Saga Entre Anjos e Demônios escrita por Aless Stemb


Capítulo 2
Capitulo I - Inferno Particular




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“Presa nestas paredes...

Diga que ainda há esperanças para mim.

Têm alguém ai fora me ouvindo?”

I´m Here -Sia

Alessa encarou o teto branco de seu quarto, escutava nitidamente a discussão que se desenrolava no andar inferior:

–Você não sabe cuidar da sua filha! –Gritou o pai, e Alessa o odiou por isso, como ousava culpar sua mãe?

–A culpa é toda sua. Você que fica trancafiado no trabalho, só pensa em dinheiro, e se esquece que tem uma família!

E ambos começaram a gritar, jogando a responsabilidade em cima um do outro, será que eles não podiam entender que ninguém tinha culpa? Ou talvez a culpa fosse toda da própria garota? Não. Alessa não poderia aturar aquilo.

Pôs-se de pé, pegando o coturno e o calçou, apanhou a jaqueta negra e desceu as escadas aos pulos, sendo ao mesmo tempo cautelosa para que não a escutassem. Mas que idiotice, se parecem com duas crianças birrentas. Pensou ela ao passar por eles e ambos não a notarem.

A garota saiu para o vento frio do lado de fora, era o comecinho de Outubro, e o outono estava no auge que Alessa gostava. As folhas secas e amareladas dançavam nas ruas vazias, e todo aquele ar sinistro era o que mais a encantava.

Ela era assim, uma garota estranha, vidrada no obscuro, “louca e perturbada”, como os psicanalistas a chamavam.

O crepúsculo ardia no céu, o violeta e o laranjado dançavam, se misturavam e deixava a Terra em um tom azulado.

Ela continuou a descer a rua tranquilamente, às mãos enfiadas no bolso da jaqueta de couro, ela mascava um chiclete e fazia caretas para as crianças que passavam ao seu lado. Pensou em ligar para alguém, comprar bebidas e ficar fora de casa a noite toda.

Mas já estava encrencada demais. Não entendia o porquê dos adultos serem tão estúpidos. Havia algum problema em se divertir? E, além disso, ela não havia feito a garota entrar no carro, muito menos beber, e não fora ela que puxara o freio de mão.

Alcançou o final da rua e virou para a direita. Sabia quem deveria procurar em um momento como esses. Andou depressa, dessa vez sem nenhuma travessura ou sem se enganar com um “não me importo”, a verdade era que ela se importava, e todos sabiam disso.

Se Alessa fosse a verdadeira culpada naquela noite, ela jamais havia socorrido a garota bêbada. Fora sorte dela, Alessa estava ao volante e se considerava uma boa motorista, enquanto todos os outros fugiam, ela dirigia com uma garota inconsciente no banco passageiro. Mas que raios, aquela idiota estava pensando em puxar o freio de mão?

“Ela está inconsciente”, “ela não responde”, Alessa ouviu tudo isso de longe, recusando ir embora antes de saber sobre o estado da garota. Fora descoberta, porque alguém da recepção soube descrevê-la aos pais da garota e havia um idiota que anotara a placa de seu carro.

O que veio a seguir foi a policia acordando-a a sete da manha, e levando-a a delegacia, sua mãe fizera um escândalo e ela fora expulsa da escola, de novo.

Para falar a verdade, Alessa tinha um grande histórico de confusões e expulsões. Mas esse havia sido seu limite, ela mesma sabia reconhecer isso, ferira uma pessoa e essa não havia sido a primeira vez.

Alessa nunca fora fácil de lidar andava com uma turma da pesada, bebia sempre, curtia rock e festas que duravam à noite toda e às vezes o dia também. Seus pais, como sempre, ficavam furiosos, mas a reação que seu pai tivera quando a policia bateu em sua porta procurando pela garota, essa ela nunca havia visto.

E pela primeira vez, teve medo do que eles poderiam fazer com ela. Mas não podia perder a pose, devia manter-se como “a garota que não tem medo de nada”, era assim que ela era reconhecida na escola.

Sua mão se levantou e ela bateu duas vezes na porta de madeira maciça. Não demorou muito para o rosto velho da senhora Clarck aparecer na porta, ela sempre fora uma mulher sorridente e bastante simpática com Alessa. Mas algo na sua expressão se modificou.

–O que quer? –Perguntou ela de maneira rude. Alessa franziu o cenho, abanou os pensamentos e continuou, Lembre-se, você é a garota que nada teme.

–Boa noite senhora Clarck, Gavin está? –Ela pareceu simpática. A mulher a mediu de cima em baixo e pensou por um instante.

–Não! Ele saiu com uns amigos...

Estranho! Ninguém havia lhe chamado para nenhuma festa, não haviam marcado nenhum encontro, nada. Então Alessa percebeu que seu celular não havia tocado um minuto se quer, durante todo o dia. Ela bufou, como pode ter sido tão idiota?

Assentiu sorrindo, mas o que recebera de volta foi uma porta na cara, sua raiva fora tanto que ela levantou a mão exibindo o dedo do meio para a porta já trancada. Deu meia volta e estancou em meio à calçada. O que ela iria fazer?

Passou a andar, sem rumo, sentindo o vento frio soprar em seu rosto, via as famílias reunidas para o jantar, alguns jovens saindo para se divertirem e então se sentiu sozinha, como muita das vezes ela se sentia, mas diferentemente das outras vezes, não havia colegas que a entretecem.

Passou em um bar e arrancou as ultimas libras que lhe restava no bolso da calça jeans, comprou um pouco de vodka e voltou a perambular por ai. Se ao menos não tivessem lhe privado de seu carro.

Mas talvez lá no fundo ela soubesse para onde ir, porque de repente ela se viu parada em frente ao hospital. Adentrou meio temerosa, claro que antes abandonou a garrafa, já pela metade em meio a calçada.

–Posso lhe ajudar? –Perguntou uma enfermeira.

–Eu estou procurando pela senhorita Willians.

–Há sim, ela está na UTI. Mas o horário de visitas já se encerrou...

–Eu só queria vê-la, nem que seja de longe, eu não me importo! –A enfermeira a encarou de maneira piedosa e apontou-lhe a direção que deveria seguir. –Obrigado!

Alessa perambulou pelos corredores brancos, ela odiava hospitais, de fato se sentia mal, para ela aquele lugar cheirava a morte e tristeza. Foi impossível conter, as lembranças a invadiram como se fossem paginas de um diário, que caiu em sua frente, aberto.

