Pan, the Devil escrita por Lu Falleiros


Capítulo 3
Cap.2 - Risos


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, apesar de ainda não explicar praticamente nada... Ou melhor, absolutamente nada...
Achei o capítulo bem interessante. Espero que aproveitem! *3*



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Ao levantar naquele dia próximo, a luz gelada batia contra a parede branca de meu quarto, me acordando.

– Incrível. – Apertei os olhos. – Está frio. E sol. – Inferno... Pensei colocando-me de pé. Como um sol tão bonito poderia existir em um dia tão frio.

Tinha nevado. O dia estava branco. Por que então, eu estava de shorts? Como fui burra ao escolher o pijama no dia anterior. Eu estava realmente, congelando.

– Filha. Não tem aula... – De repente, com este aviso nada esperado me senti mais feliz, até mesmo, mais quente. Não tinha aula!! A neve da noite anterior deve ter entupido todas as entradas e saídas da escola. Só pode ser. – Ontem nevou demais. – Minha mãe gritou pela minha porta ainda fechada. Novamente agradeci, agora, sentindo-me muito mais feliz, corri ao banheiro para lavar o rosto e me trocar.

Antes de descer para tomar o café, fitei a janela. Eu tinha certeza que tinha fechado as cortinas. Eu tinha. Não tinha? Mordi o lábio abrindo finalmente a porta do quarto e saindo do mesmo. Antes que percebesse eu já havia tomado café, lavado a louça e me preparava para desenhar, o quê, eu ainda não tinha certeza.

Corri de volta ao quarto para buscar o giz pastel e a pasta com folhas novas que estavam em cima da cabeceira. Enquanto mexia nas gavetas ouvi um zumbido irritante.

– Insetos? – Perguntei. O zumbido cessou. Com uma risada cínica mordi o lábio e arrisquei com graça. – Não me diga que tem uma fada aqui.

O zumbido retornou, agora mais forte.

– Tem. – Ouvi um sussurro baixinho. Uma voz aguda contra meu ouvido direito.

– Mas que porra é essa? – Perguntei tentando não gritar, não consegui.

– NÃO FALE PALAVRÃO! – O berro de minha mãe inundou a casa, meus irmãos que passavam por meu quarto entraram e ficaram a olhar para mim, espantados.

– O que foi, pirralhos? – Perguntei. Eles não teriam ficado daquele jeito por causa da minha inexistente educação, sempre falava palavrão.

– O que é esse brilhinho no seu ombro? – Diana perguntou.

– Parece uma estrela. – Retrucou Daniel.

Desviei meu olhar para meu ombro, vendo o mesmo que eles. Um pequeno brilhinho.

– Viu! Eu existo! – O brilho sussurrou de novo, me assustando de verdade.

– Mas o que é isso? – Bati no brilhinho que voou para a minha mesa.

– Precisava bater? – Perguntou.

Meus irmãos correram para se empoleirar contra a mesa e olharem de perto.

– É uma fada. – Disse Diana. Seus olhos já brilhantes, pareciam cheios de vida.

– Sou sim. Prazer. – A pequena criaturinha brilhante ajeitou o vestido.

– Qual seu nome? – Perguntou o garoto.

– Sou Sininho. – Disse o pequeno ser.

Mordi o lábio. Aquilo chegava a ser traumatizante. Se meus irmãos não pudessem vê-la, teria me cogitado louca no mesmo instante, aliás, mesmo com eles vendo. Eu me cogitei.

– Ok. Sininho. O que faz aqui? – Perguntei.

– Pare de ser chata. – Meus irmãos interferiram.

– Calem a boca. – Repreendi-os. Antes de ouvir outro berro de minha mãe. Deixei-os por alguns instantes na mesa com o “bicho” e fechei a porta do meu quarto. Pronto. Tenho liberdade para utilizar vocábulos não mais tão agradáveis aos ouvidos de minha mãe.

Os dois ficaram quietos, mantendo biquinho, e praticamente por telepatia cruzaram o braço e sentaram no chão ao mesmo tempo. Deve ser coisa de gêmeos. A fada veio a sentar-se junto deles, fazendo com que eu sentasse logo atrás, ela acabou ficando no meio de nossa "rodinha". Era tão pequena que quase afogava-se no carpete.

Começou a contar-nos sua história. É claro que não acreditei nem em metade. Eu deveria estar sofrendo algum ataque alucinógeno ou algo do gênero. Meus irmão me drogaram... Só podia ser isso... Conclui.

