No dia seguinte Lúcia esperou para falar com Peter, mas ele não apareceu na escola, nem nesse dia, nem no restante da semana. Peter simplesmente sumiu e ninguém além dela pareceu notar sua ausência.

Todos os dias ela chegava ansiosa à escola, assim que entrava em sua sala corria os olhos pelo local esperando vê-lo, apenas para se decepcionar segundos depois quando não o encontrava entre nenhum dos rostos.

Assim transcorreu uma semana e a cada dia ela ficava mais intrigada com o sumiço de Peter, não conseguia compreender. Será que houve alguma coisa? Será que ele mudou de escola ou de cidade?

Em casa Lúcia percebia o distanciamento do irmão, era cada vez mais aparente para ela que Edmundo estava ficando mais ocupado, fazia novas amizades, logo ela só o via agora em alguns momentos do dia: quando iam para a escola, no almoço e poucas vezes em outros horários.

Ela se perguntava porque tudo estava mudando, e mesmo não querendo admitir ela também mudava, sentia-se mais sozinha do que nunca, deslocada, afastada de tudo que a cercava.

Essa foi uma semana difícil para Lúcia, mas pelo menos ela não teve mais nenhum pesadelo, ela esperava nunca mais ouvir aquela voz assustadora de seu sonho.

Na segunda-feira da semana seguinte ela chegou à escola no horário habitual, seu irmão a acompanhou até a entrada e eles se separaram, cada qual indo para sua aula, ao entrar na sua sala Lúcia correu os olhos pelo local, mais por hábito do que por qualquer outra coisa, a essa altura ela já havia aceitado a ideia de que Peter não voltaria.

Mas para sua surpresa ela avistou o rosto que não via há dias, os cabelos louros bem penteados, a pele clara e os olhos acinzentados que a encaravam. Ela estacou na entrada por alguns segundos, para depois respirar fundo se recompondo e seguir até Peter, que estava em pé ao lado de sua cadeira.

– Oi. – Sibilou baixinho.

– Oi. – Peter respondeu.

Lúcia sentou-se em seu lugar sem encarar Peter, mas sentia os olhos dele observando-a, aquilo a fez pensar no primeiro dia, quando se viram pela primeira vez e de como aquilo foi estranho.

Ela observou pelo canto do olho Peter se sentar ao seu lado, mas logo voltou seu olhar para as suas mãos, ela apertava freneticamente uma na outra, estava nervosa por algum motivo e não sabia por onde começar. Queria disparar as perguntas que ficaram martelando sua mente, mas não se sentia muito à vontade para fazer isso.

– Você sumiu. – Ela se viu dizendo alguns segundos depois.

– Eh... Tive alguns problemas em casa. – Ele respondeu.

Lúcia quis se chutar por ter comentado daquela forma, pareceu grosseria da sua parte fazer um comentário tão direto, e havia percebido no tom de Peter que ele respondeu meio contrariado, apesar de tentar disfarçar a voz.

– Perdi muita coisa? – Peter indagou mudando o rumo da conversa.

Lúcia sentiu-se aliviada, como se de repente o clima ficasse mais ameno, decidiu então encara-lo, ergueu o rosto lentamente até poder fitar Peter.

– Não muito. – Ela disse respondendo a pergunta do garoto.

– Com certeza, já vi hospitais mais animados que essa escola. – E com esse comentário o clima estranho desapareceu completamente.

Lúcia riu, não poderia evitar, mas tentou abafar o som para não chamar a atenção da sala, o professor já estava dando sua aula, ela deveria estar prestando atenção, mas ao invés disso queria poder conversar com Peter.

– Vá em frente, eu sei que quer perguntar algumas coisas, pode dizer. – Peter falou com um sorriso de canto.

Lúcia se espantou com o que ele disse, não exatamente com o que ele falou, mas com o seu tom descontraído.

– Você não vai gostar muito de responder. – Ela falou baixinho.

– Tente. – Ele incentivou.

– Vai demorar um pouco, são muitas perguntas. – Ela disse um pouco sem jeito.

– Temos a aula toda. – Ele sorriu abertamente.