– E como vamos respirar? – indaguei.

– Fiz um encantamento nessa água. Vocês poderão respirar livremente. – disse Poseidon.

Acho melhor eu voltar um pouquinho, para não deixar vocês confusos.

Bem, eu acordei no meu quarto com o meu despertador. Uma voz avisou que o próximo desafio seria em vinte minutos. Coloquei uma espécie de roupa de banho que eu achei ali, só que essa cobria o corpo todo. Então eu prendi meu broche e sai do quarto o mais rápido possível. Cheguei bem na hora em que a plataforma começava a subir. Nem deu tempo de sentar. Todos usavam a mesma roupa, inclusive os meninos.

Acontece que como aquela roupa é justinha, ficava realçando os músculos deles. Summy por exemplo (só exemplo?) estava com aquele tanquinho bem marcado e eu descobri que os músculos do braço dele são bem definidos. Hally estava tendo dificuldades com a roupa, porque de acordo com ele, ela estava muito apertada. Também, do tamanho dele até parece aquele “Coisa” do quarteto fantástico, só que nele não tem nada de fantástico.

Lá em cima estávamos arrodeados por um lago. Na verdade estávamos quase dentro do lago. Era um lago bonito, de águas cristalinas. Tinham bastantes algas. Percebi que o lago ia ficando mais fundo a partir de uns quatro metros a frente não dava mais para ver o fundo.

Então do nada, o deus dos mares se materializou ali dentro.

– Vocês sabem o que tem que fazer. – ele perguntou com sua voz grossa. Era estranho considera-lo um deus, porque ele estava usando uma bermuda de praia e uma camiseta florida, com sandálias de couro. – São treze perolas. Elas estão enterradas em níveis diferentes do lago. Quando acharem todas as que vocês conseguirem é só pisarem nelas e elas irão trazê-los de volta a parte mais rasa da água.

– Desculpe senhor Poseidon, mas como vamos respirar? – indaguei.

– Fiz um encantamento nessa água. Vocês poderão respirar livremente. – disse Poseidon. – Boa sorte para todos vocês. E lembrem-se de que não será somente a profundidade que vocês terão que enfrentar.

Com isso ele estalou os dedos e voltou ao seu lugar na bancada de juízes. Vamos lá Beky. A trombeta tocou e eu entrei no meu túnel.

Eu sempre gostei de água, mas a minha parte preferida era observar de longe. Eu prefiro os rios também e lagos, mares são muito violentos. Uma vez uma onda me pegou e eu sai rolando pela areia. Foi horrível. E também sempre que eu estou na praia fico com medo de um tubarão gigante ou uma baleia aparecer. Eu sei que essas coisas não acontecem no Brasil, muito menos em Salvador, mas eu ficava com medo mesmo assim.

Surpreendi-me quando percebi que eu realmente poderia respirar de baixo d’água. E fiquei mais surpresa ainda quando eu vi a primeira perola enterrada na areia a poucos centímetros de mim. Eu estiquei a mão para pega-la e...

Sabe os peixes gatos? Aqueles que têm um bigode enorme e que os dentes não são muito fortes. Então, agora imagine ele do tamanho de um elefante. Esta indo bem. Agora imagine que ele te engoliu de vez e que nem deu tempo de te mastigar. Eu estava mais ou menos assim naquela hora. Só que quando ele me engoliu alguém gritou, mas não fui eu.

– Cuidado! – exclamou Selly.

– O que você esta fazendo aqui? – eu perguntei, me encolhendo para ficar o mais longe possível dela.

– O mesmo que você! Fui engolida.

– Então vamos trabalhar para sair daqui.

– Como?

– Que tal começarmos cortando a barriga dele? – eu falei irônica.

Ela sacou uma simples adaga da bainha, ao mesmo tempo em que eu pegava a minha espada e começamos a fazer um buraco na lateral do estômago do monstro. Acontece que assim que a gente encostou nossas lâminas o monstro se desfez em pó dourado. Tudo ficou embasado, eu não conseguia ver nada. Então o nevoeiro passou e Selly tinha sumido, assim como a perola.

