A terça foi mais ou menos como a quinta, só que eu consegui treinar esgrima durante o dia. Na hora do almoço, Sara foi falar comigo. Eu estava sentada na minha típica mesa junto com John e Vector, Leae tinha ido se sentar junto com seus meios-irmãos. Ela tinha estado bem distante esses dias. Geralmente nós conversamos muito, mas decidi deixar pra lá, já que estávamos prestes a competir. Enfim, eu estava comendo um delicioso bolo de chocolate como sobremesa, quando Sara se aproximou da minha mesa.

– Hum, Beky, eu poderia conversar com você um instante? – ela perguntou com a voz desanimada, coisa que não é bem o tipo dela.

– Claro. – eu respondi. – Porque não se senta?

– A sós. – ela falou, lançando um olhar para John e Vector.

– Que não seja por isso. – falou Vector, empurrando John com a mão e os dois saíram.

Sara se sentou e pediu um pedaço do meu bolo. Eu a deixei comer uma garfada.

– Então. – eu comecei. – O que você queria falar comigo?

– Eu estou do seu lado nos Jogos. – ela desabou.

– E a Mandy? E todo o patrono de Hermes?

– Eu briguei com a Mandy.

– Por quê?

– Você não deve saber, mas a escolha do representante de cada patrono é por sobrenome.

– Meu Zeus...

– Pois é. E o sobrenome Drubs foi sorteado. Eu queria participar dos Jogos, assim como a Mandy. Então ela propôs uma disputa. Eu não queria brigar com ela, ela é minha irmã, eu amo ela, mas ela não me deixou escolha. Batalhamos. Foi uma briga feia. Tínhamos os mesmos golpes, as mesmas táticas, mas ela trapaceou. E você sabe que trapaça é a nossa especialidade. Eu perdi. Ela ganhou. O patrono festejou e ninguém ligou para mim. Eu continuei lá, caída no chão e ferida.

– E como você, hum, saiu?

– Pois é. Eu tive que me virar sozinha. Consegui levantar e fui até a enfermaria, onde Nancy cuidou bem de mim. Depois disso, meus meios-irmãos só falam comigo se é para me zoar. Mandy também não fala mais comigo. Enfim. Estou sozinha.

– Isso tudo é horrível! Prometo acabar com Mandy pra você nos Jogos.

– Não precisa. Ela está tão ambiciosa com a vitória que nem está treinando mais. Provavelmente não vai passar do primeiro desafio.

– Espero que as coisas não fiquem assim para você.

– Não se preocupe comigo.

– Então porque você decidiu me ajudar?

– Bem, por que... Sei lá! Você é minha amiga! E também o patrono de Hades nunca ganhou e você sabe como eu odeio as coisas constantes.

– Sei bem.

Rimos. Logo depois eu passei a tarde toda treinando. Sara me disse que o desafio de Hermes provavelmente ia ter alguma coisa com agilidade e que provavelmente teríamos que roubar alguma coisa ou entrega-la. Por isso nós treinamos corrida pela floresta e outras coisas a mais. Foi divertido no geral. Ainda tinha algo me incomodando nos Jogos, mas eu já podia ver eles como um simples desafio que eu poderia passar.

Eu não tinha a necessidade de vencer, mas eu não queria deixar o meu patrono no último lugar. Mais de tardinha estudei várias plantas e tentei gravar os nomes das venenosas e das que ajudavam na cura, imaginei que o desafio de Demeter fosse alguma coisa assim.

Na quarta eu acordei cedo e procurei a irmã de Holl, Geny. Eu e ela tínhamos ficado amigas desde que eu ajudei o irmão dela a sair do Templo de Gelo (N/A: leiam a primeira temporada da história e vocês vão entender). Tinha quase certeza de que ela ia estar ajudando Grus, já que os dois haviam começado a namorar mês passado, mas eu tinha uma pequena esperança de que ela me ajudasse.

Graças aos deuses, a encontrei indo em direção as forjas, sozinha. Ao me ver ela caminhou em minha direção. Veja bem, ela não tinha muito humor, mas era bom ver que ela não estava de mau humor. Creia você não ia querer conhece-la de mau humor.

– Oi Beky. – ela falou.

– Oi Geny. – eu respondi. – Hum, eu sei que é muita cara de pau minha, mas será que você poderia me dar uma mãozinha e me ajudar a “construir” alguma coisa?

– Relaxe. Eu ajudo, mas o Grus não pode ficar sabendo de nada, combinado?

– Minha boca está fechada a cadeado.

– Venha comigo, vou leva-la as forjas.

Eu segui Geny pelos campos até chegarmos às forjas. Eu nunca tinha, pessoalmente, entrado nas forjas. Já tinha ouvido semideuses comentarem que era o pior lugar no acampamento, mas para os filhos de Hefesto era o paraíso. Dica: nunca vá às forjas de casaco, você vai morrer derretida. Ainda bem que eu coloquei só uma camisetinha sem manga e um shortinho, se não eu acho que não ia aguentar ficar ali dentro.

O lugar era incrível. Verdade. Tinha uma enorme fornalha de um lado, com um deposito na outra parede. Nas outras duas tinham bancadas com listas de nomes de armas e outras invenções. Mesas andantes e outras coisas malucas passaram por mim com zumbidos agudos e barulho de metal se chocando.

– Bem vinda às forjas. – falou Geny.

Então eu notei uma coisa.

– Por que está tudo vazio? – indaguei.

– Os outros estão muito ocupados treinando lá em cima.

– Não corre risco de ninguém nos encontrar aqui?

– Não se preocupe, eu ativei a tranca interna da porta. Se alguém tentar entrar, vai pensar que estamos em assunto de extremo sigilo.

– Ok.

Passamos a manhã trabalhando. Eu descobri que sou muito sensível ao fogo, o que, de acordo com Geny, será uma merda para mim. Eu tive que concordar. Aprendi a construir algumas coisas uteis como equipamentos que podem servir em armadilha, aprendi a diferenciar os metais e a desarmar armadilhas. Tentei aprender a descobrir como é o funcionamento interior de algumas coisas que eram equipadas com armadilhas, mas eu acabei na enfermaria com um jato de sangue de centauro no meu rosto.

Acabei perdendo o almoço, mas no começo da tarde todos os semideuses que iriam participar dos Jogos foram convocados a uma clareira na floresta, para se conhecerem melhor. Depois de tomar um banho e tirar toda a fuligem do meu corpo, segui para a floresta, com uma roupa que estava (em minha opinião)ok.

Quando cheguei, tive certeza de que minhas chances de ganhar naquele jogo eram mínimas.