A árvore de memórias escrita por Licht


Capítulo 19
18. A árvore e confiança


Notas iniciais do capítulo

Meu sem or, desculpe pela demora? ;;
Isso está tomando proporções enormes e eu fico tão desanimada com isso socorro
de novo, esse capítulo não foi óh meu deus tão focado no Natsume, sorry x-x



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/441493/chapter/19

O Sol já ia descendo, mergulhando nas águas do pequeno lago que ficava nas proximidades da propriedade Endo. Enquanto a noite ainda não chegava, Itsuki aproveitava o ambiente alaranjado para desenhar a si mesma na areia com auxílio de um graveto que havia achado. Ao lado do que seria seu cabelo, escrevia muitas vezes seu nome completo. O sorriso que a menina esboçava ao fazer isso, deixava Natsume numa comunhão de sentimentos.

Ambos estavam lá, parados num silêncio um tanto constrangedor, pois já fazia algumas horas que tentavam dar solução ao problema que havia aparecido. Natsume não queria que Itsuki voltasse a casa dos Endo, já que agora sabia que o novo mestre do clã tinha planos para ela. Mas Itsuki se recusava a ir com o rapaz, dizendo que se tratava de sua família e que certamente não lhe queriam mal algum.

Logo, o violento silêncio foi interrompido pela chegada de Hideki, que aparentemente voltava da faculdade.

— Naoko-chan! - o rapaz saudou com um leve sorriso, se aproximando.

Natsume estremeceu com a presença do dele. Um dos motivos era por não gostar de Hideki, apesar de não ter em mente nenhuma razão enumerada para isso. O outro, mais culpado por uma espécie de calafrio na altura de seu pescoço, era que o fato de ter proferido o nome 'Naoko' era prova de que a meio-yokai mantinha sua promessa.

Nyanko, como de costume, direcionava vários olhares desconfiados para o menino, o deixando ainda mais envergonhado. O gato gargalhava internamente, e toda essa diversão fazia com que o yokai interferisse muito menos. Queria apenas observar.

— Hideki-kun! - acenou Itsuki com bastante energia, enquanto dava uma breve corrida de encontro ao rapaz.

Logo os dois haviam começado uma descontraída conversa, sem muito motivo, sobre a casa e sobre o que comeriam no jantar. Natsume, incomumente não o cumprimentou em momento algum. Pelo contrário, estalou a língua* virando a cara e enfiando as mãos no bolso. Madara, percebendo o quão deslocado sua 'presa' se sentia, pulou em seu colo acenando para que os dois fossem embora.

Foi quando Itsuki acenou com certo cinismo para os dois, como se estivesse indo para casa também.

— Já está ficando tarde. Devemos voltar? - Itsuki olhou para o primo, que ficou um pouco desconcertando com a pergunta.

— Mas... E seu amigo?

— Ele já está voltando também, não é Natsume-san?

Takashi sentiu o sangue ferver com uma raiva que ainda não havia experimentado. Agora não poderia insistir para que a menina fosse com ele e Itsuki estava ciente disso. Ambos se olharam em tom de briga, extremamente ofendidos um com o outro.

Conforme andava para casa com seu gato, podia ver de relance a distância crescer entre ele e a meio-yokai. Isso foi trazendo para si uma angústia tão grande, que seu rosto não conseguia esconder. Parecia que ela havia selecionado cuidadosamente seus gestos e palavras, tudo para demonstrar que não o queria ali.

— Ela vai ficar bem. - falou o gato, tentando despreocupá-lo.

Natsume não reagiu bem as palavras. Sua voz ecoou nervosa, quase como um grito: "Como pode ter tanta certeza?!" ele bradou. Nyanko já tinha visto muitas coisas. Humanos se apaixonando, brigando e se separando. Se divertia com isso, mas agora já não estava tão engraçado. Sentiu uma ponta de pena, quis terminar logo com a situação.

— O que exatamente te preocupa? A segurança dela, ou o fato de que ela pode te deixar sozinho?

O menino gelou. Usou uma das mãos para tampar o rosto, fazendo seu gato gordo quase perder o balanço. Nyanko olhou para cima com certo receio, pois achou que ele poderia estar chorando.

–-

Itsuki e seu primo caminhavam lado a lado para casa. Quando chegaram, foram recebidos por um enorme sorriso ganancioso do Pai. Logo desaparecia novamente, quando verificava que seu plano corria como desejava.

Não era um plano mirabolante. Apenas queria juntar dois adolescentes e com sorte, os hormônios fariam todo o trabalho. Não era pedir muita coisa, tinha certeza.

Não tardou para que Itsuki, que estava especialmente manipuladora, voltasse a se calar e subisse para seus aposentos.

O rapaz que por sua vez era especialmente observador, seguiu a menina, pois sabia muito bem que estava sendo usado. Sentou-se ao lado dela, sem muito perguntar - então olhou fixamente para para os olhos verdes, fazendo com que ela ficasse extremamente desconfortável. Ela tentava fugir, mas Hideki a seguia, e logo a segurou pelos pulsos. Itsuki, como um animal assustado, fechou os olhos com força esperando pela morte.

Na cabeça da meio-yokai, tudo estava muito confuso. Seu coração agora lhe mostrava sentimentos que não conhecia, e as palavras das pessoas ao seu redor iam se misturando de tal forma que resultavam em um enorme peso para seus ombros. As voz que desconhecia sussurrava em seus ouvidos deixando-a num estado que não conseguia explicar, não conseguia colocar tudo em palavras, não conseguia expressar - e então guardava tudo para si.