Mas eu não fiquei presa a isso. Precisava achar outra perola. Fui descendo cada vez mais no lago. Então eu encontrei uma perola. Ela estava presa entre duas algas. Eu saquei minha espada, pois agora sabia sobre o que Poseidon havia falado. Cortei as duas algas com um golpe só. Elas se transformaram em pó dourado, assim como a maior parte do chão abaixo de mim. Engoli em seco. Ainda bem que eu não fiquei sabendo o que tinha ali.

Peguei a perola e imediatamente um bolso apareceu na minha roupa. Eu coloquei a perola lá e fechei o zíper. Continuei nadando. Quanto mais fundo eu ia, mais algas e plantas aquáticas apareciam. Eu tive que ficar atenta, porque era como se outro peixe gigante fosse sair dali e me atacar. Eu continuei descendo e então as algas e plantas foram diminuindo de quantidade, até eu estar rodeada só de areia.

Nesse ponto não dava mais para ver a superfície. Foi então que eu o vi. Mark nadava rapidamente em direção ao fundo. Eu decidi segui-lo. Ele me viu, mas continuou nadando. Nadei atrás dele muito rápido. O que eu estava pensando? Ele era filho de Poseidon, venceria qualquer um. Mas eu manti meu ritmo, quase o alcançando agora. Então eu parei.

O ar estava sendo tirado dos meus pulmões. Eu não conseguia respirar por mais que eu tentasse. Eu estava me afogando. Com o pouco de forças que me restou eu vi Mark parando de nadar também, mas ele não parecia incomodado. Eu comecei a me contorcer. Aquilo era insuportável. Ia ser muito mais fácil eu me afogar ali mesmo. Não Beky. Não desista. Essa não era a minha consciência falando. Eu olhei para Mark, ele estava movendo os lábios e quando a voz parou, ele parou também.

Eu tentei com todas as minhas forças continuar respirando. Eu me contorci. O ar estava sendo arrancado de mim, assim como a vida. Eu não poderia aguentar mais... Foi ai que uma bolha de ar apareceu. Era gigante e parou na minha cabeça. Eu soltei a respiração. Mark sorriu.

Se eu fosse você eu usava a perola para voltar.

Eu não consegui falar, mesmo dentro da bolha, então eu assenti. Decidi esmagar a bolha com as mãos, porque não tinha chão ali, e no mesmo instante eu estava de volta à área rasa. Corri para sair da água e entrei pelo meu túnel. Estavam quase todos na sala. Tinha uma pilha de toalhas no canto e o chão estava todo molhado. Assim que eu entrei, Summy veio correndo para mim com uma toalha.

– Beky! – ele parecia abatido. – Pensamos que você estivesse morta.

Ele jogou a toalha sobre os meus ombros. Só naquele momento eu percebi que estava tremendo. Sentei-me no sofá e vi que em cima da mesa estavam várias canecas de chocolate quente. Peguei uma. Summy passou o braço pelos meus ombros, de modo a me aquecer.

– Por quê? – indaguei.

– Avisaram no alto falante que o encantamento tinha falhado, devido a um problema emocional de Poseidon. – explicou Leae, se sentando ao meu lado. – Todos seriam imediatamente levados de volta para cima, exceto que estivesse no último nível que estava além do controle do pessoal que organiza os Jogos. Como você não tinha voltado ainda...

– Como você sobreviveu? – perguntou Summy.

– Mark. – respondi. – Ele criou uma bolha de ar para mim. E depois foi para o fundo buscara a última perola. – acrescentei depois de um olhar indagador do Summy.

– Falando em Mark... – murmurou Grus.

Ele entrou na sala. Estava seco e parecia bem exceto por um arranhão no braço, que eu percebi que ele não tinha antes.

– Obrigada. – eu falei quando ele se sentou em uma cadeira próxima.

– Não se preocupe com isso. – ele disse. – O que aconteceu?

Então explicaram tudo para ele de novo. Nesse momento a sala começou a descer de novo. O sol já estava se pondo, o que significava que o próximo desafio só seria amanhã. Dirigi-me para o meu quarto, apesar de não estar com sono. Tomei um banho e me joguei na cama.