...Alessa ergueu os olhos vendo a avó dormir tranquilamente, ela havia prometido que iria passear no parque, ela havia prometido, e não cumprira sua promessa, a garotinha estava zangada, fingindo estar distraída com uma boneca velha no carpete da sala.

Como ela odiava aquela velha, e a odiava ainda mais por ter acreditado que teriam uma tarde agradável. Sua vontade era de correr dali para sua casa, ficaria sozinha se preciso, mas ter que aturar sua avó, isso era um absurdo.

O ronco da mulher permeou até os ouvidos da menina, deixando-a extremamente irritada. Alessa levantou do chão, caminhou até a cozinha, apanhou o litro de Cherry que sua avó tanto bebia. Sua velha estúpida! Pensou a garota.

Se posicionou na ponta dos pés, escorando-se no acento do sofá ao lado da mulher, equilibrando a garrafa de Cherry em sua pequenina mão. O cheiro de álcool permeou até a garota quando sua avó soltou uma baforada em seu rosto.

Destampou a garrafa e jogou o liquido nos assentos do sofá ao lado da mulher. Depois voltou a cozinha virou a garrafa em sua boca e tossiu com o liquido rasgando sua garganta. Apanhou os fósforos e a corda no armário.

Envolveu os pulsos de sua avó com a corda, prendendo-a no sofá, a velha estava tão bêbada que não sentira o aperto em seus pulsos. Por fim banhou a corda com o Cherry de sua avó, e segurou a caixa de fósforos, a caixa grande demais em seus pequenos e infantis dedos.

Alessa não faça isso! Sussurrou uma voz em seus ouvidos, mas ela não se importou, abriu a caixa apanhando um palito, virou-o e o riscou, uma chama se ascendeu, e então Alessa a jogou sobre o sofá.

O vermelho, amarelo e azul se fundiu e rapidamente o sofá fora tomado, as cordas que envolviam o pulso da velha também e instantaneamente seu vestido floral estava em chamas.

Ela abriu os olhos apavorada e meio tonta. Olhou para a garota parada em meio o carpete e um sorriso brincava nos lábios da garotinha, aquilo era tão lindo. A velha ficou apavorada em ver o fogo subir sobre seu corpo. E Alessa se divertiu com isso, sorriu e gargalhou inspirando aquele terrível cheiro.

Era maravilhoso para ela, a carne branca e enrugada em chamas, aquilo se tornava um cheiro repousante sobre si. Alessa gargalhou tombando sua cabeça para trás, e então atirou o restante do Cherry, no piso de madeira e o fogo tragava tudo rapidamente.

Os gritos de sua avó ecoavam por toda a casa, eram gritos apavorantes, abafados e amedrontadores, mas não para Alessa. Então havia os bombeiros, suas sirenes subiam as ruas e se aproximavam da casa...

Alessa era demasiadamente jovem demais, tinha apenas cinco anos, mas também tinha uma inteligência que muitos subestimavam.

Ela estremeceu com as lembranças, estremeceu só de lembrar pulando em círculos, comemorando enquanto sua avó chamuscava. Que ser horrível! Acusou-se. Ela não se lembrava do que veio depois, mas em um momento ela dançava e no outro um bombeiro a resgatava, estava escondida na casinha do cachorro.

Sua mãe ficara terrivelmente triste e isso fez com que a garota guardasse segredo sobre o que houve e fazer um pacto consigo mesma, nunca, jamais feriria uma pessoa. Talvez esse fora o principal motivo de ela ter ficado para socorrer a garota Willians.

Não entendia o porquê de essas lembranças virem em um momento como aquele, ela odiava lembrar daquilo, e com isso, jamais se lembrava. Mas ali estava aquela sensação de desconforto e a sensação ruim.

Encarou o vidro em sua frente, decidida a não se abater com aquilo. E seus olhos negros viram a figura débil de Ashley atirada sobre um leito de hospital. Alessa não entendeu bem o que houve, mas ao ver a garota imóvel ela sentiu algo apertar-lhe o peito.

Era sensação de culpa? Não, ela não era culpada. Mas a idéia havia sido dela e talvez lá no fundo ela realmente fosse a verdadeira culpada. Um arrepio percorreu-lhe o corpo e ela teve a estranha sensação de estar sendo observada, instintivamente olhou em sua volta.

Mas todas as pessoas que se movimentavam por ali pareciam não notar a presença da garota, não havia ninguém a observando. Alessa suspirou, engolindo em seco e então tornou a olhar para a garota da UTI, mas a sensação não lhe abandonou.

–O que você está fazendo aqui? –Alguém berrou logo atrás dela. Alessa se virou, deparando com a mãe de Ashley.

–Eu... Eu vim saber como ela está!

–Bem, mas não graças a você! -Sibilou a mulher entre dentes.

Alessa a encarou por um momento em silencio, e então deu meia volta decidida a ir embora dali. Chegou a dar alguns passos rumo a saída e então se virou para a mulher que a encarava com ódio no olhar.

–Eu sinto muito senhora...

–È claro que você não sente! –Gritou a mulher, as pessoas que passavam em volta se viravam para ver Alessa, a garota se encolheu, sentindo o peso das palavras. –Ela só queria ser sua amiga... è assim que você retribui uma pessoa que te admira?! Embebedando e a pondo em um carro em alta velocidade?

–Eu não obriguei Ashley a beber! –Alessa cruzou os braços em torno de si, tentando ser autoconfiante.

–Não, você não a obrigou, mas disse que essa seria a única maneira de ela entrar para seu grupo... Quer saber, eu devia mesmo denunciar você! Sua indelinquente! Eu só não o fiz por pena... Pena de você e de sua família, coitados dos seus pais, tem de aturar uma criatura dessas em casa!

E a mulher começou a despejar sobre a garota uma torrente de sermões e insultos. Alessa queria correr dali, ir embora e nunca mais voltar. As palavras da mãe de Ashley pesavam sobre seus ombros e seus olhos ardiam. NÃO! Ela não choraria, ela não poderia chorar, ela nunca chorava.

A mulher sacolejava os braços enquanto gritava e Alessa nada fazia a não ser ficar ali e ouvir tudo que ela dizia, devia ficar, ela precisava, era sua obrigação, sua maneira de pedir perdão.

Não demorou em os seguranças do hospital aproximarem-se e então Alessa foi expulsa dali, escoltada pelos seguranças até a saída. Era impressão sua ou todos estavam a tratando como uma criminosa? Era isso que ela havia se tornado?

