A árvore de memórias escrita por Licht


Capítulo 20
19. A árvore e a voz.


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Mais um capítulo e a fic (acho) termina :D
obrigada por acompanhar até aqui~

o capítulo está dividido em mini trechos sob a perspectiva do Natsume e da Itsuki. eles são divididos por "--"



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O dia havia começado nublado assim como o humor de Natsume. Arrastado, o rapaz foi para a escola torcendo para conseguir evitar a meio-yokai.

A noite anterior havia sido longa e tortuosa. Ficou pensando em todos os yokais que já havia encontrado e ajudado... E como todos eles iam embora no final. Sentia-se injustiçado, sozinho - logo depois egoísta.

Nyanko tentava acalmá-lo mas falhava miseravelmente. O gato dizia coisas como “Você deve esquecer isso, deixar para lá. Não desperdice sua vida de humano com isso...” - ele obviamente não entendia. Não entendia.

No mesmo tempo de toda essa confusão, o rapaz lembrava a si mesmo que precisava agir rápido. Sentia como se o tempo estivesse escorrendo de suas mãos, e que logo a garota sumiria de sua vista se não fizesse algo e ele absolutamente não poderia deixar isso acontecer.

Ainda em sua lista confusa, Natsume pensava na mãe de Itsuki. Não havia esquecido de sua promessa, mas isso já parecia um assunto tão distante. Tudo já estava tão diferente... Já não sabia mais o que podia fazer, nem se queria fazer... No fundo tinha medo de ajudá-la e ser abandonado novamente e, por mais que tentasse sair desse loop de pensamentos, não conseguia.

–-

Itsuki, por sua vez, também não havia dormido. Além da grande quantidade de informações que havia recebido em tão pouco tempo, as vozes que escutava simplesmente não a deixavam. Pensou em enviar alguma mensagem para Natsume falando sobre as vozes, que pareciam cada vez mais agressivas, mas logo depois se lembrava de como havia brigado com ele...

Rodeando sua casa, pode perceber um local em específico onde as vozes ficavam mais altas e inteligíveis - pareciam se mesclar e virar uma só. Mas as coisas que a voz dizia eram simplesmente horríveis...

Parada em frente ao túmulo de seu pai, Itsuki o encarava. Era de lá que a voz vinha, tinha certeza. E, apesar de não acreditar em fantasmas, não ousou pisar ali. Concentou-se o máximo que podia para voltar a seu quarto, visto que suas pernas mal se mexiam.

–-

Em suas respectivas salas de aula, Natsume e Itsuki eram cercados pelos amigos e colegas de classe, pois ambos pareciam péssimos. Eles sequer haviam se encontrado, mas todos olhavam com a certeza de que ambos haviam brigado. Todos estavam muito curiosos para saber o que estava acontecendo, mas não tinham coragem de perguntar - já que Natsume podia ser bem... irritado, às vezes.

O que os levava à Naoko Itsuki.

— Naoko-chan! - chamou uma das estudantes curiosas. - Você brigou com Natsume-san?

— Uh... Eu... - Itsuki tentou responder, mas logo ouviu a voz em sua cabeça novamente - que desta vez estava ainda mais agressiva.

“Não!” a voz gritava. “Não devia ter confiado, não devia ter confiado, não devia ter confiado”, ela repetia incansavelmente. “Não confie. Não confie”.

A menina, em desespero e já cansada de ouvir coisas horríveis que a voz falava sobre os humanos, em específico sobre os de sua família, tampou os ouvidos, com expressão de dor. A colega de classe, assustada, se afastou um pouco


“Está tudo bem, Naoko-chan?! Naoko-chan?”

Agora, as vozes da multidão que se formava ao seu redor, se mesclavam com a horripilante de dentro de sua cabeça. Itsuki não entendia o porquê de ouvir a voz, mesmo na escola. Estava assustada, e agora tudo ao seu redor girava.

Olhando para para frente, via os rostos preocupados desfocados de seus colegas, porém logo atrás havia um borrão branco. Um outro rosto, extremamente amargo - os lábios se movimentavam, formando as silenciosas palavras “Seu lugar não é aqui.”

Naoko Itsuki, conhecia mais um lado de ser humana - o da impotência. Naquele momento queria, mais do que qualquer coisa, que toda aquela tortura parasse. Mas não havia nada que pudesse fazer - talvez nem em sua forma de yokai. A menina gritou e logo depois ficou inconsciente.

–-

No vago silêncio de sua sala, Natsume teve a impressão de ouvir um grito distante. Seus olhos, que estavam fechados devido ao cansaço, logo se abriram assustados. Quando saiu de sua sala, quase que em transe, percebeu uma correria em direção ao andar das salas de primeiro ano.

Sua aula estava para começar, mas Natsume não pensou duas vezes em seguir para lá e ignorar todo o resto. Sua cabeça estava preenchida de imagens da meio-yokai e seu coração apertava. Não sabia se devia estar preocupado, era bem provável que fosse um exagero seu, mas não importava. Correu para sala dela como se não houvesse amanhã.

Conforme se aproximava da multidão, bem como a sala de Itsuki, o rapaz sentia seus olhos quase encherem-se se lágrimas. Um grande número de pessoas seguia para a sala da enfermaria, e por isso não conseguia ver sobre o que se tratava - mas no fundo sabia, sabia que era ela.



–-

Itsuki, recuperando a consciência, viu uma luz enorme em sua direção. Era uma luz intrigante, mas que não desejava ver por muito tempo - visto que acompanhava um mal estar fortíssimo. Passou as mãos pelos olhos, na intenção se tampar parte dela, mas logo sentiu um peso na região do tórax, acompanhado por um barulho de baque.

