Acordei no outro dia de manhã com meu despertador tocando, mas eu decidi que não iria pro colégio naquele dia, assim como ontem. Levantei-me e coloquei meus óculos para desligar o despertador. Então algo na minha mesinha de cabeceira me chamou a atenção. Era um envelope. As cenas do dia de ontem voltaram como um flash na minha cabeça. A carta. Os Jogos. Eu tinha trabalho a fazer.

Contei tudo para a minha mãe e apesar dela parecer preocupada, concordou em me deixar essa semana no acampamento para eu me preparar. Agradeci a ela. Peguei meu broche que se transformava em uma espada e o prendi por cima da camisa azul do acampamento. Coloquei um short jeans qualquer e fiz uma mochila com algumas coisas a mais, já que dessa vez a minha temporada no Acampamento Clube dos Deuses iria ser mais longa.

Peguei um caderno e minha caneta da sorte, juntamente com a maior tesoura que eu consegui encontrar na casa. Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo e calcei meu all star novo, já que o antigo havia sido congelado por um gigante hiperbóreo e perdido em batalha. Subi para o terraço, que ficava em cima do meu apartamento no último andar. Lá em cima, como sempre, estava a escada que dava para o acampamento. Eu subi.

O acampamento estava uma zona. Semideuses de todos os patronos corriam apressados, tinha um tumulto na arena, a área de arco e flecha estava tão lotada que os meio-sangues estavam fazendo fila. A primeira pessoa que eu vi (graças aos deuses) foi Vector, meu sátiro protetor. Ele estava conversando animadamente com Katie, que era filha de Hades e minha colega de quarto. Eu me aproximei deles.

– O que aconteceu aqui? – eu perguntei.

– Todos estão se preparando para os Jogos. Soube que escolheram você para participar! – exclamou Katie.

– Verdade! – eu falei, tentando parecer animada por eles.

– Vamos ver quem foram os escolhidos dos outros patronos? – indagou Vector.

Eu e Katie concordamos e seguimo-lo até o refeitório. O lugar estava super cheio também. Todos estavam se amontoando sobre uma das paredes. Esticando-me um pouco eu pude ver uma lista colada nela, pelo visto era a seleção de semideuses. Começamos a abrir passagem pela multidão e conseguimos chegar perto o suficiente para ler os nomes na lista.

Semideuses que irão representar...

Zeus – Sabrina Justine

Poseidon – Mark Marion

Hades – Beky Darlins

Atena – Leae Vrestan

Afrodite – Carol Firkin

Hefesto – Grus Jolonne

Ares – Summy Richard

Hera – Hally Mighhort

Artemis – Bonny Sinner

Apolo – Brian Hoss

Hermes – Mandy Drubs

Demeter – Selly Hollyng

Dionisio – Shad Corean

Minha boca quando viu todos os nomes? Caída. Muitos eram meus amigos e muitos eu conhecia de nome. Como poderia competir com Leae? Uma grande amiga minha que tinha me ajudado muito na última batalha. E Grus? Meu amigo que tinha fabricado minha bela espada de prata. Mandy? Ela e sua irmã gêmea Sara podiam aprontar muito, mas ainda sim eram grandes amigas minhas. E o pior de todos: Summy. Eu era apaixonada por ele! Não tinha condições de competir com ele!

Eu, Katie e Vector saímos do refeitório e nos sentamos em um banquinho que ficava do lado de fora. Lembrei-me do dia que eu tinha conhecido Katie. Tínhamos conversado naquele mesmo banquinho. Eu pensava que os filhos de Hades eram sombrios e misteriosos, mas depois de conhecer ela, mudei totalmente a minha opinião.

– Não vou conseguir! – desabei.

– Calma Beky! Vai ficar tudo bem! – falou Katie, me consolando.

– Não, não vai! Eu não vou conseguir competir com nenhum deles!

– Os desafios são individuais. Geralmente é assim que as coisas funcionam nos Jogos. – disse Vector.

– Espero que continuem assim. – resmunguei.

– Vão continuar. – afirmou Katie. – Agora vamos. Você precisa treinar.

Treinei, treinei e treinei. Tive que treinar arco e flecha sozinha, porque não queria me envolver com o patrono de Apolo. Treinei até levantamento de peso. Esperei até de noite para treinar esgrima, porque na arena era o único lugar onde tinham bonecos. Quando todos já estavam dormindo, coloquei um casaco e sai do dormitório em direção à arena.

O lugar estava deserto, a não ser pelo vento batendo nas copas das árvores da floresta. Aproximei-me do primeiro boneco e saquei minha espada. A lâmina de prata celestial brilhou a luz da lua. Acertei o primeiro boneco com uma estocada na barriga, depois dei um giro para decapita-lo. Quando eu estava me preparando para o próximo golpe, ouvi um barulho atrás de mim. Virei rapidamente minha espada e por pouco não acertei o pescoço de Summy.

– Por favor, não me mate! – ele implorou, tirando o cabelo da cara.

– Você me deu um susto. – eu falei, abaixando minha espada.

Ele riu. Aquela risada que contagiava todos.

– O pobre boneco não teve chance. – ele disse, se aproximando. – Por que não deixa os outros se prepararem para a morte e vem se sentar?

Eu concordei com uma risada. Sentamos-nos em uma das arquibancadas da arena. Transformei minha espada em broche de novo e prendi no meu casaco.

– Como você esta se sentindo? – indaguei. – Quer dizer, em relação aos Jogos e tal.

– Nervoso. – ele admitiu. – Não sei se quero enfrentar meus amigos.

– Também. Mas Vector me disse que geralmente os desafios são individuais.

– Meu pai disse que o dele não vai ser.

– Ares falou com você?

– Sim. Foi um sonho na verdade. Ele disse que o desafio dele iria ser uma disputa.

– Espero que eu não tenha que disputar com ninguém muito próximo.

– Tomara. Se eu pudesse escolher com quem disputar escolheria Mark Marion. Esse cara é um idiota.

– Ele é aquele cara que sai por ai flertando com todo mundo?

– Exatamente.

– Se eu pudesse escolher com quem competir, escolheria a Sabrina.

– Por quê?

– Não sei. Não vou com a cara dela.

– Ela era afim de mim ano passado.

– Mais um motivo para eu odiá-la.

Ele ergueu uma sobrancelha e só então percebi que aquilo tinha soado como uma indireta. Eu ri, para tentar descontrair o clima, mas ele continuou me olhando com aquela carinha.

– Eu acho melhor eu ir dormir. – falei finalmente. – Muito treino amanhã.

– Boa ideia. – ele concordou. – Os bonecos vão ficar felizes com a adiação da morte deles.

Rimos e então nos separamos. Eu fui em direção ao prédio mais alto e ele em direção ao outro prédio. Eu fechei os olhos e dormi. Tive um pesadelo, mas não era do tipo “sonho de semideus”, era um pesadelo mesmo. Acordei de madrugada assustada, e não consegui dormir de novo. Peguei um livro de arquitetura, porque eu achava que o desafio de Atena iria ter alguma coisa a ver com aquilo. Fiquei lendo até Katie acordar e nós partimos para um novo dia de treino.