– Vou ao mercado... – Minha mãe gritou de minha porta.

– Ok. – Respondemos os quatro. Sim, a fada também.

Quando acabou de contar suas peripécias pareceu cansada, já havia passado da hora do almoço, e minha mãe provavelmente só voltaria à tarde. Meus irmãos não pareciam estar com fome, estavam era intrigados com a criatura. Eu estava faminta, mas sentia que se comesse qualquer coisa acabaria vomitando. Havia um nó entre meu estômago e minha garganta. Isso mesmo, no esôfago.

– Quer deitar? Deve ter alguma coisa que sirva de cama. – Suspirei. Mas a fada se negou.

– Não. Obrigada. – Ela sorriu. – Queria que acreditasse em mim.

– Nós acreditamos. – Disseram os gêmeos.

– Mas ela não. – Apontou o dedo super pequeno contra mim.

– Ela acredita. – Disse meu irmão. – Não é? – Confirmou.

– Não. Não é como se uma fada fosse me fazer acreditar em coisas absurdas, como fadas. Deve ser algum truque.

– Mas preciso que acredite. Preciso... – Ela suspirou, caindo sentada.

– Por quê? Por que precisa? – Perguntei.

– Ele mandou. Se não o fizer perco meus poderes.

Ah. Agora está tudo explicado. Ele quem? E o que é pior, ela estava sendo mandada.

– Desculpe... – Comecei a responder. – Mas diga para essa pessoa... – Pensei em como chamá-la, já que não me disse seu nome. – Vamos chamá-lo de “D”, o que acha? – Perguntei.

– Pode chama-lo de Pan, ou Peter, ou Peter Pan. – Eu e meus irmãos arregalamos os olhos no mesmo instante. Ela só poderia estar de zoeira conosco. Só podia.

Ótimo, agora Peter Pan queria que eu acreditasse. Ou pior, realmente existia. Não contive uma risada nervosa.

– Tudo bem. – Continuei, antes que meus irmãos ficassem mais animados. – Vamos chamá-lo de Pan, então. Se é que existe. – Engoli a seco. – Diga para ele, que se fosse o caso de eu acreditar precisaria de muito mais esforço do que uma fada vir me contar, depois vai me mandar o quê? Passarinhos azuis e borboletas com glitter? Ou ele já superou essa fase? Já sei. – Fiz uma pausa dramática. – Vai me mandar um vampiro que brilha a glitter no sol? – Ri de minha analogia.

A fada, Sininho, cuja cor era originalmente amarelada ficou pálida. E depois em um tom de vermelho.

– Não deveria subestimá-lo. – Ela sussurrou, mais baixo que o normal. Não sabia dizer se estava com medo ou nervosa, ou um pouco dos dois.

– Não o faço. Nem o conheço. Mas esperava algo melhor do que uma fada. Vai me contar a história que está no livro? – Suspirei, já sentindo meus olhos, não mais surpresos, novamente gelados.

– Não deveria falar assim. Não quero que nada aconteça. – Ela mordeu o lábio, olhando fervorosamente para a janela. Agora entendi. Aquele sentimento era preocupação.

– Se não quer. Não deixe acontecer. – Levantei-me e abri a porta. – Crianças, podem conversar com a fada o resto do dia. Ela vai voltar para seu mundo encantado. Não é mesmo?

– Sim. Tenho que voltar. Essa noite. – Ela se colocou de pé, subindo na mão de Diana que lhe foi oferecida. – Mas, – Ela perdurou seu olhar novamente sobre mim. – Tenho que voltar com você.

– Boa sorte com isso. – Ofereci. – Desculpe por não deixa-la cumprir com sua "missão". Mas sei que nada disso é verdade. Afinal, por quê Pan iria querer que eu acreditasse? – Perguntei entortando a cabeça para ela, que agora, movia-se pesadamente, pelos passos arrastado de meus irmãos, parecendo mesmo pesarosos. Pobrezinhos. Eu os havia chateados.

– Ele se sentiu desafiado. E agora ainda mais. Você o desafiou.

– Então que duelemos. Por que me mandar uma fada? – Ri pensando das lutas aventureiras retratadas no livro.

– Não diga isso. Ele virá.

– Venha. – Chamei-o. Não havia como aquilo ser real. – Aproveitem. É uma chance única conhecer uma fada. - Agora falava com um sorriso triste para meus irmãos

Os mesmos pareceram um pouco mais felizes. Ela abriu os pequenos lábios para dizer mais alguma coisa. Aquela conversa me cansava. Não queria saber. Além de tudo, nada daquilo deveria ser verdade.