A noite já havia chegado e Alessa saiu para ela, com os olhos ardendo em chama, mas nenhuma lagrima escorria deles, ela não deixava, nunca havia chorado antes e não seria essa a primeira vez.

Abraçou-se, esfregando as mãos em seus braços, como se fossem capazes de aquecê-la. O vento frio chicoteava seu rosto, fazendo suas bochechas arderem e seus cabelos esvoaçarem.

E ela andava depressa, o trotar de sua bota ecoando alto no asfalto. Ela não percebeu o que fazia, só tinha necessidade de se esconder, necessidade de se tornar invisível, porque parecia que todos agora a observavam como se todos soubessem o que havia acontecido no hospital.

Dobrou na primeira rua escura e deserta que vira, ajoelhou, suspirando, em um canto escuro.

A sensação de não estar sozinha voltou a atormentá-la. Aquilo era ridículo. Mesmo assim ela olhou em sua volta...

Não era fácil de explicar, muito menos de entender, mas ela sentia uma presença, e sentia aquela... Coisa se aproximar dela. E então a pele de seu rosto se tornou quente, havia uma espécie de energia imitindo logo ao seu lado. Aquela coisa estava com ela, novamente.

Essa sensação de calor que lhe transmitia paz sempre lhe aparecia quando ela achava que iria desabar, mas tudo era estranho demais para ela acreditar, e então ela sempre dava um jeito de se livrar daquilo. Muitas das vezes ela fugia, era ridículo admitir, mas ela tinha medo.

Não que Alessa fosse daquelas garotas supersticiosas ou que acreditava no sobrenatural, e de fato ela não acreditava, mas aquela presença, aquela energia que sempre lhe aparecia no momento que ela mais necessitava lhe provava o contrario. Será que realmente existiam anjos da guarda?

Se existissem o de Alessa devia cobrar hora extra. Ela era simplesmente um imã para problemas. Pela primeira vez Alessa ousou olhar em direção a... Aquela coisa. Encarou como se fosse capaz de ver.

Mas não havia nada, só a lufada de ar quente e a sensação de sua presença. Seu coração disparou e ela não soube o que dizer. Estava mesmo ficando louca, era a única explicação.

Talvez ela pensasse que havia jogado fora o comprimido de alucinógenos que seu psicanalista receitara e então os tomou e agora estava dopada vendo coisas.

Ela se levantou, fingindo que não o sentia ali ao seu lado.

Tudo ficará bem Alessa! Aquele pensamento estranho sussurrou-lhe novamente, era sua voz nos pensamentos, mas de alguma forma Alessa sabia que não era ela quem os causará.

E como aconteceu com a senhora Willians, Alessa teve vontade de correr, mas não conseguiu.

Não devia ter bebido quase que uma garrafa inteira de vodka. Sentia-se tonta de uma maneira estranha, e ela fora embora tropeçando nos próprios pés e obrigando-se a manter os olhos abertos.

...

Alessa rolou para o lado e esticou os braços se espreguiçando. Seus músculos travaram, e sua cabeça latejou, será que ela havia dormido muito? Espere um minuto, dormido onde?

Abriu os olhos se deparando com pôsteres de bandas de rock, havia um violão encostado em um canto e também uma prancheta de desenhos. Ela estava em seu quarto, e o Sol ardia pela janela. Mas como ela havia chegado ali?

A última coisa que ela se lembrava era de dobrar a esquina do hospital, e então ela havia sentindo aquela presença estranha e ela ficou zonza de uma maneira diferente e apagou.

Houve algumas batidas na porta, eram leves, mas ecoaram como se estivessem dentro de sua cabeça.

–Estou dormindo! –Sussurrou ela.

A porta se abriu e ela odiou isso, não havia dito que estava dormindo? O rosto furioso de seu pai apareceu na porta e depois seu corpo inteiro invadiu o quarto.

–Onde você estava na noite passada?

Alessa voltou a repousar sua cabeça no travesseiro.

–Pai, que tal deixarmos isso para outra hora... Minha cabeça está explodindo!

–Não Alessa! Vamos conversar agora! –Berrou ele. A garota pressionou as palmas de suas mãos em torno de seus ouvidos. Sua cabeça latejou com mais força. –O que você está pensando da sua vida, hem garota?

–Eu estou em casa e estou bem não estou?! –Ela se levantou e pode ver que não havia nem trocado de roupas, muito menos retirado sua jaqueta de couro.

–Troque essa roupa e desça, eu e sua mãe temos que conversar com você.

Seu pai abanou a cabeça, verdadeiramente um ato de desaprovação, e olhando para ela com desdém, saiu.

A porta bateu com um baque surdo e Alessa tornou a tapar seus ouvidos. Então com raiva ela desabotoou a calça jeans e a jogou longe, retirou sua jaqueta e o suéter os atirando em um canto qualquer.

Deslizou para dentro do banheiro ligando a ducha de água quente e molhando todo seu corpo.

Por mais que ela tentasse se lembrar como havia chegado em casa a resposta não vinha. Sua mente estava em uma escuridão total, como se houvessem lhe apagado a memória.

Alessa desligou o chuveiro se enrolando na toalha branca e felpuda, e deslizou para fora.

Apanhou sua calça de moletom cinza e uma regata preta e os vestiu. Antes de descer tomou duas aspirinas para diminuir a dor de cabeça.

Disparou a escada abaixo, sem nenhum humor, seus pais a esperavam sentados na pequena mesa da cozinha. Alessa se jogou em uma cadeira, apoiando sua cabeça entre as mãos.

–Como você sabe, foi expulsa do colégio! –Começou seu pai. –E por sorte a senhora Willians não quis denunciá-la...

–Por favor, vamos direto ao assunto! –Murmurou a garota. Seus pais trocaram um rápido olhar e depois voltaram a encará-la.

Seu pai estendeu-lhe uma folha de papel. E depois tombou os olhos para as mãos caídas sobre a mesa.

Alessa entendeu, por mais que eles estivessem zangados, ainda assim não eram capazes de impor-lhe um castigo, não diretamente.

Estendeu seus dedos finou e pálidos, apanhando o papel e os levando até a altura dos olhos e então ela começou a ler a carta que começava com um “prezado senhor Stembell” e terminava com “È uma satisfação recebê-la em nossa instituição”.

–Que conversa é essa de instituição? –Perguntou-lhes, elevando a voz um tom.