Isso fazia com que seus olhos verdes se tornassem pálidos e já não brilhassem mais. Isso a empurrava num movimento em que já não conseguia olhar ao seu redor porque seu interior a consumia, e o resultado disso era que havia machucado seu querido amigo, e agora seu primo.

Se isso era ser humana, talvez devesse voltar para sua árvore morta e desaparecer aos poucos - foi o que concluiu.

As vozes, as lembranças, o caos e o tumulto foram interrompidos pela voz de seu Primo.

— O que houve?

Não houve resposta. Itsuki se concentrava para voltar a realidade como alguém que ajusta o foco de uma lente.

— Eu vou dizer isso apenas uma vez, então escute. - Hideki soltou os pulsos da meio-yokai, apenas para movimentar suas mãos até a face da mesma, pressionando as bochechas dela como se pedisse atenção. - Eu gosto de você.

Itsuki olhou diretamente para ele surpresa. Era como se o foco lhe caísse a cabeça como um raio. E então, ele continuou.

— Você sempre me pergunta o que eu quero fazer. O que eu gosto - faz muito tempo que ninguém faz isso por mim. Isso me deixa bem confuso, sabia? Não tenho espaço para sequer pensar que devo ter uma opinião. Mas isso me fez ...estar apaixonado por você.

Hideki puxou o ar, para continuar seu discurso. Itsuki piscava os olhos, tentando processar a informação.

— Mas eu já sou bem grande, sabia? Não há nenhuma novidade em estar apaixonado, para ser honesto. E eu também já sou crescido o suficiente para entender que não é para mim que você olha desse jeito... - e aqui houve uma pausa, já que ele recolhia coragem - mas o Natsume-san, não é mesmo?

— O-o que... Eu... - Itsuki mal conseguia formular uma palavra. Seu primo era uma pessoa muito observadora, e ela reconhecia isso. Mas dizer que estava apaixonado por ela... e que ela sentia isso pelo Natsume já era demais. Ela própria não havia chegado a essas conclusões ainda! - E-eu não tenho tanta certeza sobre isso...

Hideki sorriu com a indecisão. Sabia que a menina estava sendo cabeça dura, então se aproximou um pouco mais, dando um riso um tanto malicioso. “Devemos tentar algo então? Um beijo talvez?” Itsuki deu um pulo para trás, colocando as mãos na frente do rosto, deixando o rapaz pensando que mesmo que as coisas acontecessem do jeito que ele esperava, continuavam lhe causando certa dor no peito...

Um silêncio se instaurou no lugar. Ambos se observavam um tanto perplexos com a situação. Itsuki começou a ponderar se o que ele havia acabado de propor - um beijo - não era uma ação típica de um casamento. Se seu instinto de fuga havia sido tão primitivo e forte, concluiu que não poderia então, se casar com ele.

— Sinto muito, Hideki-kun, mas eu não posso me casar com você!!! - Itsuki sentiu que deveria se desculpar e deixar claro que não poderia entrar nesse tipo de relação com ele. Mas, para sua surpresa, o rapaz estava a olhando com interrogações em sua face.

— Casar?! Quem falou em casar? - O rapaz entrou em pânico. Ele certamente gostava da menina, mas casar? Esse era um passo maior que suas duas pernas juntas....multiplicando com as dela!

— ... Na verdade, quem falou foi seu pai - A menina respondeu confusa. Foi então que o rapaz se lembrou das palavras do pai... Sinceramente, não havia as levado a sério. Ele estava com apenas 21 anos e Itsuki tinha uns...14?

Logo, o rapaz foi se acalmando, pois no fundo esperava de seu pai um plano louco como esse. Hideki foi recolhendo as informações, mas a história toda parecia confusa. Itsuki, em certo momento, levou a mão direita até os lábios ponderando se havia dito algo que fizesse o menino suspeitar da sua condição de meio-yokai, já que seu falecido irmão - ou avô - havia pedido para que ela não falasse sobre isso com ninguém. Ela parecia arrependida de soltar certas informações, como o casamento ser parte de uma troca pela pedra que guardava sua mãe.

Hideki, por sua vez, já desconfiava a muito tempo de que havia algo estranho em toda a história de sua prima. Holanda? Ele duvidava. No fundo, ele já sabia que todos mentiam para ele por todo esse tempo. Era sempre assim, ele sendo excluído dos assuntos da família. Seu pai e seu avô carregando tudo nos próprios ombros, como se não fosse digno de confiança. Mas, por alguma razão, não conseguia sentir raiva da menina. Via nela uma certa inocência, e sabia que ela não mentia de propósito.

De qualquer forma, já estava cansado de ser tratado assim, por isso pediu para que ela contasse toda a verdade e, quando explicou tudo que sentia, Itsuki - apesar de ponderar por um momento ou dois - contou tudo que sabia. A meio-yokai sabia que seu irmão não se importaria que ela quebrasse uma promessa se fosse para proteger sua família.

O rapaz então, sabendo de tudo levantou-se e foi em direção a saida do quarto, prometendo a meio-yokai que resolveria a situação.

— Naoko-chan, você vai ter sua mãe de volta. - Ele disse com firmeza. - Pode ter certeza disso.

E então, saiu com uma aura quase que heróica. Endo Hideki, agora que sabia da verdade, estava cansado de ser apenas um soldado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A árvore de memórias" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.