Se meu pai estivesse vivo, teria ficado tão surpreso. Teria ficado feliz. Muito mais do que eu. Não sei porquê, mas quando vi aquele ser, senti medo, senti raiva, senti até mesmo desespero, mas não me senti anima como meus irmãos.

Sentei sobre a escrivaninha. Desenhei um pouco. Curioso, desenhei o céu estrelado, estrelas cadentes. O Big Bang logo a frente. Havia uma pessoa em um dos ponteiros enormes do relógio. Engraçado. Ri de leve. Aquilo havia me subido a cabeça.

Fui ao quarto das crianças avisar que ia dormir e que mamãe avisou que chegaria para o jantar. Elas estavam brincando com a fadinha.

– Vou tirar um cochilo. Mamãe vai chegar tarde. – Avisei.

– Ok. – Ouvi os três respondendo.

– Não saiam voando... – Pedi. Eles riram e eu também, não resisti.

A fada me olhou pesarosamente por alguns instantes, parando de brincar. Aproximei-me dela, entrando no quarto dos meus irmãos. O quarto deles não tinha cortinas como os meus. É claro, eles gostavam de ver as estrelas. Eles acreditavam.

– Por favor, acredite.

– Não vou mentir para você. Não o faço. – Peguei a pequena fada na mão. – Sininho. – Suspirei. Ela me observou atentamente.

– Sim? – Assentiu.

– Não acho que isso seja real. Amanhã vou acordar. Minha janela estará fechada, as cortinas cobrindo meus olhos da fantasia e das estrelas. Vou à escola, vou crescer. – Assenti. Seus olhos pequeninos que pareciam bolinhas de gude tremularam. – Vou crescer. Não quero saber de mais nada. Você não estará aqui, eu sei. Ok? – Assenti.

Ela concordou. A coloquei em cima da cama. Ela voou para o meu lado, suspirando algo que só eu poderia ouvir.

– Ele não quer saber. Ele quer você. É um desafio para ele, nada mais que uma diversão.

– Brincadeira de criança, supero só com o olhar. – Sorri para ela com confiança. Ela pareceu surpresa.

Aquele comentário. O que aquilo queria dizer? Eu não ficaria a pensar. Não mesmo. Ela devia estar brincando comigo. Mesmo com provas, era óbvio que eu não voltaria a acreditar, não voltaria a ver, não voltaria a crer em nada.

Voltei ao meu quarto do outro lado do corredor, deitei. Dormi profundamente.

Senti frio, um vento gelado. Eu não havia fechado a janela? Suspirei, abrindo de leve os olhos. Vi uma sobra, como se houvesse alguém a cima de mim, voltei a fechar os olhos. Não queria saber de nada agora. Devia ser Daniel.

– Daniel. Sai e fecha a janela. – Pedi.

A pessoa não respondeu. Tentei me ajeitar na cama. Percebi, essa não mais existia. Eu estava no colo de alguém...

– Mas onde eu tô? Tá frio... – Suspirei, não queria abrir os olhos. Ainda não.

– Foi você quem me desafiou... – Uma voz ardida e sinuosa suspirou contra meus ouvidos. Apesar da paralisação instantânea do meu corpo, nada impediu que minha espinha arrepiasse. – Ela tentou te avisar. – A voz voltou a falar.

Agora a adrenalina já havia consumido meu corpo. Ainda de olhos fechados me debati várias vezes, caindo em seguida. Parecia aqueles sonhos que caímos pouco antes de acordar. A diferença? Eu já estava acordada. E a queda, não era nada agradável.

Um grito irrompeu de minha garganta mas, pouco antes de alcançar o chão um baque me fez parar. Estava novamente no colo do dono daquela estranha voz. – Quanta resistência. – A voz falou.

Abri os olhos tentando reconhecer algo. Estava escuro. Levei uma das mãos aonde deveria estar a cabeça, o dono daqueles braços que me seguravam. – Pan? – Perguntei por fim, sentindo um rosto como a de um jovem. Aquilo não estava acontecendo. Não estava.

– Você é lerda... Em... – A voz riu. Reconheci finalmente aquele timbre, a voz da outra noite. No meu sonho. Aquela risada. Perversa.

Minha cabeça girava, agora eu não mais caia no sono. Eu estava era desmaiando.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem. O que acharam?