–Eu tenho um amigo de faculdade e ele me devia um favor... E então eu o procurei, eu sabia que ele era o diretor dessa escola e então...

–Então vocês decidiram me trancafiar naquela prisão?! –Alessa jogou a carta sobre a mesa.

–È para seu próprio bem! –Murmurou sua mãe.

–Para meu próprio bem?! Francamente, vocês acham que passar dezesseis anos livres, será corrigido com apenas dois em um internato? EU NÃO VOU PARA AQUELE INFERNO!

–Você vai sim Alessa, e não se fala mais nisso! Embarca hoje à tarde.

–Vocês não podem fazer isso comigo! –Ela murmurou tão baixo que parecia estar falando consigo mesma.

–Você deveria ter pensado antes de colocar aquela menina dentro do seu carro... Você é uma inconseqüente Alessa, é isso que você é! Eu e sua mãe estamos cansados, cansados de termos que aturar suas maluquices.

–Então diz pai... –Ela berrou encarando-o. –Olhe nos meus olhos e diz que vocês estão me expulsando!

Alessa encarou seus pais, seus olhos arderam e ela sentiu seu coração bater mais de pressa, ela estava sendo expulsa de casa, sabia que seus pais simplesmente não a jogariam na sarjeta, mas eles a jogaram em um internato, o que em sua opinião era o mesmo.

–Quanto tempo terei de ficar lá? –Perguntou ela depois de um longo suspiro e voltar a manter sua pose de indiferente.

–Querida... –Ivy, sua mãe, parou em sua frente tomando suas mãos e as afagando. –Nós não queríamos que você tivesse que ir, mas foi a melhor opção que encontramos... Lá é bem legal, tenho certeza que vai gostar... Têm aulas de artes, você vai poder voltar a desenhar...

–Já que é tão legal assim por que você mesma não vai para lá? –Disse de maneira rude.

–Alessa! –Berrou seu pai batendo o punho com força sobre a mesa de madeira. Alessa encarou os olhos negros de sua mãe e subiu as escadas, definitivamente irritada.

...

Fazer as malas foi a parte mais difícil para ela, pior ainda quando chegou a hora de ir. Antes de descer, Alessa ligou para seu melhor amigo, Gavin. Eles estudavam juntos desde a quarta serie e eram inseparáveis, sempre juntos nas confusões e expulsões, essa seria a primeira vez que iriam se separar.

–Less, desapareceu garota... –Disse assim que atendeu ao telefone, ela sorriu, iria sentir falta de ele a chamar de Less, mesmo ela odiando esse apelido.

–Eu estive em sua casa ontem... Sua mãe disse que não estava!

–Eu estava sim... –Fez-se silencio e não era necessário ser um vidente para deduzir que ambos estavam envergonhados. –Less, me desculpe é que ela...

–Tudo bem Gavin... Ela é sua mãe e só quer te proteger! –Murmurou a garota sem nenhum entusiasmo.

–Então, o que a policia fez com você? Pensei que uma hora dessas, você deveria estar trancafiada na solitária.

Disse ele em um tom zombeteiro e foi como se o assunto constrangedor, de ela ter se tornado péssima companhia, nunca tivesse sido pronunciado.

–Muito engraçado Gavin... Na verdade aconteceu algo bem pior. Meus pais vão me mandar para o Edgar´s School!

–No que você está reclamando garota... Lá é um máximo.

–Obrigado, mas não adianta forçar nada, sabe que eu odeio aquele lugar, imagine só eu no meio daquela gente metida...

–Como a Edgar´s School aceitou uma pessoa com um currículo como o seu?

–Meu pai conhece o diretor de lá! –O silencio prolongou por um momento e Alessa sabia que seu amigo procurava pelas melhores palavras que pudessem reconfortá-la.

–Talvez lá não seja tão ruim Less... Talvez você conheça alguém legal!

–Qual é Gavin... Aquele lugar fica no meio de uma floresta e você sabe muito bem o quão as normas por ali são rígidas...

–Se eu prometer que vou visitá-la você se sentirá melhor? –Os lábios da garota se torceram em um leve sorriso.

–Tudo bem, afinal eu não tenho outra escolha! –Murmurou ela. Houve duas batidas na porta e o rosto de Ivy surgiu por uma brecha.

–Vamos querida, está na hora!

–Gavin eu preciso ir...

–Promete que me liga para contar como é lá?! Ah e não se esquece de me contar qual foi sua pena também, mesmo que sua cabeça seja decapitada! –Alessa revirou os olhos enquanto sorria.

Assim que encerrou sua ligação, apanhou o violão e sua mochila jeans que trazia uma dezena de chaveiros estranhos. Seu pai encarregou de uma mala e sua mãe de outra. E eles desceram as escadas.

O caminho até Saint Edgar´s School fora silencioso e cansativo, era uma viagem longa, e em certa parte Alessa permitiu-se dormir um pouco. Ela não conhecia muito de lá, certa vez uma garota fora transferida para sua antiga escola, era uma menina tímida e extremamente estudiosa.

Mesmo não conhecendo o local, Alessa ouvira diversas vezes historias: que as normas eram rígidas, que era caro e que as matérias eram extremamente difíceis.

Alessa levantou os olhos, observando através da janela de vidro, a estrada seguia por entre uma floresta, as arvores estavam secas com suas folhas amareladas devido ao outono e aos poucos Alessa pode ver o casarão adiante.

A estrutura era de pedras acinzentadas e ele estava construído em meio há uma clareira, a enorme construção era rodeado por um gigantesco muro de pedras sem cores, e em cima havia arames. Alessa estremeceu, ali era mesmo o inferno na terra.

O carro de seu pai parou junto ao portão de grades de ferro negro e assim que identificação fora feita pelos seguranças, eles puderam adentrar. Ao ver o velho casarão de pedras acinzentadas, Alessa se lembrou dos filmes de terror que Gavin adorava assistir.

Até poderia ser uma piada, se Alessa não estivesse tão amedrontada.

Na verdade ali não era tão feio, mas a monstruosidade vinha do tamanho. Enquanto o carro velho percorria a estreita passarela, Alessa podia ver o jardim.

Havia um cercado com flores já murchas, havia também grandes pés de carvalho espalhados, ela suspirou, como se já não bastasse as arvores da floresta jogar suas tenebrosas sombras no recinto.

O carro estacionou em frente à porta de madeira. Toda a construção lembrava a um filme épico, com seus castelos enormes. Mas o que ela esperava encontrar? Estavam na Inglaterra, era óbvio que ali se parecesse com um castelo.

