O som das correntes rangendo é a única coisa que ele ouve. As correntes, que rangem como se rissem de quem estivessem usando-as, e que não tem piedade com quem as usa, pois sabe que deles nada mais resta. Zaki, aquele que carrega consigo a proeza do leão, como seu próprio nome diz, não passa de um menino que ouviu demais as correntes.

Todos que alguma vez já ouviram as correntes rangendo a cada passo, já a ouviram de mais. A todos que as correntes marcaram suas vidas, que dividiram famílias, que acabaram com a força a ouviram demais. Mas elas sabem que uma coisa ainda lhes resta: a esperança, que é retirada com a força do vento, e que as correntes não conseguem corromper, pelo simples motivos de serem quebradas em algum momento, e de assim trazer a esperança.

De trazer a liberdade.

E é essa liberdade que Zaki e sua família esperam, que todos os presentes ali dentro esperam. Percebe-se que o vento ainda não conseguiu fazer o seu papel nessas pessoas, mas uma hora ele conseguirá.

Ele sempre consegue quando quer.

O choro do menino, que com o corpo cheio de hematomas e cortes não mais aguenta toda a esperança que tenta manter, abala a todos os outros cativos, que sofrem por ver alguém tão inocente chorar por algo tão serio. O abraço da mãe se segue com o relaxamento de Zaki, mas apenas temporariamente porque uma marca assim não se cura com um abraço, nem com mil.

Se cura apenas com a liberdade, a verdadeira liberdade.

E é isso que eu espero. Libertar essas almas apenas como eu, a Morte, seria capaz de fazer. Liberta-las do sofrimento, leva-las de volta a suas terras na África.

Mas a única coisa que posso fazer por enquanto é observar e esperar, e isso é uma coisa que nunca me esqueço de fazer.

Principalmente para aqueles que me esperam ansiosos.