Pan, the Devil escrita por Lu Falleiros


Capítulo 4
Cap.3 - Realidade


Notas iniciais do capítulo

"Tic-Toc""Tic-Toc""Tic-Toc"...
Já sabem quem esperar neste capítulo?
Espero que gostem~~
Obrigada pelos comentários. Fiquei tão feliz que decidi postar o capítulo hoje, e não amanha~~ *3*
Boa leitura. Vou ficar quieta agora.
Lucyanni!



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Sentia minha cabeça em um lugar fofo. Não queria levantar, mas o sol escaldante e a claridade que o mesmo irradiava me impediram de continuar com os olhos fechados.

Eu havia tido um sonho estranho. Era carregada por Peter Pan e o que é mais divertido, a Sininho existia mesmo, meus irmãos haviam brincado com ela a tarde inteira e Peter Pan, um pouco mais tarde, veio para me raptar. Só posso estar maluca. Concorda?

Apertei os olhos como sempre faço, tentando distorcer a realidade do sonho e os abri.

Fechei-os de novo, deitei novamente. Pus-me sentada e os abri, de novo.

OK.

Só mais uma vez.

Repeti o processo.

Eu estava deitada em uma areia muito fina, clara, parecia mesmo a praia do Havaí. Ao meu lado, a poucos centímetros de mim um mar azul, muito claro, quase transparente ricocheteava contra a areia branca fervorosamente, apesar de ainda assim estar teoricamente calmo.

O sol quente e alto dava margem a poucas nuvens que continuavam vivas no céu, do meu outro lado havia uma floresta, que por hora prefiro ignorar. Voltei minha atenção ao mar:

Um navio pirata se encontrava bem distante da praia, pequenininho, quase invisível a olho nu.

Cocei minha cabeça. Aonde estava?

Belisquei meu próprio braço. Não acordei. Ao contrário, formei um hematoma - bem real - no meu braço e ainda continuei tendo aquela mesma visão, areia, mar, praia, floresta, sol "feliz" e um NAVIO PIRATA?!?

Baguncei meus cabelos tentando obter qualquer raciocínio lógico. Não consegui. Só sentia a areia em meu corpo e o sol contra minha pele. Afinal, onde eu estava?

– Bem-vinda, princesa dorminhoca... – Uma voz que me fez estremecer falou em bom som contra minhas costas.

Coloquei-me de pé o mais rápido que pude. Olhei para o garoto, bem mais alto do que eu. Seus olhos eram escuros, muito escuros, mas não eram totalmente pretos. Seus cabelos acompanhavam o mesmo tom, talvez um pouco mais claros conforme os raios de sol batiam.

– Quem... Quem é você? – Perguntei, sem querer acreditar. Ele fora a primeira criatura com vida que vi, deveria saber de alguma coisa. - E espera aí. Por que me chamou de princesa? - Agora estava além de tudo, muito, muito assustada.

Ignorando a segunda pergunta, respirou fundo e respondeu - Não me reconhece? Quem sabe se eu chegar mais perto? – O garoto deu um paço na minha direção. Instintivamente dei um paço para trás, igualando nossas distancias, como estavam no princípio. – Por que tão fria? – Ele me perguntou. Eu que deveria fazer perguntas. Não ele.

Mordi o lábio, agora em seu rosto perfeitamente desenhado um sorriso malicioso aparecia.

– Responda-me. – Pedi. Ok. Ordenei.

– Não vai acreditar em mim. – Arqueou as sobrancelhas, ele não me levava a sério, parecia se divertir com cada resposta dada.

– Tente. – Retruquei. Era cedo, eu estava em um lugar desconhecido, ele estava me irritando e o sol me queimava, não havia como eu estar de bom-humor para que ele pudesse brincar comigo.

– Sou Peter Pan. Você está na Terra do Nunca e eu não vou lhe levar de volta. – Ele riu, pareceu uma criança. Um riso divertido, sádico. Divertido... para ele, ao meu ver. Qual era a graça? Provavelmente minha cara, que estava deformada em espanto.

– Ok. Agora diga a verdade. – Tentei voltar a ficar apática. Não consegui, minha voz nitidamente tremulava.

O garoto sentou na areia. – Por que não se senta comigo? – Neguei. – Ok. – Ele deitou a cabeça contra os braços, olhando agora para o céu. – Sou Peter Pan. Você está na Terra do Nunca e eu não vou te levar de volta.

Aproximei-me do garoto, de forma que meu rosto ficasse entre seu olhar e o céu. – Muda o discurso. Estou falando sério.

– Eu também... – Ele riu, agora colocando-se sentado novamente. Com uma das mãos, pegou meu tornozelo, que estava próximo dele, e o puxou com força, fazendo com que caísse de costas contra a areia.

– MALDITO! – Gritei ajeitando rapidamente o cabelo e me colocando de pé. Ele saiu correndo para dentro da floresta que se estendia logo depois da areia. Tentei segui-lo.