O diretor surgiu na longa porta de madeira, era um homem alto, devia ter em media um metro e oitenta, era magro e se vestia formalmente, ela não dera nem um único sorriso, mesmo quando o pai de Alessa lhe cumprimentou amigavelmente.

–Bem vinda ao Edgar´s School senhorita Stembell. –Alessa assentiu revirando os olhos.

–Obrigado Davis, obrigado por ter aceitado que Alessa viesse estudar aqui. –Alessa olhou em volta, vendo a noite se aproximar.

–Tudo bem senhor Stembell, garanto que sua filha terá a melhor educação de todas! A senhorita Stembell pode se despedir agora, iremos levá-la até seus aposentos.

Alessa assentiu e se virou para apanhar suas duas malas, ela estava decidida em entrar e não se despedir de seus pais.

O.K vamos acabar logo com essa palhaçada! Pensou enquanto fazia menção de adentrar.

–Alessa querida... –Chamou sua mãe, então ela se virou sem demonstrar emoção alguma. –Viremos buscá-la para passar o fim de semana em casa.

–Não será necessário! –Sibilou ela entre os dentes trincados.

–Ótimo! –Protelou o pai. –Se é assim que você quer, então será assim!

–Mas querido... –Foi a ultima coisa que Alessa ouviu antes de adentrar de vez naquele lugar.

O primeiro cômodo se dava em uma grande sala de recepção com sofás brancos e mesas de centro, todas as hastes feitas de madeira maciça.

Alessa entendeu que aquele era o local onde os alunos se acomodavam para receber suas visitas. Mas mesmo sendo, provavelmente, o melhor ambiente ainda sim era escuro e tenebroso.

Ela fora conduzida pelo diretor por um corredor e à medida que Alessa andava podia notar que em todas as partes havia câmeras de seguranças e vigias que monitoravam constantemente.

Os corredores estavam vazios, o que a fez imaginar onde estariam os outros.

–Nós temos regras senhorita Stembell... –Começou o diretor. –Temos o toque de recolher, são sempre as vinte e um, às dezoito horas o jantar é servido. As aulas têm inicio as nove da manha e se encerram as dezesseis. È estritamente proibido circular pelos corredores após o toque de recolher...

Ele continuou tagarelando, mas ela não deu à mínima. Pararam de frente para uma porta e o diretor sinalizou para que ela entrasse.

Ela obedeceu, vendo o belo escritório decorado, o senhor Davis puxou para ela uma cadeira, para que se sentasse e ela se acomodou na poltrona de estofado vermelho.

–Aqui está seu horário de aulas e um pequeno mapa dos prédios... –Ele cruzou as mãos de maneira formal sobre a mesa de madeira escura. E a encarou. –Nós sabemos sobre seu terrível currículo e quero deixá-la avisada de que essa não é a primeira vez que lidamos co adolescentes rebeldes, todos senhorita Stembell, todos que passaram pela minha escola saíram como verdadeiros cidadãos.

–Tudo bem senhor Davis. –Assentiu ela, nem um pouco interessada, ele apanhou o telefone e apertou um numero, não demorou muito para a porta se abrir e uma garota esguia, de olhos castanhos esverdeados, adentrar na sala.

–Está é Zoey Thompson, ela irá lhe mostrar o local... Aqui está à chave de seu aposento e a de seu armário, seus livros estão bem aqui. Espero que possamos nos dar bem senhorita Stembell.

Alessa apanhou suas coisas e se levantou e pela primeira vez observou a garota magra e alta parada em sua frente, ela sorriu ajeitando os óculos no rosto e prendendo uma mecha de seu curto cabelo atrás da orelha.

Zoey a conduziu de volta pelos corredores vazios, ela observava Alessa em cada movimento da garota, com uma expectativa que ela não soube decifrar.

–O senhor Davis lhe disse as regras? –Perguntou ela por fim.

–Sim, uma dezena delas! –Murmurou a garota com grosseria.

–Eu sei que são muitas, mas não se preocupe, ele lhe entregou um manual junto com os livros, lá mostra os direitos e deveres dos alunos e todos aqueles blá blá blá de instituições ...

A garota tornou a lhe encarar como se esperasse por alguma palavra dela, mas para sua decepção Alessa não disse nada.

–Eu soube que você foi expulsa da sua antiga escola... –A garota lhe encarou, a surpresa lhe atingiu os olhos e depois a raiva tomou conta deles. –È que surgiu boatos de uma garota nova...

–È?! O que mais falaram sobre mim?

Perguntou Alessa sendo nem um pouco educada. Zoey pigarreou e pelo canto Alessa pode ver a garota revirar os olhos.

–Disseram que você foi expulsa porque cometeu um crime... –Alessa abriu um sorriso histérico. –Sabe como é as pessoas falam demais!

A garota bem que tentou se desculpar, mas era tarde demais, agora Alessa sentia ainda mais ódio daquele lugar. Como ousam ficar comentando sua vida daquela maneira? E ainda por cima haviam inventado uma mentira sobre ela.

–È! Mas sabe como é, toda mentira tem seu fundo de verdade!

Zoey tornou a encará-la, com apreensão e espanto, foi somente quando Alessa abriu um meio sorriso que a menina se permitiu relaxar os músculos travados.

Elas dobraram um corredor, que igualmente os outros estavam vazios. A garota tornou a observar Alessa com um sorriso de interesse que brincava em seus lábios.

–Bem este é o seu quarto...

Alessa enfiou a chave na maçaneta destrancando-a, depois passou o violão, as malas e o restante das coisas que gentilmente Zoey levava para ela.

–Então, vai descer para o jantar?

–Estou sem fome...

Alessa bateu os dedos na porta fechando-a antes que a garota dissesse mais alguma coisa.

A garota se atirou na cama observando o quarto em sua volta. Era razoavelmente grande, havia uma cama perto a pequena janela, uma escrivaninha ao lado da porta do banheiro, um armário, uma estante de tamanho mediano e uma penteadeira.

Então ela se pôs em arrumar suas coisas, apoiou o violão em um canto, colocou suas coisas na penteadeira, e os livros na estante. Abriu sua mala para arrumar suas roupas no armário, assim que pegou a primeira peça e abriu o armário pode ver o seu uniforme pendurado no cabide.

A camiseta branca com o brasão negro e cinza, havia uma saia de pregas cinza escura e um suéter preto. Revirou os olhos, sua antiga escola não exigia uniformes e com certeza ela não usaria a saia de pregas.

