disse simples.

Franzi o cenho, confusa com aquele comportamento.

–Que é? Tô fedendo? –Perguntei começando a me assustar.

Ele continuou me cheirando como se procurasse algo.

–O que foi caramba?! –Gritei irritada.

Nate pulou assustado com meu grito, mas em seguida sorriu tranquilo.

–Não, você não está fedendo. –Ele disse feliz. -Na verdade o seu cheiro é exatamente do jeito que sempre foi.

–E isso é ruim? –Perguntei confusa.

–Não, isso é perfeito. –Ele colocou o braço nos meus ombros. –Amo você irmã.

Estranhando aquele comportamento eu me deixei ser guiada em direção ao salão principal por ele.

–Eu hein, você bebeu alguma coisa?!

Ele apenas riu alto.