Ele parou alguns instantes depois, nada cansado em comparação a mim. – Por que não acredita em mim? – Virou-se para que eu o encarasse.

– Não acredito em contos de fadas. Muito menos em você. Você se chama Pan, e é o único que não pode crescer e... – Ele me interrompeu.

– Já ouvi seu discurso. Para ser sincero achei sua opinião sobre mim muito intrigante*... – O garoto que agora mexia um dos dedos divertidamente como se fosse um professor deu um forte salto, voando a cima de mim, deu várias voltas ao meu redor. Ainda voando, deitado para que me visse, continuou. – Não sabia que se importava tanto assim comigo. – Riu-se novamente. Por que ele estava fazendo isso? E o que é pior, como estava voando? E como sabia o que eu achava dele? Quantas perguntas. Estava ficando tonta. Ele não parava de girar, e cada vez mais achava tudo aquilo pior.

Sentei, tentando raciocinar. – Estou mesmo na Terra do Nunca? – Perguntei.

O garoto se aproximou, agora flutuando, quase encostando os pés no chão. Apresentou seu rosto a centímetros do meu, fingindo uma cara de preocupação. – Temo dizer que sim.

Soltei um grito. Alto. Forte. Estrondoso. Ensurdecedor.

O garoto mordeu o lábio inferior, provavelmente com dor nos tímpanos, afastou-se de mim, mas não antes de correr uma das mãos contra a minha boca. Comecei a protestar, ainda gritando, mas, o som saia tão abafado que não dava para entender o que eu dizia.

– Vou soltar. Não grite. – Pediu.

Nossos olhos se encontraram por alguns instantes. Seus olhos eram tão escuros, ilegíveis. Pareciam um mar contra a tempestade, igualmente belos e obscuros, não pareciam ter um resquício de vida, eram gélidos. Não conseguia entender o porquê. Como aquele garoto que só queria se divertir tinha os olhos assim? Será que algum dia ternura e brilho já passaram por aquele olhar? Não conseguia perceber resquício, por mais profundo e pequeno que fosse. Cedo demais ele desviou o olhar, tirando-me do transe eu finalmente pude perceber, minha boca estava livre, e eu não falava nada. Não conseguia. Queria olhar seus olhos mais uma vez. Deveria haver algo, nem que fosse uma centelha, tinha de ter.

– Eu... Eu... – Mordi o lábio. Ele arqueou novamente as sobrancelhas.

– Eu o quê? – Perguntou cinicamente.

– Desculpe... – Olhei para baixo. Não conseguia ousar olhar para ele, apesar que quisesse.

Ainda não acreditava no que estava acontecendo. Mas, afinal, muitas vezes a realidade é inacreditável.

– Tudo bem. – Ele deu de ombros dando de costas para mim e voltando a andar em círculos ao meu redor, desta vez, no chão.

– Me leva de volta para a minha casa? – Pedi. Não ia mais gritar, porque depois daquilo... eu entendi. No final... estava sendo mais infantil que ele. Eu. Mais infantil que o dono das infantilidades... Peter Pan.

– Já disse que não farei isso... – Ele me olhou por alguns instantes mantendo meu olhar segurado pelo seu, realmente, seus olhos eram intrigantes. Estava tentando novamente interpretá-los quando reparei que o garoto havia me mostrado a língua. Ok. Eu retiro o que disse, ele é muito, muito, infantil.

– Por que não? – Perguntei, levantando e caminhando para perto dele. Agora ele se afastou, por que senti como se tivéssemos trocado de papel? Agora eu era teimosa e ele quem fugia de mim.

– Porque eu disse que não o faria. Sempre cumpro com minha palavra.

– Entendo.... – Suspirei. Aquilo de alguma forma poderia ser... Bonito da parte dele, se o assunto não fosse a minha vida. – Como faço para voltar sozinha? – Pedi.

– Não conto. – Ele saltitou se distanciando. Corri e agarrei sua roupa.

– Conte-me. – Ordenei.

– Então me beija. – Ele pediu.

ELE ME PEDIU UM BEIJO! PUTA QUE PARIU! TEM ATO MAIS INFANTIL QUE ESSE? ELE É IDIOTA? QUAL É O PROBLEMA?

Apesar de pensar assim, meu corpo não pareceu entender meu cérebro e minhas bochechas se ruborizaram fortemente.

– O que foi? – Perguntou, voltando a me observar maliciosamente. – Nunca beijou ninguém. É isso?

– Não é da sua conta. – Disse soltando sua roupa.

– É sim... Se você nunca beijou, serei eu que terei o seu primeiro beijo, é uma grande responsabilidade. - Vangloriou-se.

– CALE A BOCA! – Ordenei. Que inferno. Ele era mesmo muito infantil. Cada atitude. Nem meus irmãos eram assim. – Mesmo que eu nunca tenha beijado, por que teria que beijar você? – Perguntei.