Decidiu que não se preocuparia com aquilo, não agora. Tornou a esvaziar sua mala, e fez somente uma, ela não ficaria ali mesmo por muito tempo.

Apanhou sua toalha e adentrou no banheiro, despindo-se a afundando-se no chuveiro de água quente, ao menos ali em baixo da ducha fervente ela se sentiu um pouquinho melhor.

Quando se olhou no espelho, penteando seu cabelo molhado, ela pode ver o quanto sua pele branca estava sem cor e estranha, aquele lugar não a faria bem e ela sabia disso, podia se ver sua afeição dando indícios.

Claro que tudo não passava da sua imaginação dramática, quase podia sentir o coração mais fraco e a respiração pesada.

Suspirou e deu as costas para seu débil reflexo. E voltou para o quarto, assim que abriu a porta um vento congelado soprou, ela se encolheu vendo a janela aberta caminhou até lá e a fechou, travando-a por dentro. Espere, ela não se lembrava de ter aberto a janela.

Olhou em volta preocupada, o cômodo não tinha lá tantos esconderijos, suspirou, estava era ficando maluca. Trancou a porta e se voltou vestindo uma calça longa cinza e uma camiseta, secou os cabelos e os prendeu.

Passou horas conversando com Gavin ao telefone, ouviu o sinal de toque de recolher e ambos gargalharam fazendo piadinhas com os estudantes, mas quando ele avisou que teria que desligar, pois já era tarde demais, ela se sentiu sozinha e triste novamente. O que iria fazer agora?

Desligou a luz do quarto, e se deitou na cama, pela janela de vidro a luz da lua lançava feixes pratas em parte de seu corpo e o piso de mármore branco. Aos poucos seus olhos foram se tornando pesados e ela dormiu.

O barulho da musica estava alto demais, mesmo assim ela podia ouvir as gargalhadas da garota loira em sua frente, ela ria tanto que seu rosto estava vermelho e Alessa se perguntou qual tinha sido mesmo a piada.

Ela se lembrou que não houve piada alguma, a garota ria porque estava bêbada, terrivelmente embriagada. Steve, o jogador de futebol se aproximou, envolveu a garota pela cintura a puxando, colando seu corpo no dele e então lhe disse algo ao ouvido.

Ela gargalhou novamente, Alessa sorriu, aquilo estava sendo melhor do que ela planejara para a “nerdizinha”. Os lábios do capitão musculoso do time de futebol roçavam na orelha da menina e depois em sua nuca.

Mas então a gargalhada cessou e a menina estava vermelha seus olhos revirando, ela pendeu o corpo em dois leves espasmos, para frente e para trás, duas vezes.

–Qual é gata, não está afim?

A garota tentou empurrá-lo, Alessa sorriu mordendo a beirada do copo queria ser um besourinho e descobrir o que Steve diria se descobrisse quem realmente era a loira exuberante em seus braços.

A menina estava realmente linda com a produção de Alessa, ela havia dado fim aos óculos de grau e ao penteado, fizera uma bela maquiagem e pegara uma roupa sexy, essa era a condição, seduzir o capitão do time de futebol da escola.

No principio a menina estava nervosa, mas depois ela se conformou, afinal, Ashley queria tanto a amizade de Alessa que topara o desafio. Com o intuito de fazê-la se sentir melhor Gavin derramou um pouco de vodka no copo da garota, assegurando-a que não era o suficiente para deixá-la bêbada, no máximo ficaria mais descontraída.

Ele tinha razão, mas algo estava estranho e Alessa sabia exatamente o que iria acontecer, e esperou por isso ansiosamente, Ashley deixou o copo cair e usou as duas mãos para afastar Steve, mas não conseguiu, ela murmurava algo, mas ele insistia em agarrá-la, suas mãos atrevidas percorrendo o corpo da garota.

–Pare! Pare Steve...

Ele a puxou colando seus lábios nos dela e então aconteceu, uma torrente de vômito despejou sobre o garoto. Ele a soltou imediatamente, enquanto Gavin e Alessa se contorciam em gargalhadas.

–Sua idiota, o que você fez? –Ele praguejava enquanto cuspia no chão. –E vocês seus babacas por que estão rindo?

Alessa não se segurou e continuou a sorrir, mas a gargalhada se fora no exato momento em que Steve agarrou o pescoço de Ashley, pronto para socar-lhe. Gavin se intrometeu, mas era vários centímetros mais baixo e muito magro, “Seria cômico se não fosse trágico”. Pensou Alessa enquanto puxava Ashley consigo.

–Venha Gavin, deixe isso para lá. –Gritou ela para que ele a ouvisse.

Mas ao contrario que Alessa imaginou, Gavin cerrou seu punho e acertou em cheio o rosto de Steve, todos na festa se voltaram para ver a briga, até mesmo o som fora desligado e de repente vinha mais garotos na direção de Gavin.

Alessa gritou para que Ashley fosse para o carro e a garota obedeceu tropica, a menina voltou então correndo e puxando Gavin consigo.

–Ah, vai deixar a namoradinha te defender Gavin, qual é você não é homem suficiente?

–Espere um minuto Steve, quem acabou de levar um soco aqui foi você! –Rebateu Gavin e ouviu-se vaias em uníssono.

–Não seja idiota Gavin, vamos embora!

Alessa o puxava, mas em um movimento sutil Gavin se livrou das mãos dela. Ele olhou sorrindo para Steve, dois outros garotos, que jogavam futebol, interveio parando ao lado de Steve, prontos para darem uma surra em Gavin.

O garoto pareceu perceber o perigo, virou-se para fugir, mas antes não deixou de bater as mãos na tigela de ponche, virando-a sobre os jogadores e eles correram, rumo ao estacionamento que não estava mesmo tão longe dali.

Alessa entrou em seu carro e Gavin no dele. E ambos correram lado a lado, fugindo dali e gargalhando, mas antes que a vitoria se desse por satisfeita havia faróis atrás deles, era uma perseguição.

Um carro preto bateu na traseira de Alessa. E ela se virou para ver Ashley vomitar em seu carro.

–Mas que droga garota, o que você comeu? –Praguejou ela.

Mas diferente do que realmente aconteceu, a cena mudou, Alessa dirigia e Ashley ainda estava ao seu lado, mas ninguém as perseguia, e Gavin não estava no carro ao lado. Elas estavam sozinhas andando por uma rua deserta e escura, encoberta por uma densa neblina.

