O vento passava, bagunçando lhe os cabelos. Sempre o vento, aquele velho amigo da humanidade que muitas vezes se mostra vingativo, derrubando casas, derrubando esperanças. Com João não era diferente, com seus cabelos sendo levados ao vento, que fazia suas pálidas bochechas ficarem coradas de frio enquanto a esperança escapava por entre seus dedos. Tão novo, e já tão desanimado, o que seria dele agora que o vento tudo já levara?

Com passos largos, João vai indo assim como o sol, seguindo o mesmo rumo enquanto o vento continuava a passar, porém dessa vez sem mais nada a levar da casca vazia que havia sobrado. O céu nublado escondia por trás dele a beleza do azul, assim como o coração de João escondia todo o vazio que existia nele agora que a esperança se fora.

E quando não há esperança, não há mais nada.

Os olhos dourados brilhavam junto com os raios do sol, e apenas por causa deles. Do antigo brilho não restava mais nada, já que fora levado pelo vento. Tudo foi levado pelo vento. O véu de escuridão que encobria a cidade já estava há muito tempo sobre João, apenas esperando o momento para anoitecer permanentemente seus dias, fazer de seus deles noites eternas.

O que fazer, quando o vento levar sua esperança? Essa é a pergunta nunca feita, mas que a resposta está apenas esperando, apenas aguardando o momento certo. Eu estou apenas aguardando o momento certo. João é apenas mais um infeliz que o vento tirou a esperança, mas virão outros depois dele como vieram outros antes dele.

E eu estou apenas esperando a hora que eles decidirem fazer a viajem que todos um dia farão, menos eu. Porque eu sou aquela que leva.

Aquela que mostra o caminho.

Aquela que liberta.

Enfim, eu sou a Morte e João é apenas mais uma das tantas almas que virão comigo, seguindo o caminho do sol como ele acaba de fazer sem perceber.

Mas eu percebo.

Eu sempre percebo porque eu sempre observo.

Principalmente aqueles que me esperam desesperados.