– Você quer voltar para casa, não quer? – Perguntou.

Agora estava me chantageando? Eu ainda conseguiria voltar sem ele. Eu conseguiria. – Não preciso de você... – Falei. Virei para o lado oposto. Não sabia para onde ia, mas não ia ficar ao lado daquele moleque. Não mesmo.

– Vai voltar quando precisar. – Disse.

– Sonhe Pan. Sonhe... – Suspirei, pondo-me a caminhar naquele lugar estranho.

O que eu estava pensando. Já não mais conseguia vê-lo, e eu estava perdida. O que ia fazer, não quero depender dele, mas então de quem... Em quem posso depender? Sou louca de pensar em voltar lá? Não. Vou provar que ele também erra. Ele tem que aprender. Falta de louça para lavar. Deveria levar uns tabefes. Viu só o que disse?! Ele deve ter a minha idade, talvez até mais velho. Como pode ser tão criança?

Continuei a caminhar, pensando no que ele havia me falado. Como aquilo podia ser verdade? Moleque impertinente. – Pan idiota. – Ofeguei irritada tanto pela falta de ar, por caminhar demais, quanto pela raiva que sentia de mim mesma, dos meus pensamentos e daquele garoto.

Chutei uma pedrinha por vários passos enquanto decidia o que fazer. Agora nem a praia sabia para que lado era. Eu estava com sede e frio. Queria uma roupa melhor além do pijama que vestia... Juntei as mãos nos meus braços, me abraçando. – Pan idiota. – Gaguejei novamente, ainda chutando, agora outra pedrinha.

Um eco forte surgiu quando a pedra caiu em um pequeno laguinho. O “splash” da água me assustou, finalmente tirando-me de meus devaneios. Não sabia agora se deveria continuar a andar ou não. Suspirei passando por uma caverna, entrando na mesma. Quem sabe lá eu encontrava alguém.

– Olá? – Chamei. O eco novamente consumiu meus ouvidos.

Ouvi um som de algo se mexendo, parecia se rastejar.

– Alguém? – Chamei.

Tentava enxergar alguma coisa, mas o local estava muito escuro para mim. Caminhei um pouco mais para dentro, havia algo lá, ou ao menos, alguém.

“Tic-Toc” “Tic-Toc” “Tic-Toc” “Tic-Toc” “Tic-Toc” “Tic-Toc” – O som tremulava, ecoando baixinho.

– Mas o que é isso? – Eu perguntei, novamente ouvi algo como que um rastejo.

Um passo mais a frente e eu vi. Como não percebi isso. Era o crocodilo. O crocodilo da história. Olhos amarelos brilhantes surgiram no escuro. Eu queria gritar, mas não conseguia. Meu corpo inteiro via-se paralisado. Eu tentava me mover, gritar, fazer qualquer coisa. Era tudo sem sucesso. O crocodilo aproximava-se mais rapidamente, o barulho ficava mais alto. Aquilo era assustador. Fechei os olhos. O que ia acontecer?

Fiquei parada um longo período de tempo, pelo menos para mim pareceu uma eternidade. O barulho do relógio cada vez mais alto, se aproximando devagar para cessar com minha vida. Quando parecia estar ao meu lado, senti um braço contra minha cintura e meus pés deixaram de tocar o chão. Abri os olhos, sentia um peito contra meu rosto. Olhei para cima, os olhos escuros eram visíveis, brilhavam divertindo-se.

– Como consegue? – A voz que já estava me acostumando, balbuciou contra a minha orelha, causando tremeliques na minha espinha.

– Desculpe. – Apertei minha mão contra suas costas, grudando minha mão fechada contra sua roupa. Sentia seu respirar contra minha cabeça. Ouvi uma risada abafada. Ele estava se divertindo com tudo aquilo, não é mesmo?

– Deveria se comportar melhor. Merece mesmo um castigo. – Meus olhos se sentiram assustados, sentia-os tremer, o que ele ia fazer comigo? Já não estava tudo ruim o suficiente? Mesmo assim não o soltei. Tinha mais medo do crocodilo, por incrível que pareça. – O que devo fazer com você? – Ele perguntou, provavelmente retoricamente.

Novamente não respondi, deixei meu rosto fundo em seu peito. Não queria que ele visse meu rosto avermelhado, embora estivesse escuro. Ele riu novamente. Meu coração tremulou, batendo mais rápido que o normal. O que era aquilo? Para! Forcei meu cérebro a tentar comandar meu corpo, por que desde que cheguei aqui o mesmo não escutava o senso e a razão? Eu queria saber. Só podia ser a adrenalina, meu coração não me trairia assim. Não é mesmo?


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Notas finais do capítulo

*Para quem não lembra o discurso está no cap.1! ^^
Espero que tenham gostado! :3