Alessa aumentou a luz dos faróis para poder enxergar o que acontecia em sua volta. Não havia casas e mesmo se houvesse ela não as enxergaria por conta da densa neblina. Então ela observou que Ashley estava quieta demais.

Seus braços pendiam ao lado do corpo, a cabeça estava baixa com seu cabelo loiro jogado sobre o rosto, como um véu, encobrindo-lhe a face, Alessa jurou que a garota estava prestes a cair para frente, se não fosse o cinto de segurança em torno de seu corpo.

Tentou diminuir a velocidade, mas o carro não respondia ao seu comando, em vez de diminuírem, faziam era aumentar, ela olhou para o ponteiro, oitenta, cem, cento e dez, cento e vinte e a neblina passava como um borrão.

O que estava acontecendo? Era para Steve estar no carro atrás delas e era para Ashley puxar o freio de mão, então o carro rodopiaria e elas bateriam em uma arvore. Mas invés do que realmente aconteceu, Alessa não tinha controle sobre o carro e Ashley continuava sem nenhuma movimentação.

Pisou no freio, mas o carro não respondeu e o velocímetro continuava aumentando. Ela levou a mão para puxar o freio de mão, mas quando seus dedos se aproximavam uma mão gélida lhe agarrou o punho.

Alessa olhou apavorada para as mãos que lhe seguravam e então ela ouviu o rosnado bestial eclodir sobre o carro. Ela sustentou o olhar e Ashley a encarava, os orbes de seus olhos não existiam em seus lugares havia apenas dois buracos negros e fundos. Alessa quis gritar, mas não consegui encontrar a própria voz.

Ashley abriu os lábios e o rosnado bestial eclodiu novamente, sua boca sem cor alguma se tornava tão grande que Alessa pensou que a garota fosse capaz de engoli-la. Então o grito veio, o pavor se acumulou na garganta da garota e saiu um grito estrondoso e apavorante.

Tão alto que a fez abrir os olhos, ela olhou em volta, mas estava escuro demais para enxergar. Sentou-se, puxando as pernas e se abraçando. E se aquela coisa ainda estivesse atrás dela? Não queria nem imaginar.

Enquanto arfava, ela piscava varias vezes, tentando fazer com que seus olhos se acostumassem à escuridão e conseguiu, demorou um tempo até se lembrar que aquele era seu quarto no Saint Edgar’s School. Então seus dedos trêmulos bateram no criado mudo ao lado de sua cama e ela acendeu o abajur.

Ali estava tão frio. Sentiu um arrepio, olhou em sua volta, não estava sozinha. Seu coração voltou a martelar. Aquela energia quente que sempre aparecia estava de volta, aproximava-se de Alessa, e ela teve medo de queaquilo tivesse feito ter o pesadelo.

Ela acompanhou o movimento e o calor se estabeleceu em seu lado direito. Mas ainda havia o medo, a sensação de desconforto. O que aquilo estava esperado para lhe trazer a sensação de paz? O que estava diferente desta vez?

Não conseguia compreender, desde o acidente tinha sempre o mesmo sonho, se é que lembrar o que aconteceu enquanto dorme, pode ser chamado de sonho e então tinha aquela energia ao seu lado lhe trazendo a paz e a calmaria, mas desta vez, algo estava diferente.

A cena de seus sonhos fora modificada, a criatura ao seu lado parecia estar vendo algo alem. Alessa respirou fundo fechando os olhos e tornou a abri-los. Então com um leve movimento se inclinou em direção a energia, como se fosse capaz de vê-lo.

–Eu sei que está aqui... E sei o que você veio fazer... –Murmurou ela. Mas não houve alteração, não havia calma, não havia paz e a garota continuava atordoada. –O que está esperando?

E a energia se fora, trazendo um baque surdo na janela que estava aberta, quando Alessa a havia aberto? Não, não fora ela e sabia disso. Fora aquilo que sempre aparecia para ela. Um calafrio lhe percorreu o corpo e ela tornou a deitar em sua cama, puxando o cobertor até seu rosto, tendo de se acalmar sozinha.

...

Havia uma batida frenética na porta, o batuque permeava até Alessa e foi isso que a fez despertar rapidamente. Ela olhou em volta, quem estava lhe incomodando logo cedo?

–Alessa sou eu Zoey, abra a porta se estiver ai! –Gritava a voz sobre o som das batidas

O que ela quer? Alessa pôs-se de pé, sentindo uma leve tontura, bocejou passando a mão nos olhos, várias vezes e caminhou lentamente até a porta a abrindo. Zoey suspirou aliviada depois encarou Alessa com espanto.

–Ainda está vestida assim? Vai se atrasar! –Advertiu.

Alessa franziu o cenho olhando sobre seus ombros, para o relógio em cima de seu criado mudo, eram 8: 35. Seus olhos se abriram de espanto, estava muitíssimo atrasada.

Não se importou em ser hostil ou grosseira com Zoey, afinal devia uma a ela. Deixou a porta aberta para que a garota adentrasse e correu rumo ao seu armário, apanhou a camiseta e o suéter negro.

Apanhou uma calça jeans preta, e correu para o banheiro. Zoey observava tudo parada na porta, mas não poderia ficar ali para sempre, então entrou temerosa de que o humor de Alessa se modificasse novamente.

Fechou a porta atrás de si e se sentou na cadeira da escrivaninha. Não demorou muito para a garota sair penteando os longos cabelos negros, tão lisos que Zoey duvidou serem de verdade, mas ela tinha que admitir, o cabelo da garota era lindo.

Ela abandonou a escova de cabelo e apanhou o coturno em um canto, enquanto o calçava, atravessou o quarto aos pulos para apanhar a mochila com seus livros. Alessa olhou o relógio, tinha quinze minutos, seu estômago fez um barulho alto, lembrando que ela estava com fome. Ela encarou Zoey com a expressão descrente, e agora o que faria?

–Tudo bem, eu apanhou algo para você comer, deixe seus livros no seu armário, encontro com você lá, não vou demorar! –E a garota sorriu animada, correndo para fora do quarto deixando Alessa sozinha.

Ela fechou os botões do suéter até na altura de seus seios, pendurou a mochila em um de seus ombros e apanhou o montante de livros e saiu. Teve que consultar seu mapa antes de qualquer coisa, e odiou isso, era como carregar uma enorme placa dizendo: Hei olhem para mim, eu sou nova aqui.