Quando levantou levemente a cabeça para ver o que estava acontecendo, viu Natsume, que a segurava firmemente enquanto quase e espremia a face contra seu torso. O rapaz carregava um semblante preocupado e seus olhos estavam lacrimejando. Ele havia a abraçado ha poucos segundos, quando viu que Itsuki havia acordado.

— N-Natsume-san? - Itsuki olhou para ele com o rosto extremamente vermelho, sem entender muito.

O rapaz encarou o rosto da meio-yokai por alguns segundos, e então a soltou levemente, para logo depois abraçá-la novamente, desta vez encostando o rosto em seu ombro. Ele ainda a segurava forte e suas mãos quase que tremiam. Quando a menina evocou seu nome novamente, ele quase que sussurrou.

— Só... me deixe ficar assim por algum tempo, ok?

Conforme os segundos viravam minutos, o coração de Itsuki batia tão rápido que parecia poder explodir a qualquer momento. Parte de seu pescoço estava um tanto molhado, o que a fazia pensar que Natsume provavelmente estava chorando. A sensação de preocupação misturava com um certo nervosismo, já que conseguia também, sentir a respiração dele batendo levemente sobre sua pele.

Itsuki, lembrando do dia anterior, se perguntou o porquê de as sensações serem tão diferentes. Estava igualmente envergonhada, mas desta vez seu corpo não parecia querer desesperadamente fugir - pelo contrario, quase que subconscientemente, a meio-yokai moveu os braços envolvendo o rapaz e correspondendo ao abraço. Talvez Hideki estivesse correto sobre o que havia dito, afinal.

“Eu estou aqui, Natsume-san.” Foi tudo o que conseguia dizer para tentar acalmá-lo. E era justamente o que ele precisava, em certa medida. Seu choro tornou-se um pouco mais pesado por alguns segundos, enquanto com a voz trêmula, Natsume confessou

— Eu estava com medo de te perder. Eu não quero perder você também.

–-

Ambos estavam caminhando para a casa dos Endo e um silêncio constrangedor os abatia. Natsume principalmente, que quase escondia o rosto inteiro no cachecol leve que usava. Isso porque, enquanto estavam abraçados, a enfermeira chegou junto a uma pequena multidão de colegas preocupados, que falaram quase que num coro de alívio “Oh, parece que enfim a briga acabou”. A relação dos dois já era suficientemente cercada por mal entendidos e o rapaz não fazia nem ideia de como começar a desfazer este.

Por fim, acabou quase que naturalmente, sendo encarregado de levar a menina para a casa. Era pouco depois da hora do almoço e ambos foram liberados de suas atividades complementares; Conforme se aproximavam da densa floresta com o pequeno caminho de terra que levava até a propriedade, Takashi percebeu que era hora de dizer algo.

— Itsuki-san - ele chamou, inseguro - Acho que eu... deveria te pedir desculpas.

A meio-yokai olhou para o rapaz com determinação, chocando as suas duas mãos com as bochechas dele e as comprimindo.

— Eu entendo. Mas é minha família, e os problemas que existirem nela, eu vou resolver, entendeu?!

Natsume então percebeu o quanto tudo aquilo importava para a menina. Depois de tanto tempo sozinha, ela não iria jogar fora a família - mesmo que isso significasse sofrer de alguma maneira. Ela iria lutar para que tudo se resolvesse e isso era algo que alguém que passou de mãos em mãos durante toda a vida não poderia entender tão facilmente. Quando chegou a essa conclusão, não pode evitar sentir-se ainda mais arrependido de ter proposto que ela saísse de casa.

Ao chegar no grande portão de madeira da casa dos Endo, os dois se depararam com Hideki, encostado na parede com sua mochila e um olho roxo. Ele mexia em seu celular, como quem procurava o que fazer. Itsuki preocupada, correu até ele deixando para trás um Natsume que ainda tentava lidar com o ciúme.

— Hideki-kun! o que aconteceu?

— Hm... Eu e meu pai tivemos uma briga? - Ele respondeu um tanto desconcertado, levando a mão até a nuca e rindo levemente. - Aparentemente eu não posso mais entrar em casa também...

Hideki foi explicando aos poucos que havia brigado com o pai por causa da tal história de casamento. Ele estava um pouco envergonhado, já que era a primeira vez que ele confrontava o pai e bem... havia terminado com um olho roxo e alguns outros machucados. Itsuki por sua vez, ao ouvir a história mudou completamente de expressão. Se antes ela demonstrava paciência, agora se controlava para não ir matar o ‘tio’ com as próprias mãos de meio-yokai. Ela agarrou os pulsos do rapaz, e estava pronta para entrar em casa, quando Natsume chamou a atenção dos dois.

— Hm... Talvez vocês queiram ver isso antes de entrar...

Takashi apontou para o céu, que estava completamente escuro, como num eclipse. O vento começava a ficar extremamente forte, arrastando as folhas em círculos. Os três incrédulos, checaram o horário em seus respectivos relógios, apenas para estranhar ainda mais a situação - pouco antes de quatro da tarde.

Estavam todos extremamente assustados, quando Nyanko apareceu por dentre os arbustos, indo na direção de seu dono. Apesar da presença de Hideki, não havia tempo para disfarces, por isso chamou a atenção de todos para a tempestade espiritual que havia enfim, chegado.

Itsuki sequer teve a chance de preocupar-se, já que a voz gritava em sua cabeça novamente. O vulto branco aparecia na entrada de sua casa e, para sua surpresa, Natsume e Nyanko podiam vê-lo também. A voz, dessa vez, jurava vingança a família Endo por tudo que haviam feito. Foi quando então Itsuki entendeu - era sua mãe.


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