Ela tentava equilibrar o montante de livros enquanto olhava o confuso mapa, aquele lugar era ainda maior do que ela imaginava. Os corredores estavam lotados, todos correndo para não se atrasarem, mas a maioria ainda tirava um tempo para olhar a garota com um monte de livros e roupas pretas.

Ela era a aberração em meio a todas as garotas com suas coisas rosa. Ao menos o uniforme tinha os detalhes negros. 1 a 0 para ela. Enquanto passava pelos corredores olhando em volta, alguém passou a andar ao seu lado e quando ela sustentou o olhar, um garoto sorria para ela.

–Dificuldades com o mapa?

Ele abriu um sorriso mostrando suas fileiras de dentes brancos, ele tinha uma pele morena e cabelos negros com um par de olhos amendoados, era de fato bonito, mas uma espécie de beleza comum.

–Está tudo bem, eu sei me virar! –Ele sorriu novamente revirando os olhos.

–Ah claro, é por isso que está virando para o corredor que leva até a saída?! –Ela bufou derrotada.

–Tudo bem, talvez eu precise de ajuda! –Confessou, e o sorriso do garoto se alargou.

–Sou Trevor Dickson. –Ele lhe estendeu a mão direita, mas ela teve que balançar os braços indicando que estava com as mãos ocupadas. –Ah, é claro.

–Eu sou...

–Alessa Stembell! È eu sei... –Ela estatelou os olhos para ele. –Creio que queira ir para os armários guardar suas coisas?

Ela assentiu, ele apontou para outra direção e tomou um bocado de livros dos braços da garota, mostrando-se disposto a segui-la.

–Não vai se atrasar para sua aula?

–O meu prédio fica para lá, aliás, a saída para os outros prédios ficam naquela direção.

–De qualquer forma, obrigado!

Então ela pode ver a fileira de armários, próxima a porta que dava acesso a saída e viu também uma Zoey impaciente com um copo de suco e um sanduiche nas mãos.

–Por que demorou tanto?

–Eu me perdi!

Concluiu a garota. Então Zoey olhou para o garoto parado ao lado de Alessa e abriu um meigo sorriso.

–Oi Zoey... A gente se vê depois Alessa...

Ela assentiu e virou-se para guardar seus livros. Apanhou o mapa e sua ficha, consultando para ver qual seria sua próxima aula.

–Biologia! –Murmurou Zoey e Alessa a encarou. –E adivinha?! Eu serei sua parceira de laboratório!

Alessa semicerrou os olhos, encarando Zoey com desconfiança, mas achou melhor não saber como a garota tinha acesso a essa informações. Enquanto Zoey tagarelava ao seu lado lhe explicando como o senhor Green, era um ótimo professor, Alessa se ocupou em colocar os fones de ouvido e ligá-los no ultimo volume.

Elas saíram para a manha cinzenta, havia neblina entre as arvores e a umidade estava tão alta que Alessa pensou que poderia se sufocar. Dia perfeito para coisas ruins, acusou seus pensamentos, mas ela não entendia o que poderia ser ainda pior?

Elas adentraram no prédio seis que igualmente o primeiro, não havia cor, as paredes de fora eram de tijolos a vista, daqueles pequenos que tem cores de barro, por dentro a tinta gelo parecia deixar aquilo tudo ainda mais chato.

Alessa abaixou a cabeça, deixando que seus cabelos caíssem sobre seu rosto, encobrindo-o, por algum motivo, muito idiota, digam-se de passagem, todos olhavam para ela. Aquilo era horrível, ela já estava acostumada a mudar de escola, mas em nenhuma ela fora tão observada como estava sendo na Saint Edgar’s School.

Ela tentou imaginar qual seriam os motivos, talvez porque ela se vestia de preto, ou talvez porque ela havia sido expulsa de sua antiga escola, talvez até mesmo porque haviam feito uma fofoca de que ela cometera um crime.

Seus devaneios eram tantos que ela não percebeu que rumo tomava, até que seu corpo se chocou em algo, forte o bastante para arremessá-la ao chão, fazendo seus livros caírem e as folhas de seu mapa e horário esparramar. Sustentou o olhar e perdeu o fôlego quando o fez.

Um garoto a encarava com as sobrancelhas unidas, ele era alto e... E extremamente lindo, do tipo capa da Vogue, ou até mesmo um ator de Hollywood. Ele usava a camisa de uniforme, um jeans escuro e uma jaqueta de couro preta, repuxada até seus cotovelos exibindo uma serie de tatuagens em seus braços, daquelas como mangas de camisas.

Tinha a pele clara, feito alabastro e cabelos tão negros quanto à noite, suas afeições eram simétricas e seus olhos... Eles eram de um verde inacreditável e hipnotizante. Ele murmurou algo, que ela não ouviu, devido aos fones de ouvido que ela nem lembrava estar usando.

Então ele revirou os olhos e se abaixou, aproximando-se dela, ficando a milímetros de distância, fitando-a com seus olhos esmeraldinos e brilhantes, ela arfou, perdendo o resto de fôlego que tinha. Ele levou uma mão em direção a ela fazendo-a estremecer.

–Olhe por onde anda sua idiota! –Disse-lhe de maneira rude, depois de lhe retirar os fones de ouvido, tornando a ficar de pé olhando-a com desdém ele se foi.

Os lábios de Alessa se abriram de espanto. Quem ele pensa que é? Ela olhou em volta depois que recuperou o fôlego e a consciência, uma multidão estava parada observando a cena que acabara de se desenrolar. Alessa se pôs de pé sentindo suas bochechas corarem, Zoey a ajudou a pegar suas coisas do chão, e aos poucos a multidão se desfazia, levando murmurinhos.

–Ótimo! Agora todos terão mais um motivo para falarem de mim! –Sibilou ela zangada.

–O que foi aquilo? Ele sempre foi estranho e... Bem, quieto demais, mas pareceu explodir quando você topou com ele! Eu nunca o vi ser tão grosseiro.

–E quem é ele? –Alessa tentou disfarçar, em vão, o interesse em sua voz, lembrando-se dos olhos esmeraldinos e do belo rosto do garoto.

–O nome dele é Dominic Weiss, é somente isso que todos sabem sobre ele! Vamos, já estamos muitíssimo atrasadas.

Alessa assentiu suspirando novamente, antes de adentrar em sua sala, ela olhou rapidamente sobre seus ombros, vendo Dominic sumir em meio a outros alunos.


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Notas finais do capítulo

E ai o que acharam do primeiro encontro da Alessa e do Dominic????



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